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quarta-feira, 15 de março de 2017

Freud, Psicanálise e a homossexualidade

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1856-1939 d.C


Psicanálise CONTEMPORÂNEA e Homossexualidade

"Na psicanálise que dominava a mentalidade sobre saúde após Freud, especialmente nos Estados Unidos, a homossexualidade foi vista negativamente, considerada como anormal, e acredita-se ser causada pela dinâmica familiar (Bieber et al., 1962, Rado, 1940, Socarides, 1968). (Report of the American Psychological Association Task Force on Appropriate Therapeutic Responses to Sexual Orientation- APA. August 2009 Printed in the USA , p. 22)

"A  concepção da patologização psiquiátrica e psicológica da homossexualidade e esforços concomitantes
para alterar a orientação sexual através da psicanálise e terapia comportamental foram prevalentes através da Década de 1960 e no início dos anos 1970"p. 22

"Em 1991, a Associação Americana de Psicanálise (ApsaA) terminou efetivamente com a estigmatização
Homossexualidade pela psicanálise tradicional quando adotou uma política de não-discriminação de orientação sexual"p. 24


"Em 2000, a ApsaA adotou uma política contra a SOCE [terapias de mudanças de orientação sexual], tentando acabar com essa prática:
'Como em todos os tratamentos psicanalíticos, a meta de análise com pacientes homossexuais é
compreensão. A técnica psicanalítica não envolve esforços propositais para "converter" ou
"Reparar" a orientação sexual de um indivíduo. Tais esforços dirigidos são contra os princípios fundamentais
 do tratamento psicanalítico e muitas vezes resultam dor psicológica substancial   por meio  do reforço e

prejuízo das atitudes homofóbicas internalizadas"p. 24


"Na última década, muitas  publicações de estudos psicanalíticos  descreveram uma abordagem afirmativa
Variação da orientação sexual e diversidade" p. 24   Report of the American Psychological Association Task Force on Appropriate Therapeutic Responses to Sexual Orientation- APA. August 2009 Printed in the USA
https://www.apa.org/pi/lgbt/resources/therapeutic-response.pdf 


FREUD E HOMOSSEXUALIDADE
Freud considerava a homossexualidade:
  •  como perversão
  •  não inata 
  • adiquirida
  • causada por questões socio psicológicas


"Há muito se sabe e já se tem assinalado que, na puberdade, com freqüência, tanto os meninos quanto as meninas, mesmo nos casos normais, mostram claros indícios da existência de uma inclinação para pessoas do mesmo sexo. A amizade entusiástica por uma colega de escola, acompanhada de juras, beijos, promessas de correspondência eterna e toda a sensibilidade do ciúme, é o precursor comum da primeira paixão intensa de uma moça por um homem. Em circunstâncias favoráveis, a corrente homossexual amiúde seca por completo, mas, quando não se é feliz no amor por um homem, ela torna a ser despertada pela libido nos anos posteriores e é aumentada em maior ou menor intensidade. Se nas pessoas sadias isso pode ser confirmado sem esforço e se levarmos em conta nossas observações anteriores (ver em [1] e [2]) sobre o maior desenvolvimento, nos neuróticos, dos germes normais da perversão, devemos também esperar, na constituição destes, uma predisposição homossexual mais forte. E deve ser assim, pois até hoje nunca passei por uma só psicanálise de um homem ou de uma mulher sem ter de levar em conta uma corrente homossexual bastante significativa. Nas mulheres e moças histéricas cuja libido sexual voltada para o homem é energicamente suprimida, constata-se com regularidade que a libido dirigida para as mulheres é vicariamente reforçada e até parcialmente consciente...


