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sábado, 25 de julho de 2015

o sinal do fim dos tempos- não tem nada a ver com fomes, terremotos e guerras




Este artigo foi feito de  trechos do livro abaixo.


se desejar dados atuais vá até o fim da página.




ÍNDICE

ix
1
1
2
11
3
46
4
Pestilências -- No Passado e no Presente
88
5
124
6
É o Actual 'Aumento do que é Contra a Lei' Sem Precedentes?
157
7
180
8
"Qual Será o Sinal da Tua Presença?"
202

237

249

266


The Sign of the Last Days -- When? (O Sinal dos Últimos Dias -- Quando?) (Atlanta: Commentary Press, 1987) de Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst, pp. i-xvi.




É tal sinal visível mundialmente nesta geração?

O que os factos surpreendentes da História revelam a respeito da alegada evidência que supostamente aponta para o nosso tempo.


Salvo indicação em contrário, as citações da Bíblia neste livro são [traduções para português] da American Standard Version [Versão Padrão Americana]. Abreviaturas de outras traduções da Bíblia citadas:


AT

An American Translation [Uma Tradução Americana]


JB  The Jerusalem Bible [A Bíblia de Jerusalém]


NAB  The New American Bible [A Nova Bíblia Americana]


NASB  The New American Standard Bible [A Nova Bíblia Padrão Americana]


NEB   The New English Bible [A Nova Bíblia Inglesa]


NIV  The New International Version [A Nova Versão Internacional]


NW  The New World Translation [Tradução do Novo Mundo]


RSV  The Revised Standard Version [A Versão Padrão Revista]


TEV  Today's English Version [Versão no Inglês de Hoje]


Todos os direitos reservados.
Copyright do original em inglês © 1987 by Commentary Press, P.O. Box 43532, Atlanta, Georgia 30336
Copyright da tradução portuguesa © 1999-2000 Observatório Watchtower

Produzido nos Estados Unidos da América
Tipografia por Graphic Composition, Inc.
Impressão e encadernação por Arcata Graphics

ISBN: 0-914675-09-5
Library of Congress Catalog Card No.: 86-72140



Cuidado para não serdes enganados.... Muitos virão em meu nome, dizendo "Eu sou ele" e "Agora o tempo está muito próximo". Nunca sigais homens como esses.

— Palavras de Jesus Cristo registadas em Lucas 21:8,
The New Testament in Modern English.



Prefácio


"Que guerras terríveis, tanto no estrangeiro como cá dentro! Que pestes, fomes... e tremores de terra tem registado a História!" — Tertuliano, Ad Nationes, escrevendo no ano 197 D.C.

A vinda de Jesus Cristo à terra e a promessa do seu regresso despertaram grandes expectativas nos corações humanos. Nos vinte séculos que decorreram desde aquele tempo até hoje, nem todas as expectativas que as pessoas abraçaram foram saudáveis, solidamente baseadas nas Escrituras ou em factos.

Uma característica de um grande segmento de todas as gerações parece ter sido a crença de que o seu tempo era único. Embora cientes das dificuldades e calamidades que foram o quinhão das pessoas em todas as eras, ainda assim eles concluíram que o seu tempo era pior -- que os problemas e perigos estavam a aumentar rapidamente em direcção à calamidade extrema que poderia, e iria, acabar com o mundo.

Ouvimos frequentemente a expressão "os bons velhos tempos." A nostalgia faz o passado parecer melhor e o presente cada vez pior. Esta atitude faz lembrar a admoestação bíblica: "Não digas: 'Como se explica que os tempos anteriores fossem melhores do que estes?' pois não é com sabedoria que perguntas isto." -- Eclesiastes 7:10, The New American Bible [A Nova Bíblia Americana].

Comentando este texto, um perito diz:

A suposição é uma reflexão tola sobre a providência de Deus neste mundo.... Somos tão estranhos em relação às eras passadas, e juízes tão incompetentes mesmo dos tempos actuais, que não podemos esperar uma resposta satisfatória à questão e por isso 'não perguntamos sabiamente.'1

Talvez por sermos assim tão 'estranhos em relação ao passado', é fácil vermos nos acontecimentos e circunstâncias dos nossos dias uma distinção e unicidade que na verdade não estão lá.

Na mente de muitas pessoas religiosas existe a crença de que a guerra final do Armagedom, a vinda de Cristo Jesus para o julgamento final, ocorrerá de certeza nos seus dias. É difícil uma pessoa aceitar que um acontecimento de tal importância não ocorra durante o seu tempo de vida. Resistimos no nosso íntimo ao pensamento de perdermos esse acontecimento, de não sentirmos um 'encontro pessoal com a história', particularmente no caso da história divina. Sem dúvida, é por esta razão que livros que alimentam e estimulam esse tipo de expectativas muitas vezes gozam de grande popularidade. Como apenas um exemplo, o livro The Late Great Planet Earth [O Falecido Grande Planeta Terra], de Hal Lindsey, alcançou uma circulação superior a 18 milhões de cópias em várias línguas. É óbvio que as pessoas querem acreditar que o seu tempo é único, assinalado na profecia bíblica como especial.

No entanto, a história mostra que uma geração após outra fixou grandes expectativas em certas datas ou predições, sofrendo depois desapontamento, tornando-se muitos seriamente, mesmo amargamente, desiludidos quando as suas expectativas não se materializam.

Em nítido contraste com tal atitude, a Bíblia mostra a dura realidade dos factos no que diz respeito à vida humana em geral ao dizer:

O que aconteceu antes, acontecerá outra vez. O que foi feito antes, será feito outra vez. Não há nada novo em todo o mundo. 'Olhem!' dizem eles, 'aqui está algo novo!' Mas não, já tudo aconteceu antes de termos nascido. Ninguém se lembra do que aconteceu no passado, e ninguém nos dias vindouros se lembrará do que acontecerá entre agora e esse tempo. -- Eclesiastes 1:9-11, Today's English Version [Versão no Inglês de Hoje].

Tanto na Idade das Trevas, como na Idade Média, na Idade das Descobertas, na Era Industrial, na Era Atómica, na Era Espacial, os acontecimentos em cada época são essencialmente repetições, variações, elaborações ou extensões do passado e a vida na terra, o rumo global da humanidade, a própria natureza humana e o relacionamento mútuo dos humanos, continuam a ser muito semelhantes em relação àquilo que eram no passado. O que parece marcante, mesmo estupendo, para uma geração, não o é para a seguinte e raramente figura nos pensamentos e preocupações diárias das pessoas que vivem nessa época posterior. Por muito espectacular que uma descida na lua possa ser, quantas pessoas hoje em dia se lembram do nome do primeiro homem que pisou a lua? O passado desvanece-se dos pensamentos humanos que estão imersos no presente e debatem-se com o futuro.

As Escrituras, na realidade, mostram que a única mudança genuinamente completa tem lugar no momento da revelação do Filho de Deus, que pode fazer todas as coisas verdadeiramente novas.

Se a história tem alguma lição para nós, é exactamente a falta de sabedoria de quem "estabelece datas" para o fim. O escritor Noel Mason disse num editorial:

A história dos 'fazedores de datas' judeus e cristãos, com todo o seu amargo desapontamento e desilusões, não restringiu o desejo de muitos cristãos em calcular o fim. Alguns grupos continuam apegando-se às suas datas apesar do embaraço criado [para eles] pelo decorrer da história. Em vez de reconhecerem que as suas interpretações de Daniel e Revelação estão erradas, muitos simplesmente evitam o embaraço reinterpretando o suposto 'cumprimento.'2

Portanto, estabelecer datas [para o fim] e escritos religiosos alarmistas são 'notícias muito velhas', ocorrendo repetidamente ao longo de todos os dezanove séculos da era cristã. Logo no primeiro século encontramos o apóstolo Paulo escrevendo a crentes em Tessalónica:

Agora imploramo-vos, irmãos, pela certeza da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo e da nossa reunião com ele, que mantenhais a vossa calma e não percais o vosso equilíbrio devido a uma predição, mensagem ou carta supostamente vinda de nós, e dizendo que o dia do Senhor já chegou. Não deixeis que ninguém vos engane seja por que meio for. -- Segundo Tessalonicenses 2:1-3, The New Testament in Modern English [O Novo Testamento em Inglês Moderno], por J. B. Phillips.

Apesar desse pedido, as conjecturas e predições não acabaram. No terceiro século, por exemplo, encontramos Cipriano, um dos pais da igreja, fazendo para os cristãos seus contemporâneos este retrato de mau agoiro:

Que as guerras continuam frequentemente a prevalecer, que a morte e a fome acumulam ansiedade, que a saúde é abalada por doenças violentas, que a raça humana é devastada pela desolação da pestilência, saibam que isto foi predito; que os males seriam multiplicados nos últimos dias, e que as desgraças seriam variadas; e que o dia do julgamento se está agora a aproximar.3

No sexto século, num sermão poderoso e excitante, o Papa Gregório o Grande proclamou:

De todos os sinais descritos pelo nosso Senhor como pressagiando o fim do mundo, alguns vemos já realizados.... Pois sabemos que nação se levanta contra nação e que elas pressionam e arremetem contra a terra nos nossos próprios tempos como nunca antes nos anais do passado. Terramotos submergem inúmeras cidades, como ouvimos frequentemente de outras partes do mundo. A pestilência continuará sem interrupção. É verdade que não presenciamos sinais no sol, na lua e nas estrelas, mas que não estão muito longe podemos inferir a partir das mudanças na atmosfera.4

Assim, a história regista a longa e sombria lista de predições e falhanços de inúmeros "profetas" dos tempos do fim. Não parece necessário entrar em pormenores acerca de todos os proclamadores dos últimos dias que no nosso próprio tempo têm -- tanto através da palavra impressa como por sermões transmitidos pela rádio e televisão -- levantado expectativas excitadas com as suas predições escatológicas alarmistas.

Será que isto significa que um senso de expectativa é errado? De modo nenhum, pois somos constantemente instados nas Escrituras a ficar "vigilantes". "Vigilantes" em relação a quê? Será que os falhanços das predições que foram feitas no passado significam necessariamente que a nossa geração não pode ser a excepção, que o nosso século vinte não pode de facto conter acontecimentos que marcam definitivamente o nosso tempo como sendo aquele em que a profecia bíblica alcançará o seu cumprimento final? Se a Bíblia de facto estabelece um certo "sinal" (talvez composto por vários "sinais" individuais) que nos permite identificar tal período e se esse "sinal" é agora visível, seria desastroso para nós não o reconhecer, seria repreensível não contribuir para o tornar conhecido. Por outro lado, se tais afirmações não passam de manipulação de factos e, pior ainda, manipulação das Escrituras, então seria igualmente desastroso e repreensível para nós promover confiança em tais afirmações, contribuindo para a sua difusão. Repreensível porque significaria desobedecer à Palavra de Deus que avisa contra enganar outros, engano esse que pode ser não apenas doloroso emocional, material e fisicamente, mas pode também causar uma erosão devastadora da fé na genuína mensagem de Deus.

Há que afirme que hoje estamos a ver tal "sinal" ou "sinais" que identificam a nossa geração como sendo aquela que vive no tempo do fim do mundo.

No seu best-seller intitulado Approaching Hoofbeats, The Four Horsemen of the Apocalypse [Passos Que Se Aproximam, Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse], o Dr. Billy Graham declara:

Temos de nos interrogar: É este o tempo 'do fim' de que a Bíblia fala em termos tão visuais em tantos lugares? ... A Bíblia ensina que haverá um certo número de sinais que são facilmente discerníveis à medida que nos aproximamos do fim da era. Todos estes sinais parecem actualmente estar a ficar em foco. -- Páginas 126, 127.

Sob o cabeçalho "Watch for These Signs" ["Estejam Atentos a Estes Sinais"], no livro The Promise [A Promessa], publicado em 1982, Hal Lindsey refere-se às palavras de Jesus em Mateus capítulo vinte e quatro e enumera estes sinais como sendo guerras, fome, pragas, anarquia e terramotos. Ele assemelha estes e outros aspectos da profecia a peças de um "grande puzzle complexo" e diz ainda que, depois do estabelecimento do Estado Judeu em Israel em 1948, "todo o cenário profético começou a encaixar-se com rapidez vertiginosa." -- Páginas 197-199.

Em Good-bye, Planet Earth [Adeus, Planeta Terra], um livro que em alguns aspectos parece ser feito à imagem do livro de Hal Lindsey intitulado The Late Great Planet Earth [O Falecido Grande Planeta Terra], o autor Robert H. Pierson, Adventista do Sétimo Dia, cita a pergunta dos discípulos a respeito da vinda de Jesus e depois diz:

Leia o que Jesus respondeu -- o que Ele tinha a dizer acerca do seu tempo e do meu -- a última parte do século vinte....

Leia estas palavras à luz dos acontecimentos mundiais actuais.

Segue-se o subtítulo:

O Aumento Fenomenal da Guerra, Crime, Violência e Medo, Todos São Sinais da Segunda Vinda de Jesus!5

O falecido Herbert W. Armstrong, fundador e líder da Worldwide Church of God [Igreja Mundial de Deus], numa carta dirigida a subscritores da revista Plain Truth [Simplesmente a Verdade], escreveu:

... deixe-me dar-lhe uma breve descrição do mundo em que O LEITOR vive hoje, e do que os próximos anos trarão à SUA e à minha vida. Estamos a viver num tempo de PERIGO extremo! ... Toda a evidência parece indicá-lo -- poluição, crime e violência sem precedentes, vida familiar em desagregação, [decadência da] moral, terrorismo, guerras locais na Ásia, no Médio Oriente e na América do Sul. TODOS os sinais apontam para o facto de que estamos a viver no TEMPO DO FIM desta actual civilização! ...

Estamos a viver nos dias mais tremendos da história do mundo -- mesmo no TEMPO DO FIM, o FIM deste actual mundo mau, infeliz, violento -- imediatamente antes da Segunda Vinda do Senhor Jesus Cristo.

Apesar de numerosas fontes proclamarem que a nossa época é de facto diferente de qualquer outra época passada e que vemos de facto acontecimentos e condições que marcam definitivamente a nossa era como sendo a predita era final, provavelmente nenhuma fonte é mais notória ao fazer essa afirmação do que a organização internacional conhecida como Testemunhas de Jeová. A liderança, através da sua agência chamada Watch Tower Society, com sede em Brooklyn, Nova Iorque, tem construído um império editorial mundial raramente igualado no que diz respeito ao volume de publicações produzidas. Os milhões de membros são continuamente exortados a estarem cônscios da 'urgência do tempo'. Em resposta a essa exortação, os membros andam a bater às portas em todas as terras em que essa actividade é permitida, oferecendo literatura que afirma ser um facto indisputável o começo dos últimos dias na segunda década deste século, e que algumas das pessoas que viviam nessa altura, com certeza ainda estarão vivas quando o fim definitivo chegar.6

Mais ainda, o Corpo Governante das Testemunhas de Jeová torna a crença em tal ensino num artigo de fé, essencial para que Deus e Cristo nos aceitem e portanto necessário para todas as pessoas que querem ganhar a salvação. Por essa razão, qualquer membro que questione seriamente a solidez desse ensino -- baseado nas Escrituras e em factos -- está sujeito à desassociação [excomunhão], devendo de aí em diante ser completamente evitado e considerado como "apóstata" da verdadeira fé.

Devido a esses factores, e particularmente porque as suas alegações a respeito da "singularidade" dos nossos tempos muitas vezes ultrapassam -- tanto na forma explícita em que são feitas como em extensão -- as de outras fontes, nas comparações que fazem entre os ensinos das escrituras e os factos históricos, este livro em certas partes talvez analise com mais profundidade as alegações e predições feitas pelo Corpo Governante das Testemunhas de Jeová e a sua Watch Tower Society quanto ao tempo em que vivemos.

Ao fazermos isso, não estamos de modo nenhum a perder de vista as opiniões de outras fontes muito publicitadas, pois os mesmos factos aqui considerados têm uma relevância muito forte para as alegações e predições feitas por essas outras fontes.

Seja qual for a fonte, a questão essencial é: Será que essas alegações são mesmo autorizadas pelas Escrituras? Será que os acontecimentos e condições para as quais eles apontam de forma tão dramática, constituem realmente um "sinal" bíblico? Será que são verdadeiramente únicos e peculiares à nossa geração? O que mostram os factos?

Acreditamos que o material preparado pelos autores deste livro fará a grande maioria de nós aperceber-se quão "estranhos em relação ao passado" temos sido, e consequentemente, como foi fácil sermos 'juizes incompetentes do presente'. A evidência histórica que resultou da pesquisa intensiva dos autores sem dúvida será surpreendente para muitos, no entanto, está documentada de forma cuidadosa e autêntica. Dá-nos muito prazer publicar este trabalho, certos de que irá clarificar grandemente algumas questões muito cruciais.

Os Editores

Notas

1 Matthew Henry's Commentary [Comentário de Matthew Henry] em Eclesiastes 7:10.

2 Revista Good News Unlimited [Boas Novas Ilimitadas], Setembro de 1984, p. 4.

3 Cipriano, Tratado 5, "An Address to Demetrianus" ["Dirigido a Demitrianus"], The Ante-Nicene Fathers [Os Pais Ante-Niceanos], editado por A. Roberts e J. Donaldson, Eerdmans, 1978. Vol. V, p. 459.

4 Citado em His Appearing and His Kingdom [A Sua Aparição e o Seu Reino], por T. Francis Glasson, M.A., D.D., The Epworth Press, Londres, 1953, p. 45.

5 Good-bye, Planet Earth [Adeus, Planeta Terra], Pacific Press Publishing Association, 1976, p. 48. Conforme se verá no capítulo 8, nem todas as fontes dos Adventistas do Sétimo Dia têm a mesma posição do autor Pierson.

6 Estas palavras foram escritas em 1987. As Testemunhas de Jeová em 1995 abandonaram a falsa profecia descrita acima. (N. do T.)

The Sign of the Last Days -- When? (O Sinal dos Últimos Dias -- Quando?) (Atlanta: Commentary Press, 1987) de Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst, pp. 1-10.

Capítulo 1: O Nosso Século Vinte — Tempo do Fim?

Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst


Os anos que restam até ao fim do século vinte estão a passar rapidamente. O nosso século já foi palco de alguns acontecimentos monumentais e pode presenciar ainda outros.

Se aceitarmos as afirmações feitas por várias fontes religiosas, este século é o tempo em que decorrem os últimos dias. Circulam por todo o mundo livros que descrevem dramaticamente acontecimentos e circunstâncias do nosso tempo como sendo prova visível da proximidade do "fim". As afirmações deles são feitas com seriedade e frequentemente são acompanhadas por evidência impressionante como prova da sua validade. Algumas destas fontes religiosas até atribuem um ponto inicial específico para os últimos dias, no contexto deste século.
1914 -- O Início dos Últimos Dias?

Sem dúvida, o movimento religioso conhecido como Testemunhas de Jeová é, de entre estas fontes, a mais visível e publicamente vocal. O ano 1914 desempenha um papel chave na sua pregação pública. A circulação de milhões de cópias de livros de certos autores que falam do tempo do fim é rapidamente eclipsada pelas centenas de milhões de cópias de publicações da Watch Tower, que são distribuídas todos os anos em centenas de idiomas, proclamando o significado do ano 1914.

Nesse ano, alega a Watch Tower, ocorreu a prometida volta de Jesus Cristo à terra, dando início à sua parousia ou "presença". Somos informados que nesse ano foi estabelecido o reino de Deus e começaram os "últimos dias". Isto significa, segundo a doutrina da Watch Tower, que a geração que presenciou 1914 não passará -- não pode passar -- sem antes vir o fim definitivo. Esta alegação é apresentada, não como uma mera possibilidade ou probabilidade, mas como certeza absoluta!

No entanto, as pessoas perguntam: "Como pode 1914 ter esse significado se ninguém viu realmente Jesus ou o seu reino?"

Porque Jesus veio de forma invisível e o seu reino foi estabelecido nos céus invisíveis de Deus, responde a Sociedade Torre de Vigia.

Se forem verdadeiras, essas afirmações têm obviamente uma importância vital para cada um de nós. Que evidência existe em seu apoio? Ao examinarmos essa alegada evidência, examinaremos ao mesmo tempo as opiniões publicadas por várias outras fontes religiosas do nosso tempo e as expectativas exaltadas daí resultantes. Pois, embora diferindo amplamente em muitas áreas, a evidência que eles oferecem para a proximidade do fim é muitas vezes notavelmente similar.

Em apoio das suas alegações, a Sociedade Torre de Vigia, a agência editorial das Testemunhas de Jeová, usa duas linhas de argumentação: 1) cronologia bíblica, e 2) o que eles descrevem como os "sinais" desde 1914.

Resumidamente, segundo a interpretação da Sociedade Torre de Vigia, os "tempos dos gentios", ou como eles preferem traduzir a expressão, "os tempos designados das nações", mencionados em Lucas capítulo vinte e um, versículo 24, é um período de 2.520 anos que começou em 607 A.C. e terminou em 1914 A.D. Eles pensam que durante esse período seria permitido às nações governar sem a interferência de Deus.

Mas, novamente, as pessoas perguntam: "Como é que os tempos das nações gentias podem ter terminado em 1914?" Afinal, as nações ainda estão a governar este planeta tal como o fizeram antes dessa data. O número de nações, de facto, quase triplicou desde 1914! Então, como é que os tempos das nações podem ter terminado nesse ano? Para quase dois terços das nações que existem hoje, os seus tempos, em vez de terminarem, começaram, em 1914.

Outro problema, e bem grande, é que o ponto de partida para este cálculo -- o ano 607 A.E.C., alegadamente a data para a destruição de Jerusalém -- está em conflito com uma longa cadeia de factos históricos e com muitas passagens da Bíblia.1

Por isso, em vez de lutar contra estas dificuldades cronológicas, a Sociedade Torre de Vigia prefere concentrar-se nos "sinais" [que supostamente ocorrem] desde 1914. Nisto, eles não estão sozinhos, pois escritores bem conhecidos de várias outras organizações religiosas focam a sua atenção exactamente nos mesmos sinais como prova da proximidade do fim. Quais são esses "sinais"?
Que sinal deu Jesus realmente?

Poucos dias antes da sua morte, Jesus predisse a vindoura destruição do templo de Jerusalém. (Mateus 24:1, 2) Por causa desta predição, alguns dos seus discípulos fizeram-lhe algumas perguntas:

Diz-nos, quando serão estas coisas e qual será o sinal da tua vinda e do fim da era? -- Mateus 24:3, NASB.2

Antes de responder a estas perguntas, Jesus deu alguns avisos aos seus discípulos:

'Tende cuidado para que ninguém vos engane,' respondeu Jesus, 'pois muitos homens virão em meu nome, dizendo "Eu sou Cristo", e enganarão muitos. Certamente ouvireis falar de guerras e rumores de guerras -- mas não vos alarmeis. Tais coisas têm mesmo de ocorrer, mas isso não é o fim. Pois uma nação levantar-se-á em armas contra outra e um reino contra outro, e haverá fomes e terramotos em várias partes do mundo. Mas tudo isto é apenas o início das dores de parto.' -- Mateus 24:4-8, The New Testament in Modern English [O Novo Testamento em Inglês Moderno], por J. B. Phillips, Edição Revista.

Além de guerras, fomes e terramotos, Jesus, nos versículos seguintes, menciona perseguições, falsos profetas e o aumento do que é contra a lei. Será que todas estas ocorrências deviam ser entendidas como sinais afirmativos, identificando a volta de Cristo e o fim da era? Ou, pelo contrário, será que Jesus de facto avisou os seus discípulos para que não se deixassem desencaminhar por tais acontecimentos?

Comentadores bíblicos cuidadosos e discretos têm indicado frequentemente que em nenhum lugar Jesus identifica estes acontecimentos como sendo o "sinal" da sua vinda, mas em vez disso parece avisar os seus discípulos para que não tirassem essa conclusão quando desastres e catástrofes deste tipo ocorressem. Desde o início da sua resposta, a admoestação dele foi: "Não sejais enganados. Não fiqueis aterrorizados. Essas coisas têm de acontecer, mas ainda não é o fim." Eles também indicam que a palavra grega para "sinal" (to semeíon) em Mateus 24, versículo 3, está no singular e portanto dificilmente se poderia referir a vários, ou diferentes, acontecimentos.

Além disso, eles ainda observaram que Jesus de facto não descreve a sua volta senão nas suas palavras nos versículos 27 a 31, a seguir à sua predição da destruição de Jerusalém. Então, pela primeira vez, ele começa a falar acerca do sinal da sua vinda, "o sinal do Filho do homem" (versículo 30), aqui novamente no singular, precisamente como no versículo 3.

Este "sinal", segundo as palavras de Jesus, 'apareceria no céu', não na terra. A Sociedade Torre de Vigia admite isto. Por esse motivo, eles são forçados a fazer uma distinção entre "o sinal do Filho do homem... no céu", que aparece quando ele vem para o julgamento final, e o "sinal" da sua vinda (parousía), que segundo eles dizem pode ser visto nas guerras, fomes, pestilências, terramotos, etc., desde 1914.3 Deste modo, eles não apenas têm dois tipos diferentes de "sinais" da volta de Cristo -- eles também têm duas voltas diferentes, uma em 1914 e outra na "grande tribulação".

Contudo, as palavras introdutórias de Jesus devem evidentemente ser compreendidas como avisos contra falsas conclusões -- "cuidado para que ninguém vos engane... vede que não fiqueis alarmados." Haveria guerras, fomes, pestilências, terramotos e outros problemas. Os seguidores dele também teriam de enfrentar ódio e perseguição, não apenas uma vez mas muitas vezes no futuro. Eles teriam de suportar tais coisas durante todo o tempo até ao fim. Antes disso, o evangelho do reino pregado por Jesus e pelos seus discípulos alcançaria todas as nações da terra. O fim só viria depois disso. (Mateus 24:4-14) Depois de dar esta panorâmica geral da história futura, Jesus começou a responder às perguntas dos quatro discípulos: a pergunta deles acerca da destruição do templo (versículos 15 a 22), e a pergunta acerca da sua volta e do fim da era (do versículo 27 em diante).

Em geral, aqueles que anunciam o fim do mundo não aceitam esta interpretação natural da resposta de Jesus. Muitos expositores populares das profecias insistem actualmente em interpretar as palavras iniciais de Jesus acerca das tribulações vindouras, não como uma introdução preliminar, mas como a resposta à pergunta acerca do sinal da vinda de Jesus e do fim. A Sociedade Torre de Vigia, por exemplo, tenta justificar a forma singular da palavra grega para "sinal" dizendo que o próprio sinal consiste em vários aspectos diferentes. Eles falam do sinal como "o sinal composto." Quando todos os eventos -- guerras, fomes, pestilências, terramotos e



OS ÚLTIMOS DIAS E O SEU SINAL
conforme descrito por uma fonte religiosa


The Watchtower, 15 de Janeiro de 1973

[imagem]
Awake!, 8 de Abril de 1975

As palavras de Jesus acerca de guerras, fome, pestilências, terramotos, ilegalidades e assim por diante, são interpretadas por muitos expositores como sendo o "sinal" da sua vinda. A Sociedade Torre de Vigia alega que temos visto este "sinal composto" numa escala sem precedentes desde 1914. Isto, dizem eles, significa que a parousía de Cristo e os últimos dias começaram nesse ano, e que o Armagedom virá dentro do tempo de vida da geração de 1914.
outras tribulações -- aparecem ao mesmo tempo, durante a mesma geração, então estamos aptos a discernir o "sinal", o sinal que prova que Cristo veio e está invisivelmente presente.

Contra esta interpretação pode-se objectar: Não tem toda a geração visto tal "sinal composto"?

Não tivemos sempre guerras? Alguns historiadores indicam que nos últimos 5.600 anos tivemos um total de 292 anos sem guerras. Outros acham que talvez nem sequer tenham existido anos livres de guerras.

Não têm sido todas as gerações afligidas por fomes e pestilências? Conforme demonstra a história, as guerras têm caracteristicamente levado 'a reboque' as fomes e as pestilências. Os três flagelos têm sido sempre inseparáveis e, regra geral, morreram mais pessoas devido às fomes e às pestilências do que as que foram mortas nas guerras.

Não têm todas as gerações experimentado vários grandes terramotos "num lugar após outro"? Os catálogos de terramotos preparados por especialistas modernos, que abrangem os últimos dois mil anos, fornecem prova abundante disto.

A história da humanidade também tem sido marcada por períodos recorrentes em que se verifica um aumento da violência e do que é contra as leis, bem como perseguições de diferentes grupos de cristãos que têm pregado o evangelho do Reino.

Portanto, perguntamos: Como é que eventos como guerras, fomes, pestilências, terramotos, etc., podem distinguir este século XX (ou qualquer período dentro do século XX), quando a história mostra que todas as gerações desde o tempo de Jesus foram atingidas pelo assim chamado "sinal composto"?

É o espantoso aumento e intensificação destes acontecimentos que os transforma no "sinal" dos nossos dias, responde a maioria dos que anunciam o tempo do fim.

Em The Late Great Planet Earth (O Falecido Grande Planeta Terra), por exemplo, ao discutir a pergunta dos discípulos acerca de um sinal, conforme registado em Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 3, Hal Lindsey explica:

Em resposta, Jesus deu muitos sinais gerais envolvendo condições mundiais a que chamou 'dores de parto'. Ele disse que estes sinais, como apostasia religiosa, guerras, revoluções nacionais, terramotos, fome, etc., aumentariam em frequência e intensidade exactamente como as dores de parto antes de uma criança nascer. -- Página 52.

Enquanto a Sociedade Torre de Vigia defende que este aumento e intensificação tem sido evidente desde 1914, Hal Lindsey argumenta que isso tem ocorrido desde 1948, ano que é, na opinião dele, o ponto de partida para a "geração" do tempo do fim.

No seu livro Good-bye Planet Earth (Adeus Planeta Terra), o autor Robert H. Pierson, Adventista do Sétimo Dia, embora não fixe datas específicas, adopta uma posição similar quanto ao significado dos nossos tempos. Ao falar das guerras no século XX, ele diz que estas ocorreram "numa escala que este mundo nunca experimentou antes" e menciona "elementos de destruição que desafiam a imaginação humana"; ao falar de catástrofes naturais, ele descreve a natureza como estando agora "descontrolada ao nosso redor", diz que a terra tem estado a tremer "com frequência e intensidade crescentes"; ao discutir a fome, ele cita predições de "fome crescente, pestilências, extermínio de grande número de pessoas" -- todos estes aspectos são apresentados por ele como prova incontornável de que "Jesus virá em breve." -- Páginas 8, 15, 19-21, 23.

O Dr. Billy Graham, cautelosamente, diz que estes sinais estão 'presentemente a entrar em foco' e intensificar-se-ão no futuro próximo. Comentando os quatro cavaleiros do Apocalipse -- os símbolos de guerra, fome, pestilência e morte -- ele escreve:

Em algum ponto no futuro -- um tempo desconhecido para nós -- os terríveis cascos dos cavalos dos quatro cavaleiros pisarão finalmente o palco da história humana com uma intensidade sem preedentes, trazendo no seu encalço engano, guerra, fome e morte numa escala que desafia a imaginação....

Quão perto estão os cavaleiros neste preciso momento? Não sei! Tudo o que posso dizer com certeza é que todos os sinais apontam para um facto: o bater dos cascos dos cavalos dos quatro cavaleiros está a aproximar-se, soando cada vez mais alto a cada dia que passa.... Possa Deus abrir os nossos ouvidos para ouvirmos e os nossos olhos para vermos o aviso deles antes que seja demasiado tarde!4

Num estilo muito mais espampanante, a publicação Famine -- Can We Survive? [Fome -- Podemos Sobreviver?] da Worldwide Church of God [Igreja Mundial de Deus], nas páginas 89 e 90, diz:

Estes gritos de guerra, pestilências e FOME foram preditos há muito tempo. Foram preditos há séculos atrás pelo maior anunciador de notícias que já viveu -- JESUS CRISTO. Cristo disse aos seus estudantes que deviam observar os sinais dos tempos....

Jesus Cristo, o maior anunciador de notícias do mundo, estava a dizer aos Seus estudantes o ocorreria na NOSSA geração -- a geração que veria estas coisas ocorrer (veja [Mateus 24] versículo 3). Esta previsão fantástica está-se a CUMPRIR cada vez mais!

Assim, ao serem confrontados com o facto de todas as eras terem tido a sua quota parte de guerras, fomes, pestilências, etc., estes expositores defendem, exactamente como a Sociedade Torre de Vigia, que é o aumento destas tribulações que constitui o sinal do fim.

Mas será que foi realmente sobre esse aspecto dos eventos enumerados que Jesus colocou a ênfase? No que diz respeito às guerras, fomes, pestilências e terramotos, ele não disse aos seus discípulos que deviam esperar um aumento destas aflições.5

Apesar disso, os expositores que anunciam o fim dos tempos, seja directamente seja de forma implícita, tomam a posição de que Jesus tinha necessariamente em mente um aumento dos flagelos que menciona. De outro modo estes "sinais" não seriam sinais, não teriam nada que os tornasse notáveis. Muitos destes escritores religiosos limitam-se a apresentar as suas alegações acompanhadas por descrições -- normalmente muito dramáticas -- das calamidades e problemas actuais, sem tentarem defender a sua posição contra qualquer evidência contrária. A Sociedade Torre de Vigia, pelo contrário, parece sentir-se obrigada a providenciar tal defesa e tenta regularmente edificar confiança nas suas alegações. Consequentemente, eles são rápidos a argumentar contra qualquer evidência contrária e fazem o máximo para provar que ocorreu mesmo um aumento sem precedentes nos acontecimentos calamitosos desde 1914.6 As publicações da Sociedade Torre de Vigia estão repletas de afirmações, citações e estatísticas em apoio das suas alegações de que as guerras, fomes, pestilências e terramotos antes de 1914 foram meras ninharias quando comparadas com o que ocorreu depois desse ano. A revista The Watchtower [A Sentinela] de 1.º de Fevereiro de 1985, página 15, afirma a posição deles de forma sucinta e inequívoca:

É verdade que tinha havido guerras, escassez de alimentos, terramotos e pestilências ao longo dos séculos da nossa Era Comum até 1914. (Lucas 21:11) No entanto, não houve nada comparável com o que ocorreu desde que os Tempos dos Gentios terminaram nesse ano momentoso.

Uma pessoa que procura a verdade, contudo, tem de perguntar a si mesma: Quão genuína é a imagem alarmista que as várias fontes religiosas apresentam quando esta imagem é vista tendo em consideração a história passada da humanidade? Será que as provas estatísticas que eles apresentam são genuinamente dignas de confiança? Será que foi trazida à luz toda a evidência, ou será que as opiniões e interpretações dos escritores influenciaram a selecção de números e citações de um modo que distorce os factos reais?

Um exame cuidadoso das citações e estatísticas que eles apresentam talvez surpreenda milhões de pessoas que, em resultado de lerem tais publicações, acreditam que as condições mundiais assinalam dramaticamente o seu tempo como "especial", um tempo focado de forma singular na profecia bíblica.
Será próprio fazer um exame completo sobre o alegado "sinal"?

Muitos talvez se refreiem de fazer tal investigação crítica. Particularmente entre os milhões de pessoas afiliadas na organização Torre de Vigia, muitos acham que fazer isso seria participar nas descobertas dos "ridicularizadores" que desafiam as alegações a respeito da "presença" de Cristo feitas pelas Testemunhas de Jeová. A revista The Watchtower [A Sentinela] de 15 de Julho de 1979, na página 13, classifica quaisquer indivíduos que refutem as suas alegações como 'pessoas sem lei' e falsos profetas, citando em seu apoio Segunda Pedro, capítulo três, versículos 3 e 4. A The Watchtower [A Sentinela] de 1.º de Agosto de 1980, página 19 [em inglês], declarou que os "ridicularizadores" podiam ser encontrados "dentro da congregação cristã" e falou deles como "menosprezando o cumprimento de profecias a respeito da 'presença' de Cristo."

Numa atitude semelhante, o livro Good-bye, Planet Earth [Adeus, Planeta Terra], do autor Adventista Pierson, depois de discutir o que chama sinais do fim definitivo, tem um subtítulo que diz: Não Acredita Nisto? Então Você É um Sinal! (Página 51) Também ele cita as palavras de Pedro acerca de ridicularizadores nos últimos dias.

Isto significa que qualquer pessoa que questione os conceitos que estas fontes têm acerca do fim do mundo é automaticamente classificado entre os ímpios. Será que isto é um uso correcto do texto bíblico? Será que os "ridicularizadores" descritos pelo apóstolo Pedro são pessoas que acreditam firmemente (como é o caso dos autores deste livro) que 'o dia de Jeová virá de facto como ladrão' e trará a destruição sobre homens ímpios e sobre um sistema iníquo? Certamente que não. Conforme mostra o contexto, o que o apóstolo descreve são pessoas que deixaram de acreditar por completo na eventual -- e certa -- chegada desse dia de julgamento divino, pessoas que questionam se esse dia alguma vez chegará.7

O facto de fazermos incidir uma luz bíblica e histórica sobre certos ensinos relacionados com alegada evidência que [supostamente] marca o nosso tempo, não é de maneira nenhuma reflexo de qualquer dúvida quanto às profecias da Bíblia acerca da "presença" de Cristo. Muito pelo contrário, nós considerámos seriamente algumas palavras da grande profecia de Cristo sobre a sua parousía que são muitas vezes negligenciadas, e instamos aos nossos leitores que também as contemplem honestamente. Jesus predisse que "muitos" enganariam pessoas utilizando o seu nome, dizendo: "Agora o tempo está muito próximo." Os discípulos não deviam ficar impressionados pois Jesus, logo a seguir acrescentou: "Nunca sigais homens como esses." -- Lucas 21:8, tradução de J. B. Phillips.

Por essa razão, qualquer cristão que simplesmente feche os olhos e se apegue passivamente a doutrinas de autoridades religiosas poderia estar a cometer um erro sério e fatal. Num artigo intitulado "Falácias Podem Ser Perigosas", a revista Awake! [Despertai!] de 8 de Novembro de 1970 [em inglês], abordou algumas falácias presentes em ideias populares e depois disse:

Mas um mal muito pior pode resultar de se apegar a ideias religiosas descuidadas e inexactas que são contrárias ao que a Bíblia diz. Porquê? Porque não é apenas a vida actual que está em perigo. Antes, está envolvida a vida eterna. A verdade e a vida eterna estão intimamente relacionadas.... Certamente o caminho mais seguro é limpar as nossas mentes de todas as falácias! -- Página 6.

De facto, o "amor da verdade" é essencial para a salvação e pode por vezes requerer que estejamos dispostos a investigar e aprender. (Compare com Segunda Tessalonicenses 2:10.) Se o leitor decidir fazer isso, é claro que tem de manter uma mente aberta. "Ter uma mente aberta," disse a Sociedade Torre de Vigia na revista Awake! [Despertai!] de 22 de Novembro de 1984, "significa ser receptivo a novas informações e ideias. Significa estar disposto a avaliar informação sem uma atitude preconceituosa." -- Páginas 3 e 4 [tradução a partir da versão inglesa].

Ao apresentar a informação e dados acerca das calamidades na história, os autores deste livro não puderam, por razões de espaço, apresentar todo o material disponível. Nem abordámos todos os textos bíblicos que achamos que poderiam melhorar as explicações apresentadas. Ainda assim, vamos continuar o nosso estudo e pesquisa e críticas construtivas são bem-vindas, bem como outras informações relacionadas com os assuntos tratados nesta publicação.

Considere agora a evidência acerca das fomes, terramotos, pestilências e guerra no nosso século quando comparados com o passado. Acreditamos que o leitor achará os factos muito diferentes, por vezes radicalmente diferentes, daquilo que muitos hoje dizem.

Notas

1 Para uma consideração completa destes factos, veja o livro The Gentile Times Reconsidered [Os Tempos dos Gentios Reconsiderados], 3.ª edição, Commentary Press, Atlanta, 1998.

2 Na Tradução do Novo Mundo da Sociedade Torre de Vigia, este texto foi traduzido de modo a apoiar a ideia da presença invisível de Cristo: "Dize-nos: Quando sucederão estas coisas e qual será o sinal da tua presença e da terminação do sistema de coisas." Contudo, embora "presença" seja o significado primário da palavra grega parousía, esta palavra também era usada num sentido técnico significando "a visita de um governante." Praticamente todos os peritos em grego do Novo Testamento concordam actualmente que a palavra parousía, quando usada em relação com a segunda vinda de Cristo, é usada no seu sentido técnico em vez de ser usada no seu sentido primário. O contexto e o modo da sua utilização em relação com a vinda de Cristo na própria Bíblia harmoniza-se com este ponto de vista. Este assunto será tratado mais adiante nesta publicação. (Veja o Apêndice B.)

3 God's Kingdom of a Thousand Years Has Approached (1973) [Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos (1975)], pp. 326-328.

4 Billy Graham, Approaching Hoofbeats, The Four Horsemen of the Apocalypse (Passos que se Aproximam, Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse), 1983, pp. 74, 76. Nesse livro o autor defende que as guerras, fomes, pestilências, etc., em eras passadas, eram apenas "precursores dos cavaleiros", e declara que agora "as sombras de todos os quatro cavaleiros podem ... ser vistas galopando por todo o mundo." -- páginas 9, 77.

5 Embora seja verdade que Jesus falou do 'aumento do que é contra a lei', isto aparentemente não se referia ao mundo em geral, que sempre foi desregrado. Em vez disso, parece que essa expressão se refere ao que ocorreria na congregação cristã. É claro que levou algum tempo até que a predita apostasia chegasse ao ponto de ser revelada.

6 Veja Survival into a New Earth [Sobrevivência Para uma Nova Terra] (1984), pp. 22, 23.

7 O leitor que é Testemunha devia notar a citação seguinte, do livro da Sociedade Torre de Vigia intitulado Choosing the Best Way of Life [A Escolha do Melhor Modo de Vida] (1979), com a qual concordamos plenamente:
"Em cumprimento das palavras de Pedro, até mesmo hoje ouvimos a voz de ridicularizadores. (2 Pedro 3:3, 4) Eles dizem, na realidade: 'Que motivo há para crer que o Filho de Deus vai executar os ímpios e recompensar seus discípulos? Ora, nada mudou desde o tempo da criação. Os processos originais da vida estão continuando e não apresentam nenhum indício da vinda dum desastroso fim no futuro próximo. Os homens se casam e as mulheres são dadas em casamento, bebês nascem, e os homens continuam a envelhecer e a morrer.' Assim dão a entender que o Senhor Jesus Cristo nunca virá para executar o julgamento, ou que este evento está tão longe no futuro, que não precisa haver nenhuma preocupação imediata com ele." (P. 170)

É muito claro que tais pessoas esperavam ver nos seus dias algo fora do normal, espantoso, sem precedentes, como prova de que o acontecimento predito ocorreria mesmo. As palavras de Pedro indicam que eles não veriam tal coisa e por essa razão não exerceriam fé na certeza desse dia de julgamento. Seja qual for a época em que vivamos, como mortais todos teremos de enfrentar um fim crucial -- o fim das nossas vidas. A qualidade do nosso relacionamento pessoal com Deus e com o seu Filho até esse momento devia ser sempre motivo de grande preocupação e importância para nós.

The Sign of the Last Days -- When? (O Sinal dos Últimos Dias -- Quando?) (Atlanta: Commentary Press, 1987) de Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst, pp. 11-45.


Capítulo 2: Fome — Está Pior Hoje?

Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst


Muitos escritos que tratam do tempo do fim transmitem um quadro muito negro da situação dos alimentos no mundo. Alguns escritores entendem as palavras de Jesus "haverá fomes", e os símbolos em Revelação capítulo seis, como predizendo fome global de proporções enormes e sem paralelo.

Em 1982, o autor de best-sellers Hal Lindsey escreveu em The Promise [A Promessa] (página 198):

Jesus predisse um grande surto de fome mundial numa escala que o homem nunca antes conheceu. Hoje os títulos da [revista] Time, da Newsweek e dos jornais anunciam de forma dramática os factos devastadores de que milhões estão a morrer de fome neste exacto momento. E a previsão é que outros milhões morrerão de fome nos próximos anos ...

Em Approaching Hoofbeats [Passos Que Se Aproximam], páginas 151 e 153, o Dr. Billy Graham declara:

A seguir aos cavalos branco e vermelho, a fome prevalecerá sobre a terra. Milhões morrerão de fome. Outros milhões sofrerão de má nutrição.... O cavalo e o cavaleiro negro são o aviso de Deus quanto ao sofrimento humano que jaz à frente se o Homem se recusar a obedecer aos Seus mandamentos.

O cavalo negro e o seu cavaleiro trovejam na nossa direcção. Os passos de aviso são os gritos de crianças morrendo de fome e de doença.

O autor Robert Pierson, Adventista do Sétimo Dia, avisa:

... em pelo menos trinta e dois países da terra actualmente, ... segundo algumas estimativas, setecentos milhões (mais de três vezes a população dos Estados Unidos da América) estão a enfrentar a morte devido à fome neste exacto momento....

Ao falar dos sinais da Sua segunda vinda, Jesus disse: 'Haverá fomes ... por todo o lado.'...

Outro sinal inconfundível dos tempos em que vivemos. Jesus vem em breve! -- Good-bye, Planet Earth [Adeus, Planeta Terra], páginas 22, 24.

Uma publicação da Worldwide Church of God [Igreja Mundial de Deus], The Black Horse Famine [O Cavalo Negro: Fome] (1976), na página 48 faz estas afirmações notáveis:

Sempre houve fomes, mas nunca foram semelhantes às que o mundo está a experimentar hoje. Em geral, as fomes do passado ocorriam associadas a secas, guerras e outras perturbações naturais ou provocadas pelo homem.... Hoje a fome mundial está embutida na estrutura da sociedade mundial. A fome é agora um modo de vida para milhões de pessoas....

As fomes de hoje também diferem das do passado tanto na sua natureza como na sua extensão. Nunca antes várias centenas de milhões de pessoas sofreram de fome e má nutrição num dado período da história como acontece hoje.

É inegável que, no caso de algumas áreas da terra, a situação é realmente grave. É igualmente inegável que "milhões estão a morrer de fome neste exacto momento" e que milhões de "crianças estão a morrer de fome." A pergunta é: será que esta situação é uma singularidade do nosso tempo ou do século XX? Será que é incomum -- suficientemente distintiva para ser apontada como constituindo um sinal divino de desastre iminente?

Os autores anteriormente citados apresentam aquilo que acham ser evidência de mau agouro de uma fome mundial predita, já presente ou muito próxima. A Sociedade Torre de Vigia é tão explícita como a Worldwide Church of God, anunciando repetidamente nas suas publicações que uma época de fome sem paralelo na história humana chegou definitivamente. De facto, eles alegam que tal época de fome sem paralelo para a humanidade tem visto um cumprimento dramático desde a segunda década deste século.

Qual é a verdade sobre este assunto?
Quantos estão realmente a morrer de fome hoje?

Parece haver uma confusão considerável sobre o número exacto de pessoas que estão realmente a morrer à fome actualmente no mundo. Na publicação Felicidade -- Como Encontrá-la? (1981) é citada uma notícia dizendo que "Pelo menos uma dentre cada oito pessoas na terra ainda sofre de alguma forma de subnutrição." (Página 149)

Contudo, na mesma página citam outra notícia dizendo que "mais de um bilhão de pessoas não terão o suficiente para comer este ano."1 Isto seria uma de entre cada quatro pessoas na terra. Uma publicação anterior, Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado (1959), citou Josué de Castro, um perito em alimentação, das Nações Unidas, que diz que dois terços da raça humana sofrem de subnutrição ou, como a Sociedade Torre de Vigia "explica" o termo, estão "morrendo aos poucos de fome". Segundo de Castro, outro perito, W. P. Forrest, calculou o número como sendo 85 por cento da população do globo. A partir desta declaração, a Sociedade Torre de Vigia concluiu que "Desde 1914, a escassez de víveres ou as fomes têm afectado duas vezes tantas pessoas como nos 900 anos anteriores", e "Nunca antes do ano 1914 faltava alimento ao mundo inteiro."2

Existe alguma verdade por detrás destas declarações? Quantos estão realmente a morrer de fome ou têm "escassez de víveres" hoje: "uma dentre cada oito" pessoas (12,5 por cento), "mais de um bilhão de pessoas" (25 por cento), "dois terços da raça humana" (67 por cento), "85 por cento" ou o "mundo inteiro" (100 por cento)?

Fome e má nutrição — uma distinção

Ao discutir a ampla variedade de opiniões entre os peritos acerca do alcance da fome, o Dr. Pandurang V. Sukhatme observa: "A primeira dificuldade básica surge devido à inexistência de uma definição precisa de fome."3 Até aos tempos modernos, fome significava simplesmente [estar em vias de] morrer à fome devido à falta de comida. Assim, a Encyclopaedia of the Social Sciences [Enciclopédia das Ciências Sociais] define fome como "um estado de fome extrema sofrido pela população de uma região em resultado da ruptura do suprimento de alimentos normal."4

Contudo, a ciência moderna ampliou o conceito de "fome" para incluir também a chamada "fome escondida" ou má nutrição, que se refere a uma falta de um ou mais nutrientes essenciais na dieta, como vários tipos de aminoácidos, sais minerais e vitaminas. Esta "fome escondida" era, naturalmente, pouco conhecida em séculos anteriores devido à falta de conhecimento acerca destes nutrientes essenciais, embora tal "fome escondida" estivesse ainda mais espalhada no passado do que actualmente, conforme este estudo demonstrará.

Portanto, quando modernos peritos em alimentos falam acerca de fome hoje, em geral é neste sentido mais abrangente. Josué de Castro, citado pela Sociedade Torre de Vigia como dizendo que dois terços da raça humana sofrem de má nutrição, usa "fome" neste sentido, conforme Lord Boyd Orr, o primeiro Director da FAO (Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas), explica no prefácio do livro de Castro, Geography of Hunger [Geografia da Fome]:

O termo 'fome', usado pelo autor, precisa de ser definido. No passado este termo foi usado para significar falta de alimentos para satisfazer o apetite e o número de mortes devidas à fome foi limitado aos casos de pessoas num estado de enfraquecimento extremo, que morreram devido a fome pura e simples. Contudo, o autor usa o termo na acepção moderna de falta de qualquer dos cerca de quarenta constituintes da alimentação necessários para manter a saúde. A falta de qualquer destes constituintes causa morte prematura embora não necessariamente de enfraquecimento extremo devido à falta de qualquer tipo de alimento que se possa comer.

Mostrando o efeito que esta definição ajustada de fome tem nas estimativas da fome no mundo, ele acrescenta:

Se o termo fome for usado nesta acepção, então, segundo as melhores estimativas anteriores à guerra, dois terços da população do mundo estão famintos. Um Comité Americano recente colocou este número nos 85 porcento.5

Assim, é necessário distinguir claramente entre a fome no sentido antigo (que ainda é comum) e este conceito moderno de má nutrição.6 Então, quantas pessoas estão hoje realmente morrendo à fome e quantas estão mal nutridas?
O alcance da fome e da má nutrição hoje

Investigações mais recentes e mais cuidadosas acerca do alcance da fome na actualidade mostraram que estava errada a estimativa anterior à guerra, segundo a qual dois terços da Humanidade sofrem de má nutrição. O Dr. P. V. Sukhatme, por exemplo, depois de uma investigação muito extensa acerca do alcance da fome na Índia, concluiu que cerca de 50 porcento da população da Índia sofre de subnutrição ou de má nutrição ou de ambas as coisas.7

Se isto é verdade no caso da Índia, que até recentemente era um dos países mais afectados pela fome no mundo, então é claro que a proporção de pessoas mal nutridas no mundo todo tem de ser inferior, ou seja, tem de ser consideravelmente inferior a 50 porcento.

Provavelmente a investigação mais autorizada sobre o alcance da fome hoje é aquela publicada antes da World Food Conference [Conferência Alimentar Mundial] em Roma, em 1974.8 A investigação mostrou que entre 460 e 900 milhões de pessoas no mundo sofrem em vários graus de má nutrição ou de subnutrição, isto é, entre 12,5 e 25 porcento da humanidade. Metade destes eram crianças, das quais cerca de 10 milhões sofriam de subnutrição grave, ou fome.

As mesmas estimativas que indicam que cerca de um bilião de pessoas sofrem de má nutrição e subnutrição também mostram que, destes, não são mais de cerca de 40 milhões os que estão realmente a morrer à fome. Isto é menos de um porcento da Humanidade!9

Portanto, a pergunta é esta: Quando Jesus, nas suas palavras introdutórias de aviso, disse que, além de guerras e terramotos, "haverá escassez de víveres [na edição inglesa: famines ou fomes] ... num lugar após outro" (Mateus 24:7), será que ele pensava em fome no sentido antigo e comum -- catástrofes de fome recorrentes e agudas em vários lugares? Ou pensava em fome no sentido moderno, ou seja, subnutrição ou má nutrição crónicas devido a insuficiente assimilação de calorias e/ou falta de um ou mais nutrientes essenciais na dieta?

A resposta é óbvia. A palavra grega traduzida por "fome", limós, refere-se a fome no sentido antigo: [morrer à] fome devido à falta de alimento. Também é digno de nota que a palavra é usada no plural, limoí ("fomes"). Isto não indica uma condição crónica de subnutrição, indica catástrofes agudas de fome "num lugar após outro".

Aplicar o termo bíblico ao estado de subnutrição e má nutrição crónico prevalecente em algumas partes do mundo hoje, como faz a Sociedade Torre de Vigia, e limitar esta aplicação ao período desde 1914, não apenas entra em conflito com o entendimento natural da declaração de Jesus, como também está em conflito com o facto de a maior parte da Humanidade ter evidentemente sofrido de má nutrição e subnutrição desde tempos imemoriais, incluindo a própria época em que Jesus pronunciou a sua profecia.

Então, será que hoje vemos mais e piores fomes reais do que a Humanidade alguma vez viu no passado? Será que a fome "em bruto" -- ou até mesmo a "fome escondida" -- agora corrói as partes vitais da Humanidade como nunca antes? Estas perguntas serão respondidas na discussão que se segue, primeiro através de um exame da história das fomes em várias partes do mundo. Depois examinaremos mais de perto a má nutrição, e especialmente a mortalidade infantil causada por má nutrição e subnutrição, comparada com este problema no passado.
"A maior fome de toda a história" — antes ou depois de 1914?

Durante décadas a Sociedade Torre de Vigia tem afirmado que a maior fome e a pior escassez de víveres na história humana ocorreu pouco depois da Primeira Guerra Mundial:

A pior escassez de víveres na história humana deu-se na sequência da Primeira Guerra Mundial. -- The Watchtower [A Sentinela], 15 de Outubro de 1975, página 634 [em inglês].

... na esteira da Primeira Guerra Mundial veio a maior fome de toda a história. -- "Venha o Teu Reino", 1981, página 122; veja também Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, 1982, página 150.

Que fomes ou escassez de víveres ocorreram na esteira da Primeira Guerra Mundial? The Watchtower [A Sentinela] de 15 de Abril de 1983 [em inglês], explica:

Em 1921, a fome provocou a morte de cerca de 5 milhões de pessoas na U.R.S.S. Em 1929, estima-se que a fome tenha causado 3 milhões de mortes na China. Na década de 1930, 5 milhões morreram de fome na U.R.S.S. (Página 5)

Mas será que estas foram as piores fomes de toda a história? Não, não foram. Nesse mesmo número da Watchtower [Sentinela], o autor, que evidentemente tinha feito alguma pesquisa sobre o assunto, sentiu-se compelido a contradizer todas as declarações anteriores nesse sentido e a admitir:

... é verdade que a história está cheia de relatos de fomes, desde os dias de Abraão e de José até à maior fome de todos os tempos que está registada, aquela que atingiu a China entre 1878 e 1879. (Génesis 12:10; 41:54) As estimativas sobre o número de chineses que morreram nessa fome variam entre 9 e 13 milhões. -- The Watchtower [A Sentinela], 15 de Abril de 1983, página 3 [em inglês].

Esta admissão é tanto mais interessante porque as publicações da Sociedade Torre de Vigia tinham afirmado durante anos que a maior fome na China ocorrera depois da Primeira Guerra Mundial! Aludindo à seca no norte da China em 1920-1921, o livro Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado (1959) declarou: "Pouco depois da Primeira Guerra Mundial, a China sofreu a maior fome que já teve -- 15.000 pessoas morriam cada dia e 30.000.000 de pessoas ficaram afectadas por ela."10 Os 15.000 mortos cada dia podem parecer impressionantes à primeira vista -- até sabermos que a situação foi em breve aliviada pelo governo e por esforços filantrópicos privados. Segundo a melhor informação que é possível obter, meio milhão (500.000) morreram nessa fome.11 Embora este seja um número assustador, o tributo da morte em muitas outras fomes na China anteriores a 1914 foi muito maior, como se mostra a seguir.

Consequentemente, "a maior fome" e "a pior escassez de víveres" na história humana não se deram "na sequência da Primeira Guerra Mundial", como a Sociedade Torre de Vigia tinha estado a dizer aos leitores das suas publicações durante décadas. E a China não teve a sua "maior fome" "pouco depois da Primeira Guerra Mundial". As maiores e piores fomes ou escassez de víveres ocorreram todas antes do século XX.

Contudo, mesmo que o tamanho de cada fome, considerada separadamente não tenha aumentado desde 1914, talvez alguns afirmem que o número total de fomes aumentou desde essa data. Isto é indicado pelo autor do mesmo artigo da Watchtower [Sentinela] citado acima:

Será que temos presenciado mais de tais escassez de víveres do que gerações anteriores? Não podemos dize-lo com certeza pois as estatísticas são incompletas. Mas este século tem tido a sua quota parte de calamidades naturais e tem sofrido mais devido à guerra do que qualquer outra geração da história. Por isso, pode ser que no total tenha havido mais escassez de víveres do que no passado.12

Nesta declaração o escritor da Torre de Vigia faz outra admissão surpreendente que não se pode encontrar em publicações anteriores da Sociedade. Ele admite que não se pode dizer com certeza que as fomes aumentaram em número, só se pode dizer que talvez isto tenha acontecido! Se não existe uma prova definitiva de que as fomes aumentaram em tamanho ou em número desde 1914, então, como é que se pode afirmar que são um "sinal" de alguma coisa?

Mas o autor, apesar desta cautela, não apresentou toda a verdade sobre as fomes no passado. Mesmo sendo verdade que as estatísticas estão incompletas, existe informação suficiente preservada para demonstrar que o número de fomes diminuiu no nosso século, em comparação com séculos anteriores! Isto tornar-se-á evidente na pesquisa que se segue, sobre fomes no passado na China, Índia, Europa e outras partes do mundo.
O estudo das fomes

Das três calamidades, guerra, fome e pestilência, a fome tem sido a menos estudada. Conforme de Castro observou, muito pouco fora escrito sobre a fome até ao final da Segunda Guerra Mundial: "Por cada estudo sobre os problemas da fome, havia um milhar de publicações sobre o problema da guerra."13

A razão pela qual os estudiosos pareciam evitar o assunto não era porque a fome fosse um problema menor no passado. Antes pelo contrário! A "destruição humana que resultou da fome é consideravelmente maior do que a produzida pelas guerras e epidemias em conjunto."14 Foi dito acertadamente que a história "nunca será compreendida até que seja escrito um livro terrível -- a História da Fome." Se tal livro fosse escrito, observou E. P. Prentice, "seria lançada uma nova luz sobre a história ... de todo o mundo -- porque em todas as épocas, e em todas as partes do mundo, o Homem sofreu devido à fome."15

A primeira investigação cuidadosa acerca das fomes foi feita por Cornelius Walford da Royal Historical Society [Sociedade Histórica Real] em Londres, que publicou dois extensos artigos sobre o assunto no Journal of the Statistical Society [Jornal da Sociedade de Estatística] em 1878 e 1879.16

No primeiro artigo Walford incluiu uma lista de mais de 350 grandes fomes em várias partes do mundo, desde 6 A.D. até 1878 A.D.17

Desde então apareceram outros estudos, normalmente limitados a certas áreas ou países e cobrindo diferentes períodos de tempo. Em 1892 o Dr. Alwin Schultz publicou uma tabela de fomes na Alemanha durante os anos 1300-1499.18 Um extenso estudo sobre as fomes na Europa, desde 700 até 1317 A.D. foi publicado por Fritz Curschmann em 1900.19 E Léopold Delisle publicou uma lista de fomes em França em 1903, cobrindo o período 1053-1414 A.D.20 Mais recentemente, apareceram trabalhos sobre fomes na China, Índia e outras partes do mundo, que foram consultados para a informação apresentada nas secções seguintes.
China, "terra da fome"

A China, lar de cerca de um quarto dos habitantes da terra, é -- e parece ter sido durante a maior parte dos últimos 2.000 anos -- a parte mais populosa do mundo.

Este país tem sido atingido tão frequentemente por fomes destrutivas que chegou a ser conhecido em todo o mundo como "a terra da fome".21 Conforme foi demonstrado por um estudo completado na década de 1920, o país tinha sofrido quase uma fome por ano nos últimos 2.000 anos:

O problema da fome é antigo na China; desde os tempos mais remotos as fomes têm sido uma praga recorrente. Um estudo recentemente completado pela Student Agricultural Society [Sociedade Agrícola dos Estudantes] da Universidade de Nanking trouxe à luz o facto surpreendente e significativo de entre os anos 108 A.C. e 1911 A.D. ter havido 1828 fomes, ou quase uma cada ano em algumas das províncias. Incontáveis milhões morreram de fome."22

A fome mais terrível de entre estas resultou das grandes secas periódicas: "Dos mil anos entre 620 e 1620, 610 foram anos de seca numa província ou noutra e 203 destes foram anos de fomes graves."23 Pelo menos quinze destas fomes foram tão graves que os chineses recorreram ao canibalismo.24 Em muitas destas fomes, devem ter morrido milhões de pessoas. Contudo, em geral faltam os números, parcial ou totalmente. Durante os quatro anos entre 1333 e 1337, por exemplo, os registos chineses relatam que "4.000.000 de pessoas pereceram de fome só na vizinhança de Kiang." Milhões adicionais morreram em outras áreas.25

No caso dos séculos mais próximos, está disponível informação melhor. Várias fomes muito destrutivas afligiram a China durante o século XIX. "Diz-se que as quatro fomes de 1810, 1811, 1846 e 1849 custaram pelo menos 45.000.000 de vidas."26 De entre estas, "diz-se a de 1849 custou perto de 14 milhões de vidas".27 Pensa-se que entre 1854 e 1864 "outros 20 milhões pereceram".28 Depois, em 1876-1879, veio a grande fome mencionada pela The Watchtower [A Sentinela], citada anteriormente, como sendo a "maior fome de todos os tempos que está registada", na qual pereceram entre nove e treze milhões de seres humanos.29

A afirmação de que esta foi a "maior" de todas as fomes não é, porém, muito exacta. Mallory, escrevendo em 1926, descreve-a mais correctamente como sendo a "pior fome que ocorreu na China presente na memória dos actuais habitantes."30 Sabe-se que algumas fomes anteriores foram ainda mais mortíferas, como por exemplo aquela na China em 1849 (cerca de 14 milhões de mortos), ou a que atingiu a Índia em 1769-1770 (que pode ter custado dezenas de milhões de vidas).