O oposto disso é a concepção alternativa de que a inversão é um caráter adquirido da pulsão sexual. Ela se apóia nas seguintes considerações: 
(1) Na vida de muitos invertidos (mesmo absolutos) pode-se demonstrar a influência de uma impressão sexual prematura cuja conseqüência duradoura é representada pela inclinação homossexual. 
(2) Na vida de muitos outros é possível indicar as influências externas favorecedoras e inibidoras que levaram, em época mais prematura ou mais tardia, à fixação da inversão (relacionamentos exclusivos com o mesmo sexo, companheirismo na guerra, detenção em presídios, os riscos da relação heterossexual, celibato, fraqueza sexual etc.). 
(3) A inversão pode ser eliminada pela sugestão hipnótica, o que seria assombroso numa característica inata. Dentro dessa perspectiva, pode-se até contestar a própria existência de uma inversão inata. É possível objetar (cf. Havelock Ellis [1915]) que um exame mais rigoroso dos casos reivindicados em prol da inversão inata provavelmente também traria à luz uma vivência da primeira infância que foi determinante para a orientação da libido. Essa vivência simplesmente não se teria preservado na memória consciente da pessoa, mas seria possível trazê-la de volta à lembrança mediante a influência apropriada. Segundo esses autores, a inversão só poderia ser qualificada como uma variação freqüente da pulsão sexual, passível de ser determinada por uma quantidade de circunstâncias externas de vida.
 Mas a aparente certeza assim adquirida chega ao fim através da observação contrária de que muitas pessoas ficam sujeitas às mesmas influências sexuais (inclusive na meninice: sedução, masturbação mútua), sem por isso se tornarem invertidas ou assim continuarem permanentemente. Somos portanto impelidos à suposição de que a alternativa inato/adquirido é incompleta, ou então não abarca todas as situações presentes na inversão....


A concepção resultante desses fatos anatômicos conhecidos de longa data é a de uma predisposição originariamente bissexual, que, no curso do desenvolvimento, vai-se transformando em monossexualidade, com resíduos ínfimos do sexo atrofiado. Era sugestivo transpor essa concepção para o campo psíquico e explicar a inversão em todas as suas variedades como a expressão de um hermafroditismo psíquico. E para resolver a questão restaria apenas constatar uma coincidência regular da inversão com os sinais anímicos e somáticos do hermafroditismo....

 Ainda assim, duas idéias permanecem de pé após essas discussões: de algum modo, há uma disposição bissexual implicada na inversão, embora não saibamos em que consiste essa disposição além da formação anatômica; e lida-se também com perturbações que afetam a pulsão sexual em seu desenvolvimento....

(a) Na vida anímica de todos os neuróticos (sem exceção) encontram-se moções de inversão, de fixação da libido em pessoas do mesmo sexo. Sem uma discussão a fundo é impossível apreciar adequadamente a importância desse fator para a configuração do quadro patológico; só posso asseverar que a tendência inconsciente para a inversão nunca está ausente e, em particular, presta os maiores serviços ao esclarecimento da histeria masculina....

 PREVENÇÃO DA INVERSÃO [homossexalidade ou homossexualismo]

 Uma das tarefas implícitas na escolha do objeto consiste em não se desencontrar do sexo oposto. Isso, como é sabido, não se soluciona sem um certo tateamento. Com freqüência, as primeiras moções depois da puberdade se extraviam, sem que haja nenhum dano permanente. Dessoir [1894] assinalou acertadamente a regularidade que se deixa entrever nas amizades apaixonadas dos rapazes e moças adolescentes por outros do mesmo sexo. A grande força que repele a inversão permanente do objeto sexual é, sem dúvida, a atração que os caracteres sexuais opostos exercem entre si; no contexto desta discussão, nada podemos dizer para esclarecê-la. Mas esse fator não basta, por si só, para excluir a inversão; diversos outros fatores auxiliares vêm juntar-se a ele. Acima de tudo, há o entrave autoritário da sociedade; quando a inversão não é considerada um crime, vê-se que ela responde plenamente às inclinações sexuais de um número nada pequeno de indivíduos. Pode-se ainda presumir, no tocante ao homem, que sua lembrança infantil de ternura da mãe e de outras pessoas do sexo feminino a quem ficava entregue quando criança contribui energicamente para nortear sua escolha para a mulher, ao passo que a intimidação sexual precoce que experimentou por parte do pai e sua atitude competitiva com relação a ele desvia-o de seu próprio sexo. Mas ambos os fatores aplicam-se também à menina, cuja atividade sexual fica sob a guarda especial da mãe. Daí resulta uma relação hostil com o mesmo sexo, que influencia decisivamente a escolha do objeto no sentido considerado normal.