Perto do fim do século XIX, já muito flagelado pela fome,



CANIBALISMO -- UMA OCORRÊNCIA COMUM DURANTE
A GRANDE FOME CHINESA DE 1876-1879

[imagem]

Ilustração publicada em The Famine in China [A Fome na China] (Committee of the China Famine Relief Fund, Londres: C. Kegan Paul and Co., 1978). (Reproduzido em P. R. Bohr, Famine in China and the Missionary [Fome na China e os Missionários], Cambridge, 1972, depois da página 20.)


ainda ocorreu outra fome severa na China, nos anos 1892-1894, que custou aproximadamente um milhão de vítimas adicionais.31

Assim, o século XIX foi marcado por fomes desastrosas para a China, visto que durante esse século, segundo a estimativa de de Castro, "cerca de cem milhões de indivíduos morreram à fome"!32

Quantos daqueles que hoje lêem livros com títulos sensacionalistas e declarações fantásticas acerca de sinais do tempo do fim conhecem estes duros factos da história? Quanto aos milhões de Testemunhas de Jeová ao redor do mundo, é duvidoso que mesmo um punhado delas estejam familiarizadas com a evidência factual sobre este assunto.

Que se pode então dizer sobre a China no século XX? Será que experimentou um aumento de fomes, quer em tamanho quer em número (frequência)? Será que a fome ali é maior desde 1914 do que antes dessa data? O registo mostra um desenvolvimento muito interessante.

A primeira fome severa na China depois de 1914 teve lugar em 1920-21, conforme foi mencionado. Como o número de mortos foi cerca de meio milhão, obviamente não foi de maneira nenhuma a maior fome da China. Depois ocorreu a grande fome de 1928-29, causando mais de três milhões de mortos.33 Nenhuma destas duas fomes se aproximou do tamanho de algumas das grandes fomes do século XIX que discutimos anteriormente.

Durante as décadas de 1930 e 1940, a China, sob a liderança de Chiang Kai-shek, tentou elevar o nível de vida do povo chinês, ajudada por empréstimos das potências ocidentais. Apesar destes esforços, a situação não melhorou muito a não ser depois da vitória da revolução comunista sob Mao Tse-tung, em 1949. Depois disso, o novo governo tomou medidas enérgicas para aumentar a produção agrícola com o objectivo de acabar com a fome. A luta revelou-se notavelmente bem sucedida:

No espaço de sete anos, a China quase duplicou a sua produção de cereais, com um aumento médio anual de cerca de 8 porcento, que espantou todo o mundo.... Este tremendo aumento da produção e os custos mais baixos que resultaram das taxas de produtividade crescentes, melhoraram os padrões das dietas e libertaram o povo chinês das garras da fome.... Através de acção política organizada e efectiva, a nova China resolveu o seu maior problema dentro de dez anos: a alimentação dos seus 700 milhões de habitantes.34

Porém, a vitória ainda não estava completa. Uma série de secas excepcionalmente severas em 1960 e 1961 -- mesmo a meio da infeliz experiência económica chamada "o grande passo em frente" -- forçou a China a importar grandes quantidades de cereais dos países ocidentais. Já se sabia há muito tempo que esta crise causou um enorme sofrimento e uma fome severa. Mas foi só em 1984, quando os chineses publicaram os resultados do censo de 1964, que a dimensão real do desastre pôde ser estimada por peritos demográficos. As estimativas do número de mortes devidas à fome, má nutrição e mortalidade infantil durante os quatro anos 1958-61 variam entre 8 e 30 milhões.35

Portanto, esta fome foi perfeitamente comparável a algumas das piores fomes do passado. No entanto, constitui uma mancha negra num quadro brilhante que tende a melhorar. E, note-se, não torna de maneira nenhuma a situação da fome na China tão crítica como no desastroso século XIX.

Descontados os recuos temporários mencionados, a situação alimentar na China tem melhorado constantemente. Castro, perito mundial em alimentos, escreveu em 1973:

Desde 1962, apesar de um aumento populacional de 2 porcento ao ano, a agricultura expandiu-se a uma taxa anual de 4 porcento, e tem sido capaz de manter o passo suficientemente bem para banir o espectro da fome completamente.36

Assim, a China, antiga "terra da fome", já não merece essa designação. Tendo sido atingida por fomes quase anualmente durante milhares de anos, este país conseguiu no século XX -- pela primeira vez na sua longa história -- atingir gradualmente uma assinalável liberdade da praga da fome. A população aumentou para mais de um bilião de pessoas, mas estão agora a ser tomadas medidas enérgicas para limitar este crescimento. A afirmação de que as fomes têm aumentado desde 1914 não é verdadeira no caso desta quarta parte de toda a humanidade. Pelo contrário, a fome nesta terra tem diminuído, praticamente desapareceu, nesta que era até recentemente a parte do mundo mais afectada pela fome!
Fomes na Índia

A seguir à China, a Índia era e ainda é o país mais populoso do mundo. Se o Paquistão e o Bangladesh, que até 1947 eram partes da Índia, fossem incluídos na sua actual população, esta seria quase 900 milhões, ou cerca de um quinto da população da terra. A seguir à China, a Índia também tem experimentado mais fomes extremas do que qualquer outro país.

A Índia tem sofrido de fomes desde tempos imemoriais. Embora não tenhamos um registo sequencial e completo de todas as fomes que ocorreram no período da história indiana anterior à presença britânica, a evidência disponível sugere que nos tempos antigos ocorreu uma grande fome em cada 50 anos.37

Os registos da antiguidade mencionam fomes devastadoras, por vezes acompanhadas de canibalismo entre as vítimas esfomeadas. Diz-se que províncias inteiras ficaram despovoadas em 1022 e em 1052 A.D. "Em 1555, e de novo em 1596, a fome violenta por todo o noroeste da Índia resultou em cenas de canibalismo, segundo cronistas contemporâneos."38 Em 1630, uma seca devastadora "atingiu a província de Gujarat e centros inteiros ficaram despovoados."39

Talvez a maior fome de que há registo tenha sido a catástrofe de 1769-1770, durante a qual, segundo algumas estimativas, um terço da população indiana pereceu. Só em Bengal, pereceram dez milhões, e possivelmente várias dezenas de milhões morreram em toda a Índia.40

A frequência das fomes na Índia parece ter aumentado depois de ter começado a colonização britânica, em 1756. Desde 1765 até 1858, o país passou por doze fomes e quatro períodos de escassez grave. Outras seis grandes fomes ocorreram durante os vinte anos desde 1860 até 1880. Dos quarenta e nove anos entre 1860 e 1908, vinte foram anos de fome ou escassez.41 Várias destas fomes causaram milhões de mortes cada uma. "As fomes das primeiras décadas de 1800, segundo Andre Philip, mataram metade dos habitantes de Madras, Mysore e Hyderabad."42 A fome de 1865-66 custou cerca de três milhões de vidas, e a de 1876-78 custou mais de cinco milhões.43
O século dezanove terminou com duas das fomes mais desastrosas de século: mais de cinco milhões pereceram na fome de 1896-98 e outros 3,25 milhões durante os anos 1899-1900.44

O que estamos interessados em saber é se este século vinte presenciou algum aumento no número de fomes na Índia, e particularmente desde 1914. A resposta será certamente uma surpresa para alguns: "Não houve qualquer grande fome no país depois de 1908 até à fatídica tragédia de Bengal em 1943," indica o Dr. Bhatia, o principal perito em fomes na Índia.45

Assim, durante cerca de três décadas imediatamente depois da Primeira Guerra Mundial -- no período em que, de acordo com o "sinal composto" da Sociedade Torre de Vigia, haveria mais fomes do que nunca -- a vasta península da Índia, tão frequentemente afectada pela fome, não contribuiu com uma fome sequer para este "sinal"! Porquê? Bhatia explica:

A fome de 1907-08 ... revelou-se um ponto de viragem na longa história do problema dos alimentos e da fome na Índia. De aqui em diante, a seca deixou de ser um problema de séria preocupação. A atenção voltou-se, por outro lado, para o preço da comida, disponibilidade de emprego e a taxa dos salários.

Explicando o que isto significou para a fome na Índia, ele diz:

A fome já não significava mortes de fome em massa devido à falta de comida; passou a significar, como em algumas outras economias modernas, preços altos dos cereais sem um correspondente aumento proporcional dos salários, resultando em consumo reduzido de cereais por parte dos mais pobres e, por isso, semi-fome. A fome transformou-se em Problema Alimentar, que desde então nos tem acompanhado.46

Consequentemente, durante um período de trinta e cinco anos, de 1908 a 1942, a Índia passou por alguns períodos de escassez mas não teve grandes fomes envolvendo qualquer perda de vidas considerável."47 Assim, a fome de Bengal em 1943 foi um choque, e a Índia não estava preparada para ela. Antes de a situação ficar sob controlo, um milhão e meio de pessoas pobres e sem recursos morreram à fome.48 Em 1974 Bengal (então separada da Índia com o nome de Bangladesh) passou de novo por uma fome na qual várias centenas de milhares morreram de fome, uma fome que, segundo observadores, teve causas políticas e poderia ter sido evitada.49

Em 1965 Bhatia escreveu sobre a Índia nas suas actuais dimensões: "Ao longo das duas últimas décadas fomos bem sucedidos em evitar mortes provocadas pela fome em todo o país."50 Isto foi possível através de grandes importações de cereais e ajuda internacional.

Desde 1966, os líderes indianos lutaram arduamente para libertar o seu país da dependência da caridade internacional, e a situação melhorou gradualmente. De Castro escreveu em 1973:

Graças a medidas técnicas e organizativas, a situação nutricional da Índia, que até 1966 estava entre as piores do mundo, começou a mostrar sinais de que tinha alcançado um ponto de viragem. Durante os últimos dois anos a produção agrícola aumentou a uma taxa de 8 porcento, o que é um verdadeiro milagre.51

Que dizer da situação hoje? A Índia ainda é um país muito pobre; não obstante, o desenvolvimento económico tem continuado. Em 1985, a revista Time podia relatar:

Os avanços mais importantes deram-se na produção alimentar. Há quinze anos atrás, a Índia dependia muito dos cereais importados para alimentar os seus milhões de famintos e a seca era frequentemente um caso de vida ou de morte. Agora o país é auto-suficiente em alimentos. Desde 1971, a produção de cereais aumentou 40%, largamente em resultado da 'revolução verde,' o programa científico que usa sementes de elevado rendimento e irrigação intensiva, que começou em meados da década de 1960.52

Portanto, tal como na China, o quadro da fome na Índia revela um desenvolvimento notável. Tendo sido flagelada por fomes recorrentes durante a maior parte da sua história, esta península vasta e populosa deu grandes passos em direcção a libertar-se da fome severa ao longo do século XX. Estão a ser feitos grandes esforços para controlar a expansão da população e para eliminar o eterno problema da pobreza na Índia.

Resumindo, certamente que a má nutrição ainda existe na Índia. Isto não é uma novidade nem é incomum na sua história. O que é novo e incomum é o facto de, em vez de estar a piorar, a situação estar definitivamente a melhorar no nosso século.

Até este ponto, a nossa investigação demonstrou que os dois países mais populosos e flagelados pela fome em todo o mundo, a China e a Índia, ambos revelam uma assinalável diminuição no tamanho e número de fomes desde 1914, e isto é exactamente o contrário da tendência que deveríamos encontrar se as afirmações peculiares de várias fontes religiosas estivessem correctas! Em ambos os países o século XIX foi muito pior do que o século XX no que diz respeito às fomes. Voltemos então a nossa atenção para outro grande centro populoso da terra actualmente -- o terceiro em ordem de grandeza: a Europa.
A história da fome na Europa

A Europa tem uma fronteira a leste que chega à União Soviética e cobre uma área superior à península indiana, mas tem apenas pouco mais de metade do número de habitantes da Índia: 500 milhões. Durante mais de um século, as fomes têm sido praticamente inexistentes no continente europeu. As pessoas hoje estão geralmente bem alimentadas, muitas vezes até estão sobrealimentadas, e até a má nutrição é um problema muito pequeno na maior parte dos países da Europa, comparativamente a outras partes do mundo. A maioria das pessoas felizmente desconhece a assustadora história passada do continente no que diz respeito às fomes. Talvez estas pessoas se considerassem ainda mais afortunadas se conhecessem algo sobre essa história.

Em nítido contraste com as condições actuais, desde os tempos mais remotos a fome atingiu constantemente o continente europeu, muitas vezes matando multidões e devastando parcial ou totalmente largas áreas. Parece que se atingiu um clímax durante a Idade Média.

Durante os 600 anos que vão do século X ao XVI, "cerca de 400 grandes fomes atormentaram os países do Continente e das Ilhas Britânicas."53 Muitas destas foram tão temíveis e tiveram efeitos tão desmoralizadores, que mesmo nestes países cristianizados as pessoas recorreram ao canibalismo. Ao longo destes séculos, diz Bhatia, "a Grã-Bretanha e países da Europa Ocidental ... foram ameaçados por fomes mais frequentemente do que qualquer outra parte do globo."54

A situação melhorou um pouco do século XVII em diante, mas fomes locais ou mais extensas continuaram a causar destruições tremendas de tempos a tempos até bem dentro do século XIX.55

A impressão de que durante estes séculos a Europa foi mantida num estado de fome quase permanente é fortalecida se olharmos mais de perto para o estado de coisas em cada um dos países. O historiador Fernand Braudel escreve:

Qualquer cálculo racional revela uma triste história. A França, um país privilegiado seja qual for o padrão considerado, passou por 10 fomes gerais durante o século X; 26 fomes no século XI; 2 fomes no século XII; 4 fomes no século XIV; 7 fomes no século XV; 13 fomes no século XVI; 11 fomes no século XVII e 16 fomes no século XVIII. Embora não possamos garantir a exactidão deste cálculo feito no século XVIII, o único risco que se corre é de este cálculo ser optimista, porque omite as centenas e centenas de fomes locais.... O mesmo se poderia dizer de qualquer outro país da Europa.56

As fontes antigas geralmente não mencionam o número de mortos, os autores limitam-se a fazer comentários gerais, tais como "grande mortandade", "morreram multidões infindáveis", "aldeias inteiras ficaram vazias", "o chão cobriu-se de cadáveres", e assim por diante. Em vários casos diz-se que pereceu "um terço da população" do país.57 Para transmitir ao leitor uma ideia da miséria quase indescritível que prevaleceu na Europa durante estas catástrofes alimentares, a lista seguinte apresenta alguns exemplos das centenas de fomes devastadoras que atingiram o continente durante os séculos passados.58 A lista é acompanhada de comentários retirados de fontes antigas:

192 Irlanda: Escassez geral, "de tal forma que terras e casas, territórios e tribos, ficaram vazios."


310 Inglaterra: 40.000 morreram.


450 Itália: "Pais comeram os seus filhos."


695-700 Inglaterra, Irlanda: Fomes e pestilências, "de tal forma que os homens se comeram uns aos outros."


836  Gales: "O chão ficou coberto de cadáveres de homens e animais."


879 Prevaleceu uma fome universal.


936  Escócia: Depois da passagem de um cometa, fome durante quatro anos, "até que as pessoas se começaram a devorar umas às outras."


963-964 Irlanda: Uma fome intolerável, "a ponto de pais terem vendido os seus filhos em troca de comida."


1004-1005  Inglaterra: "Prevaleceu uma fome como não havia memória de outra igual."
"Este ano foi [aquele em que ocorreu] a maior fome em Inglaterra."59


1012 Inglaterra, Alemanha: Multidões infindáveis morreram de fome.


1016  Europa: Fome aflitiva por toda a Europa.


1069  Inglaterra: Ampla fome, "de tal forma que o homem, acossado pela fome, comeu carne humana, de cães e de cavalos."


1073  Inglaterra: Fome, seguida de mortalidade tão severa que os vivos não conseguiam tomar conta dos doentes, nem enterrar os mortos.


1116  Irlanda: Grande fome, "durante a qual as pessoas até se comeram umas às outras."


1239  Inglaterra: Grande fome, "pessoas comeram os seus filhos."


1316  Europa: Morte universal, e seguiu-se uma mortalidade tal, especialmente entre os pobres, que os vivos quase não conseguiam enterrar os mortos.


1347 Itália: Uma fome assustadora varreu um vasto número de habitantes. Seguiu-se a pestilência.


1437  França e outros países: Uma grande fome varreu a França e muitos outros países, durando dois anos. "Multidões nas grandes cidades morrendo em pilhas em montes de estrume."


1586-1589 Irlanda: Grande período de fome, "quando se comeram uns aos outros devido à fome."


1693  França e países vizinhos: "Uma fome apocalíptica do tipo medieval que matou milhões de pessoas em França e nos países vizinhos."


1696-1697  Finlândia: Uma das fomes mais assustadoras na história da Europa. Entre um quarto e um terço da população do país pereceu.


1709  França: Cerca de um milhão morreu à fome.


1846  Irlanda: Toda a colheita de batatas apodreceu. Um milhão de pessoas morreram à fome e mais de um milhão fugiram do país para escapar ao mesmo destino. Esta foi a última grande fome na Europa.


Depois de lermos estas descrições, temos de nos considerar afortunados por estarmos a viver no século XX. Onde é que, em qualquer parte da Europa na actualidade, lemos acerca de milhões -- ou milhares, ou mesmo centenas -- de pessoas morrendo por causa da fome? Onde é que actualmente, mesmo em áreas atingidas pela fome, lemos sobre pessoas "comendo-se umas às outras", "comendo os seus filhos", ou "vendendo os seus filhos em troca de comida"? É verdade que algumas áreas da terra ainda são flageladas por fomes severas, mas as condições melhoraram claramente. Os progressos feitos em métodos de armazenagem e nas comunicações contribuíram muito para esta melhoria, e a ajuda internacional através das Nações Unidas, Cruz Vermelha, e muitas outras organizações caritativas pode chegar rapidamente -- desde que haja dinheiro suficiente -- a áreas carenciadas numa escala que era completamente inimaginável apenas há cem anos atrás.

Conforme Bhatia indica, a fome "foi quase banida da Europa depois de 1850."60 A última grande fome nessa parte do mundo foi a calamidade irlandesa de 1846-47.61

É verdade que situações de fome ameaçaram partes da Europa durante



A ÚLTIMA GRANDE FOME NA EUROPA: IRLANDA, 1846-47

[imagem]

A fome irlandesa de 1846-47 reduziu os camponeses à fome e forçou-os a mendigar junto dos albergues. Mais de um milhão morreu à fome e muitos mais emigraram para o estrangeiro. Esta, que foi a última grande fome da Europa, ocorreu há cerca de 140 anos atrás. (Ilustração da Coolier's Encyclopedia, edição de 1974, Vol. 9, p. 553.)

e depois da Segunda Guerra Mundial, especialmente na Polónia e na Holanda, onde dezenas de milhares enfrentaram a fome, e muitos morreram mesmo de fome ou de subnutrição.62 Contudo, medidas de auxílio iniciadas pelos E.U.A. mudaram rapidamente a situação. Auxiliada pelo Plano Marshall Americano em 1947, "a economia europeia recuperou rapidamente e as marcas da fome diminuíram rapidamente em toda a área. Em breve, a Europa tinha alcançado novamente o seu nível alimentar anterior à guerra."63 Desde esse tempo o continente tem experimentado um firme aumento de prosperidade durante quase uma geração.

O nosso exame das fomes nos três maiores centros populacionais da terra, que têm uma população total de mais de metade da humanidade, mostra assim um desenvolvimento notável: tendo sido as áreas da terra mais flageladas pela fome, o século XX viu estes centros libertarem-se gradualmente da praga da fome!

A diminuição fenomenal das fomes nestes países é mais do que suficiente para mostrar que qualquer alegado aumento das fomes no século XX, ou em particular desde 1914, simplesmente não tem fundamentação nos factos. Mas para resolver a questão por completo, também será apresentado um breve sumário sobre a situação alimentar passada e presente no resto do mundo. Será que a Rússia, o Japão, a África, a América e outras áreas têm contribuído para o alegado "sinal da fome"?
Fomes em outras partes do mundo

Até este ponto, a nossa procura de um suposto aumento das fomes no século XX não revelou qualquer aumento, apesar do facto de ter sido considerada cerca de metade da humanidade. Em vez de aumentos da fome, o que encontrámos foram tremendas diminuições. Voltando agora a nossa atenção para a outra metade da humanidade, seremos confrontados com a mesma tendência palpável numa área após outra: diminuições em vez de aumentos. Muitas áreas vastas e populosas estão hoje completamente libertas das fomes. Estas áreas incluem a América do Norte, a União Soviética, o Japão, a Indonésia, as Filipinas, e a maioria dos países do Sudoeste da Ásia a oeste do Afeganistão.

Estas áreas, que têm hoje uma população total de cerca de um bilião de pessoas, foram flageladas por numerosas fomes nos séculos passados.

Na Rússia, por exemplo, a fome sempre desempenhou um papel decisivo. "A Rússia Imperial ... sofreu fomes praticamente todos os anos."64 É verdade que o país foi atingido por algumas grandes fomes nas duas décadas que se seguiram à Primeira Guerra Mundial, uma em 1921 na qual morreram entre 1 e 3 milhões de pessoas, outra em 1932-33, que matou cinco milhões.65 Contudo, estas foram apenas as últimas numa longa série de outras grandes fomes. "A Rússia foi flagelada por grandes fomes onze vezes entre 1845 e 1922."66 Entre as fomes mais severas na história do país estiveram as três que ocorreram em 1891, 1906 e 1911, todas antes de 1914.67 Desde a década de 1940, avanços na agricultura melhoraram constantemente a situação alimentar, e a fome deixou de ameaçar o país.

Quanto à América do Norte, com a excepção de certas comunidades de Índios Americanos, como os Pueblo Indians, parece que grandes fomes têm sido inexistentes nesta vasta área desde os dias de Colombo!68 Nos E.U.A., mesmo os problemas de má nutrição estão largamente limitados a algumas áreas muito pequenas, principalmente no sul. A comida é notavelmente abundante em todo o continente.

O Japão é outro país que foi atingido por fomes periódicas no passado. A vitória sobre a fome começou com a abolição do feudalismo na década de 1860, seguida de reformas agrárias e da introdução de métodos científicos na agricultura. Muito antes da Segunda Guerra Mundial, estes avanços tinham "posto fim a fomes que dizimavam periodicamente a população e deixavam os sobreviventes com sinais de degeneração física por toda a vida".69 Não só a fome desapareceu como também a melhoria do padrão de vida e da dieta, especialmente desde a década de 1950, libertou o Japão da má nutrição e da subnutrição.70

O Sudoeste da Ásia é ainda outra área com um passado marcado pela fome. "No fim da década de 1860 e início da década de 1870 ocorreu uma fome epidémica em toda a faixa de países desde a Índia a leste, até à Espanha a ocidente."71 A Pérsia "perdeu entre 1,5 e 2 milhões na grande fome de 1871-3."72 A má nutrição e a subnutrição ainda prevalecem em muitos países da região mas, com a excepção de uma grave fome no Afeganistão na década de 1970, acabaram-se as grandes fomes que no passado afligiam esta vasta área.73

Isto não significa que as fomes severas pertencem inteiramente ao passado. Por vezes desenvolvem-se condições de fome aguda em certas partes da terra, especialmente em África e na América do Sul, que são as regiões onde a má nutrição e a subnutrição estão mais espalhadas. Das duas áreas, a África é a mais afectada. No início da década de 1980, três ou quatro anos de secas em vastas áreas atingiram o continente, afectando milhões de pessoas em 24 países, sendo evidentemente a Etiópia o país que sofreu de forma mais dramática. Das cerca de 40 milhões de pessoas no país, a seca afectou entre 6 e 7 milhões, e os peritos estimam que no fim de 1985 cerca de um milhão de pessoas tinha morrido à fome. Milhares de outros morreram no Sudão, em Moçambique e em outros países. Contudo, os esforços internacionais dos órgãos das Nações Unidas (o UNDP e UNICEF), da Cruz Vermelha e de muitas outras organizações de caridade foram bem sucedidos em evitar uma catástrofe muito maior. Assim, estima-se que a ajuda alimentar à Etiópia em 1985 tenha salvado cerca de cinco milhões de pessoas de morrer à fome. Para a maioria dos países de África, a crise agora acabou, mas ainda é necessária muita ajuda nos anos à frente para evitar uma catástrofe recorrente.

As fomes hoje normalmente geram muita publicidade. A verdade é que boa parte disto se deve ao facto de a fome se ter tornado cada vez mais numa raridade entre a Humanidade. Hoje o interesse público é despertado para as necessidades que existem em partes distantes do mundo e muitos são movidos a contribuir para organizações de caridade e a tomar parte nas actividades que se destinam a aliviar o sofrimento. No passado, os jornais não podiam igualar o impacto visual dos relatos televisivos sobre as condições em áreas remotas; meios de comunicação inadequados impediam nitidamente uma grande ajuda. A publicidade que foi dada a fomes recentes em África tornou-as "oficiais," conhecidas do público em geral, em contraste com as fomes de tempos anteriores. A consequência disso é que alguns acreditam que as fomes recentes são as piores de sempre em África.

Por exemplo, uma série de secas atingiram a África no início da década de 1970, afligindo a Etiópia e os países à volta do Deserto do Sahara; a fome que daí resultou causou cerca de 100.000 mortos.74 A revista Awake! [Despertai!] de 22 de Julho de 1974 chamou-lhe "o maior desastre 'natural' da história de África." (Página 6) Tais declarações, que aparecem muitas vezes em diferentes artigos de jornais durante catástrofes de vários tipos, revelam mais sobre a ignorância dos autores desses artigos -- e dos que os citam -- do que sobre a história do país.

Muitas fomes que devastaram África no passado foram muito maiores do que aquelas que flagelaram esse continente no século XX.

Atendendo à proeminência actual da fome na Etiópia, talvez seja instrutivo examinar mais de perto algumas das fomes que ocorreram no passado nesse país.

Em Fevereiro de 1984, representantes de muitos países africanos reuniram-se em Addis Abeba, Etiópia, para discutir a situação climática e a seca nesse continente. Na conferência, a delegação etíope distribuiu um documento sobre estes assuntos, que incluía uma tabela de ocorrências de fomes no seu país, cobrindo o período desde 253 A.C até 1982 A.D.75 Embora o documento indique que falta muita informação para os séculos anteriores a 1800 A.D., a tabela apresenta uma imagem aterradora do passado da Etiópia.

Muitas das fomes enumeradas afectaram não só a Etiópia mas também "o Sudão, o Egipto e [aparentemente] também o resto da África e da região Saeliana." (Página 14) Muitas destas fomes sem dúvida custaram milhões de vidas mas "Relatos sobre mortalidade humana são praticamente inexistentes no caso das secas do período antes da primeira metade do presente século." (Página 25) Para o século XIX, a tabela revela 9 grandes fomes, cinco das quais afectaram toda a Etiópia. Sobre uma destas, a fome de 1888-92, a tabela declara: Cerca de 1/3 da população pereceu." (Página 16) Em contraste, a fome recente na Etiópia afectou cerca de 15 porcento das pessoas e cerca de 2,5 porcento da população morreu -- isto é muito menos do que os 33 porcento de vítimas da fome do século XIX. É claro que se deve ter em mente que a população actualmente é consideravelmente maior do que no passado. A seriedade da situação actual, conforme o documento etíope mostra, deve-se ao facto de os intervalos entre as secas recorrentes tenderem a ser cada vez menores, e ao facto de a erosão do solo causada por mau tratamento humano (desflorestação e pastos excessivos) agravar ainda mais a situação.

Portanto, a fome é reconhecidamente um problema corrente e sério em África. Isto é verdade. O que não é verdade é a afirmação de que isto é uma singularidade do nosso tempo. A África tem sofrido devido a fomes "desde a antiguidade remota."76 Melhor conhecidas são as fomes no Egipto. Uma série de fomes severas varreu o Egipto do século X ao século XII, quando os maometanos governavam o país. A fome de 968 A.D. "varreu 600.000 pessoas na vizinhança de Fustat."77 Outra fome mais ampla e mais desastrosa ocorreu em 1025. Uma fome ainda mais terrível começou em 1064 e durou sete anos. As pessoas desesperadas por fim recorreram ao canibalismo e foi vendida carne humana no mercado aberto. O mesmo sofrimento e degradação foi provocado pela assustadora fome dos anos 1201 e 1202, quando "as próprias sepulturas do Egipto foram rebuscadas para se encontrar alimento."78 Fomes severas também atingiram outros países em África. Nas fomes que ocorreram entre 1861 e 1872, a população muçulmana da Argélia "diminuiu mais de 20 porcento." Marrocos perdeu três milhões de pessoas -- perto de um terço da sua população -- na fome de 1878-79. Muitas outras fomes flagelaram a Argélia, Tunísia, Marrocos e países do norte de África ao longo dos séculos, conforme mostrado por estudos feitos pelo Dr. Charles Bois.79

No século XX as condições alimentares melhoraram nos países no extremo norte de África e na África do Sul. Estes países não são afligidos pela fome, embora o problema nutricional ainda seja sério em algumas áreas.80

Analogamente, na América Latina, uma alta percentagem da população sofre de subnutrição e de má nutrição, e vários países têm uma alta taxa de mortalidade infantil. No entanto, mais uma vez, esta situação não é algo novo nessa parte do mundo. "Vem do passado," diz de Castro, "do tempo da descoberta mais antiga destas terras." E, falando da América Central, ele explica: "A dieta de toda a América Central, com várias deficiências, e a resultante fome crónica são em certo sentido uma herança da cultura indígena pré-Colombiana, embora a situação se tenha agravado desde então em muitos aspectos pelos pouco previdentes métodos de exploração colonial," que começou no século XVI.81

A fome e a escassez de alimentos têm flagelado a América Latina "ao longo de toda a história," e as condições de fome ainda se desenvolvem em várias áreas.82 Portanto, nada parece ter mudado basicamente nestes aspectos no século XX.

A nossa análise das fomes no mundo, passadas e presentes, termina aqui. A evidência revelada durante a nossa investigação só permite tirar uma conclusão, nomeadamente, que a nível mundial as fomes têm diminuído, e têm diminuído muito acentuadamente, no século XX, incluindo o período desde 1914.