A educação dos meninos por pessoas do sexo masculino (pelos escravos, na antigüidade) parece favorecer o homossexualismo; a freqüência da inversão na aristocracia de hoje torna-se um pouco mais inteligível diante de seu emprego de criados do sexo masculino, bem como pelos maiores cuidados pessoais que a mãe dedica aos filhos. Em muitos histéricos, vê-se que a ausência precoce de um dos pais (por morte, divórcio ou separação), em função da qual o remanescente absorveu a totalidade do amor da criança, foi o determinante do sexo da pessoa posteriormente escolhida como objeto sexual, com isso possibilitando-se a inversão permanente.



Em primeiro lugar (deixando de lado os indivíduos cujo instinto sexual é exagerado ou que resiste à inibição) estão diversas variedades de pervertidos, nos quais uma fixação infantil a um objetivo sexual preliminar impediu o estabelecimento da primazia da função reprodutora, e os homossexuais ou invertidos, nos quais, de maneira ainda não compreendida, o objetivo sexual foi defletido do sexo oposto. Se os efeitos nocivos desses dois gêneros de distúrbios do desenvolvimento são menores do que seria de esperar, tal se deve justamente à complexa constituição do instinto sexual, que possibilita à vida sexual do indivíduo atingir uma forma final útil, mesmo que um ou mais componentes do instinto tenham sido alijados do seu desenvolvimento. A constituição das pessoas que sofrem de inversão - os homossexuais - distingue-se amiúde pela especial aptidão do seu instinto sexual para a sublimação cultural. MORAL SEXUAL CIVILIZADA E DOENÇA NERVOSA MODERNA

Se um indivíduo na infância ‘fixa’ essa idéia da mulher com um pênis, tornar-se-á, resistindo a todas as influências dos anos posteriores, incapaz de prescindir de um pênis no seu objeto sexual, e, embora em outros aspectos tenha uma vida sexual normal, está fadado a tornar-se um homossexual, indo procurar seu objeto sexual entre os homens que, devido a características físicas e mentais, lembram a mulher. Quando, mais tarde, vem a conhecer mulheres, elas já não podem mais ser para ele objetos sexuais porque carecem da atração sexual básica; na verdade, em conexão com uma outra impressão de sua vida infantil, elas podem causar-lhe repugnância.O menino, no qual dominam principalmente as excitações do pênis, costuma obter prazer estimulando esse órgão com a mão. Seus pais e sua ama o surpreenderam nesse ato e o intimidam com a ameaça de cortar-lhe o pênis. O efeito dessa ‘ameaça de castração’ é proporcional ao valor conferido ao órgão, sendo extraordinariamente profundo e persistente. As lendas e os mitos atestam o transtorno da vida emocional e todo o horror ligado ao complexo de castração, complexo este que será subseqüentemente lembrado com grande relutância pela consciência. Os genitais femininos, vistos mais tarde, são encarados como um órgão mutilado e trazem à lembrança aquela ameaça, despertando assim horror, em vez de prazer, no homossexual. Essa reação não sofre nenhuma alteração quando o homossexual, através da ciência, vem a saber que a suposição infantil que atribui um pênis à mulher não é assim tão errada...

...Naqueles que mais tarde se tornam homossexuais encontramos a mesma predominância na influência da zona genital (e especialmente do pênis) que nas pessoas normais. Na realidade é a alta estima sentida pelo homossexual pelo órgão masculino que decide o seu destino. Na sua infância ele escolhe mulheres como seu objeto sexual, enquanto presume que elas também possuem o que, a seus olhos, é uma parte indispensável do corpo; quando ele se convence de que as mulheres o decepcionaram nesse particular, elas deixam de ser aceitáveis para ele como objeto sexual. Ele não pode abrir mão de um pênis em qualquer pessoa que deva atraí-lo para o ato sexual; e se as circunstâncias forem favoráveis, ele fixará sua libido sobre a `mulher com um pênis’, um jovem de aparência feminina. Os homossexuais, então, são pessoas que, devido à importância erógena dos seus próprios genitais, não podem passar sem uma forma semelhante no seu objeto sexual. No curso do desenvolvimento do auto-erotismo para o amor objetal, eles permaneceram fixados num ponto entre os dois - um ponto que está mais perto do auto-erotismo....