Esta evolução não nos devia surpreender. As fomes no passado eram principalmente uma consequência de métodos agrícolas primitivos (que frequentemente provocavam perda de colheitas devido a serem afectados mais facilmente por mudanças de tempo) e uma consequência dos meios de comunicação primitivos, que muitas vezes tornavam inalcançável a ajuda de áreas adjacentes. A Revolução Industrial trouxe melhores implementos agrícolas, variedades de sementes mais resistentes, e melhores comunicações, e a situação alimentar começou a mudar:

Cerca de 1800 A.D. começou na Europa Ocidental e na América do Norte um desenvolvimento que quase aboliu as fomes e as epidemias e também baixou o nível normal de mortalidade, de tal forma que a duração média da vida aumentou de 30 anos nesse tempo para 75 anos hoje.83

Contudo, a má nutrição crónica ainda continua a ser o maior problema relacionado com a fome, conforme o grande demógrafo (perito em assuntos da população) europeu Alfred Sauvy indica:

Ao passo que a fome aguda e desastrosa quase desapareceu, a má nutrição crónica ainda é um problema em muitas partes do mundo.84

Somos assim confrontados com a questão de saber se a má nutrição e a subnutrição estão de facto mais difundidas hoje do que no passado.
Má nutrição e mortalidade infantil no passado e hoje

Como foi mostrado anteriormente, cerca de um porcento da humanidade está a morrer de fome hoje, o que é provavelmente a proporção mais baixa de sempre na história conhecida. Porém, um número muito maior, que talvez chegue aos 25 porcento, estão mal nutridos ou subnutridos ou ambas as coisas.85

Cerca de metade destes são crianças. A maioria dos que morrem de má nutrição ou doenças indirectamente causadas por má nutrição ou subnutrição são crianças com menos de seis anos de idade.

Ao discutir a cavalgada do cavalo negro de Revelação, que simboliza a fome, o Dr. Graham chama a atenção para a condição das crianças, dizendo que "os passos de aviso são os gritos de crianças morrendo de fome e de doença," e cita um relatório do Mennonite Central Committee que estima que "doze milhões de crianças morrem dos efeitos da má nutrição cada ano nos países em vias de desenvolvimento." (Approaching Hoofbeats, páginas 153, 154) É certo que esta situação é impressionante, profundamente perturbadora. Não há dúvida sobre isso. Contudo, a pergunta que deve ser feita é: será que a situação é uma singularidade do nosso tempo?

A Sociedade Torre de Vigia tenta claramente apoiar o seu "sinal da fome" recorrendo a dados sobre a mortalidade infantil, usando estes para contrariar a evidência de que a fome era ainda maior no passado:

Um relatório do United Nations Children's Fund [Fundo das Nações Unidas Para as Crianças] estima que 17 milhões das crianças do mundo morreram de fome e doenças em 1981. Isso é mais do que a estimativa de mortes durante a terrível fome chinesa dos anos 1878-9.86

Mas comparar a mortalidade infantil em todo o mundo em 1981 com a grande fome na China em 1878-79 -- se o objectivo da comparação for distinguir o nosso tempo como sendo mais afectado pela fome -- é, na melhor das hipóteses, um sinal de ignorância, e na pior das hipóteses é sinal de desonestidade. Porquê? Porque, embora certamente não estivesse identificada de modo tão claro como hoje, a má nutrição, com a resultante mortalidade infantil, definitivamente coexistiu a par com a fome no passado.87 E, tal como a fome, a má nutrição evidentemente não era um problema menor em séculos passados. A evidência diz que era maior.

Isto é indicado pelo facto inegável de que a mortalidade em todas as faixas etárias, em especialmente a mortalidade infantil, tem diminuído continuamente durante todo o século vinte em quase todos os países!88

O demógrafo sueco Professor Erland Hofsten estima que a mortalidade infantil antes do século XX chegava aos 40-50 porcento em muitos países, sendo possivelmente ainda maior em algumas áreas!89

Na Suécia, onde têm sido mantidas estatísticas ininterruptas sobre a mortalidade infantil desde 1749, a taxa de mortalidade infantil era 20-25 porcento entre 1749 e 1814, mas depois começou a descer. Em 1985 tinha sido reduzida para 0,7 porcento!90 Ocorreu um desenvolvimento similar em outros países, especialmente na Europa e na América do Norte.

O progresso tem sido mais lento em países em vias de desenvolvimento, mas também aí tem ocorrido uma melhoria visível, especialmente desde o fim da Segunda Guerra Mundial:

A mortalidade tem diminuído acentuadamente depois da Guerra em praticamente todos os lugares dos países pobres.... a mortalidade tem diminuído em todas as faixas etárias. A diminuição da mortalidade infantil tem sido particularmente significativa.91

É verdade que ainda morre um grande número de crianças devido à má nutrição em muitas áreas pobres da terra. Mas a mortalidade infantil nos países em vias de desenvolvimento tem diminuído durante o século XX, de 40-50 porcento para apenas 9 porcento em média em 1983, embora em alguns (poucos) países ainda continue nos 20 porcento.92 Medicamentos modernos, uma melhor dieta e melhor higiene evitaram mortes e mais do que duplicaram a duração da vida em todo o mundo ocidental, e um desenvolvimento similar está agora em progresso também nos países em vias de desenvolvimento, embora seja mais lento.93



[imagem]

Em 1900, todas as nações da terra tinham uma taxa de mortalidade infantil superior a 50 em cada 1.000 nascimentos [vivos].

[imagem]

Em 1983, 84 nações tinham reduzido a sua taxa de mortalidade infantil para menos de 50 em cada 1.000 nascimentos [vivos].

As autoridades no assunto consideram que a taxa de mortalidade infantil é o melhor indicador de bem-estar social e económico geral. Quando a taxa atinge os 5 porcento (=50 mortes por 1.000 nascimentos [vivos]) ou menos, isto indica que esse país "está a satisfazer as necessidades humanas básicas, incluindo alimento, abrigo, roupas, água própria para beber e condições sanitárias." O facto de em 1900 todas as nações terem um taxa de mortalidade infantil superior a 5 porcento é um forte indicador da falta de nutrição apropriada então prevalecente. O facto de 84 nações, em 1983, terem conseguido reduzir esta taxa para menos de 5 porcento é um indicador igualmente forte de que dentro das suas fronteiras a fome deixou de ser um problema básico e prevalecente na sociedade. (Roy L. Prosterman, The Decline in Hunger-Related Deaths [A Diminuição das Mortes Relacionadas com a Fome], 1984, pp. 1, 4; Ending Hunger: An Idea Whose Time Has Come [O Fim da Fome: Uma Ideia Cujo Tempo Chegou], publicado pelo Hunger Project em 1985, p. 384; 1985 World Population Data Sheet, publicado em 1985 pelo Population Reference Bureau, Inc., Washington, D.C.)



Consequentemente, aqueles que usam dados sobre a mortalidade infantil numa tentativa de "provar" que a nossa geração tem presenciado mais fome e má nutrição do que séculos anteriores, só o podem fazer ignorando toda a evidência que aponta em sentido contrário. Ninguém pode dizer com certeza quantos milhões de crianças morreram anualmente em séculos anteriores [ao século XX] devido a má nutrição e doenças relacionadas com a fome, pois nunca foram feitas estimativas globais da taxa de mortes anuais. Mas tendo em consideração que ocorreu em muitos dos países em vias de desenvolvimento do mundo ocidental uma redução da taxa de mortalidade para valores que são um quarto ou mesmo um quinto do que eram antes, é fácil perceber que em séculos anteriores [ao século XX] muitos milhões de crianças morreram cada ano de fome e de doenças relacionadas com a fome -- apesar do facto de a população do mundo ser muito menor nesse tempo!

É indubitável que esta diminuição excepcional da mortalidade infantil e da mortalidade das crianças tem salvado centenas de milhões de vidas nos países em vias de desenvolvimento. O Professor D. Gale Johnson declara:

Aqueles de entre nós que censuram as elevadas taxas de crescimento populacional nos países em vias de desenvolvimento não se deviam esquecer que os aumentos destas taxas se devem inteiramente a reduções na taxa de mortalidade e de modo nenhum a um aumento nas taxas de natalidade. Tem havido uma enorme redução do sofrimento humano, que tem passado largamente despercebida -- a dor e a angústia de centenas de milhões de pais têm sido evitadas pela redução das taxas de mortalidade infantil e mortalidade das crianças.94

Num mundo em que 99 porcento da Humanidade não morre à fome e 75 porcento nem sequer está mal nutrida, muitas vezes as pessoas não se apercebem que esta situação é algo novo e único na história humana, e que no passado a pobreza e as carências eram tão universais que muitas pessoas as encaravam como fatalidades, condições que eram inevitáveis, e por isso raramente se questionavam sobre elas ou sequer falavam a respeito disso. O livro Hunger and History [Fome e História] declara:

As festas podiam muito bem ser ocasiões que deixavam recordações felizes, mas era dito tão pouco acerca das carências do dia a dia, que um mundo que encara a fome como um mal do qual nenhuma pessoa em países civilizados devia sofrer, acha um pouco difícil compreender que as carências e a fome foram as condições permanentes sob as quais viveram as gerações passadas.... É difícil para pessoas vivendo sob condições modernas perceber, mesmo que seja inadequadamente, como era a vida quando a população lutava pelos suprimentos de alimentos durante esses tempos em que as carências eram universais.95
Será que uma catástrofe futura de fome é inevitável?

Quando confrontados com a evidência sólida de que a fome e a escassez eram inquestionavelmente maiores antes do século XX, os que escrevem material que tem como objectivo excitar um senso de catástrofe iminente muitas vezes recorrem à discussão, não do que aconteceu nem do que está a acontecer presentemente, mas do que poderia acontecer no futuro.

Não é difícil encontrar declarações de pessoas proeminentes apontando para alguma tragédia futura como sendo provável. O livro The Late Great Planet Earth (páginas 101, 102), cita J. Bruce Giffing, Presidente do Departamento de Genética na Ohio State University, que disse em 1969 que "A menos que a Humanidade aja imediatamente, haverá uma fome mundial em 1985, e a extinção do Homem dentro de 75 anos." Evidentemente, a Humanidade 'agiu' a tempo, pois em 1985 não aconteceu nada que se parecesse com uma fome mundial, nem sequer remotamente.

De forma semelhante, a Watchtower de 15 de Abril de 1983 aponta para a população do mundo hoje, que está a crescer rapidamente e "que coloca pressão sobre a capacidade do mundo de se alimentar a longo prazo," e cita o perito E. R. Duncan que diz que "esta situação é única na história humana." Contudo, será que Duncan conclui que a população inevitavelmente crescerá mais rápido do que a produção de alimentos nas próximas décadas? Não, embora reconhecendo a possibilidade, ele não encontra razões para acreditar que isso acontecerá necessariamente. "De facto, isto pode eventualmente acontecer, mas a história recente mostra que embora a situação seja precária, não é desastrosa, com a excepção de alguns (poucos) casos."96 A longo prazo, ele acredita que a população "será estabilizada num nível controlável."97

Muitas outras autoridades concordam, apontando para o facto de os rápidos aumentos populacionais que começaram na década de 1940 terem atingido o clímax na década de 1960, com uma taxa de crescimento anual de cerca de 2.0 porcento. Actualmente [1987] a taxa de crescimento global é 1.7 porcento, e estão a ser feitos esforços enérgicos em muitos países para limitar ainda mais o crescimento.98 Se estes esforços forem bem sucedidos, a "bomba populacional" poderá ser desactivada antes de explodir numa catástrofe mundial.

Igualmente importante é o facto de a produção alimentar até agora ter acompanhado o aumento populacional. "A nível mundial, o período entre 1950 e 1971 presenciou uma duplicação da produção de cereais, enquanto a população só aumentou metade dessa quantidade," observa Duncan.99 E segundo a FAO (United Nations Food and Agriculture Organization [Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas], ainda não existe falta de comida no mundo. Pelo contrário, no mundo como um todo tem havido um crescente excedente de alimento em anos recentes.100 O 1983 UNICEF Annual Report [Relatório Anual de 1983 da UNICEF] declara que "a produção alimentar excedeu o crescimento populacional em 1982, e, com excepção da África a sul do Saara, foram registadas colheitas maiores em todas as regiões desenvolvidas." (Página 6) Se isto é assim, por que é que ainda vemos dezenas de milhões de pessoas a morrer de fome hoje, e centenas de milhões, possivelmente mais de um bilião de pessoas, mal nutridas ou subnutridas?

Conforme explicou Edouard Saouma, director da FAO, na World Food Conference [Conferência Mundial Sobre a Fome] realizada em Roma em Outubro de 1983, estas centenas de milhões de pessoas estão mal nutridas ou estão a morrer de fome simplesmente porque são pobres. Não podem comprar o alimento que de facto existe. E, o que é ainda pior: esta pobreza nos países subdesenvolvidos é perpetuada por fortes interesses económicos e políticos dos países desenvolvidos, que não estão dispostos a partilhar a sua abundância.101



O QUE DESTACADAS AUTORIDADES DIZEM SOBRE A FOME HOJE COMPARADA COM O PASSADO

"Pela primeira vez, é possível haver uma sociedade na qual a pobreza pode ser abolida e, com ela, também a miséria e a fome. A erradicação da fome já não é um desígnio utópico; é um objectivo perfeitamente alcançável." -- Josué de Castro in The Geopolitics of Hunger [A Geopolítica da Fome] (Nova Iorque, 1977), pp. 447, 448.

Em todas as épocas e em todas as terras as pessoas passaram fome, ... no entanto, a realidade parece ser que o homem, em média, está constantemente a alcançar uma melhor dieta.... certamente as pessoas hoje estão, em média, de algum modo melhor alimentadas do que estavam há 100 anos atrás." -- The Biology of Human Starvation [A Biologia da Fome Humana] por A. Keys, J. Bozek, A. Henschel, O. Michelsen e H. Longstreet Taylor (St. Paul, 1950), pp. 3, 12.

"um mundo que encara a fome como um mal ... acha um pouco difícil compreender que as carências e a fome foram as condições permanentes sob as quais viveram as gerações passadas.... É difícil para pessoas vivendo sob condições modernas perceber, mesmo que seja inadequadamente, como era a vida ... durante essas longas eras em que as carências eram universais." -- E. Parmalee Prentice, Hunger and History. The Influence of Hunger on Human History [Fome e História. A Influência da Fome na História Humana] (Caldwell, Idaho, 1951), pp. 10, 137.

"Ao longo dos séculos a fome tem sido um fenómeno frequente e costumava ser encarado como uma calamidade mais ou menos normal.... Mas existem muitas indicações em como a incidência [em tempos passados] foi consideravelmente maior do que é hoje em praticamente todas as áreas habitadas do mundo." -- Bruce F. Johnston no seu artigo sobre "Fome", na Cooliers Encyclopedia, Director Editorial William D. Halsey, Vol. 9 (Nova Iorque, 1979), pp. 552, 553.

Poderíamos estar inclinados a deduzir a partir da evidência visual da fome que temos visto recentemente na televisão, nos jornais, e em revistas, que o mundo é mais propenso a fomes agora do antes. Mas a evidência é aponta claramente no sentido contrário.... Tem havido uma redução substancial na incidência da fome durante o último século." -- Perito em alimentos Professor D. Gale Johnson, World Food Problems and Prospects [Problemas e Perspectivas da Alimentação no Mundo] (Washington, D.C., 1975), p. 17.

"O consumo de alimentos por pessoa tem estado a aumentar nos últimos 30 anos.... As mortes provocadas pela fome têm diminuído no último século mesmo em termos absolutos, e ainda diminuíram mais em termos relativos. Os preços dos alimentos no mundo têm estado a descer já por décadas e séculos ... e existe forte razão para acreditar que esta tendência continuará." -- Julian L. Simon e Herman Kahn em The Resourceful Earth [A Terra Repleta de Recursos] (Londres, 1984), p. 16.


Portanto, nem o aumento populacional nem a produção alimentar são o verdadeiro problema. É um facto bem conhecido que os recursos da terra poderiam muito bem alimentar uma população mundial muitas vezes maior do que aquela que actualmente vive na terra. E, mais ainda: Pela primeira vez na História, a Humanidade tem à sua disposição os meios que lhe permitem explorar estes recursos a até esse ponto. Conforme de Castro observa:

O conhecimento que o Homem agora possui, se fosse aplicado de forma inteligente, forneceria à Humanidade alimento suficiente e da qualidade necessária para assegurar o seu equilíbrio nutricional durante muitos anos à frente, mesmo que a população duplicasse, ou aumentasse dez vezes.102

É claro que não podemos prever se a Humanidade fará ou não uso destas possibilidades para pôr fim à fome e à má nutrição. Tudo pode acontecer nas próximas décadas e nós não fazemos qualquer tentativa para especular ou para profetizar. Basicamente, o problema envolve amor pelo próximo. Como é que nós, como cristãos, reagimos ao ouvir e ler sobre os milhões de pessoas pobres e esfomeadas que existem? Se o nosso interesse por elas se limitar à questão: Será que são suficientemente numerosos para constituir um dos aspectos de um suposto "sinal composto" do fim? -- não indicaria isso que há algo de fundamentalmente errado com o nosso "cristianismo"? Se o nosso interesse nessas pessoas esfomeadas não for além disso, não estaríamos a correr o risco de ser colocados entre aqueles a quem o nosso Senhor Jesus Cristo dirá no "dia de julgamento": "Eu estava com fome e vós nada me destes para comer...."? -- Mateus capítulo vinte e cinco, versículo 42, NIV.

Notas

1 Conforme mostrado na The Watchtower [A Sentinela] de 15 de Abril de 1983, página 7 [em inglês], esta afirmação foi citada a partir do Vancouver Sun, que por sua vez alega ser essa uma estimativa do FAO, a United Nations Food and Agriculture Organization [Organização para Alimentação e Agricultura das Nações Unidas]. Veja também o livro da Sociedade Torre de Vigia, Raciocínios à Base das Escrituras (1985), página 420, onde se repete a mesma alegação. Contudo, a FAO nunca disse que um bilhão de pessoas estavam a morrer à fome, o que pode ser a impressão com que o leitor comum ficaria depois de ler esta notícia formulada de forma descuidada.

2 Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado (1959), pp. 181, 182.

3 Pandurang V. Sukhatme, Feeding India's Growing Millions [Alimentando os Crescentes Milhões da Índia] (Londres, 1965), p. 1. Outras dificuldades, diz Sukhatme, são a falta de uma dieta padrão e as limitações das estatísticas disponíveis sobre o consumo de alimentos. (P. 2)

4 Frank A. Southard, Jr., no seu artigo sobre "Fome", na Encyclopaedia of the Social Sciences [Enciclopédia das Ciências Sociais] Vol. 6 (Nova Iorque, 1931), p. 85.

5 Lord Boyd Orr, no prefácio de Geography of Hunger [Geografia da Fome], de Josué de Castro (Londres, 1952), pp. 5, 6. Em 1973 foi publicada uma edição revista e aumentada deste livro e em 1977 foi traduzida para inglês com o título The Geopolitics of Hunger [A Geopolítica da Fome]. Esta edição será usada nas referências seguintes.

6 M. K. Bennett, no International Encyclopedia of the Social Sciences [Enciclopédia Internacional das Ciências Sociais] (ed. por David L. Sills, 1968), sublinha: "Escassez de uma vitamina ou mineral específico numa população, talvez evidenciada pela incidência anormalmente alta de escorbuto, beribéri, pelagra, raquitismo ou visão debilitada, não é fome, embora em décadas recentes a palavra tenha sido aplicada a esses tipos de escassez." (Vol. 5, p. 322) Estritamente, má nutrição também deve ser distinguida de subnutrição, definida como "insuficiência na assimilação de calorias" (Sukhatme, p. 2). Fome, por sua vez, "deve ser distinguida da subnutrição mais ou menos constante de zonas atingidas pela pobreza." (Southard, p. 85)

7 Sukhatme, p. 75. Desde a investigação de Sukhatme, há vinte anos, a situação alimentar na Índia melhorou acentuadamente.

8 Documento das Nações Unidas Assessment of the World Food Situation [Avaliação da Situação Alimentar do Mundo], Item 8 da Agenda provisória (da Conferência Alimentar Mundial 1974), E/Conf, 65/3. Mais recentemente, a FAO estimou, com base na Fourth World Food Survey [Quarta Pesquisa Alimentar Mundial] (1977), que 455 milhões de pessoas nos países em vias de desenvolvimento (excluindo a China) sofrem de má nutrição e/ou de subnutrição.

9 Peritos suecos em alimentos, Lasse e Lisa Berg, em Mat och makt [Alimentos e Poder], (Avesta, Suécia, 1978), pp. 20-25. A revista Awake! [Despertai!] de 22 de Outubro de 1984 [em inglês], concordou indirectamente com estes números ao citar The Unesco Courier [O Correio da Unesco] que disse: "A fome crónica continua a ser um problema para dezenas de milhões de pessoas," enquanto "Cerca de 500 milhões de seres humanos, estagnados na pobreza, estão sob a ameaça diária da fome." (P. 6) Assim, centenas de milhões estão ameaçados pela fome (isto é, sofrem de má nutrição), mas dezenas de milhões estão de facto a sofrer fome. Mais ainda, as estimativas que apontam para entre 500 milhões e um bilião de pessoas mal nutridas/subnutridas, provavelmente são grandes exageros. Estas estimativas foram criticadas recentemente por vários destacados peritos em alimentos, que gostariam de baixar o número para 240 milhões ou menos. (Veja o bem conhecido perito em alimentos D. Gale Johnson em The Resourceful Earth [A Terra Repleta de Recursos], editado por Julian L. Simon e Herman Kahn (Londres, 1984), pp. 76, 77.)

10 P. 181. Esta afirmação tem sido repetida muitas vezes depois disso. Veja, por exemplo, "Venha o Teu Reino" (1981), página 122, e Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra (1982), página 150.

11 Ping-ti Ho, Studies on the Population of China, 1368-1953 [Estudos Sobre a População da China, 1368-1953] (Cambridge, Massachusetts, 1959), p. 233; Walter H. Mallory, China: Land of Famine [China: Terra da Fome] (Nova Iorque, 1926), p. 2.

12 The Watchtower [A Sentinela], 15 de Abril de 1983, p. 6 [em inglês].

13 Josué de Castro, The Geopolitics of Hunger [A Geopolítica da Fome] (Nova Iorque e Londres, 1977), p. 50.

14 Ibid., p. 50.

15 Ibid., p. 401 (citação de E. Parmelee Prentice, Hunger and History [Fome e História], Nova Iorque, 1939). Também B. M. Bhatia enfatiza o alcance global da fome no passado: "Antes de ocorrerem na Europa as revoluções industrial e comercial, a fome era uma calamidade natural em relação à qual nenhuma parte do mundo estava completamente imune." -- Famines in India [Fomes na Índia], 2ª edição (Londres, 1967), p. 1.

16 Cornelius Walford, "The Famines of the World: Past and Present" [As Fomes do Mundo: no Passado e no Presente], Journal of the Statistical Society [Jornal da Sociedade de Estatística], Vol. XLI, 1878, pp. 433-534, e Vol. XLII, 1879, pp. 79-275.

17 Walford (1878), pp. 434-449. A lista também inclui algumas fomes da era pré-cristã.

18 Dr. Alwin Schultz, Deutsches Leben im XIV. und XV. Jahrundert [Vida Alemã nos Séculos XIV e XV] (Viena, 1892), pp. 639-651.

19 Fritz Curschmann, "Hungersnöte im Mittelalter," Leipziger Studien aus dem Gebiet der Geschichte, ed. por Buchholz, Lamprecht, Marcks e Seeliger (Leipzig, 1900), pp. 1-217.

20 Léopold Deslisle, Études sur la Condition de la Classe Agricole [Estudos sobre a Condição da Classe Agrícola] (Paris, 1903), pp. 627-648.

21 Ping-ti Ho, p. 227. "Até à revolução de 1949," diz de Castro, "este grande país era o exemplo perfeito de uma região de fome." (P. 258)

22 Walter H. Mallory, China: Land of Famine [China: Terra da Fome] (Nova Iorque, 1926), p. 1.

23 de Castro, pp. 271, 272.

24 Ibid., p. 272.

25 Ralph A. Graves, "Fearful Famines of the Past" [Fomes Temíveis do Passado], The National Geographic Magazine, Julho de 1917, Washington D.C., p. 89.

26 Graves, p. 89.

27 E. J. Hobsbawn, The Age of Capital 1848-1875 [A Era do Capital 1848-1875], p. 133. Veja também Maurice Bruce, The Shaping of the Modern World 1870-1939 [A Formação do Mundo Moderno 1870-1939] (Londres, 1958, p. 801.)

28 Hobsbawn, página 133.

29 The Watchtower [A Sentinela], 15 de Abril de 1983, p. 3. A situação em algumas áreas foi tão desesperada que foi relatada a ocorrência de canibalismo "vez após vez". (Ping-ti Ho, p. 231)

30 Mallory, p. 29.

31 Ping-ti Ho, p. 233.

32 de Castro, p. 53.

33 Ping-ti Ho, p. 233; The Watchtower [A Sentinela], 15 de Abril de 1983, p. 5.

34 de Castro, pp. 298, 306.

35 Ibid., pp. 306-308; Lester Brown, State of the World [Situação do Mundo] (Nova Iorque, 1984), p. 188; Population and Development Review [Revista de População e Desenvolvimento], Vol. 7, n.º 1 (Março de 1981), pp. 85-97; Vol. 8, n.º 2 (Junho de 1982), pp. 277, 278; Vol. 10, n.º 4 (Dezembro de 1984), pp. 613-645; Scientific American, Dezembro de 1985, p. 194. O Guiness 1983 Book of World Records [Livro de Recordes Mundiais Guiness de 1983] (Bantam Books, 21.ª edição nos Estados Unidos, p. 465) datou erradamente esta fome em 1969-71 em vez de 1959-61. (Correspondência pessoal.) Deve-se notar que as estimativas sobre o número de mortes (8-30 milhões) nesta fome, não são baseadas em relatórios de testemunhas oculares contemporâneas, mas são estimativas demográficas feitas mais de 20 anos depois do desastre. Estas estimativas são baseadas nos censos chineses de 1953, 1964 e 1982, sendo que os primeiros dois (1953 e 1964) são considerados de qualidade duvidosa ou defeituosa e portanto "de utilidade limitada para análise demográfica." (J. D. Durand, "Historical Estimates of World Population" [Estimativas Históricas da População Mundial], Population and Development Review [Revista de População e Desenvolvimento], Vol. 3, n.º 3, Setembro de 1977, pp. 254, 255, 260-264; J. S. Aird, "Population Studies and Population Policy in China" [Estudos e Políticas sobre a População na China], Ibid., Vol. 8, n.º 2, pp. 272-278; "Population Trends, Population Policy and Population Studies in China" [Tendências, Políticas e Estudos sobre a População na China], Ibid., Vol. 7, n.º 1, p. 91.)

Se as estimativas recentes sobre o número de mortes na fome de 1959-61 indicam a verdadeira magnitude deste desastre, é curioso que uma crise de tal severidade não apenas passasse sem ser mencionada por líderes chineses contemporâneos, mas também passasse despercebida a observadores ocidentais treinados, que visitaram a China durante a catástrofe. O Marechal Montgomery, que fez uma longa visita à China durante 1961 -- no que teria sido o pico da crise -- numa entrevista ao Times de Londres declarou que "não tinha visto qualquer fome na China, que a população parecia bem nutrida, e que apenas alguns produtos estavam racionados em resultado de um ano excepcionalmente mau para a agricultura." (de Castro, pp. 306, 307)

36 de Castro, p. 308. Depois de Castro ter escrito isto em 1973, o progresso tem continuado. Os peritos suecos em alimentos, Lasse e Lisa Berg, escreveram em 1978 que a China, em três décadas, "erradicou a fome e provavelmente também a subnutrição." (Mat och makt, Avesta, Suécia, 1978, p. 170)

37 B. M. Bhatia, Famines in India [Fomes na Índia], segunda edição (Londres, 1967), p. 7.

38 Fernand Braudel, Civilization and Capitalism 15th-18th Century: The Structures of Everyday Life[Civilização e Capitalismo nos Séculos XV a XVIII: As Estruturas da Vida Quotidiana] (Londres, 1981), p. 76. Falando da história passada da China e da Índia, Braudel observa que "as fomes ali pareciam ser o fim do mundo." (P. 76)

39 Graves, p. 87.

40 Walford (1878), p. 442; Graves, p. 88. The Guiness 1983 Book of World Records [O Livro de Recordes Mundiais Guiness de 1983] numa nota de rodapé anexa à tabela (na página 465) das maiores catástrofes do mundo, menciona que a grande fome indiana de 1770 ceifou várias dezenas de milhões de vidas. Porém, não conseguimos confirmar esta afirmação.

41 Bhatia, pp. 7, 8, 58. Compare com Walford (1878), pp. 442-449.

42 de Castro, p. 320.

43 Bhatia, pp. 68, 70, 74, 108.

44 Ibid., pp. 242, 261.

45 Ibid., p. vi.

46 Ibid., p. 270. The Watchtower [A Sentinela], 15 de Abril de 1983, cita na página 6 [edição inglesa] George Borgström, uma autoridade em nutrição no mundo, que diz que as condições alimentares na Índia se tornaram "insuportáveis" nos séculos XIX e XX. Mas conforme mostra o Dr. Bhatia, a maior autoridade sobre as fomes na Índia, isso só é verdade no caso do século XIX, não é verdade no caso do século XX, quando a situação mudou radicalmente. Mais ainda, a declaração de Borgström segundo a qual apenas dez milhões na Índia estavam "adequadamente alimentados" também está muito errada, como mostra a cuidadosa investigação do Dr. Sukhatme, que concluiu que 50 porcento da população indiana está adequadamente alimentada! (Veja a informação a seguir ao subtítulo "A extensão da fome e má nutrição hoje.") Borgström foi um dos "profetas da desgraça" da década de 1960 que avisavam que viria uma fome catastrófica. Alguns destes até predisseram que muitos países, a começar pela Índia, sofreriam fomes em vastas áreas na década de 1970 -- uma predição que falhou completamente. (Veja, por exemplo, W. & P. Paddock, Famine-1975! [Fome-1975!], Londres, 1967, pp. 60, 61. Este livro foi repetidamente citado nas publicações da Torre de Vigia antes de 1975; depois de 1975 já não foi citado.)

47 Bhatia, p. 309. Numa nota de rodapé Bhatia acrescenta: "Desde 1910 até 1940 houve 18 ocorrências de escassez, mas não houve perda de vidas por causa da fome em todo este período." (P. 309)

48 Ibid., p. 310. Um perito diz que o número de mortes chegou aos 3,5 milhões. (Bhatia, p. 324)

49 Berg e Berg, p. 112.

50 Bhatia, p. 342.

51 de Castro, pp. 341, 342.

52 Revista Time, 14 de Janeiro de 1985, p. 25. (Compare com a revista Science [Ciência], 3 de Agosto de 1984.)

53 de Castro, p. 398.

54 Bhatia, p. 2.

55 Southard, na Encyclopedia of the Social Sciences [Enciclopédia das Ciências Sociais], Vol. VI, diz que se sabe que ocorreram 450 fomes na Europa entre 1000 A.D. e 1855. (P. 85).

56 Fernand Braudel, o grande historiador, em Civilization and Capitalism 15th-18th Century: The Structures of Everyday Life [Civilização e Capitalismo nos Séculos XV a XVIII: As Estruturas da Vida Quotidiana] (Londres, 1981), p. 74.