Antes de a criança ser dominada pelo complexo de castração - isto é, numa época em que a mulher ainda conserva para ela todo o seu valor - ela começa a exteriorizar um intenso desejo visual, como atividade erótica instintiva. Quer ver os genitais de outras pessoas, a princípio provavelmente para compará-lo com o seu próprio. A atração erótica que sente por sua mãe logo se transforma em um desejo pelo seu órgão genital, que supõe ser um pênis. Com a descoberta que fará, mais tarde, de que as mulheres não possuem pênis, este desejo muitas vezes se transforma no seu oposto, dando origem a um sentimento de repulsa que, na época da puberdade, poderá ser a causa de impotência psíquica, misoginia e homossexualidade permanente. Porém a fixação no objeto antes tão intensamente desejado, o pênis da mulher, deixa traços indeléveis na vida mental da criança, quando esta fase de sua investigação sexual infantil foi particularmente intensa. Um culto fetichista cujo objeto é o pé ou calçado feminino parece tomar o pé como mero símbolo substitutivo do pênis da mulher, outrora tão reverenciado e depois perdido. Sem o saber, os `coupeurs de nattes‘ desempenham o papel de pessoas que executam um ato de castração sobre o órgão genital feminino.


Os homossexuais, que em nossos dias se têm defendido energicamente das restrições impostas por lei às suas atividades sexuais, gostam de ser apresentados, por intermédio de seus teóricos defensores, como pertencendo a uma espécie diferente, como um estágio sexual intermediário ou como um `terceiro sexo.’ Eles se declaram homens inatamente compelidos, por disposições orgânicas, a achar prazer com outros homens, o que não conseguem com mulheres. Por maior que seja a nossa vontade, por motivos humanitários, de acatar suas declarações, devemos analisar as suas teorias com reservas, pois foram feitas sem levar em conta a gênese psíquica da homossexualidade.
A psicanálise oferece meios para preencher essa lacuna e para testar as afirmativas dos homossexuais. Embora só tenha conseguido colher dados de um número reduzido de pessoas, todas as investigações empreendidas até agora produziram o mesmo resultado surpreendente. Em todos os nossos casos de homossexuais masculinos, os indivíduos haviam tido uma ligação erótica muito intensa com uma mulher, geralmente sua mãe, durante o primeiro período de sua infância, esquecendo depois esse fato; essa ligação havia sido despertada ou encorajada por demasiada ternura por parte da própria mãe, e reforçada posteriormente pelo papel secundário desempenhado pelo pai durante sua infância. Sadger chama atenção para o fato de as mães dos seus pacientes homossexuais serem muitas vezes masculinizadas, mulheres com enérgicos traços de caráter e capazes de deslocar o pai do lugar que lhe corresponde. Observei ocasionalmente a mesma coisa, porém me impressionei mais com os casos em que o pai estava ausente desde o começo, ou abandonara a cena muito cedo, deixando o menino inteiramente sob a influência feminina. Na verdade, parece que a presença de um pai forte asseguraria, no filho, a escolha correta de objeto, ou seja, uma pessoa do sexo oposto. Depois desse estágio preliminar, estabelece-se uma transformação cujo mecanismo conhecemos mas cujas forças determinantes ainda não compreendemos. O amor da criança por sua mãe não pode mais continuar a se desenvolver conscientemente - ele sucumbe à repressão. O menino reprime seu amor pela mãe; coloca-se em seu lugar, identifica-se com ela, e toma a si próprio como um modelo a que devem assemelhar-se os novos objetos de seu amor. Desse modo ele transformou-se num homossexual. O que de fato aconteceu foi um retorno ao auto-erotismo, pois os meninos que ele agora ama à medida que cresce, são, apenas, figuras substitutivas e lembranças de si próprio durante sua infância - meninos que ele ama da maneira que sua mãe o amava quando era ele uma criança. Encontram seus objetos de amor segundo o modelo do narcisismo, pois Narciso, segundo a lenda grega, era um jovem que preferia sua própria imagem a qualquer outra, e foi assim transformado na bela flor do mesmo nome.Considerações psicológicas mais profundas justificam a afirmativa de que um homem que assim se torna homossexual, permanece inconscientemente fixado à imagem mnêmica de sua mãe. Reprimindo seu amor à sua mãe, conserva-o em seu inconsciente e daí por diante permanece-lhe fiel. Quando parece perseguir outros rapazes e tornar-se seu amante, na realidade está fugindo das outras mulheres que o possam levar à infidelidade. Em casos individuais, a observação direta tem-nos permitido demonstrar que o homem que dá a impressão de ser sensível somente aos encantos de outros homens sente-se, na verdade, atraído pelas mulheres, como qualquer homem normal; mas em cada ocasião procura transferir imediatamente a excitação provocada pela mulher para um objeto masculino e, desse modo, repete incessantemente o mecanismo pelo qual adquiriu sua homossexualidade. Estamos longe de querer exagerar a importância dessas explicações sobre a gênese psíquica da homossexualidade. É óbvio que elas discordam completamente das teorias adotadas pelos defensores dos homossexuais, mas sabemos também que não são bastante claras para chegar a uma conclusão definitiva sobre esse problema. Aquilo que, por motivos práticos, é geralmente chamado de homossexualidade poderá ser o resultante de uma variedade enorme de processos inibitórios psicossexuais; o processo particular que destacamos é, talvez, apenas um entre muitos outros e talvez corresponda a um único tipo de `homossexualidade’. Devemos também admitir que o número de casos de homossexualismo deste tipo, em que podemos reconhecer as causas determinantes assinaladas por nós, é bem maior do que aqueles em que ele de fato se concretiza. Portanto, nós também não podemos negar a influência exercida por fatores constitucionais desconhecidos, aos quais geralmente se atribui toda a homossexualidade. Não teríamos tido motivo algum para entrar na gênese psíquica da forma de homossexualidade que estudamos se não houvesse um forte pressentimento de que Leonardo, cuja fantasia sobre o abutre foi o nosso ponto de partida, fosse, na verdade, um homossexual exatamente desse tipo....