57 Fritz Curschmann, Leipziger Studien aus dem Gebiet der Geschichte (Leipzig, 1900), pp. 60-62.

58 Fontes: Walford, pp. 434-449; Graves, p. 84; Braudel, p. 74; E. P. Prentice, Food, War and the Future[Alimentos, Guerra e o Futuro] (Nova Iorque, Londres, 1944), p. 14; Le Roy Ladurie, Times of Feast, Times of Famine [Tempos de Festa, Tempos de Fome] (Londres, 1972), pp. 68, 70; Prof. Eino Jutikkala, "The Great Finnish Famine in 1696-1697" [A Grande Fome Finlandesa de 1696-1697], The Scandinavian Economic Review [Grande Revista Económica Escandinava], III, 1955, pp. 48-63. As fomes romanas até ao tempo de Trajano (98-117 A.D.) foram examinadas por Kenneth Sperber Gapp na sua tese de doutoramento A History of the Roman Famines to Time Trajan [Uma História das Fomes Romanas até ao Tempo de Trajano], Princeton University, 1934. Infelizmente, não foi possível adquirir uma cópia desta tese.

59 Alguns dos velhos cronistas declaram que durante o longo período de fome entre 1005 e 1016, pereceu metade da população da ilha maior! (Graves, p. 81.)

60 Bhatia, p. 2.

61 de Castro, pp. 400, 401.

62 Ibid., pp. 421-424.

63 Ibid., pp. 438-440.

64 Southard, p. 86.

65 Richard G. Robbins, Jr., Famine in Russia 1891-1892 [Fome na Rússia 1891-1892] (Nova Iorque e Londres, 1975), p. 172. A afirmação na página 5 da The Watchtower [A Sentinela] de 15 de Abril de 1983, segundo a qual a fome em 1921 matou "cerca de 5 milhões de pessoas" parece não estar correcta. "Fontes fidedignas estimam que houve entre 1 e 3 milhões de vítimas do desastre." (Robbins, Jr., p. 172.)

66 Southard, p. 86.

67 Graves, p. 89.

68 Graves, p. 90. Southard, p. 87.

69 de Castro, pp. 348-351.

70 Ibid., pp. 365, 366.

71 Hobsbawn (1975), p. 133.

72 Ibid., p. 133.

73 Awake! [Despertai!], 8 de Fevereiro de 1973, p. 29. O número de mortos não está disponível.

74 The Watchtower [A Sentinela], 15 de Abril de 1983, p. 6. As estimativas variam; alguns dizem que o número de mortos foi 200.000 ou mais. John C. Caldwell, no seu estudo da seca na região do Sael, concluiu que o número de mortos fora exagerado. Ele declarou que "os números dos títulos dos jornais eram invenções da imaginação e muitos relatos aparentemente sérios não eram muito melhores." Veja The Saelian drought and its demographic implications [A seca do Sael e as suas implicações demográficas] (Washington, D.C.: American Council on Education, Overseas Liaison Committee Paper No. 8, 1975), p. 26.

75 Foi-nos amavelmente enviada uma cópia do documento por Anders Johansson, que esteve presente na conferência como correspondente em África do Dagens Nyheter, o maior jornal matutino da Suécia. Johansson é actualmente Editor de Notícias deste jornal.

76 de Castro, p. 367.

77 Graves, p. 75.

78 Ibid., pp. 75, 77, 79.

79 Hobsbawn (1975), p. 133; Revue pour l'Étude des Calamités [Revista para o Estudo das Calamidades], n.º 21 (Jan.-Dez. 1944), pp. 3-26; n.º 26-27 (Jan. 1948-Dez. 1949), pp. 33-71; n.º 28-29 (Jan. 1950-Dez. 1951), pp. 47-62. (Este jornal era publicado em Genebra, Suíça.)

80 de Castro, pp. 374-376, 388, 389.

81 Ibid., pp. 142, 199.

82 Ibid., p. 139.

83 Demógrafo dinamarquês P. C. Matthissen em Befolkningsutvecklingen -- orsak och vernan, segunda edição (Lund, Suécia, 1972), p. 35. (Traduzido da edição sueca).

84 Jan Lenica e Alfred Sauvy, Population Explosion, Abundance or Famine [Explosão Populacional, Abundância ou Fome] (Nova Iorque, 1962). A citação é tirada da edição sueca (Befolkningsproblem, Estocolmo, 1965, p. 44.)

85 Conforme explicado anteriormente (na nota 6), subnutrição refere-se à quantidade de alimentos ingeridos, ao passo que má nutrição está relacionada com a qualidade da dieta. Cerca de metade dos que estão mal nutridos, talvez 10 a 15 porcento da Humanidade, também estão subnutridos. [A palavra inglesa] starvationsignifica uma forma extrema de subnutrição, e fome é essa forma extrema de subnutrição afectando largas áreas.

86 The Watchtower, 15 de Abril de 1983, p. 7. A mortalidade infantil parece ter diminuído um pouco em 1982. O 1983 UNICEF Annual Report [Relatório Anual de 1983 da UNICEF] mostra que 15 milhões de crianças (40.000 por dia) morreram ou ficaram incapacitadas nesse ano devido à má nutrição e a doenças relacionadas com a fome, como a diarreia. (pp. 3, 28)

87 Mesmo hoje a má nutrição é, na maioria dos casos, "invisível", mesmo para mães de crianças mal nutridas. Daí o termo "fome escondida".

88 Isto também é admitido indirectamente na Awake! de 8 de Agosto de 1983, onde a "explosão" populacional é explicada, em parte, da seguinte forma: "Deve-se em parte a um declínio mundial na taxa de mortalidade, em resultado de melhores cuidados médicos e melhores condições económicas e sociais. Consequentemente, estão a morrer menos bebés e mais pessoas estão a viver mais tempo." (P. 4)

89 Erland Hofsten, Världens befolkning (População do Mundo, Upsala, Suécia, 1970), pp. 94-96.

90 Segundo informação regularmente publicada pela Statistiska Centralbyrån (Escritório Central de Estatística) na Suécia.

91 Erland Hofsten, Demografins grunder (Elementos Básicos de Demografia, Lund, Suécia, 1982), p.139.

92 Hofsten, Världens befolkning, p. 96; 1985 World Population Data Sheet, publicado pelo Population Reference Bureau, Inc., Washington, D.C.

93 Na China, por exemplo, a mortalidade infantil diminuiu de cerca de 15 porcento em 1950 para 3,8 porcento em 1983. (Roy Prosterman, The Decline in Hunger-Related Deaths [A Diminuição das Mortes Relacionadas com a Fome], 1984, p. 16; 1985 World Population Data Sheet.)

O 1983 UNICEF Annual Report [Relatório Anual de 1983 da UNICEF] diz que "Entre meados da década de 1940 e o início da década de 1970 houve uma redução de 50 porcento nas taxas de mortalidade em muitos países de baixos rendimentos," embora a taxa de progresso tenha abrandado desde então. (P. 7)

94 D. Gale Johnson, World Food Problems and Prospects [Problemas e Perspectivas da Alimentação no Mundo] (Washington, D.C., 1975), p. 19.

95 E. P. Prentice, Hunger and History [Fome e História], pp. 10, 137. O historiador francês Fernand Braudel resume a situação alimentar do mundo no passado desta forma: "A fome repetiu-se tão insistentemente ao longo dos séculos, que se incorporou no regime biológico do homem e passou a fazer parte da sua vida diária. A escassez e a penúria eram contínuas, e eram comuns mesmo na Europa, não obstante a sua posição privilegiada." (Civilization & Capitalism 15th-18th Century [Civilização e Capitalismo nos Séculos XV a XVIII], p. 73) Tal como Prentice, Braudel enfatiza que no passado a "subnutrição crónica" prevalecia em todo o mundo. (P. 91) N. W. Pirie, um dos cientistas mais conhecidos de Inglaterra, concorda: "É provável que a má nutrição, permanentemente ou apenas durante certas alturas do ano, tenha sido a condição usual da Humanidade e que fosse considerada normal." -- Food Resources Conventional and Novel [Recursos Alimentares Convencionais e Novos], 1969. (Citado a partir da edição sueca, publicada em Estocolmo, 1970, p. 32)

96 E. R. Duncan (editor), World Food Problems [Problemas da Fome no Mundo] (Ames, Iowa, 1977), p. 3.

97 Ibid, p. xi.

98 Na realidade, peritos destacados agora acreditam que, essencialmente, a crise populacional global acabou. "A bomba populacional está a ser desactivada," disse a revista New Scientist em 9 de Agosto de 1984. "Quase sem ser notado, nos últimos dez anos o crescimento anual da população mundial diminuiu de 2 porcento para 1.7 porcento.... As Nações Unidas agora predizem que a população mundial, que actualmente é cerca de 4.7 biliões, atingirá apenas 6.1 biliões no ano 2000 (menos 20 porcento do que indicavam algumas estimativas anteriores) e estabilizará em cerca de 10 biliões algures por volta do fim do próximo século." (P. 12) Veja também a New Scientist de 16 de Agosto de 1984, p. 8, e a Awake! de 8 de Abril de 1984, p. 29.

99 Duncan, p. 23.

100 1982 FAO Production Yearbook [Anuário de Produção da FAO de 1982] (Roma, 1983), pp. 5, 9, 75, 97-101, 261, 262.

101 Conforme James P. Grant, Director Executivo da UNICEF, explica na página 2 do 1982 UNICEF Annual Report [Relatório Anual de 1982 da UNICEF], com apenas 6,5 biliões de dólares, nos próximos 15 anos "seria possível fazer recuar a fome e a má nutrição em larga escala." Além disso, novas técnicas desenvolvidas durante os últimos anos "poderiam reduzir as incapacidades e mortes entre as crianças na maioria dos países em vias de desenvolvimento... em pelo menos metade, antes do fim deste século." Estas técnicas, diz Grant, "são ainda menos dispendiosas do que pensávamos." (1983 UNICEF Annual Report [Relatório Anual de 1983 da UNICEF], pp. 3, 4)

102 de Castro, p. 466. "Não é por acaso," disse a revista New Scientist em 9 de Agosto de 1984, "que é em África, onde os métodos agrícolas estão menos desenvolvidos, que a fome persiste." (P. 15) No entanto, seria possível a muitos países africanos aumentar consideravelmente a sua produção alimentar com o uso dos actuais métodos primitivos. A FAO (Organização Para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas) diz que "apenas metade da terra potencial do mundo está a ser cultivada actualmente." Isto inclui muitas partes de África, onde em 11 países, "incluindo Zaire, Zâmbia, Angola e Costa do Marfim, as pessoas poderiam, usando os métodos correntes, alimentar cinco vezes as suas actuais populações. Congo poderia alimentar 20 vezes a sua população e o Gabão, 100 vezes. No total, África poderia, com métodos primitivos, alimentar 2.7 vezes a sua actual população, diz a FAO." (Ibid., p. 15)



The Sign of the Last Days -- When? (O Sinal dos Últimos Dias -- Quando?) (Atlanta: Commentary Press, 1987) de Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst, pp. 46-87.




Capítulo 3: Terremotos e Fatos Históricos

Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst


Quais são os fatos acerca dos terramotos no nosso tempo? Está o nosso planeta terra a tremer com mais frequência e intensidade do que nunca antes na história humana?

Como vimos, em The Late Great Planet Earth (O Grande Planeta Terra Tardio), Hal Lindsey enumerou este como sendo um dos sinais que marcam o momento para Cristo estabelecer o seu Reino. (Páginas 52 e 53) Em The Promise (A Promessa) ele declara novamente que Jesus "garantiu que os terramotos aumentariam em frequência e intensidade à medida que esta velha terra se preparasse para o seu cataclismo final." (Página 198) É suposto que esta peça do "puzzle complexo" se tenha encaixado no seu lugar nos nossos dias.

No seu livro Good-bye Planet Earth (Adeus Planeta Terra; 1976), o autor Robert H. Pierson, Adventista do Sétimo Dia, tem o subtítulo "Um Planeta que Treme e Abana." A seguir afirma:

Com frequência e intensidade crescentes a Mãe Terra tem estado a tremer e a abanar. Centenas de milhares de pessoas perderam as suas vidas. Muitos milhares adicionais perecerão em grandes espasmos da terra ainda por ocorrer. Nunca desde os dias de Noé tem o mundo sido fustigado tão violentamente.

De novo Deus está a falar conosco -- Ele está a procurar dizer-nos que o nosso tempo é curto. O Filho Dele, Jesus Cristo, vai retornar brevemente. A voz da natureza fala através das inundações, das tempestades, dos terramotos. (Páginas 21, 22).

A seguir ele cita as palavras de Jesus em Lucas capítulo vinte e um, versículo 11, como evidência disto.

As afirmações mais notáveis e detalhadas a este respeito, contudo, são aquelas feitas pelo Corpo Governante das Testemunhas de Jeová e a sua Watch Tower Society (Sociedade Torre de Vigia). Defendendo que a declaração de Jesus a respeito de "grandes terramotos" (Lucas capítulo 21, versículo 11) tem tido o seu cumprimento pleno apenas a partir de 1914, a Watch Tower Society afirma que temos experimentado um enorme aumento em tais terramotos desde aquele ano:

A frequência dos grandes terramotos tornou-se cerca de 20 vezes maior do que era em média durante os mil anos antes de 1914. -- Survival into a New Earth [Sobrevivência para uma Nova Terra; 1984], página 23.

Esta é uma afirmação fantástica. É realmente possível prová-la? O que é que realmente se sabe sobre actividade sísmica no passado? São os registos antigos sobre terramotos suficientemente completos para permitir comparações fiáveis com o nosso século? E o que é que se quer dizer com a expressão "grande" terramoto? O que é que determina a sua 'grandeza'?

Para podermos avaliar com exactidão as afirmações da Watch Tower Society, temos de primeiro procurar uma resposta para estas perguntas.
Registando a actividade sísmica

A palavra grega para "tremor" e (quando se aplica à terra) "tremor de terra" é seismós. A ciência dos terramotos, por isso, é chamada sismologia.

A sismologia é um ramo da ciência muito recente. "Não foi ... se não no princípio da década de 1850 que o primeiro verdadeiro sismólogo, como nós lhe chamaríamos, apareceu em cena. Era um Irlandês, Robert Mallet."1 Depois dele veio John Milne, chamado "o pai da sismologia."2 Em 1880 ele inventou o primeiro sismógrafo propriamente dito, e desde o fim do último século tem sido possível um registo razoavelmente preciso dos terramotos.3

Consequentemente, os sismólogos estão em condições de apresentar uma lista completa dos grandes terramotos que ocorreram na terra de 1903 em diante.4 Com o melhoramento adicional do sismógrafo um número crescente de países tem adoptado o seu uso. Mas não foi senão no fim da década de 1950 que esta rede de observação alcançou uma escala global.5 Desde então tem sido possível registar e medir todos os terramotos, pequenos e grandes, por todo o mundo.

Não é uma tarefa fácil comparar a lista completa de grandes terramotos registados no nosso século por sismólogos modernos com a dos séculos passados. A razão disto é que a informação disponível relativa a séculos anteriores é comparativamente escassa e incompleta. As fontes históricas tornam-se mais e mais dispersas quanto mais recuamos no tempo. Mesmo a respeito dos registos modernos, o sismólogo A. W. Lee escreveu em 1939:

As estatísticas só são suficientemente completas para dar uma representação fiel da distribuição dos terramotos que ocorrem agora, mas, como se estendem por menos de meio século, são insuficientes para mostar se tem havido alguma alteração na frequência de século para século.6

Outro factor que limita consideravelmente o nosso conhecimento de terramotos antigos é que muitos deles ocorrem fora da Europa, a fonte da maioria da nossa informação para a maior parte da história desde o primeiro século até à "Era dos Descobrimentos" no século quinze. The Encyclopedia Americana (A Enciclopédia Americana) diz-nos que:

Cerca de 80 porcento da energia sísmica do mundo é libertada num anel que contorna o Oceano Pacífico. Uma segunda faixa, que começa na área do Mediterrâneo e se prolonga para leste através da Ásia, é um local onde ocorrem terramotos que representam mais de quinze porcento da energia sísmica do mundo.7

"A Europa Ocidental," escreve Verney, "pode ser considerada uma zona quase estável em comparação com a febril história dos terramotos nos Andes ou em qualquer outro local no Anel de Fogo [o cinturão do Oceano Pacífico]."8

Como o material das fontes históricas para os séculos passados é, com algumas excepções importantes, limitado à Europa e à área mediterrânica, percebe-se facilmente o que isto significa. O que é que nós sabemos, por exemplo, sobre a 'febril actividade dos terramotos' na América do Norte, do Centro e do Sul antes de Colombo? John Milne sublinha: "Os registos anteriores à era cristã, e anteriores ao ano 1700, estão praticamente confinados a ocorrências no Sul da Europa, China e Japão."9 No nosso próprio século, a maioria dos terramotos mais destrutivos



AS ZONAS DE TERRAMOTOS DA TERRA


Mapa sísmico que mostra os dois cinturões de terramotos do mundo.
(De R. A. Daly, Our Mobile Earth [A Nossa Terra Móvel], Nova Iorque & Londres 1926, p. 6.)


ocorreu em áreas fora da Europa e em muitos casos em áreas acerca das quais não há registos históricos de ocorrências passadas disponíveis para se poderem fazer comparações. A Watch Tower Society, por escolha ou por outro motivo, não toma em consideração um único destes factores vitais quando faz a sua afirmação fantástica.
O que constitui um "grande" terramoto?

Segundo a tradução que Lucas faz das palavras de Jesus aos seus discípulos, ocorreriam "grandes terramotos." (Lucas 21:11) O que se pretende dizer por um "grande" terramoto?

Os sismólogos modernos medem o tamanho de um terramoto segundo certas escalas. Aquela em uso comum hoje é a chamada escala de Richter, inventada por C. F. Richter em 1935. Esta escala mede a quantidade de energia total liberta em ondas sísmicas durante um terramoto. Terramotos que medem 7.0 ou mais na escala são classificados como "maiores," enquanto aqueles que medem 8.0 ou mais são classificados como "grandes."10 Deve-se notar que a "magnitude" de um terramoto nesta escala tem pouco a ver com o número de mortes:

Não existe normalmente uma correlação clara entre a magnitude de um abalo e o número de pessoas mortas ou outra destruição. Um terramoto pode ser destrutivo e não ser muito grande.11

Similarmente, um terramoto pode ser grande mas não ser destrutivo em termos de vidas. Diz-se que o terramoto em Owens Valley, California, em 1872, por exemplo, foi o maior nos Estados Unidos nos últimos 150 anos, e estima-se que tenha tido a magnitude 8.3 na escala de Richter. Ainda assim, apenas 27 pessoas foram mortas, porque a área era escassamente povoada.12

Quão comuns são os "grandes" terramotos medidos pelo padrão da escala de Richter?

Foi calculado que cada ano existirão dois terramotos de magnitude 7.7 ou superior; dezassete entre 7.0 e 7.7; cem entre 6.0 e 7.0; e nada menos do que cinquenta mil entre 3.0 e 4.0.13

Portanto, o número de terramotos "maiores", é segundo estes cálculos, cerca de 19-20 por ano. Temos alguma indicação de que os terramotos "maiores" (7.0 ou mais em magnitude) e "grandes" (8.0 e mais) têm aumentado em número e magnitude durante o período em que tem sido possível medi-los com instrumentos, isto é, do fim do último século em diante?

Se fossemos a acreditar numa declaração recente feita pela Worldwide Church of God (Igreja Mundial de Deus), uma organização cada vez mais audível que proclama o fim rápido da era, a resposta seria 'Sim.' Na página 7 da edição de 7 de Abril de 1986 do seu mensário The Good News of the World Tomorrow (As Boas Novas do Mundo de Amanhã), Norman L. Shoaf, um porta-voz do movimento, declarou confiantemente:

Sabia que de 1901 a 1944, durante mais de quatro décadas, apenas três terramotos tiveram magnitude 7 ou mais? ... Então, em apenas 10 anos de 1945 a 1954, o número disparou para 21 abalos medindo 7 ou mais. Daí em diante, grandes terramotos têm aumentado dramaticamente. De 1955 a 1964 -- em apenas uma década -- 87 terramotos medindo 7 ou mais; de 1965 a 1974, 136; de 1975 a 1984, 133.

Seria muito benévolo dizer que esta alegação é simplesmente disparatada. Quando confrontado com ela, o Professor Seweryn J. Duda, um sismólogo de renome da Universidade de Hamburgo, República Federal da Alemanha, escreveu que "No período 1901-1944 cerca de 1000 (mil) terramotos com magnitude 7 ou mais ocorreram mundialmente." De facto, a carta dele aos autores datada de 7 de Julho de 1986, contradiz completamente a afirmação da Igreja Mundial de Deus. Veja o Apêndice A para o texto completo da carta dele.

Portanto, o simples facto é que nenhuns de tais aumentos únicos foram observados, seja desde 1914 ou desde qualquer outro ponto subsequente deste século. Na verdade, a evidência produzida pelos sismólogos modernos indica o contrário.

Charles F. Richter, antigo Presidente da Sociedade de Sisimologia da América e o criador da "escala de Richter," fez referência a esta evidência num artigo publicado no número de Dezembro de 1969 da revista Natural History (História Natural):

Uma pessoa vê com algum divertimento que certos grupos religiosos escolheram esta época desafortunada para insistir em que o número de terramotos está a aumentar. Em parte eles são induzidos em erro pelo número crescente de pequenos terramotos que estão a ser catalogados e registados por estações novas, mais sensíveis, por todo o mundo. Vale a pena sublinhar que o número de grandes [isto é, 8.0 e mais na escala de Richter] terramotos de 1896 a 1906 (cerca de 25) foi maior do que em qualquer intevalo de dez anos desde então.14

Partes desta declaração foram citadas desaprovadoramente na página 72 da The Watchtower de 1.º de Fevereiro de 1974 -- sem que o leitor tenha sido informado que ela veio de uma das maiores autoridades em sismologia. Jesus não estava a falar de "nenhum intervalo de dez anos," disse a The Watchtower, mas de toda uma "geração."

O objectivo da declaração do Dr. Richter, contudo, era demonstrar que o pretenso aumento na actividade sísmica durante o nosso século não encontra apoio nos dados sismológicos registados durante o período de sismicidade medida instrumentalmente, que cobre o período de 1896, ou mais exactamente de 1903 em diante.

Ainda ssim, a declaração dele foi feita em 1969. Que dizer, então, desta afirmação encontrada na página 30 do livro The 1980's -- Countdown to Armageddon (Os Anos 80 -- Contagem Decrescente para o Armagedom), por Hal Lindsey?

A década de 1970 experimentou o maior aumento no número de abalos conhecido na história. De facto, o aumento dramático de abalos em 1976 levou muitos cientistas a dizer que estamos a entrar num período de grandes perturbações sísmicas.

Esta afirmação não tem de facto mais fundamento do que aquelas da Watch Tower Society e da Worldwide Church of God (Igreja Mundial de Deus). Estatísticas mais recentes publicadas por outros sismólogos, que examinaram cuidadosa e objectivamente a matéria, não só confirmam a exactidão da declaração do Dr. Richter, como também mostram que continua a ser verdadeira depois de 1970.

Em 1965 o bem conhecido sismólogo Seweryn J. Duda publicou um catálogo dos maiores terramotos para o período 1897-1964. Em 1979 este catálogo foi actualizado para incluir o período 1965-1977 num artigo escrito pelo mesmo autor juntamente com o Professor Markus Båth, outro sismólogo de reputação mundial. O estudo deles, muito completo, mostra que durante este período de oitenta anos (1897-1977) cerca de vinte (19.94 mais exactamente) terramotos maiores ocorreram anualmente. Qualquer mudança no número de terramotos com uma magnitude de 7.0 ou superior na escala de Richter não pôde ser demonstrada para o período depois de 1914, comparado com o período antes dessa data. Quanto à magnitude dos abalos, por outro lado, o estudo deles revelou que os primeiros vinte anos do nosso século (1900-1920) tiveram cerca de duas vezes tanta energia libertada por ano como todo o período posterior até 1977!15

A tabela na página 54, publicada em 1912 (para os anos 1899 até 1909), dá uma ideia da grande actividade sísmica registada no período anterior a 1914. Faltam dados fiáveis, obtidos por instrumentos científicos, para o período antes do começo do nosso século, como já foi assinalado.

Qual é a conclusão que se pode tirar deste estudo muito cuidadoso do período acerca do qual estão disponíveis registos fiáveis, provenientes de instrumentos científicos? É esta: Nenhuma mudança assinalável no número de terramotos maiores pode ser demonstrada durante o período que vai de 1897 a 1977. Por outro lado, o estudo mostra que a frequência dos grandes terramotos foi consideravelmente maior nos primeiros vinte anos deste período do que nos sessenta anos que se seguiram!
Esforços para Contornar a Evidência

Falta dizer que, ao ser confrontada com estas estatísticas científicas, a Watch Tower Society não se deleita particularmente com as medições dos sismólogos. A tendencia da Sociedade tem sido rejeitá-las completamente ao fazer comparações estatísticas sobre a actividade sísmica antes e depois de 1914, fornecendo em vez disso uma definição de sua própria autoria quanto ao que quer dizer "grande" terramoto. Lemos:

O que é que torna um terramoto 'grande'? Não é o seu efeito nas vidas e na propriedade? Mas os modernos estudantes de terramotos tendem a considerar como 'grande' um terramoto apenas se atingir valores altos na escala de Richter, que mede 'magnitude,' o poder ou força que um terramoto liberta.16



Frequência Megassísmica.

Entre 1899 e 1909 o número de terramotos muito grandes registado não foi menor do que 976. Muitos destes foram registados em estações por todo o mundo, outros por todo o Hemisfério Norte, e nenhum deles perturbou uma área menor do que a da Europa e Ásia.

Os números registados em meses sucessivos foram os seguintes: --

Os números registados em meses sucessivos foram os seguintes: --

Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Total
1899
9
5
9
4
3
6
7
7
12
4
7
4
75
1900
7
3
3
2
3
4
2
4
5
6
5
3
47
1901
7
4
8
4
4
3
0
9
0
6
11
6
67
1902
12
7
9
8
4
2
4
11
8
3
6
3
77
1903
10
11
7
4
8
8
5
5
8
9
6
10
91
1904
4
2
8
9
5
8
6
8
7
6
5
6
74
1905
7
11
10
7
6
8
11
3
7
6
5
5
86
1906
14
18
20
11
4
9
5
22
12
10
8
7
140
1907
8
4
9
6
12
9
7
7
5
10
10
7
94
1908
4
6
11
5
8
4
4
32
9
8
13
6
90
1909
9
10
11
14
11
14
8
13
13
15
8
9
135

91
81
103
74
68
75
59
100
92
83
84
66
976

275
217
251
233

Meses de inverno  .  .  508
Meses de verão  .  .  .  468
Total   .  .  .  .  .  .  .  .  976
Sismólogo F. M. Walker em Report of the Eighteenth Meeting of the British Association for the Advancement of Science (Relatório do Décimo Oitavo Encontro da Associação da Britânica para o Avanço da Ciência), Londres 1912, páginas 38 e 39. A expressão "muito grandes," não se refere aqui à escala de Richter, que não estava em uso naquele tempo.


Por isso, a Watch Tower Society, prefere medir a magnitude de um terramoto pelo número de mortescausadas. Ela declara:

Uma maneira de provar claramente que a geração de 1914 é incomum pelo menos no que diz respeito aos terramotos é considerar quantas mortes eles causaram.17

Um pouco de reflexão revelará logo porque é que a Watch Tower Society iria preferir este método de reconhecer a 'grandeza' dos terramotos. O método contém várias falhas das quais a maioria das pessoas não se apercebe, e as pretensões da Sociedade dependem desse facto para a sua aparência de autenticidade. Contudo, quando as falsas premissas sobre as quais a Sociedade baseia os seus argumentos são vistas claramente, as estatísticas deles perdem o seu efeito impressionante. Considere o seguinte:

Primeiro, como já foi dito atrás, os dados sobre terramotos e número de mortos em séculos passados são muito dispersos devido às fontes históricas serem fragmentadas, que além disso, antes do ano 1700, "estão praticamente confinadas a ocorrências no Sul da Europa, China e Japão." Portanto a ideia de que podem ser feitas comparações completamente exactas entre números de mortes em terramotos hoje e no passado simplesmente não é verdadeira.

Segundo, o rápido aumento da população e da urbanização no nosso século tem compreensivelmente aumentado o número de mortes em grandes terramotos, particularmente quando estes atingiram áreas densamente povoadas. Portanto, um aumento no número de mortes não seria um indicador válido de um aumento no número de "grandes terramotos." Podemos também perguntar: Será que Jesus, ao se referir a "grandes terramotos," falou realmente de um aumento quer no número de abalos quer no número de vítimas? A sua declaração simples foi que, junto com guerra, fome e pestilência, "haverá grandes terramotos." Tudo o que for além disso são suposições humanas, é ler nas suas palavras mais do que elas realmente dizem.

Apesar da sua escolha de número de mortos preferencialmente a medições sísmicas, quando convém à sua argumentação a Watch Tower Society não hesita em citar declarações acerca de terramotos que são baseadas na escala de Richter -- sem dizer aos seus leitores que o estão a fazer. Por exemplo, o mesmíssimo número da Watchtower (1.º de Fevereiro de 1974) citado acima apresenta uma longa cadeia de declarações sobre terramotos que ocorreram desde 1914, sendo dito que estas declarações foram tiradas de "obras de referência altamente respeitadas" (apesar de nenhuma referência ser dada):

China (1920), 'uma das catástrofes mais aterradoras na história.' Japão (1923), 'o pior desastre na história [do Japão].' Paquistão (1935), 'um dos maiores terramotos da história.' El Salvador (1951) 'o terramoto mais destrutivo na história de El Salvador.' Egipto (1955), 'o Egipto experimentou o maior terramoto da sua história.' Afeganistão (1956), 'acredita-se que seja o pior na história do país.' Chile (1960), 'nenhum terramoto na história teve alguma vez um alcance maior do que este.' Alasca (1964), 'o terramoto mais amplo alguma vez registado na América do Norte.' Perú (1970), 'o pior desastre natural registado no Hemisfério Ocidental.'18

Mas o leitor não é informado que expressões como "o mais amplo," "pior," "maior," e assim por diante nestas declarações em vários casos não se referem ao número de mortes nestes terramotos, e pelo menos em alguns casos refere-se claramente à escala de Richter que este mesmo artigo disse não devia ser o meio de medir a "grandeza" dos terramotos!

Assim, o terramoto no Alasca em 1964 -- "o terramoto mais amplo alguma vez registado na América do Norte" -- ceifou apenas 114 (algumas fontes dizem 131) vidas, embora tenha tido a magnitude muito grande de 8.5 na escala de Richter!19

A frase "o maior ... alguma vez registado" limita ainda mais o tempo de comparação ao período durante o qual os terramotos têm sido medidos com instrumentos científicos, isto é, do fim do último século em diante. Alguns dos terramotos incluídos não foram "grandes" sob nenhum critério, nem segundo a escala de Richter nem no número de vidas perdidas. Aquele que é chamado o "terramoto mais destrutivo na história de El Salvador" teve uma magnitude de apenas 6.5 e ceifou 400 vidas (segundo outra fonte 1.100 vidas), enquanto que o suposto "pior terramoto da história [do Egipto] " teve uma magnitude de 6.3 e ceifou apenas 18 vidas!20

Várias das declarações citadas certamente que não são descrições científicas. Antes reflectem títulos sensacionalistas de jornais, criados durante o impacto imediato da catástrofe. Embora alguns dos terramotos mencionados (China 1920, Japão 1932, Paquistão 1935, e Perú 1970) tenham sido de facto muito grandes e tenham ceifado milhares de vidas, a maioria dos simólogos hesitaria certamente em classificar qualquer deles o "pior" ou "maior" na história do país em questão.