Como sabemos, uma decisão no sentido da homossexualidade somente se concretiza nos anos da puberdade. Quando esta decisão ocorreu no caso de Leonardo, sua identificação com o pai perdeu toda a significação para sua vida sexual mas manteve-se presente em outras esferas de atividade não-erótica....

 Falando de modo geral, todo ser humano oscila, ao longo da vida, entre sentimentos heterossexuais e homossexuais e qualquer frustração ou desapontamento numa das direções pode impulsioná- lo para outra...

Antes de a criança ser dominada pelo complexo de castração - isto é, numa época em que a mulher ainda conserva para ela todo o seu valor - ela começa a exteriorizar um intenso desejo visual, como atividade erótica instintiva. Quer ver os genitais de outras pessoas, a princípio provavelmente para compará-lo com o seu próprio. A atração erótica que sente por sua mãe logo se transforma em um desejo pelo seu órgão genital, que supõe ser um pênis. Com a descoberta que fará, mais tarde, de que as mulheres não possuem pênis, este desejo muitas vezes se transforma no seu oposto, dando origem a um sentimento de repulsa que, na época da puberdade, poderá ser a causa de impotência psíquica, misoginia e homossexualidade permanente. Porém a fixação no objeto antes tão intensamente desejado, o pênis da mulher, deixa traços indeléveis na vida mental da criança, quando esta fase de sua investigação sexual infantil foi particularmente intensa. Um culto fetichista cujo objeto é o pé ou calçado feminino parece tomar o pé como mero símbolo substitutivo do pênis da mulher, outrora tão reverenciado e depois perdido. Sem o saber, os `coupeurs de nattes‘ desempenham o papel de pessoas que executam um ato de castração sobre o órgão genital feminino. ...

Tais pessoas denominamos homossexuais ou invertidas. São homens e mulheres que, freqüentemente, mas não sempre, conduzindo-se irrepreensivelmente, em outros aspectos, possuindo elevado desenvolvimento intelectual e ético, são vítimas apenas deste único desvio fatídico. Pela boca de seus porta-vozes científicos, eles se apresentam como variedade especial da espécie humana - um ‘terceiro sexo’ que tem o direito de se situar em pé de igualdade com os outros dois. Talvez tenhamos oportunidade de examinar criticamente suas reivindicações. [ver em [1] e seg., adiante.] Naturalmente, eles não são, como também gostam de afirmar, uma ‘élite‘ da humanidade; entre eles, há pelo menos tantos indivíduos inferiores e inúteis como os há entre pessoas de tipo sexual diferente.Esta classe de pervertidos, de qualquer modo, se comporta em relação a seus objetos sexuais aproximadamente da mesma forma como as pessoas normais o fazem com os seus...

Pois somente será válida se na ‘satisfação sexual’ incluirmos a satisfação daquilo que se chama necessidades sexuais pervertidas, de vez que, com freqüência surpreendente, se nos impõe uma interpretação de sintomas dessa espécie. A reivindicação que fazem os homossexuais ou invertidos de serem uma exceção, desfaz-se imediatamente ao constatarmos que os impulsos homossexuais são encontrados invariavelmente em cada um dos neuróticos e que numerosos sintomas dão expressão a essa inversão latente. Aqueles que se proclamam homossexuais são apenas invertidos conscientes e manifestos e seu número nada é em comparação com os dos homossexuais latentes. Entretanto, somos forçados a encarar a escolha de um objeto do mesmo sexo como um desvio na vida erótica, desvio cuja ocorrência é positivamente freqüente, e cada vez aprendemos mais sobre isso, atribuindo-lhe importância particularmente elevada. Sem dúvida, isso não elimina as diferenças entre o homossexualismo manifesto e uma atitude normal; permanece a importância prática dessas diferenças, mas seu valor teórico diminui muito. Temos até mesmo verificado que determinada doença, a paranóia, que não deve ser incluída entre as neuroses de transferência, origina-se habitualmente de uma tentativa no sentido de o doente libertar-se de impulsos homossexuais excessivamente intensos...

A gênese do homossexualismo masculino, em grande quantidade de casos, é a seguinte: um jovem esteve inusitadamente e por longo tempo fixado em sua mãe, no sentido do complexo de Édipo. Finalmente, porém, após o término da puberdade, chega a ocasião de trocar a mãe por algum outro objeto sexual. As coisas sofrem uma virada repentina: o jovem não abandona a mãe, mas identifica-se com ela; transforma-se e procura então objetos que possam substituir o seu ego para ele, objetos aos quais possa conceder um amor e um carinho iguais aos que recebeu de sua mãe. Trata-se de processo freqüente, que pode ser confirmado tão amiúde quanto se queira, e que, naturalmente, é inteiramente independente de qualquer hipótese que se possa efetuar quanto à força orgânica impulsora e aos motivos de repentina transformação. Uma coisa notável sobre essa identificação é sua ampla escala; ela remolda o ego em um de seus mais importantes aspectos, em seu caráter sexual, segundo o modelo do que até então constituíra o objeto. Neste processo, o objeto em si mesmo é renunciado, se inteiramente ou se no sentido de ser preservado apenas no inconsciente sendo uma questão que se acha fora do escopo do presente estudo. A identificação com um objeto que é renunciado ou perdido, como um sucedâneo para esse objeto - introjeção dele no ego - não constitui verdadeiramente mais novidade para nós. Um processo dessa espécie pode às vezes ser diretamente observado em crianças pequenas. Há pouco tempo atrás uma observação desse tipo foi publicada no Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse. Uma criança que se achava pesarosa pela perda de um gatinho declarou francamente que ela agora era o gatinho e, por conseguinte, andava de quatro, não comia à mesa etc...

O número de êxitos conseguidos pelo tratamento psicanalítico das diversas formas de homossexualismo, que, por casualidade, são múltiplas, na verdade não é muito notável. Via de regra, o homossexual não é capaz de abandonar o objeto que o abastece de prazer e não se pode convencê-lo de que, se fizesse a mudança, descobriria em outro objeto o prazer a que renunciou. Se chega a ser tratado, isso se dá principalmente pela pressão de motivos externos, tais como as desvantagens sociais e os perigos ligados à sua escolha de objetos; e esses componentes do instinto de autoconservação mostram-se fracos demais na luta contra os impulsos sexuais. Então, logo descobrimos seu plano secreto, que é obter do notável fracasso de sua tentativa um sentimento de satisfação por ter feito tudo quanto possível contra a sua anormalidade, com o qual pode resignar-se agora de consciência tranqüila. O caso é um tanto diferente quando a consideração por pais e parentes queridos foi o motivo da sua tentativa de curar-se. Aqui estão realmente presentes impulsos libidinais que podem aplicar energias opostas à escolha homossexual de objeto, contudo sua força raramente é suficiente. Apenas onde a fixação homossexual ainda não se tornou suficientemente forte, ou onde existem consideráveis rudimentos e vestígios de uma escolha heterossexual de objeto, isto é, numa organização ainda oscilante ou definitivamente bissexual, é que se pode efetuar um prognóstico mais favorável para a psicoterapia psicanalítica. ...