Muito recentemente a Watch Tower Society apareceu com uma nova definição do que é um "grande" terramoto. Segundo a revista Awake! de 22 de Outubro de 1984, os últimos cálculos estatísticos da Sociedade, diz-se, incluem agora terramotos que verifiquem pelo menos um dos seguintes requisitos:

Magnitude ......... 7.5 ou mais na escala de Richter
Mortes .............. 100 ou mais
Prejuízos ........... 5 milhões de dólares (americanos) ou mais em propriedades destruídas. -- Página 6.

Estes padrões para medir "grandeza" são também usados na publicação da Watch Tower Society Raciocínios à base das Escrituras, de 1985, página 421.

Surpreendentemente, a escala de Richter, anteiormente rejeitada, foi agora introduzida e desempenha um importante papel nas estatísticas deles. Olhando mais de perto para os seus cálculos, rapidamente se descobre a razão. Enquanto que os sismólogos correctamente fazem comparações baseadas na escala de Richter apenas para o período durante o qual os terramotos têm sido medidos através de intrumentos, isto é, com o sismógrafo, desde o fim do último século, a Watch Tower Society inclui os últimos 2.000 anos nas suas comparações! Isto permite fazer uma comparação muito tendenciosa. Como assim?

Embora seja verdade que os sismólogos estimaram magnitudes para muitos grandes terramotos do passado, para a esmagadora maioria dos terramotos destrutivos anteriores a 1900 A.D. essas estimativas não existem.21 É óbvio que nehum destes terramotos destrutivos verificaria o primeiro critério estabelecido pela Watch Tower Society -- independentemente de quão grandes em magnitude eles possam realmente ter sido!22 E se eles não verificam pelo menos um dos outros dois critérios, são convenientemente excluídos dos cálculos!

Quanto ao segundo critério, já foi sublinhado que o número de mortes é muitas vezes inexistente em registos antigos, especialmente se as perdas ascenderam a apenas algumas centenas ou menos. De facto, muitos terramotos fortes que envolveram relativamente poucas baixas, podem ter sido completamente ignorados nos registos antigos. Isto só pode significar que incontáveis terramotos "qualificados" no passado foram excluídos pelo conjunto de padrões de comparação arbitrários da Sociedade!

O mesmo se aplica aos prejuízos, o terceiro critério estabelecido pela Watch Tower Society. Os prejuízos são muito melhor conhecidos para os terramotos mais recentes do que para os mais antigos.23 Além disso, visto que existem muitas vezes mais edifícios hoje -- e maiores e mais sofisticados -- uma comparação do tipo da que faz a Watch Tower Society é necessariamente incorrecta. Isto é atestado por N. N. Ambraseys, que é professor de Engenharia Sismológica no Imperial College of Science and Technology (College Imperial de Ciência e Tecnologia) em Londres. Ele diz que,

... a repetição exacta de um terramoto antigo no presente seria diferente não apenas no tipo de estruturas danificadas mas também no grau dos danos. Em alguns casos estruturas modernas seriam afectadas mais severamente do que edifícios antigos. Há dez séculos, um grande terramoto longínquo não causaria praticamente nenhuns danos em Istambul, Ankara ou Jerusalém; o mesmo terramoto hoje causaria danos num grande número de estruturas que existem há muito tempo nestas cidades.24

Muito naturalmente, muitos terramotos em tempos antigos, embora envolvendo danos substanciais, não verificariam o critério puramente arbitrário da Watch Tower Society, de "5 milhões de dólares ou mais em propriedades destruídas."

Obviamente o novo critério para "grandes terramotos" sugerido pela Watch Tower Society foi elaborado para qualificar o maior número possível de terramotos depois de 1914 e para excluir tantos quanto possível do período anterior àquele ano. Nós não estamos de maneira nenhuma surpreendidos ao descobrir que os cálculos baseados em tais raciocínios distorcidos e tendenciosos pareceriam mostar um enorme aumento de "grandes" terramotos no nosso século comparado com séculos anteriores. O artigo da Awake! acabado de citar concluíu:

Desde 1914 a média anual de terramotos relatados tem aumentado. Existem 11 vezes o número de terramotos que ocorreram anualmente, em média, durante os 1.000 anos anteriores àquela data. E 20 vezes a média anual dos 2.000 anos anteriores a 1914.25

A situação sismológica do mundo actualmente não se presta a esse tipo de comparações estatísticas com a situação dos últimos dois milénios. Isto porque, conforme demonstrado antes, a informação disponível sobre terramotos de séculos anteriores é muito dispersa. De facto, para continentes inteiros os dados são completamente inexistentes para a maior parte dos últimos dois mil anos, e especialmente antes do ano 1700. Também foi apenas neste século que os abalos que ocorrem no fundo dos oceanos ou em regiões desabitadas puderam ser registados, e no entanto é nestas regiões que a grande maioria dos terramotos de grande magnitude ocorrem.

Também se deve notar que o método de comparação usado nos cálculos anteriormente citados contém outro elemento fraudulento, que não é facilmente reconhecido pelo leitor desprevenido. Ao prolongar o período de comparação anterior a 1914 para trás no tempo milhares de anos para incluir as longas eras de fraco registo de terramotos, a Watch Tower Society naturalmente obtém uma média anual total muito baixa, mesmo para séculos mais recentes quando os relatos de facto aumentaram. Isto esconde o elevado número de grandes terramotos conhecido dos últimos séculos, nivelando-os com a ajuda de séculos mais recuados quando o registo era fraco. Além disso, é ainda ocultado que este método não aponta mais para 1914 do que qualquer outra data dos últimos 200-300 anos. Por isso a escolha de 1914 como o "ponto de viragem" sísmico é completamente arbitrária. Seria igualmente possível usar o mesmo método para escolher, por exemplo, 1789, quando começou a Revolução Francesa, ou 1939, quando a II Guerra Mundial começou, e obter resultados similares. Seja qual for a data dos últimos 200 ou 300 anos que se escolha como ponto de separação, teria a grande vantagem de os registos modernos se seguirem, dando um grande aumento aparente na média anual.

É certo que qualquer cientista que distorcesse e manipulasse dados estatísticos desta maneira num jornal de investigação seria rapidamente denunciado como fraudulento. Contudo, num periódico religioso lido por milhões de pessoas que não suspeitam de nada e que sentem que pode ser um pecado por em dúvida os seus líderes, cálculos desses passam facilmente como se fossem fatos solidamente estabelecidos.

Ao predizer "grandes terramotos" Jesus evidentemente não tinha em mente nenhum padrão moderno, como magnitudes na escala de Richter, ou um certo número mínimo de mortos ou danos calculados segundo padrões monetários modernos. O uso que a Watch Tower Society faz de tais padrões não nos convence, pois devia ser natural para os Cristãos recorrerem em primeiro lugar à Bíblia para clarificação. É verdade que um terramoto que danifica "um décimo" de uma cidade e mata "sete mil pessoas" é chamado "grande" em Revelação capítulo onze, versículo treze. Contudo, os dois terramotos descritos como "grandes" em Mateus capítulo vinte e oito, versículo dois, e Atos capítulo dezasseis, versículo vinte e seis, não causaram nenhum dano apreciável, nem perdas de vidas. Não obstante a Sociedade aceita ambos como prova de que houve um "cumprimento das palavras de Jesus no primeiro século" no que diz respeito a grandes terramotos!26

Portanto, das próprias Escrituras só é razoável concluir que Jesus falou de "grandes terramotos" em sentido geral, de terramotos afectando -- com maior ou menor severidade -- pessoas, propriedades e terras. Não é razoável supor que ele tinha em mente estatísticas de médias anuais de mortes antes e depois de certas datas! Ainda assim, visto que esses números desempenham um papel muito importante nos cálculos da Sociedade, vamos proceder agora a um exame mais minucioso das suas estatísticas.
Como "provar" através de estatísticas

Num artigo intitulado "Podem as Estatísticas Enganá-lo?" a revista Awake! de 22 de Janeiro de 1984, disse na página 25:

Dizem-nos que os números não mentem. Mas tenha cuidado. Se forem usados honestamente, podem ser muito informativos e úteis. Contudo, as estatísticas também podem ser apresentadas de uma maneira que o enganem.

Os exemplos apresentados a seguir mostrarão que este aviso tem uma pertinência de que o seu escritor provavelmente não se apercebeu.

Segundo a Awake! de 22 de Fevereiro de 1961, página 7, o número de mortes anual estimado para terramotos anteriores a 1914 era 5.000.

Mas em 1974 a Watch Tower Society baixou esse número. A The Watchtower de 1.º de Fevereiro daquele ano citou uma frase do 1971 Nature/Science Annual (Anuário da Nature/Science de 1971), segundo o qual "mais de três milhões de pessoas (possivelmente quatro milhões)" morreram em terramotos durante os últimos 1.000 anos. Estimando que pelo menos 900.000 destas tinham morrido desde 1914, a Sociedade apresentou as seguintes estatísticas impressionantes (página 73):

Mortes em terramotos em cada ano
Antes de 1914: 3.000
Desde 1914: 15.000

Estas mesmas estatísticas foram publicadas outra vez na Awake! de 8 de Janeiro de 1977 (páginas 15 e 16). Contudo, o livro Felicidade Como Encontrá-la, publicado em 1980, arranjou maneira de "melhorar" consideravelmente os números, como a tabela na página 149 mostra:

Mortes em terramotos
Até 1914: 1.800 por ano
Desde 1914: 25.300 por ano

É relativamente simples de explicar que em apenas cinco ou seis anos (de 1974 até 1980) estas publicações da Watch Tower tenham aumentado o número de mortes anuais desta maneira -- de 15.000 para 25.000.

Em 1976 a China foi atingida pelo terramoto que matou mais pessoas neste século. Jornais ocidentais, induzidos em erro por um relatório prematuro de Hong Kong, deram o número de mortos pelo terramoto como sendo 650.000 ou mais (alguns até disseram 800.000). Se este número for dividido pelo número de anos que tinham passado nessa altura desde 1914 (62 anos, de 1915 até 1976 inclusive), obtemos uma média -- só deste terramoto -- de perto de 10.500 mortes por ano. Assim um único grande terramoto pode criar estatísticas impressionantes para toda uma geração! Se em vez deste terramoto considerássemos o grande terramoto na China em 1556 que aparece na lista como tendo causado 830.000 vítimas, e então dividissemos esse número de mortos pelo mesmo número de anos (62), obteriamos uma média de cerca de 13.400 mortes por ano só desse terramoto.27 (Adicionando outros terramotos desastrosos daquele século aumentaria, obviamente, de forma substancial o número de mortes anuais durante aquele século dezasseis.)

Contudo, a Watch Tower Society com o seu método de empregar as estatísticas, não se limitou a aumentar a taxa anual de mortes depois de 1914 de 15.000 para 25.300. Eles também conseguiram reduzir o número de mortes anuais antes de 1914 de 3.000 por ano (segundo as suas estatísticas de 1974) para apenas 1.800 por ano (segundo as suas estatísticas de 1980)! Isto deixa-nos de facto perplexos. Como é que eles chegaram a este número?

A resposta é que as estatísticas mais recentes (e mais baixas) não se baseiam nos 3-4 milhões de vítimas de terramotos durante os últimos 1.000 anos, como as estatísticas anteriores da sociedade, mas no número muito mais pequeno de 1.973.000 vítimas durante um período de 1.059 anos. O facto extraordinário disto é que este novo número não é uma estimativa feita por algum sismologista moderno -- é um número que a própria Watch Tower Society criou ao adicionar o número de mortos em apenas 24 terramotos maiores, seleccionados dentre literalmente milhares de terramotos destrutivos que ocorreram nos 1.059 anos anteriores a 1914!

O novo número apareceu primeiro na revista Awake! de 22 de Fevereiro de 1977, página 11. Em relação a uma lista dos 43 terramotos do período 1915-1976, declarou:

Curiosamente, para um período de 1.059 anos (856 até 1914 E.C.), fontes fidedignas enumeram apenas 24 terramotos maiores, com 1.972.952 mortes. Mas compare isto com a lista parcial anexa que cita 43 ocorrências de terramotos, nos quais 1.579.209 pessoas morreram durante apenas os 62 anos desde 1915 até 1976 E.C..... O aumento dramático na actividade sísmica desde 1914 ajuda a provar que estamos agora a viver no tempo da presença de Jesus.

A declaração de que 'fontes fidedignas enumeram apenas 24 terramotos maiores para os 1.059 anos desde 856 até 1914' está tão longe da verdade que é quase impossível compreender como é que alguém mesmo só com um conhecimento elementar do assunto podia fazer tal declaração. A verdade é que fontes fidedignas enumeram literalmente milhares de terramotos destrutivos durante este período! (A evidência disto será discutida na última secção deste capítulo.) E isto não é de maneira nenhuma o fim do assunto. O escritor do artigo da Awake! pega naqueles 24 terramotos anteriores a 1914 e tenta fazer uma comparação entre estes e os terramotos dos 62 anos a seguir a 1914. Mas enquanto que os 24 terramotos foram todos catástrofes maiores, são agora comparados com uma lista moderna que inclui tanto grandes como pequenos desastres (alguns têm número de mortos: 52, 65, 115, 131, e assim sucessivamente).

O método de comparação desigual ou é o resultado de negligência completa ou de deformação deliberada e manipulação de fatos. E, para distorcer ainda mais a imagem, o escritor descreve a sua lista de terramotos posteriores a 1914 como "parcial," deixando assim implícito que os 24 terramotos maiores atribuídos aos 1.059 anos anteriores a 1914 é um número completo! Com isto a declaração fica tão longe da realidade que é quase cómica.28

E no entanto é baseada em números absurdos deste tipo que a Watch Tower Society tem construído os seus dados acerca do número médio de mortes anuais antes e depois de 1914 nas suas publicações.29

A tendencia é visível. Nas estatísticas da Watch Tower Society enquanto o número de mortes anuais depois de 1914 tem sido aumentado, o número médio de mortes anuais anteriores a 1914 tem sido constantemente diminuído, como se segue:

Mortes anuais em terramotos antes de 1914
Estatísticas da Sociedade em 1961: 5.000 por ano
Estatísticas da Sociedade em 1974: 3.000 por ano
Estatísticas da Sociedade em 1980: 1.800 por ano

Se esta tendencia continuasse à mesma taxa por mais 20 anos, o número de mortos anual anterior a 1914 seria reduzido a zero nas estatísticas da Watch Tower Society!

Quantas pessoas morreram realmente em terramotos na história? Devido às fontes incompletas ninguém pode responder com certeza absoluta e as estimativas variam. "Foi estimado que mais de sete milhões de pessoas perderam as suas vidas em terramotos," escreveu Verney.30 Outra fonte declara que provavelmente dez milhões morreram em terramotos desde o tempo de Cristo.31 Contudo, um destacado sismólogo, o Professor Båth, diz:

Foi estimado que durante os tempos históricos 50 a 80 (segundo uma estimativa: 74) milhões de pessoas perderam as suas vidas em terramotos ou nas suas consequências imediatas, como fogos, desmoronamentos, tsunamis, etc.32

Portanto, é óbvio que as estimativas de mortes anuais em terramotos no passado serão tão divergentes como os palpites acerca do número total de mortos sobre os quais se baseiam. O aumento populacional é um factor importante. Visto que cerca de metade da população mundial vive nas faixas de terramotos da terra, por certo não seria surpreendente se o número de mortes em terramotos fosse proporcional ao aumento populacional nessas áreas. Contudo isto não constituiria prova de que os terramotos têm aumentado quer em número quer em gravidade.

Junto com números para os terramotos anteriores a 1914 e as suas estatísticas variáveis do número de mortos, a Watch Tower Society tem publicado listas de terramotos com número de mortos do ano 1914 em diante. Curiosamente, o número de mortos nestas listas também parece mudar de uma lista para a seguinte, e estas diferem de relatórios autorizados em vários pontos. Uma comparação entre as duas últimas listas -- publicadas na Awake! de 22 de Fevereiro de 1977, página 11, e na The Watchtower de 15 de Maio de 1983, página 7 -- dá o seguinte resultado:

Watchtower de 15 de Maio de 1983, página 7 -- dá o seguinte resultado:

Terramotos
Número de mortos
segundo a
Awake! de 22/2/1977
Número de mortos
segundo a
Watchtower de 15/5/1983
1920, China
1939, Turquia
1950, Índia
1962, Irão
1972, Nicarágua
1976, China
180.000
23.000
1.500
10.000
6.000
655.235
200.000
30.000
20.000
12.230
10.000
800.000
Total:
875.735
1.072.230



Como se pode ver, o número de mortos foi aumentado na lista mais recente num total de quase 200.000! Isto não significa que os números foram deliberadamente falsificados. As listas que apresentam o número de mortos em terramotos, publicadas em diferentes trabalhos, variam frequentemente. Mas as listas da Watch Tower Society revelam uma tendencia clara para escolher sempre os números mais elevados, e não os mais fiáveis, nestes trabalhos, evidentemente numa tentativa de apresentar os terramotos do século vinte como sendo tão "grandes" quanto possível, enquanto a tendencia para reduzir os números e o tamanho dos terramotos antes de 1914 é igualmente visível. Este não é um uso honesto e objectivo da informação.

Na realidade, os trabalhos mais autorizados apresentam frequentemente números muito mais baixos do que aqueles dados pela Watch Tower Society nas suas duas listas posteriores a 1914 citadas acima. O terramoto na China em 1920, que as listas da Sociedade afirmam ter custado 180.000 ou 200.000 vidas, segundo a Encyclopedia Americana fez cerca de 100.000 vítimas.33 Similarmente o grande terramoto na China em 1976, que a última lista da Sociedade apresenta como tendo causado 800.000 mortes, na realidade ceifou 242.000 vidas segundo os números publicados pelas autoridades chinesas!34 Geralmente os simólogos acreditam que este número mais baixo é o correcto.35 Atendendo a que a última estimativa de mortes anuais em terramotos desde 1914, publicada pela Sociedade, é baseada em números que incluem o número 650.000 como sendo o número de mortos neste terramoto, a correcção aqui mencionada reduz o número de mortos apresentado pela Sociedade em um terço!36

Os números variáveis que se encontram em diferentes trabalhos demonstram claramente como é uma tarefa difícil tentar fazer quaisquer comparações entre terramotos antes e depois de 1914 baseadas no número de mortos. Também demonstra como é fácil criar uma imagem estatística aparentemente muito impressionante e convincente, mas completamente enganadora, simplesmente escolhendo apenas aqueles números que apoiam melhor um ponto de vista preconcebido, de entre as muitas listas diferentes que têm sido publicadas. Fazer isto reflecte, no melhor dos casos, pesquisa superficial e jornalismo irresponsável; no pior, engano deliberado.
Como "provar" com citações

A actividade sísmica na crosta terrestre não é muito constante. Essa actividade parece ter tido ciclos variáveis em diferentes períodos do passado, com períodos de maior e menor actividade. Contudo a evidência mostra que, numa perspectiva de longo prazo, a actividade tem sido estável. As flutuações acima mencionadas são, portanto, apenas variações menores num padrão global. Alguns escritores populares pensam que a terra está agora a travessar um dos períodos de aumento de actividade. "Existem agora indicações de que o planeta Terra está a entrar numa era de actividade sísmica crescente," escreve Verney.37

Mas é duvidoso que qualquer sismólogo concordasse com isto. É verdade que a The Watchtower de 15 de Maio de 1983 afirma que o sismologista Keiiti Aki "fala do 'aumento aparente na intensidade e frequência de terramotos maiores durante os últimos 100 anos,' embora afirme que o período desde 1500 até 1700 foi tão activo como este." (Página 6) É difícil perceber como é que uma declaração destas pode ser útil à Watch Tower Society visto que abrange "os últimos cem anos," em vez do período muito mais curto desde 1914.

Contudo, o verdadeiro significado da declaração do Professor Aki foi obviamente deturpado pela Watch Tower Society. Na sua carta para a Watch Tower Society, o Professor Aki não indicou que tinha havido um aumento real na actividade sísmica durante os último cem anos. A declaração completa dele foi:

O aumento aparente em intensidade e frequência de terramotos maiores durante os últimos cem anos é, com toda a probabilidade, devido a um melhor registo de terramotos e à vulnerabilidade crescente da sociedade humana aos danos provocados por terramotos. (Carta de Keiiti Aki para a Watch Tower Society, datada de 30 de Setembro de 1982. Uma cópia desta carta é apresentada no Apêndice A.)

Aquela carta torna claro que a revista Watchtower usou mal a informação que lhes foi fornecida. A carta do Professor Aki para a Watch Tower Society mostra que quando se referiu ao "aumento aparente em intensidade e frequência de terramotos maiores" ele claramente usou o termo "aparente" no sentido de um aumento ilusório, não no sentido daquilo que é evidente ou perceptível, pois ele afirmou na mesma frase que este aumento "aparente" foi "com toda a probabilidade, devido a um melhor registo de terramotos e à vulnerabilidade crescente da sociedade humana aos danos provocados por terramotos." A Watch Tower Society achou conveniente ignorar esta parte, dando assim à frase citada um sentido que ela não tem.

O verdadeiro ponto de vista do Professor Aki é que não houve nenhum aumento da actividade sísmica no nosso século, e que a sismicidade da terra tem sido estacionária durante milénios. Numa carta privada para os autores, datada de 5 de Setembro de 1985, o Professor Aki explica:

Eu penso firmemente que a sismicidade tem estado estacionária por milhares de anos. Eu estava a tentar convencer as Testemunhas de Jeová sobre a estacionaridade da sismicidade, usando os dados obtidos na China para o período de 1500 até 1700, mas eles só colocaram fraca ênfase na declaração publicada. (Para a totalidade da carta, veja o Apêndice A.)

Portanto, é óbvio que a The Watchtower citou o Professor Aki de uma maneira que dissimulou a sua verdadeira posição e pontos de vista. Como observou o Professor Aki, ao ser confrontado com o uso que a Watch Tower Society fez da carta dele, "é claro que eles citaram a parte que queriam, eliminando a minha mensagem principal," a saber, que a sismicidade tem sido essencialmente estável, sem nenhum aumento. (Carta de Keiiti Aki para os autores, datada de 16 de Junho de 1986.)

Infelizmente, tem de ser dito que este método de "provar" um assunto não é de maneira nenhuma uma excepção nas publicações deste movimento, como demonstram os seguintes exemplos adicionais.

Em Setembro de 1950 a revista Scientific American publicou uma pequena notícia sobre actividade sísmica. Partes dela foram citadas nas publicações da Watch Tower, vez após vez, durante cerca de vinte anos, como a principal prova para a sua afirmação de que os grandes terramotos têm aumentado em número desde 1914. As declarações citadas pela Watch Tower Society são as seguintes:



Padrões de Terremotos

Poderão os sismólogos algum dia predizer terramotos? Investigadores do California Institute of Technology (Instituto de Tecnologia da Califórnia) parecem ter dado um passo nessa direcção. Eles descobriram evidência de que os terramotos ao redor do mundo seguem um padrão geral de recorrência e estão relacionados com um sistema de forças mundial.

Investigadores do Laboratório Sismológico do Instituto estudaram os quarenta e oito grandes terramotos que ocorreram por todo o mundo desde 1904, quando começaram observações instrumentais fiáveis. O estudo estava limitado aos terramotos de superfície altamente destrutivos, que ocorreram a menos de 45 milhas abaixo da superfície terrestre. Todos estes terramotos seguem um padrão "tão ordeiro e regular como o fio cortante de uma serra."

Terramotos maiores costumavam ocorrer em vagas, cada período de actividade sendo seguido por um período calmo. Assim, houve actividade violenta entre 1904 e 1907 e depois um período calmo de 10 anos, com excepção de dois terramotos em 1911 e 1912. Quatro períodos mais activos, separados por intervalos calmos, ocorreram entre 1917 e 1948. Mas os períodos de actividade tornaram-se progressivamente mais pequenos e mais próximos uns dos outros. Desde 1948 o padrão entrou numa nova fase, com aproximadamente um grande terramoto por ano. Em vez de se acumular ao longo de um período de vários anos, a tensão na crosta terrestre parece agora libertar-se assim que é gerada.

A natureza da "força global" que controla este padrão ordenado é desconhecida. Uma especulação diz que aumentos periódicos na taxa de spin da terra devidos a pequenas alterações nas forças gravitacionais do sol e da lua podem alargar a terra, abrindo fendas suficientemente grandes para libertar as tenções acumuladas.





Terramotos maiores costumavam ocorrer em vagas, cada período de actividade sendo seguido por um período calmo.... Mas os períodos de actividade tornaram-se progressivamente mais pequenos e mais próximos uns dos outros. Desde 1948 o padrão entrou numa nova fase com aproximadamente um grande terramoto por ano.38

Scientific American, Setembro de 1950, página 48.

As frases citadas pelas publicações da Watch Tower, quando isoladas do seu contexto, transmitem fortemente a impressão de um aumento no número de terramotos maiores no nosso século, e especialmente desde 1948. Contudo, um exame cuidadoso de toda a notícia dá uma impressão muito diferente. Para proveito do leitor, apresentamos acima a notícia na sua totalidade.

Será que a notícia afirma realmente que os terramotos maiores aumentaram em número desde 1948? Diz que eles têm sido mais violentos e destrutivos desde essa data? Não, não diz. A notícia refere-se a um estudo de um tipo especial de grandes terramotos, "os terramotos de superfície altamente destrutivos, que ocorreram a menos de 45 milhas abaixo da superfície terrestre." Ocorreram quarenta e oito terramotos deste tipo entre 1904 e 1950, isto é, cerca de um terramoto destes por ano, em média. Mas enquanto anteriormente costumavam ocorrer em vagas, seguidos por um período calmo, o padrão entrou numa nova fase em 1948, "com aproximadamente um grande terramoto [isto é, de magnitude 8.0 ou superior] por ano." Portanto o número médio de terramotos continuou o mesmo.

Para ilustrar isto, se num período de dez anos uma vaga de quatro grandes terramotos ocorresse no primeiro ano, outra vaga de três no sexto ano, e uma terceira vaga de três no décimo, sendo os anos intercalares calmos, o número total seria dez grandes terramotos no período de dez anos. Seria igual se tivesse havido um grande terramoto cada ano durante o período de dez anos. O número total seria o mesmo nos dois casos.

A notícia do Scientific American (Americano Científico) mostra claramente que não ocorreu nenhum aumento seja no número total seja no tamanho dos terramotos. Só foi possível criar a impressão contrária por terem sido citadas duas ou três frases fora do contexto.

Segundo o estudo dos sismólogos Båth e Duda, mencionado anteriormente, ocorreram cerca de 20 terramotos maiores (magnitude 7.0 ou superior) por ano de 1897 a 1977. Não pode ser demonstrada nenhuma mudança assinalável no padrão para este período na sua globalidade, excepto a frequência dos maiores terramotos ter sido quase duas vezes tão grande antes de 1920, como em todo o período posterior até 1977. Portanto, a "nova fase" mencionada na Scientific American (Americano Científico) de Setembro de 1950, deve ter sido um episódio comparativamente trivial no padrão maior.39

Apesar disto, as frases citadas fora do contexto pela Watch Tower Society foram usadas, vez após vez, numa tentativa para "provar" que a actividade sísmica entrou numa fase nova e mais violenta em 1948, e que esta fase tem continuado desde então. É claro que, a longo prazo, a notícia do Scientific American(Americano Científico) de Setembro de 1950 não podia ser exibida de cada vez que isto precisava de ser "provado."40



NÚMERO DE GRANDES "TERRAMOTOS DE SUPERFÍCIE", 1897-1977



Esta figura mostra o número de grandes terramotos de superfície em 1897-1977, medindo 7.8 ou mais na escala de Richter. Estes são normalmente os terramotos mais destrutivos, especialmente quando atingem áreas densamente povoadas. O grande terramoto que atingiu a Cidade do México em 19 de Setembro de 1985, pertence a esta categoria. Cerca de 2.1 terramotos deste tipo ocorrem em média cada ano. Não foi observado nenhum aumento no número de tais terramotos no nosso século. Com respeito àqueles que designariam 1914 como um ponto de viragem, o facto é que o número foi maior no período anterior a 1914! (K. Abe & H. Kanamori em Tectonophysics [Física Tectónica], Vol. 62, 1980, p. 196.)


Apresentada uma nova "evidência"

Em 1978 a afirmação na revista Scientific American (Americano Científico) vinha sendo usada já por cerca de vinte anos como a principal ou única "prova" neutral da Watch Tower Society de um suposto aumento na actividade sísmica desde 1914. Contudo, em 1978 outra "evidência" começou a ser citada, que tem servido como virtualmente a única fonte de prova "neutral" desde então. Uma análise mais cuidadosa da fonte e da dependência desta nova evidência dar-nos-á ainda outra lição interessante sobre a arte da Sociedade em "provar" com a ajuda de citações.

A afirmação errada apresentada em 1977, segundo a qual "fontes fidedignas enumeram apenas 24 terramotos maiores" desde 856 A.D. até 1914 tornar-se-ia em breve útil à Watch Tower Society ainda de outra maneira inesperada. No ano seguinte àquela afirmação ter sido publicada, o escritor Geo Malagoli apresentou no jornal Italiano Il Piccolo, de 8 de Outubro de 1978, os seguintes pontos de vista:

A nossa geração vive num período perigoso de elevada actividade sísmica, como mostram as estatísticas. De facto durante um período de 1.059 anos (de 856 a 1914) fontes fidedignas enumeram apenas 24 terramotos maiores que causaram 1.973.000 mortes. Contudo, se compararmos este número à lista parcial de desastres recentes, descobrimos que morreram 1.600.000 pessoas em apenas 63 anos, como resultado de 43 terramotos que ocorreram desde 1915 até 1978. O aumento dramático enfatiza ainda mais outro facto aceite -- a nossa geração é desafortunada sob muitos aspectos. (Citado de The Watchtower, 15 de Maio de 1983, página 6.)

Ao declarar que o número de mortos indica que este é um "período de elevada actividade sísmica," Geo Malagoli revela que definitivamente não é um sismólogo.41 Contudo, ele é claramente um leitor da revista Awake!. Uma comparação cuidadosa mostrará que a declaração dele é praticamente uma repetição palavra-por-palavra da mesma declaração publicada pela Watch Tower Society um ano e meio antes. (Veja a página 62.)

É perfeitamente evidente que a fonte da "informação" de Malagoli foi a revista Awake! de 22 de Fevereiro de 1977, anteriormente citada. As pequenas diferenças são fáceis de explicar. Ele arredondou os números: 1.972.952 para 1.973.000, e 1.579.209 para 1.600.000. Como tinha passado um ano desde que os números tinham sido originalmente publicados na revista Awake!, ele também aumentou os 62 anos (de 1915 a 1977) para 63 anos (1915-1978). Mas à parte disto, todos os detalhes são idênticos. E daquela data em diante este Geo Malagoli começou a aparecer nas publicações da Watch Tower, vez após vez, sempre que o assunto dos terramotos era trazido a discussão -- elevado à posição de uma autoridade em terramotos, neutral e imparcial!