O mistério do homossexualismo, portanto, não é de maneira alguma tão simples quanto comumente se retrata nas exposições populares: ‘uma mente feminina, fadada assim a amar um homem, mas infelizmente ligada a um corpo masculino; uma mente masculina, irresistivelmente atraída pelas mulheres, mas, ai dela, aprisionada em um corpo feminino’. Trata-se, em seu lugar, de uma questão de três conjuntos de características, a saber: Caracteres sexuais físicos (hermafroditismo físico) Caracteres sexuais mentais (atitude masculina ou feminina) Tipo de escolha de objeto...


O primeiro deles é que os homens homossexuais experimentaram uma fixação especialmente forte na mãe; o segundo é que, além de sua heterossexualidade manifesta, uma medida muito considerável de homossexualismo latente ou inconsciente pode ser detectada em todas as pessoas normais. Se tomarmos em consideração essas descobertas, evidentemente, cai por terra a suposição de que a natureza criou, de maneira aberrante, um ‘terceiro sexo’....

 Homossexualismo. - O reconhecimento do fator orgânico no homossexualismo não nos isenta da obrigação de estudar os processos psíquicos vinculados à sua origem. O processo típico, já estabelecido em casos inumeráveis, é de um jovem, alguns anos após a puberdade, e que até então fora intensamente fixado na mãe, mudar de atitude; identifica-se com ela e procura objetos amorosos em quem possa redescobrir-se e a quem possa então amar como a mãe o amara. A marca característica desse processo é que, por vários anos, uma das condições necessárias para o seu amor consiste em o objeto masculino ter, em geral, a mesma idade que ele próprio tinha quando se deu a mudança. Vimos a conhecer diversos fatores que contribuem para esse resultado, provavelmente em graus diferentes. Primeiro há a fixação na mãe, que fica difícil de passar para outra mulher. A identificação com a mãe é um resultado dessa ligação e ao mesmo tempo, em certo sentido, permite que o filho lhe permaneça fiel, a ela que foi seu primeiro objeto. Há em seguida inclinação no sentido de uma escolha de objeto narcísico, que em geral se encontra mais à mão e é mais fácil de efetuar que um movimento no sentido do outro sexo. Por trás desse último fator jaz oculto um outro, de força bastante excepcional, ou talvez coincida com ele: o alto valor atribuído ao órgão masculino e a incapacidade de tolerar sua ausência num objeto amoroso. A depreciação das mulheres, a aversão e até mesmo o horror a elas derivam-se geralmente da precoce descoberta de que as mulheres não possuem pênis. Subseqüentemente descobrimos, como outro poderoso motivo a compelir no sentido da escolha homossexual de objeto, a consideração pelo pai ou o medo dele, porque a renúncia às mulheres significa que toda a rivalidade com aquele (ou com todos os homens que podem tomar seu lugar) é evitada. Os dois últimos motivos - o apego à condição de existência de um pênis no objeto, bem como o afastamento em favor do pai - podem ser atribuídos ao complexo de castração. A ligação à mãe, o narcisismo, o medo da castração são os fatores (que, incidentalmente, nada têm em si de especial) que até o presente encontramos na etiologia psíquica do homossexualismo; com eles é preciso computar o efeito da sedução responsável por uma fixação prematura da libido, bem como a influência do fator orgânico que favorece o papel passivo no amor. Nunca consideramos, entretanto, esta análise da origem do homossexualismo como completa. Posso agora indicar um novo mecanismo que conduz à escolha homossexual do objeto, embora não possa dizer quão grande é o papel que ele desempenha na formação do tipo de homossexualismo extremo, manifesto e exclusivo. A observação dirigiu minha atenção para diversos casos em que, durante a primeira infância, impulsos de ciúmes, derivados do complexo materno e de grande intensidade, surgiram [num menino] contra os rivais, geralmente irmãos mais velhos. Esse ciúme provocou uma atitude excessivamente hostil e agressiva para com esses irmãos, que poderia às vezes atingir a intensidade de desejos reais de morte, incapazes então de manter-se face ao desenvolvimento ulterior do sujeito. Sob as influências da criação - e certamente sem deixar de ser influenciados também por sua própria e continuada impotência - esses impulsos renderam-se à repressão e experimentaram uma transformação, de maneira que os rivais do período anterior se tornaram os primeiros objetos amorosos homossexuais. Tal resultado da ligação à mãe mostra-nos diversas relações e interessantes com outros processos que nos são conhecidos. Antes de tudo, ele é um contraste completo com o desenvolvimento da paranóia persecutória, na qual a pessoa anteriormente amada se torna o perseguidor odiado, ao passo que aqui os rivais odiados se transformam em objetos amorosos. Representa também uma exageração do processo que, na minha opinião, conduz ao nascimento dos instintos sociais no indivíduo. Em ambos os processos há primeiro a presença de impulsos ciumentos e hostis que não podem conseguir satisfação, e tanto os sentimentos afetuosos quanto os sentimentos sociais de identificação surgem como formações reativas contra os impulsos agressivos reprimidos. Esse novo mecanismo de escolha homossexual de objeto - sua origem na rivalidade que foi sobrepujada e em impulsos agressivos que se tornaram reprimidos - combina-se às vezes com as condições típicas já familiares para nós. Na história dos homossexuais ouve-se amiúde que neles a mudança se efetuou após a mãe ter elogiado outro rapaz e tê-lo estabelecido como modelo. A tendência à escolha narcísica de objeto foi assim estimulada e, após uma breve fase de agudos ciúmes, o rival se torna um objeto amoroso. Via de regra, contudo, o novo mecanismo se distingue pelo fato de a mudança efetuar-se em um período muito mais precoce e a identificação com a mãe retroceder para o segundo plano. Ademais, nos casos que observei, ele apenas levou a atitudes homossexuais que não excluem a heterossexualidade e não envolvem um horror feminae. É bem conhecido que um bom número de homossexuais se caracteriza por um desenvolvimento especial de seus impulsos instintuais sociais e por sua devoção aos interesses da comunidade. Seria tentador, como explicação teórica pertinente, dizer que o comportamento para com os homens em geral, de um homem que vê nos outros homens objetos amorosos potenciais, deve ser diferente do de um homem que encara os outros, em primeira instância, como rivais em relação às mulheres. A única objeção a isso é que o ciúme e a rivalidade desempenham seu papel também no amor homossexual e que a comunidade dos homens também inclui esses rivais potenciais. À parte esta explicação especulativa, contudo, o fato de a escolha homossexual de objeto não sem freqüência provir de um anterior sobrepujamento da rivalidade com os homens não pode passar sem relação com a vinculação entre o homossexualismo e o sentimento social. À luz da psicanálise, estamos acostumados a considerar o sentimento social como uma sublimação de atitudes homossexuais para com objetos. Nos homossexuais com acentuados interesses sociais pareceria que o desligamento do sentimento social da escolha de objeto não foi inteiramente efetuado....