A declaração de Malagoli no Il Piccolo foi primeiro aproveitada e citada sob o cabeçalho "Observando as Notícias" na The Watchtower de 15 de Junho de 1979 (página 11), sem que o leitor tenha sido informado que Malagoli tinha por sua vez tomado a sua informação emprestada da revista Awake!. No ano seguinte -- em 1980 -- Malagoli e a sua declaração apareceram outra vez, agora no livro Felicidade Como Encontrá-la, onde é citado na página 148 como a única "evidência" apresentada para o alegado aumento na actividade sísmica desde 1914. Alguns meses mais tarde, na Awake! de 8 de Outubro de 1980, Malagoli é citado outra vez como a única fonte de evidência:

Tem a frequência dos terramotos realmente aumentado? A revista Italiana Il Piccolo observou: 'A nossa geração vive num período perigoso de elevada actividade sísmica, como mostram as estatísticas.' E depois apresentou números dos últimos mil de anos para o provar. (Páginas 20 e 21)

E é claro que eles evitaram mencionar o facto de os 'números apresentados' terem sido -- originalmente -- apresentados pela própria Watch Tower Society.

Em 1981 Malagoli foi citado no livro da Sociedade "Venha o Teu Reino" na página 113, e em 1982 os números "dele" foram referidos três vezes: na Awake! de 8 de Abril, página 13, na The Watchtower de 15 de Abril, página 9, e no novo livro de estudo Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra, página 151. Em todos os casos os números de Malagoli foram a única "evidência" apresentada para o aumento na actividade sísmica. Na discussão especial da actividade sísmica publicada na The Watchtower de 15 de Maio de 1983, Malagoli foi apresentado outra vez como a principal testemunha (além das próprias estatísticas enganadoras da Watch Tower Society) para o alegado aumento na actividade sísmica desde 1914. Incrível como possa parecer, desta vez a declaração dele foi usada para "contradizer" o que uma autêntica autoridade em terramotos, Keiiti Aki, afirmou, nomeadamente, que o período de 1500 a 1700 foi tão activo como os últimos 100 anos!

Assim descobrimos que a principal, sim, a única prova aparentemente "neutral" e "imparcial" da Watch Tower Society em como a actividade sísmica tem aumentado desde 1914 é um escritor italiano, que -- sem dúvida de boa fé -- tomou a sua "informação" emprestada directamente da revista Awake!. Aquela "informação" sobre actividade sísmica no passado é, por sua vez, completamente errada e não tem nada a ver com a verdadeira evidência histórica. O facto de a Sociedade, vez após vez, ter apresentado esta falsa informação -- aparentemente tomada de uma fonte neutral -- com o objectivo de "provar" a sua interpretação do "sinal" desde 1914, deveria induzir todos os leitores honestos das suas publicações a interrogarem-se se esta Sociedade merece genuinamente a confiança deles quando faz aquelas afirmações espantosas.

Citações tiradas do contexto e às quais é dado um significado diferente, deturpado, selecção tendenciosa de números e dados, mau uso e até invenção de estatísticas que são depois apresentadas como se tivessem vindo de uma fonte exterior, neutral -- estes são os métodos empregados pelas publicações da Watch Tower para apoiar a alegação de que o número de terramotos e de vítimas dos mesmos têm aumentado desde 1914. Como é que pessoas consideradas devotas e respeitáveis recorrem a estes métodos?

Um artigo intitulado "Fraude na Ciência," publicado na Awake! de 22 de Maio de 1984, indicou que cientistas dedicados tais como Ptolomeu, Galileu, Mendel, Newton e outros algumas vezes recorreram a manipulação de números, selecção e até invenção de dados para apoiar as suas teorias. O artigo diz então que, "independentemente de quão consciencioso e honrado um cientista, ou qualquer pessoa, possa ser em outras coisas, quando a sua própria reputação e interesses estão em jogo, pode tornar-se muito dogmático, irracional, até mesmo descuidado, ou atalhar caminho." (Página 6) Enfatizando que "também a ciência tem os seus esqueletos no armário," o artigo conclui:

As fraudes ocasionais deles deviam fazer-nos compreender que embora a ciência e os cientistas sejam frequentemente colocados num pedestal, o seu lugar nele devia ser cuidadosamente reconsiderado. (Página 8)

Nós perguntamos: Quando tais "esqueletos" também são encontrados no "armário" de uma organização religiosa, não devia isso induzir a uma reconsideração similar da posição elevada que essa organização reclama para si própria?

Terramotos à luz da história

Quais são, então, os fatos reais sobre terramotos no passado? Se, como os sismólogos claramente demonstram, milhares de terramotos destrutivos ocorreram durante o período desde 856 até 1914, como é possível que alguém afirme que "ocorreram apenas 24 terramotos maiores" durante aquele período? Uma possibilidade é que tal lista tenha sido encontrada sob a entrada "Terramoto" num trabalho de referência de um tipo ou outro. Enciclopédias e outros trabalhos de referência apresentam muitas vezes tabelas com uma selecção resumida dos maiores terramotos do passado. Mas em nenhum caso descobrimos alguma vez qualquer de tais listas que afirme ser completa. Pelo contrário, somos normalmente informados de uma maneira ou outra que a lista apresentada é incompleta. Assim, os sismólogos Frank Press e Raymond Siever, na página 651 do seu popular manual Earth (Terra; São Francisco 1974) apresentam 32 (note!) terramotos de 856 até 1914 sob o cabeçalho "Alguns dos piores terramotos do mundo (em vidas perdidas)." Claramente, só um escritor grosseiramente ignorante dos fatos poderia honestamente afirmar que a história anterior a 1914 reconhece apenas 24 grandes terramotos! Só um tal escritor poderia também escrever a seguinte afirmação na página 18 da Awake! de 8 de Maio de 1974:

Mais ainda, os grandes terramotos do passado foram geralmente acontecimentos isolados com anos, e até séculos, a separá-los. Não houve muitos deles numa única geração.

Numa declaração muito similar, o livro de Hal Lindsey, The 1980's -- Countdown to Armageddon (Os Anos 80 -- Contagem Decrescente para o Armagedom; 1981), na página 29 diz:

Ocorreram muitos terramotos grandes ao longo da história, mas, segundo registos surpreendentemente bem mantidos, no passado eles não ocorriam muito frequentemente. O século 20, contudo, tem experimentado um aumento sem precedentes na frequência destas calamidades. De facto, o número de terramotos por década tem quase duplicado em cada um dos períodos de dez anos desde 1950.

Embora lhes falte mesmo o mínimo fundamento, estas declarações podiam ser a impressão precipitada obtida por alguém cuja principal, talvez a única, informação sobre terramotos na história fosse uma rápida vista de olhos por tabelas contendo selecções parciais de grandes terramotos.

Conforme foi mostrado, as listas de terramotos cuidadosamente trabalhadas por sismólogos apresentam um número muito maior de grandes terramotos para o período 856-1914. Por esta razão a Watch Tower Society achou necessário tentar minar a confinaça nestas listas. A revista Awake! de 8 de Maio de 1974 disse:

Nem todos os registos históricos sobre 'grandes' terramotos do passado inspiram confiança na sua fidedignidade. Era esse o ponto de vista do conhecido catalogador John Milne. 'Nestes catálgos,' lemos na edição de 1939 do seu livro Earthquakes and other Earth Movements (Terramotos e outros Movimentos da Terra; revisto e reescrito por A. W. Lee), 'há dúvidas nas datas, ou até nos anos, para muitos dos terramotos antigos. Há muitas referências inexactas ou obscuras nos escritos originais.' (Página 18)

Com esta citação, tirada do contexto, a Watch Tower Society recusa todos os catálogos de milhares de terramotos do passado, cuidadosamente compilados por especialistas modernos. Será que John Milne e A. W. Lee achavam mesmo que estes catálogos podiam ser ignorados, porque os documentos antigos contêm muitas vezes "referências inexactas ou obscuras," e porque "há dúvidas na data, ou até nos anos," de muitos dos terramotos? A declaração de Milne considerada no seu contexto transmite ao leitor uma impressão muito diferente:

A informação disponível para análise da distribuição dos terramotos em diferentes partes do mundo ao longo dos tempos históricos foi reunida em muitos catálogos. Os catálogos mais antigos, foram elaborados a partir de relatórios encontrados nas histórias de vários países, são necessariamente incompletos, e não transmitem uma representação correcta da distribuição dos fenómenos sísmicos por todo o globo. Nestes catálogos há dúvidas nas datas, ou até nos anos, para muitos dos terramotos antigos. Há muitas referências inexactas ou obscuras nos escritos originais, e as datas são frequentemente dadas segundo algum sistema de reconhecimento pouco conhecido. As entradas para estes abalos antigos referem-se, na maior parte dos casos, a desastres muito dispersos.42

Lida na totalidade e dentro do contexto, a estimativa de Milne (e de Lee) dos catálogos apresenta um significado muito diferente. O que eles de facto indicam é que, visto que os catálogos mais antigos são incompletos, o número real de terramotos antigos era realmente maior, e que estes catálogos, por essa razão, não transmitem uma representação exacta do alcance total da situação no que respeita à actividade sísmica mais antiga. As dúvidas a respeito de certas datas ou anos, dizem eles, devem-se ao facto de as datas serem frequentemente dadas segundo algum sistema de reconhecimento que é pouco conhecido hoje. Portanto, isto não quer dizer de maneira nenhuma que as fontes antigas foram descuidadas e portanto pouco fiáveis a este respeito, uma impressão criada pela Watch Tower Society quando tira a declaração do contexto e interrompe a citação a meio de uma frase. Nem a observação de que as descrições dos terramotos antigos contêm por vezes "referências pouco exactas ou obscuras" constitui uma negação de estes terramotos terem de facto ocorrido.

Recorrendo a um dos escritores clássicos da antiguidade, obtemos uma ilustração interessante desta incompletude dos catálogos existentes de terramotos do passado. Poucos antes da sua morte em 65 A.D. o famoso escritor romano Séneca afirmou que terramotos frequentes eram há muito tempo uma característica do mundo antigo:

Quantas vezes cidades na Ásia, na Acaia, foram deitadas abaixo por um único terramoto! Quantas cidades na Síria, na Macedónia, foram engolidas! Quantas vezes este tipo de devastação deixou Chipre em ruínas! Quantas vezes Paphos sofreu colpaso! Não é raro chegarem até nós notícias da destruição completa de cidades inteiras. (Seneca Ad Lucilium Epistulae Morales [Epístolas sobre os Costumes de Séneca para Lucílio], traduzidas por Richard M. Gummere, Vol. II, Londres & Nova Iorque, 1920, p. 437.)

Nenhum catálogo de terramotos actualmente existente teria a pretensão de abranger todos os abalos desastrosos que esta declaração pressupõe. De facto, apenas um pequeno número dos terramotos anteriores a 65 A.D. foram especificamente identificados. Mas seria certamente um erro inferir daqui que as catástrofes de terramotos "não ocorreram muito frequentemente" no passado, como afirma o autor Lindsey e a revista da Watch Tower, Awake! deixa implícito. O testemunho pessoal de Séneca é que numa época tão recuada como o primeiro século os terramotos ocorreram com frequência notável. Que poucos pormenores, se é que alguns, sejam hoje conhecidos sobre estes terramotos destrutivos certamente não significa que eles não ocorreram.

Que os modernos catálogos de terramotos, longe de exagerarem o número de abalos no passado, na verdade enumeram apenas uma pequena parte deles, tem sido observado por vários sismólogos. Em 1971, por exemplo, o sismólogo N. N. Ambraseys do Imperial College of Science and Technology (College Imperial de Ciência e Tecnologia), Londres, comunicou que tinha identificado cerca de 2.200 "grandes abalos" no Mediterrâneo Oriental só entre 10 A.D. e 1699. Tendo começado um exame novo e meticuloso do material das fontes contemporâneas e de evidências arqueológicas recentes daquela área de notável sismicidade, ele declarou:

O número total de todos os terramotos, grandes e pequenos, identificados até agora para o período 10 AD até 1699, é pouco superior a 3.000, ou cerca de vinte vezes o número de verdadeiros terramotos apresentados para o mesmo período nos catálogos modernos.43

O Professor Ambraseys ainda não publicou um estudo documentado destes resultados, mas uma série de terramotos catastróficos que ocorreram no Império Romano Oriental em 447 A.D. -- o ano da segunda invasão de Átila, o Huno -- estão provavelmente entre os 2.200 maiores terramotos mencionados acima. Aprendemos sobre eles através do historiador E. A. Thompson, que afirma o seguinte no seu livro A History of Attila and the Huns (Uma História de Átila e dos Hunos; Oxford, Inglaterra, 1948), na página 91:

Quando os esquadrões Hunos se preparavam para avançar, um desastre de primeira magnitude atingiu os romanos. A série de terramotos que atingiram o Império Oriental durante quatro meses começando em 26 de Janeiro de 447 foram, na opinião de Evagrius, os piores da sua história. Aldeias inteiras foram engolidas e ocorreram inúmeros desastres tanto na terra como no mar. A Trácia, o Helesponto, e as Ciclades foram afectadas. Três ou quatro dias depois de os terramotos terem começado, a chuva caíu torrencialmente do céu, dizem-nos, em rios de água. Pequenas elevações foram niveladas com o chão. Inúmeros edifícios foram arrasados em Constantinopla, e, o pior de tudo, uma parte dos muros compactos de Anthemius, incluindo nada menos do que cinquenta e sete torres, desmoronaram-se.

E no entanto estes abalos desastrosos de 447 A.D. não estão incluídos em nenhum dos catálogos de terramotos a que os autores do presente trabalho tiveram acesso.

Foi apenas a partir da segunda metade do século passado que os sismólogos começaram a estudar intensamente registos de terramotos do passado. Robert Mallet, "o primeiro verdadeiro sismólogo," não apenas examinou os catálogos mais antigos compilados pelos seus predecessores, mas também pesquisou em bibliotecas por toda a Europa, procurando registos de antigos terramotos. Finalmente, nos Reports of the British Association (Relatórios da Associação Britânica) dos anos 1852-54, ele publicou um catálogo de quase sete mil terramotos, datados de 1606 A.C. até 1850 A.D.!44 Como Milne e Lee indicaram, estas entradas "referem-se, na maior parte, a desastres amplos," isto é, terramotos grandes e destrutivos.

Mas isto foi só um princípio. Quando John Milne, "o pai da sismologia," chegou a Tóquio em 1875, "encontrou registos de mais de dois mil terramotos nos arquivos Japoneses."45 No Japão uma lista contínua de terramotos destrutivos tinha sido mantida por um período de mais de dois mil anos! Em breve registos similares também foram descobertos na China. Os registos chineses remontam a 1100 A.C. e são "razoavelmente completos desde cerca de 780 AC, o período da dinastia Chou no norte da China."46

Dentro de pouco tempo vários sismólgos começaram a trabalhar cuidadosamente nos catálogos de terramotos em diferentes países. Assim a History of British Earthquakes (História dos Terramotos Britânicos) de Davison enumera 1.191 abalos desde 974 A.D. até 1924 só na Inglaterra -- um país bem longe das faixas de terramotos da terra.47 Na Itália, Mario Baratta, no seu I Terremoti d' Italia (Os Terramotos de Itália), publicado em 1901, dá conta de 1.364 terramotos que abalaram a Itália desde 1 A.D. até 1898.48 Catálogos similares mencionam terramotos na Áustria, Rússia, China, Japão etc.49

Contudo, o maior coleccionador de terramotos entre os sismólogos modernos foi um francês, Conde F. Montessus de Ballore. De 1885 a 1922 ele dedicou todo o seu tempo ao estudo e catalogação de terramotos. "O seu maior trabalho, contudo, nunca foi publicado. Este é um catálogo monumental dos terramotos em todas as partes do mundo desde os tempos históricos mais recuados, e contém informação acerca de 171.434 terramotos"! O manuscrito está guardado na biblioteca da Geographical Society (Sociedade de Geografia) em Paris, onde ocupa 26 metros de estantes.50

Também John Milne passou vários anos a compilar o seu catálogo de terramotos de todo o mundo. Limitando o seu estudo só a terramotos destrutivos, ele enumera 4.151 terramotos destrutivos entre os anos 7 A.D. e 1899 A.D..51 As entradas anteriores a 1700 A.D., que "estão praticamente confinadas a ocorrências no Sul da Europa, China, e Japão," são, por razões óbvias, dispersas.52 Milne foi admiravelmente rigoroso ao lidar com as suas fontes. Ele declara:

Não foram apenas omitidos certos terramotos pequenos, mas sempre que a informação na qual se baseiam os registos de terramotos maiores é de aspecto duvidoso, estes também foram rejeitados.53

Milne indicou a intensidade dos terramotos da lista de acordo com a escala I, II e III, com III referindo-se aos terramotos mais destrutivos, "aqueles que destruiram cidades e devastaram distritos," rachando paredes, destruindo velhos edifícios, e assim por diante "até uma distância de 100 milhas" do centro. Só durante o século dezanove, período em que os registos são mais completos, constam da lista cerca de 370 terramotos do tipo III. Quando comparada com tal evidência documentada, a referência da Watch Tower Society a apenas 24 terramotos maiores desde 856 até 1914 A.D. torna-se virtualmente caricata.

De facto, a Watch Tower Society reconheceu-o agora. No verão de 1985 eles publicaram uma declaração reconhecendo que ocorreram 856 grandes terramotos durante os 2000 anos antes de 1914. (Veja Raciocínios à base das Escrituras, 1985, página 419.) Embora este seja um passo na direcção certa, este número também está longe da verdade. Os argumentos baseados neeste novo número são realmente tão enganadores como aqueles baseados nos números anteriores. (Veja a caixa anexa, na página 79.)

No que diz respeito ao número de mortes nos vários terramotos do passado, os registos antigos são muitas vezes omissos ou dão informação muito escassa.



DE 24 PARA 856 TERRAMOTOS

No seu livro Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra (1982), a Watch Tower Society declarou que "do ano 856 E.C. a 1914, houve apenas 24 terramotos grandes." (Página 151)

Deixando obviamente de lado essa declaração, três anos depois o livro Raciocínios à base das Escrituras (1985) apresenta um número muito maior de terramotos (página 421): Com dados obtidos do Centro de Dados Geofísicos de Boulder, Colorado, EUA, suplementados por um número de obras de referência de alto padrão, fez-se uma classificação em 1984, que incluía apenas terremotos que mediam 7,5 ou mais na escala de Richter, ou que resultaram na destruição de propriedades no valor de cinco milhões de dólares americanos ou mais, ou que causaram 100 ou mais mortes. Calculou-se que houve 856 de tais terremotos durante os 2.000 anos antes de 1914. O mesmo cálculo mostrou que em apenas 69 anos, após 1914, houve 605 terremotos assim. Isso significa que, em comparação com os 2.000 anos prévios, a média por ano tem sido 20 vezes maior desde 1914.

Será que o Centro de Dados em Boulder apoia mesmo essa alegação?

Classificando esta declaração como um "abuso das estatísticas" o sismólogo Wilbur A. Rinehart do National Geophysical Data Center (Centro Nacional de Dados Geofísicos) em Boulder, Colorado, declarou que "não tem havido nenhum aumento significativo no número dos terramotos durante este ou qualquer outro século." (Para a resposta completa dele às nossas questões, veja o Apêndice A).

Que dizer do "aumento de 20 vezes"?

Escrevendo sobre a área limitada da bacia do Mediterrâneo Oriental, o famoso sismólogo N. N. Ambraseys declarou em 1971:

O número total de todos os terramotos, grandes e pequenos, identificados até agora para o período 10 AD até 1699, é pouco superior a 3.000, ou cerca de vinte vezes o número de verdadeiros terramotos apresentados para o mesmo período nos catálogos modernos.... para os abalos maiores, cerca de 2.200 ao todo, pode-se provar que a homogeneidade do material é satisfatória para todo o período. -- Revista Nature (Natureza) , 6 de Agosto de 1971, pp. 375, 376.

Estas conclusões anulam completamente as alegações da Watch Tower Society.

O que dizem destacados sismólogos

A declaração da Watch Tower Society acerca de um aumento de terramotos 20 vezes desde 1914 foi também enviada a vários sismólogos eminentes de todo o mundo. Rejeitaram todos a declaração e nenhum deles pensa que o nosso século é único seja sob que perspectiva for, com respeito ao número de grandes terramotos. Várias respostas recebidas são apresentadas no Apêndice (Apêndice A).

A Awake! de 8 de Julho de 1982, na página 16, afirmou que, "Desde o tempo em que Jesus fez a sua profecia até 1914, a história regista cinco terramotos que ceifaram, cada um deles, 100.000 vidas ou mais," enquanto "No período desde 1914 pelo menos mais quatro de tais superterremotos ocorreram."
Ano
Local
Mortes
A.D. 532
678
856
893
893
1138
1139
1201
1290
1556
1641
1662
1669
1693
1703
1721
1730
1730
1731
1737
1780
1850
1876
1908
Síria
Síria
Irão: Qumis Damghan
Índia: Daipul
Índia: Ardabil
Egipto, Síria
Irão: Gansana
Alto Egipto, Síria
China: Chihli
China
Irão: Dehkwargan, Tabriz
China
Sicília (erupção do Etna)
Sicília: Catania e Nápoles
Japão (tsunami)
Irão: Tabriz
China: Chihli
Japão: Hokkaido
China: Pequim
Índia: Calecutá
Irão: Tabriz
China
Baía de Bengal (tsunami)
Itália: Messina/Reggio
130.000
170.000
200.000
180.000
150.000
230.000
100.000
1.100.000
100.000
830.000
300.000
300.000
100.000
100.000
100.000
100.000
100.000
137.000
100.000
300.000
100.000
300-400.000
215.000
110.000



Só para demonstrar quão errada é esta declaração, a tabela à direita apresenta 24 de tais "superterramotos" do período 532 A.D. até 1914. Talvez sete destes (existem naturalmente algumas dúvidas) ocorreram só no século dezoito.54

Comparando esta informação com a declaração do escritor da Awake! anteriormente citada, torna-se penosamente evidente quão notavelmente superficial é a pesquisa das publicações da Watch Tower, quão completamente irresponsáveis são realmente as afirmações feitas.

Em muitos casos, grande número de mortes têm sido causadas por resultados acompanhantes ou consequências da actividade sísmica, como tsunamis, erupções vulcânicas, desmoronamentos, fomes, e factores similares. Mas isto é igualmente verdade no caso de alguns dos "superterramotos" que ocorreram depois de 1914. Os 100.000 que morreram no terramoto na China em 1920, por exemplo, foram mortos principalmente por um desmoronamento provocado pelo abalo. O terramoto no Japão em 1923 provocou uma tempestade de fogo que matou 38.000 das 143.000 vítimas. Também deve ser dito que a tabela acima certamente não tem pretensões de alistar todos os "superterramotos" anteriores a 1914.

Em vista do aumento populacional é razoável esperar que mais pessoas tenham morrido em terramotos durante o nosso século do que em séculos anteriores.55 Por essa razão, pareceria muito seguro fazer o seguinte desafio, que aparece na página 19 da revista Awake! de 8 de Maio de 1974:

Ao todo, mais de 900.000 pessoas morreram em terramotos desde 1914! Pode alguma 'geração' igualar esse terrível recorde? As profecias de Jesus acerca de terramotos aplicam-se agora.

Embora este número tenha aumentado subsequentemente algumas centenas de milhares nos anos que passaram desde que aquela afirmação foi publicada na revista Awake!, vamos ainda assim aceitar o desafio apresentado pela Watch Tower. Como as referências históricas anteriores a 1700 A.D. "estão praticamente confinadas a ocorrências no Sul da Europa, China e Japão" (Milne), escolhemos a geração de 1714 em diante e vamos compará-la com a geração depois de 1914. A tabela na Awake! de 22 de Fevereiro de 1977, abrangendo o período 1915-1976, foi actualizada de modo a incluir os anos até 1983, inclusive. Foi feita no fim da tabela uma correcção do número para o grande terramoto na China em 1976, com uma referência a uma declaração posterior na Awake!. (Veja a página 83.)

Os resultados mostram que o número total de mortes em terramotos de 1915 até 1985 ascende a 1.210.597, o que dá uma média anual de 17.545.

A tabela anexa (no lado esquerdo) que alista 43 terramotos maiores de 1715 a 1783 mostra um total de 1.373.845 mortes, o que representa cerca de 163.000 a mais do que no período 1915-1985, dando uma média anual de 19.911!

Para provar que 1914 foi um verdadeiro "ponto de viragem" sísmico, a The Watchtower de 15 de Maio de 1983 fez referência a 50 terramotos destrutivos durante os 68 anos entre 1914 e 1982. (Página 7) Por isso preparámos uma tabela para os 68 anos anteriores a 1914 (1847-1914) que mostra uma lista parcial de 50 terramotos destrutivos, compilada a partir de fontes fidedignas. Esta tabela demonstra de forma conclusiva que 1914 não pode ter sido o ponto de viragem proeminente que a Watch Tower Society afirma que foi.

É claro que nenhumas tabelas desse tipo estão completas. Para vários grandes terramotos do século 18 em diante, não é conhecido nenhum número de mortos, os registos contemporâneos dão simplesmente a informação de que "muitos" morreram neles. Mesmo se fossem acrescentados às três tabelas o número de mortes de mais terramotos dos três períodos envolvidos, a comparação ainda demonstraria apenas que a geração de 1914 não é de maneira nenhuma única no que diz respeito a terramotos.56 (Veja a página 84.)

Vimos as várias alegações da Watch Tower Society serem demolidas, uma por uma, pelos fatos históricos -- que o período 856 A.D.-

UMA COMPARAÇÃO DE VÍTIMAS DE TERRAMOTOS
1715-1783

1915-1983a
Ano
Local
Mortes

Ano
Local
Mortes
1715
Algéria
20.000

1915
Itália
29.970
1717
Algéria
20.000

1920
China
180.000
1718
China
43.000

1923
Japão
143.000
1719
Ásia Menor
1.000

1927
China
200.000
1721
Irão
100.000

1932
China
70.000
1724
Peru (tsunami)
18.000

1933
E.U.A.
115
1725
Peru
1.500

1935
Índia (Paquistão)
60.000
1725
China
556

1939
Chile
30.000
1726
Itália
6.000

1939
Turquia
23.000
1727
Irão
77.000

1946
Turquia
1.300
1730
Itália
200

1946
Japão
2.000
1730
China
100.000

1948
Japão
5.131
1730
Japão
137.000

1949
Equador
6.000
1731
China
100.000

1950
Índia
1.500
1732
Itália
1.940

1953
Turquia
1.200
1736
China
260

1953
Grécia
424
1737
India
300.000

1954
Algéria
1.657
1739
China
50.000

1956
Afeganistão
2.000
1746
Peru
4.800

1957
Irão (Norte)
2.500
1749
Espanha
5.000

1957
Irão (Oeste)
2.000
1750
Grécia
2.000

1960
Chile
5.700
1751
Japão
2.000

1960
Marrocos
12.000
1751
China
900

1962
Irão
10.000
1752
Síria
20.000

1963
Jugoslávia
1.100
1754
Egipto
40.000

1964
Alasca
131
1755
China
270

1966
Turquia
2.529
1755
Irão
1.200

1969
Irão
11.588
1755
Portugal
60.000

1970
Turquia
1.086
1755
Marrocos
12.000

1970
Perú
66.794
1757
Itália
10.000

1971
E.U.A.
65
1759
Síria
30.000

1972
Irão
5.057
1763
China
1.000

1972
Nicarágua
6.000
1765
China
1.189

1973
México (Oeste)
52
1766
Japão
1.335

1973
México (Central)
700
1771
Japão (tsunami)
11.700

1974
Paquistão
5.200
1773
Guatemala
20.000

1975
China
200
1774
Newfoundland
300

1975
Turquia
2.312
1778
Irão (Kashan)
8.000

1976
Guatemala
23.000
1780
Irão (Tabriz)
100.000

1976
Itália
900
1780
Irão (Khurasan)
3.000

1976
Bali
600
1783
Itália (Calabria)
60.000

1976
Chinab
242.000
1783
Itália (Palmi)
1.504

1976
Filipinas
3.373
1783
Itália (Monteleone)
1.191

1976
Turquia
3.790




1977-1983 (acréscimo)c
44.623
Total 1715-1783:
1.373.845

Total 1915-1983:
1.210.597
Média Anual:
19.911

Média Anual:
17.545
(a) Veja Awake! de 22/2/1977.
(b) Veja página 65, nota de rodapé 34; compare com Awake! 8 de Julho de 1982, p. 13.
(c) Ganse & Nelson apresentam 44.623 como sendo o número de mortos para este período.

SERÁ QUE 1914 TROUXE REALMENTE UMA MUDANÇA?

Ano
Local
Mortes

Ano
Local
Mortes
1847
Japão
34.000

1882
Itália
2.313
1850
China
300-400.000

1883
Itália
1.990
1851
Irão
2.000

1883
Grécia, Ásia Menor
15.000
1851
Itália
14.000

1883
Java
36.400
1853
Irão (Shiraz)
12.000

1885
Índia
3.000
1853
Irão (Isfahan)
10.000

1887
França
1.000
1854
Japão
34.000

1887
China
2.000
1854
São Salvador
1.000

1891
Japão
7.283
1855
Japão
6.757

1893
Turkmenia Ocid.
18.000
1856
Java
3.000

1896
Japão
27.122
1857
Itália
10.000

1897
Índia (Assam)
1.542
1857
Itália
12.000

1902
Guatemala
2.000
1859
Equador
5.000

1902
Turquestão
4.562
1859
Turquia
15.000

1903
Turquia
6.000
1861
Argentina
7.000

1905
Índia (Kangra)
19.000
1863
Filipinas
10.000

1905
Itália
2.500
1868
Perú
40.000

1906
Colômbia
1.000
1868
Equador, Colômbia
70.000

1906
Formosa
1.300
1872
Ásia Menor
1.800

1906
Chile
20.000
1875
Venezuela, Colômbia
16.000

1907
Jamaica
1.400
1876
Baía de Bengali
215.000

1907
Ásia Central
12.000
1879
Irão
2.000

1908
Itália
110.000
1879
China
10.430

1909
Irão
6-8.000
1880
Grécia (Quios)
4.000

1910
Costa Rica
1.750
1881
Ásia Menor
8.866

1912
Costa Marítima de Marmara
1.958
Total de vítimas para 68 anos anteriores a 1914:
1.148.973-1.250.973
Média Anual:
17.149-18.671

FONTES: Båth: Introduction to Seismology (Introdução à Sismologia; 1979); Richter: Elementay Seismology (Sismologia Elementar; 1958); Imamura: Theoretical and Applied Seismology (Sismologia Teórica e Aplicada; 1937); Ganse-Nelson: Catalog of Significant Earthquakes (Catálogo de Terramotos Significativos; 1981); Ambraseys: Earthquake Hazard and Vulnerability (Perigo e Vulnerabilidade dos Terramotos; 1981); Ambraseys-Melville: A History of Persian Earthquakes (Uma História dos Terramotos Persas; 1982); Latter: Natural Disasters (Advancement of Science) (Desastres Naturais [Avanço da Ciência] ; Junho de 1969); Press-Siever: Earth (Terra; 1974); Handbuch der Geophysik (Manual de Geofísica; ed. Prof. B. Gutenberg), Band IV (Berlim 1932).