A mais importante dessas perversões, a homossexualidade, quase não merece esse nome. Ela pode ser remetida à bissexualidade constitucional de todos os seres humanos e aos efeitos secundários da primazia fálica. A psicanálise permite-nos apontar para um vestígio ou outro de uma escolha homossexual em todos os indivíduos. Se eu descrevi as crianças como ‘polimorficamente perversas’ estava apenas empregando uma terminologia que era geralmente corrente; não estava implícito qualquer julgamento moral. A psicanálise não se preocupa em absoluto com tais julgamentos de valor....

 As inibições em seu desenvolvimento manifestam-se como os muitos tipos de distúrbio da vida sexual. Quando é assim, encontramos fixações da libido a condições de fases anteriores, cujo impulso, que é independente do objetivo sexual normal, é descrito como perversão. Uma dessas inibições do desenvolvimento é, por exemplo, a homossexualidade, quando ela é manifesta. A análise mostra que em todos os casos um vínculo objetal de caráter homossexual esteve presente e, na maioria dos casos, persistiu em estado latente..." OBRAS COMPLETAS DE FREUD

BIBILIOGRAFIA:
OBRAS COMPLETAS DE FREUD
Report of the American Psychological Association Task Force on Appropriate Therapeutic Responses to Sexual Orientation- APA. August 2009 Printed in the USA   https://www.apa.org/pi/lgbt/resources/therapeutic-response.pdf