1914 viu apenas 24 terramotos maiores, que os grandes terramotos do passado ocorreram "com intervalos de anos, até de séculos," que a história regista apenas cinco "superterramotos" desde o tempo de Cristo até 1914, e que nenhuma geração antes de 1914 pode igualar aquela que se seguiu a esse ano no que diz respeito às vítimas de terramotos. É realmente possível que os escritores das publicações da Watch Tower sejam tão ignorantes a respeito dos terramotos do passado -- ou estão eles a tentar esconder dos seus leitores a verdade sobre os terramotos? Nós preferimos acreditar que eles inicialmente ignoravam os fatos. Mas se é esse o caso, é extremamente notável que uma organização que afirma ter sido autorizada por Jesus Cristo a interpretar os sinais do tempo para pessoas dos nossos dias, pareça ter tão pouco interesse em verificar se as suas interpretações e estatísticas correspondem à realidade histórica.

Século
N.º de terramotos
destrutivos no Japão
  9.º
10.º
11.º
12.º
13.º
14.º
15.º
16.º
17.º
18.º
19.º
40
17
20
18
16
19
36
17
26
31
27


Finalmente, o que é que os próprios sismólogos dizem quanto ao quadro global? Será que eles descobriram alguma diferença assinalável entre a frequência dos terramotos desde 1914 comparada com séculos anteriores? Os sismólgos J. Milne e A. W. Lee declaram que "não há indicação de que a actividade sísmica tenha aumentado ou diminuído de forma apreciável ao longo das épocas históricas."57 E o professor Markus Båth concorda: "Para séculos anteriores não temos as mesmas estatísticas fiáveis, mas não há qualquer indicação de um aumento na actividade ao longo do tempo."58

Como os registos antigos se tornam mais dispersos e incompletos quanto mais recuamos no tempo, é muito natural que tenhamos mais e melhor informação dos séculos mais recentes do que dos mais longínquos. Existe, no entanto, uma excepção: o Japão. Conforme foi mostrado atrás, os Japoneses mantiveram um registo contínuo de terramotos destrutivos no seu país (que tem uma actividade sísmica intensa) remontando até muito antes do nascimento de Cristo. Segundo o catálogo de Milne, o número de terramotos destrutivos registados no Japão do século nove ao dezanove é o seguinte [tabela à direita]:



O QUE DESTACADOS SISMÓLOGOS DIZEM ACERCA DOS TERRAMOTOS HOJE E NO PASSADO

"Não há indicação de que a actividade sísmica tenha aumentado ou diminuído de forma apreciável ao longo das épocas históricas." -- Sismólogos J. Milne e A. W. Lee, Earthquakes and Other Earth Movements (Terramotos e Outros Movimentos da Terra), sétima edição (Londres, 1939), p. 155.

"Certos grupos religiosos escolheram esta época desafortunada para insistir em que o número de terramotos está a aumentar. Em parte eles são induzidos em erro pelo número cescente de pequenos terramotos que estão a ser catalogados e registados por estações novas, mais sensíveis, por todo o mundo. Vale a pena sublinhar que o número de grandes terramotos de 1896 a 1906 foi maior do que em qualquer intevalo de dez anos desde então." -- Professor Charles Richter em National History (História National), Dezembro de 1969, p. 44.

"Para séculos anteriores não temos as mesmas estatísticas fiáveis, mas não há indicações nenhumas de qualquer aumento na actividade ao longo do tempo." -- Professor Markus Båth, carta particular datada de 17 de Junho de 1983.

"Eu certamente concordaria com os Professores Båth e Richter quando afirmam que não houve nenhum aumento significativo no número de terramotos durante este ou qualquer outro século." -- Wilbur A. Rinehart, sismólogo no World Data Center A (Centro Mundial de Dados A), Boulder, Colorado. Carta particular datada de 8 de Agosto de 1985.

Um perito na sismicidade da área do mediterrâneo, uma das regiões de maiores terramotos na terra, diz:

"Com toda a certeza, não houve nenhum aumento na actividade sísmica do mediterrâneo durante este século. Muito pelo contrário, no mediterrâneo oriental a actividade deste século foi anormalmente baixa quando comparada com a dos séculos 10-12 e 18." -- Professor N. N. Ambraseys, carta particular datada de 9 de Agosto de 1985

"Eu penso firmemente que a sismicidade tem estado estacionária por milhares de anos.... evidência geológoca excelente para a estacionaridade foi obtida pelo Prof. Kerry Sieh do Caltech, para a falha de Sto. André." -- Sismólogo Keiiti Aki, professor no Departamento de Ciências Geológicas, Universidade do Sul da Califórnia, Los Angeles. Carta particular datada de 5 de Setembro de 1985.

"Há indicações que apontam para um decréscimo constante da actividade sísmica ao redor do mundo-se expressa em termos de terramotos com magnitude 7 ou superior -- no período que vai do princípio do século 20 até agora." -- Seweryn J. Duda, Professor de Geofísica, Universidade de Hamburgo. Carta particular datada de 7 de Julho de 1986.

(As cartas particulares citadas acima estão reproduzidas na sua totalidade no Apêndice.)


No nosso próprio século cerca de 20 terramotos de alguma importância ocorreram no Japão até 1983, apontando para um total final de talvez 25-30 para todo o presente século.59 Avaliando estes números, Milne e Lee relataram que "os dados apoiam a conclusão de que durante os tempos históricos a quantidade de actividade sísmica não mudou em nenhuma medida apreciável."60

Consequentemente, não exite qualquer evidência em apoio da afirmação feita por várias fontes religiosas, incluindo a Worldwide Church of God (Igreja Mundial de Deus), um autor Adventista do Sétimo Dia, e especialmente pela Watch Tower Society, de que a actividade sísmica é marcadamente diferente no nosso século quando comparado com séculos anteriores. Toda a informação disponível aponta para o contrário. As alegações astuciosas, deturpadoras, descoordenadas da Watch Tower Society e os seus malabarismos com fatos e números num esforço de provar que ocorreu um aumento foram desmascarados como fraudulentos -- esperemos que não deliberadamente, mas como resultado de uma pesquisa muito pobre, análise superficial e desejo que os fatos sejam como eles querem.

Notas

1 Peter Verney, The Earthquake Handbook, (O Manual dos Terramotos), Nova Iorque e Londres 1979, p. 47. Não existe consenso geral sobre isto. O Professor N. N. Ambraseys, por exemplo, considera John Michell (1724-93) 'o primeiro sismólogo autêntico.' (Ambraseys, Engineering Seismology [Engenharia Sismológica], Universidade de Londres, Lição Inaugural de 18 de Novembro de 1975, p. 54.)

2 Verney, p. 51. Outros chamar-lhe-íam apenas o 'pai da simologia Inglesa,' reconhecendo que também outros, cientistas contemporâneos em outros países deram contribuições importantes para o desenvolvimento inicial da sismologia. (Veja a discussão pelo Dr. August Sieberg em Geologische, physikalische un angewandte Erdbebenkunde, Iena 1923, pp. 2, 373.)

3 Verney, pp. 53, 54; B. Booth & F. Fitch, Earthshock (Choque Terrestre), Londres 1979, p. 89.

4 G. A. Eiby, Earthquakes (Terramotos), Londres 1968, p. 191. Isto é verdadeiro apenas no caso de terramotos que meçam 7.9 ou mais na escala de Richter.

5 Markus Båth, Introdution to Seismology (Introdução à Sismologia), 2.ª ed., Basiléia, Boston, Estugarda 1979, pp. 27, 262-266.

6 J. Milne & A. W. Lee, Earthquakes and Other Earth Movements (Terramotos e Outros Movimentos da Terra), 7.ª ed., Londres 1939, pp. 134, 135.

7 The Encyclopedia Americana (A Enciclopedia Americana), 1966, sob "Earthquake" ("Terramoto"), p. 496.

8 Verney, p. 75.

9 Report of the Eighteenth Meeting of the British Association for the Advancement of Science, Portsmouth: 1911, Aug. 31-Sept. 7 (Relatório do Décimo Oitavo Encontro da Associação Inglesa para o Avanço da Ciência, Portsmouth: 1911, 31 de Agosto-7 de Setembro; Londres 1912), p. 649.

10 Booth & Fitch, p. 90; C. F. Richter, Natural History (Historia Natural), Dezembro 1969, p. 44.

11 Båth, p. 137.

12 Verney, p. 96. O terramoto em São Francisco em 1906, que matou cerca de 700 pessoas, também teve a magnitude 8.3. (Os três terramotos em Nova Madri, Missouri, em 1811-12 foram maiores do que estes dois, com magnitudes estimadas em 8.6, 8.5 e 8.7, respectivamente.)

13 Verney, p. 72. The Encyclopedia Americana (A Enciclopédia Americana), ed. 1966, sob "Earthquake" ("Terramoto"), página 496, afirma que, "se todos os abalos até aos mais pequenos forem incluídos, é provável que o total seja bem mais de um milhão." A grande maioria destes abalos não são, é claro, sentidos pelo homem, sendo registados apenas com a ajuda de instrumentos.

14 Natural History (Historia Natural), Dezembro de 1969, p. 44. No seu Elementar Seismology (Sismologia Elementar; São Francisco 1958, página 357) Richter afirma de modo semelhante que: "Não se pode fugir da conclusão de os maiores abalos baixos [isto é, próximos da superfície] terem sido mais frequentes antes de 1918 do que posteriormente."

15 S. J. Duda, "Secular seismic energy release in the circum-Pacific belt" ("Libertação de energia sísmica ao longo dos séculos no anel que circunda o Pacífico"), Tectonophysics (Física Tectónica) 2 (1965), pp. 409-52; Markus Båth e S. J. Duda, "Some aspects of global seismicity" ("Alguns aspectos da sismicidade global"), Tectonophysics (Física Tectónica), 54 (1979), pp. T1-T8. Os jornais apresentam frequentemente dados grosseiramente enganadores sobre terramotos. Richter (1958, p. 5) sublinha que "a imprensa popular" só pode ser usada "com cuidado." Contudo, The Watchtower de 15 de Maio de 1984, p. 25, referiu-se a um artigo publicado no The New York Times (O Times de Nova Iorque) que classifiou 1983 como sendo "Um Ano de Terramotos," devido a um suposto "surto de terramotos mortíferos" naquele ano. Para provar isto The Watchtower publicou uma lista de 9 terramotos que ocorreram num período de 3 meses, tendo sido dito que todos eles foram "terramotos maiores, reconhecidos na escala de Richter." Uma análise mais cuidadosa da lista, contudo, mostra que apenas 3 dos 9 terramotos são "maiores", tendo uma magnitude de 7.0 ou mais. Como o Professor Markus Båth assinala (carta pessoal, datada de 3 de Outubro de 1984), isto não é superior, mas inferior ao normal: "A informação do The New York Times é completamente enganadora. Com 3 terramotos de magnitude 7 ou mais num período de 3 meses, o número de tais terramotos seria 12 num ano. Isto está claramente abaixo da média, que é 20 terramotos por ano com magnitude 7 ou superior. A afirmação no jornal aponta para uma actividade sísmica que está abaixo do normal!" Nem foi 1983 "Um Ano de Terramotos" se o avaliarmos pelo número de mortos. Segundo informação fornecida pelo World Data Center A for Solid Earth Geophysics (Centro Mundial de Dados para a Geofísica Sólida da Terra; veja mais adiante, nota de rodapé 19), apenas 2.328 pessoas morreram em terramotos durante 1983, o que está muito abaixo da média.

Mesmo 1976 não viu o 'dramático aumento em terramotos' anunciado por Hal Lindsey, não obstante o grande terramoto na China naquele ano. O Professor Markus Båth, na sua Introduction to Seismology (Introdução à Sismologia), diz: "O ano de 1976 merece um comentário especial. Ocorreram muitos desastres sísmicos ao longo do ano, com o maior número de baixas na China.... Por outro lado, olhando para 1976 de um ponto de vista estritamente sismológico, não ocorreram neste ano mais terramotos, nem mais fortes, do que a média." (P. 151) Comentando o período depois de 1976, o Professor Båth, numa carta privada, acrescenta: "Os anos depois de 1976 até agora [1985] , pelo menos, têm mostrado um claro decréscimo na actividade sísmica na terra, tanto no que diz respeito ao número de grandes terramotos (grandes magnitudes, acima de 7.0) como no número de vítimas. Mas isto é, claro, apenas um exemplo de uma variação ocasional que tem sempre ocorrido." (Carta privada Båth-Jonsson, datada de 21 de Agosto de 1985.)

16 The Watchtower, 1.º de Fevereiro de 1974, p. 72.

17 The Watchtower, 1.º de Fevereiro de 1974, p. 73.

18 The Watchtower, 1.º de Fevereiro de 1974, p. 74.

19 Booth & Fitch, p. 80; Robert A. Ganse e John B. Nelson, Catalog of Significant Earthquakes 2000 B.C.-1979 (Catálogo de Terramotos Significativos 2000 A.C.-1979), Boulder, Colorado 1981, p. 63 (Relatório SE-27 do World Data Center A for Solid Earth Geophysics [Centro Mundial de Dados A para Geofísica Sólida da Terra] ).

20 Ganse & Nelson, pp. 56, 58. O terramoto no Afeganistão em 1956 custou 220 vidas segundo algumas tabelas, 2.000 segundo outras.

21 As estimativas deste tipo que existem parecem ter sido genericamente incluídas no catálogo preparado por Gansel e Nelson. (Veja a nota de rodapé 19, acima.)

22 A este respeito, vale a pena notar que The Watchtower de 1.º de Fevereiro de 1974, p. 72, afirma que "alguns dos terramotos com maiores magnitudes ... ocorreram debaixo dos oceanos" e que esses "não tiveram virtualmente nenhum efeito no homem." Falando de "terramotos potencialmente destrutivos" (3.8 e mais), o sismólogo J. H. Latter, em Advancement of Science (Avanço da Ciência; Junho de 1969, página 365) até diz que "a esmagadora maioria ocorreu debaixo do mar ou longe de regiões habitadas". Como tais terramotos na maioria dos casos passariam despercebidos antes da época dos registos com instrumentos científicos, é claro que o critério de magnitude da Sociedade pode distorcer grosseiramente os verdadeiros fatos sobre a frequência dos terramotos.

23 Apesar de Ganse e Nelson terem tentado estimar tais prejuízos para terramotos antigos no seu catálogo, os prejuízos de muitos terramotos são indicados como "desconhecidos."

24 N. N. Ambraseys, "Value of Historical Records of Earthquakes," Nature ("Valor de Registos Históricos de Terramotos," Natureza), Vol. 232, 6 de Agosto de 1971, p. 379.

25 Awake! 22 de Outubro de 1984, p. 6. Note-se a expressão "terramotos relatados." Isto indica que a Sociedade sabe que registos escritos de grandes terramotos no passado são incompletos. Contudo, não é provável que o leitor desprevenido se aperceba desta distinção. A Sociedade obviamente quer que ele conclua que houve realmente um tremendo aumento de terramotos desde 1914. Assim, o livro da Sociedade Sobrevivência para uma Nova Terra (1984) não hesita em afirmar que a frequência dos grandes terramotos "tornou-se cerca de 20 vezes maior do que era em média durante os mil anos antes de 1914." (p. 23)

26 The Watchtower, 15 de Maio de 1983, p. 5. Na Awake! de 8 de Agosto de 1968, p. 30, a Sociedade enfatizou que um terramoto no fim de Junho naquele ano "ceifando as vidas de 16 pessoas e ferindo outras 100" cumpriu "profecias das Escrituras," embora não tenha sido considerada nenhuma classificação da magnitude ou outro valor. Nós concordamos que este terramoto cumpriu a profecia de Jesus, mesmo se a Sociedade o rejeita agora em vista do seu mais recente critério. Ocorreram inúmeros terramotos como este desde que Jesus proferiu as suas palavras.

27 Diz-se normalmente que este terramoto ceifou mais vidas do que qualquer outro terramoto registado na história. Contudo, pode ter sido ultrapassado neste aspecto pelo terramoto que atingiu o Alto Egipto e/ou a Síria em 5 de Julho de 1201, que, segundo alguns registos antigos, custou cerca de 1.100.000 vidas. Se este número fosse dividido por um período de 62 anos, obteríamos uma média anual de 17.740. Este seria um número maior do que o número correcto para o século 20, 15.700, conforme é mostrado nesta secção. Veja S. Alsinawi e H. A. A. Ghalith, "Historical Seismicity os Iraq," Proceedings of the First Arab Seismological Seminar, Seismological Unit of Scientific Research ("Sismicidade Histórica do Iraque," Anais do Primeiro Seminário Sismológico Árabe, Unidade Sismológica de Investigação Científica), Bagdade, Iraque, Dezembro de 1978; também Ganse e Nelson, p. 6.

28 O autor do livro de texto da Sociedade You Can Live Forever in Paradise on Earth (Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra; 1982), apresenta claramente estes 24 terramotos como sendo uma lista completa de terramotos maiores ao dizer que "desde o ano 856 E.C. até 1914, só ocorreram 24 terramotos maiores." (P. 151).

29 Happiness How to Find It (Felicidade Como Encontrá-la), 1980, p. 149; as mesmas estatísticas impressionantes foram publicadas outra vez na The Watchtower de 15 de Maio de 1983, p. 7 (quadro III).

30 Verney, p. 7. O sismólogo J. H. Latter estima que "um mínimo de cinco milhões de pessoas morreram como resultado de terramotos, e meio milhão como resultado de erupções vulcânicas desde 1000 A.D.." Mas ele acrescenta: "É provável que os números máximos estejam duas ou três vezes acima destes," isto é, 10-15 milhões desde 1000 A.D.. Isto significaria, em média, um máximo de 1.5 milhões por século. Advancement of Science [Avanço da Ciência], Junho de 1969, p. 362)

31 New York Times, 20 de Agosto de 1950. Compare com Awake! de 22 de Dezembro de 1960, p. 14.

32 Båth, p. 137. A revista Time de 1.º de Setembro de 1975, afirmou de modo similar: "Estima-se que durante a história registada, os terramotos -- e inundações, fogos e desmoronamentos que eles desencadearam -- tenham custado 74 milhões de vidas."

33 Encyclopedia Americana, 1966, "Earthquake" ("Terramoto"), página 498. Båth (página 141) tem o mesmo número, 100.000, na sua lista. O terramoto no Japão em 1923, que segundo a lista da Sociedade custou 143.000 vidas, matou 95.000 segundo a Encyclopedia Americana. Mas como foi mostrado por C. F. Richter (Elementary Seismology [Sismologia Elementar], página 562), que dá o número de mortos como sendo 99.331, outros 43.476 foram dados como desaparecidos. Portanto, o número total de mortos foi provavelmente cerca de 143.000. Num caso a Encyclepedia Americana apresenta um número consideravelmente maior do que a The Watchtower. Trata-se do terramoto em 1939, na Turquia, que a enciclopédia afirma ter custado cerca de 100.000 vidas, enquanto The Watchtower, como Båth, Ganse & Nelson, e outros sismólogos, apresenta o número de mortos como sendo 30.000.

34 Um relatório de Hong Kong estabeleceu primeiro erradamente o número de mortos em 655.237, do qual derivam as estimativas ocidentais de 650.000-800.000. Quando finalmente as autoridades chinesas, que inicialmente mantiveram todas as informações sobre a catástrofe secretas, deram informações sobre o terramoto, apresentaram o número total de mortos como sendo 242.000. ("Chinese Sesimological Society Report on July 28, 1976 Event" ["Relatório da Sociedade Seismológica Chinesa sobre o Acontecimento de 28 de Julho de 1976"], Dalian Meeting 1979 Xinhua News Agency. Compare com Ganse & Nelson, p. 70, 148, ref. 61.) O Dallas Times Herald (Mensageiro do Times de Dallas) de 3 de Setembro de 1983, resumiu a nova informação da seguinte forma: "Dados oficiais apresentam o número de mortos em Tangshan como sendo 148.000 com outros 81.000 gravemente feridos. Num triângulo mortal limitado por Tangshan, Peking e Tianjin, morreram aproximadamente outras 100.000 pessoas, elevando o número total de mortos para 242.000. Estimativas ocidentais indicaram um número de mortos tão alto como 800.000."

35 O Professor Båth, numa carta pessoal datada de 3 de Outubro de 1984, explica: "Um exemplo recente [de exageros] é o terramoto na China em 27/7, 1976 (página 149 na minha 'introdução'), para o qual Hong Kong (!) deu um número demasiado alto imediatamente a seguir ao terramoto. Muito mais tarde (de facto, demasiado tarde para ser incluído no meu livro) em relatório oficial chinês deu o número de vítimas como sendo 242.000, que agora é considerado o número correcto."

36 O Professor Båth, na sua carta de 3 de Outubro de 1984, indica que o número de mortos anual em terramotos durante o século vinte é, em média, 15.700 (ao contrário dos 25.300 da Sociedade).

37 Verney, página 7. A Awake! de 8 de Abril de 1981 também citou Robert I. Tilling, director do U.S. Geological Survey's Office of Geochemistry and Geophysics (Escritório dos E.U. de Investigação Geológica de Geoquímica e Geofísica), como tendo dito que existem "algumas sugestões indicando que tanto os vulcões como os terramotos estão a aumentar mundialmente." Contudo, o Professor Markus Båth, que é uma destacada autoridade em actividade sísmica, comenta "A afirmação de Tilling está errada. Não ocorreu nenhum aumento na actividade sísmica da terra." (Carta pessoal de 3 de Outubro de 1984.)

38 Scientific American (Americano Científico), Setembro 1950, p. 48. A citação pode ser encontrada, por exemplo, na Awake!, 8 de Março de 1956, pp. 7, 8; Awake!, 22 de Dezembro de 1960, pp. 14, 15; The Watchtower, 1961, p. 628; Awake!, 8 de Outubro de 1965, p. 16; e em Aid, 1971, p. 478. Em cada caso, a citação foi a única evidência apresentada de um aumento na actividade sísmica desde 1914!

39 Também se deve notar que a "nova fase" tinha aparecido, no máximo, em partes de três anos, desde 1948 até 1950, ano em que a informação foi publicada. É claro que a informação não podia mostrar se a "nova fase" continuaria depois de 1950. Esta era certamente uma evidência muito escassa para se basear nela tais afirmações alarmantes.

40 Existe evidência de se terem apercebido de que o artigo da Scientific American (Americano Científico) de 1950 começava a ter um aspecto de certa forma ultrapassado, que precisava de renovação. Assim, o dicionário Bíblico da Watch Tower Society, Aid to Bible Understanding (Ajuda ao Entendimento da Bíblia), publicado em 1971, fez uso desta citação de uma maneira incomum, que deu uma aparência ainda mais falsa, como se vê na seguinte citação: "Jesus predisse terramotos em grande número e magnitude como um aspecto do sinal da sua segunda presença. (Mat. 24:3, 7, 8; Marcos 13:4, 8) Desde 1914 E.C., e especialmente desde 1948, tem havido um aumento no número de terramotos, especialmente de grandes terramotos. Antes de 1948, eles ocorriam em vagas, com um período de acalmia entre uma vaga e a seguinte, mas desde então tem ocorrido um grande terramoto quase anualmente, para além de um grande número de pequenos terramotos. -- Veja The Encyclopedia Americana: Annuals, 1965-1967 (A Enciclopédia Americana, Anuais, 1965-1967), sob 'Earthquakes' ('Terramotos')" (Aid to Bible Understanding [Ajuda ao Entendimento da Bíblia], p. 178.) As declarações da Scientific American (Americano Científico) são repetidas literalmente neste dicionário, mas em vez de se referirem àquela revista (então com uns vinte anos) como sendo a fonte, refere-se The Encyclopedia Americana, Annuals of 1965-1967 (A Enciclopédia Americana, Anuais de 1965-1967), evidentemente para dar a esta "prova" um aspecto mais actual e para indicar que a fase de 1948-50 ainda persistia. Contudo, o problema é que esta enciclopédia não tem rigorosamente nada a dizer acerca de tal "nova fase" desde 1948, ou de qualquer aumento na actividade sísmica no nosso século! O leitor desprevenido e honesto das publicações da Watch Tower Society toma como certo que a nova fonte citada confirma a declaração sobre tal aumento. É muito improvável que ele vá verificar a fonte para ver se foi enganado. Esta maneira de fundamentar alegações está longe de ser honesta, especialmente porque as declarações são apresentadas como a única prova para o alegado aumento de terramotos depois de 1914.

41 Actividade sísmica elevada não se traduz necessariamente num número elevado de mortos. Como Båth (citado acima, veja nota de rodapé 11) sublinha, "Normalmente não existe nenhuma correlação clara entre a magnitude de um abalo e o número de pessoas mortas ou outra destruição." Só se a actividade sísmica se manifesta em áreas densamente povoadas pode haver um número elevado de mortos. Por isso, os sismólogos medem a actividade sísmica através de instrumentos, e não por relatórios de baixas.

42 John Milne & A. W. Lee, Earthquakes and Other Earth Movements (Terramotos e Outros Movimentos de Terra), sétima edição, Londres 1939, p. 134.

43 N. N. Ambraseys em Nature (Natureza), 6 de Agosto de 1971, pp. 375, 376.

44 Milne/Lee, p. 2; Verney, p. 50. Para o seu catálogo, Mallet juntou uma bibliografia de aproximadamente sete mil livros e panfletos.

45 Verney, p. 76.

46 Milne/Lee, p. 135. Booth/Fitch, p. 76.

47 Milne/Lee, p. 135.

48 Milne (1911; veja a nota de rodapé 9, acima), p. 655.

49 Milne (1911), pp. 655-658. A lista de Wong Wen-Hao para a China, compilada a partir de registos históricos, inclui 3.394 terramotos desde 1767 A.C. até 1896 A.D.! -- Comptes Rendus Congrès Géol. Interntl. XIII (Anais do XIII Congresso Geológico Internacional), Bélgica 1922, fasc. 2, Liege 1925. pp. 1161-1197.

50 Milne/Lee, pp. 137, 138.

51 Milne (1911), pp. 649-740. Milne/Lee, p. 138.

52 Milne (1911), p. 649.

53 Milne (1911), p. 651.

54 Robert A. Ganse e John B. Nelson, Catalog of Significant Earthquakes 2000 B.C.-1979 (Catálogo de Terramotos Significativos 2000 A.C.-1979), Boulder, Colorado, 1981, pp. 3-33. (Relatório SE-27 do World Data Center A for Solid Earth Geophysics [Centro de Dados Mundial A para Geofísica Sólida Terrestre].) A respeito do terramoto de Messina/Reggio, veja A. Imamura, Theoretical and Applied Seismology (Sismologia Teórica e Aplicada), Tóqui 1937, pp. 140, 202, 204, que diz que cerca de 83.000 pessoas morreram em Messina e c. 20.000 em Reggio. Outras fontes usadas são: N. N: Ambraseys em Revue pour l'étude des calamités (Revista para o estudo das calamidades), N.º 37, Genebra, Dezembro de 1961, p. 18f; J. H. Latter, "Natural Disasters," Advancement of Science ("Desastres Naturais," Avanço da Ciência), Junho de 1969, pp. 363, 370; N. N. Ambraseys & C. P. Melville, A History of Persian Earthquakes (Uma História dos Terramotos Persas), Cambridge 1982; R. A. Daly, Our Mobile Earth (A Nossa Terra Móvel), Nova Iorque & Londres, 1926; A. T. Wilson, "Earthquakes in Persia," Bulletin of the School of Oriental Studies, London Institution ("Terramotos na Pérsia," Boletim da Escola de Estudos Orientais, Instituição Londrina), Vol. VI (1930-32); Dr. A. Sieberg em Handbush der Geophysik (Manual de Geofísica; ed. Prof. B. Gutenberg), Vol. IV, Leipzig 1932; e James Cornell, The Great International Disaster Book (O Grande Livro Internacional de Desastres), Nova Iorque 1979. O número de mortos varia, e em muitos casos algumas fontes dão números consideravelmente maiores do que os apresentados na nossa tabela. Assim, o New Catalog of Strong Earthquakes in the U.S.S.R. from Ancient Times through 1977 (Novo Catálogo de Grandes Terramotos na U.R.S.S. desde Tempos Antigos até 1977; Relatório SE-31 do World Data Center A [Centro de Dados Mundial A], Julho de 1982) dá 200.000-300.000 mortes para o terramoto em Gansana, Irão, em 1139. Cornell (página 153) calcula que o número de mortos no terramoto de 1693 na Sicília tenha sido 153.000, e Sieberg (em Gutenberg, p. 854) tem 150.000 para o terramoto japonês em 1703. Para os dois terramotos que atingiram Tabriz no Irão em 1721 e 1780, as estimativas ascendem a 250.000 e 205.000, respectivamente. (Ambraseys/Melville, pp. 54, 184, 186) Dois outros terramotos relativamente recentes que podem ter sido "super terramotos" são o terramoto no Japão em 1855, que pode ter custado 106.000 vidas (Sieberg em Gutenberg, p. 854), e o terramoto em Kangra, Índia, em 1905, acerca do qual Cornell (p. 139) diz que "outros relatórios afirmam que aproximadamente 370.000 pessoas foram mortas na Índia Central quando várias aldeias foram completamente destruídas." Nenhum destes foi incluído na tabela.

55 O Professor Båth indica que "as áreas costeiras são visitadas por terramotos mais frequentemente, e que estas áreas sempre têm sido aquelas mais densamente povoadas." Assim, "não podemos contar com a população total na terra como uma pista para épocas anteriores" ao estimar o número total de vítimas de terramotos no passado. (Carta pessoal de 3 de Outubro de 1984.)

56 As fontes usadas para a tabela sobre os terramotos do século 18 incluem: o catálogo de Ganse & Nelson; Milne (1911), pp. 686-698; Robert Giffen em Journal of the Statistical Society (Jornal da Sociedade de Estatística), Vol. XLI, Londres 1878, pp. 442-444; Charles Davison, Great Earthquakes (Grandes Terramotos), Londres 1936; Akitune Imamura, Theoretical and Applied Seismology (Sismologia Teórica e Aplicada), Tóquio 1937; Richter (1958); Båth (1979), página 139; Booth & Fitch, p. 78; e Encyclopedia Americana: Annuals, 1956-67 (Enciclopédia Americana: Anuais, 1965-67), página 498. Se repararmos no facto de a população da terra ser hoje seis vezes maior do que no século dezoito (c. 750 milhões em 1770) e o número de vítimas em terramotos for visto como um rácio da população total, o século 18 ultrapassa largamente o século 20!

57 Milton/Lee, página 155.

58 Professor Båth, carta privada datada de 17 de Junho de 1983. Veja também Richter tal como citado antes, Natural History (História Natural), Dezembro de 1969, página 44, e Apêndice A.

59 Compare a tabela de Milne/Lee (pp. 232-235), Eiby (pp. 191-195), Båth (pp. 114-117), e as declarações de Verney (p. 77). Também Ganse & Nelson.

60 Milne/Lee, p. 156.



The Sign of the Last Days -- When? (O Sinal dos Últimos Dias -- Quando?) (Atlanta: Commentary Press, 1987) de Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst, pp. 124-156.




Capítulo 5: Alguns Fatos Notáveis Sobre as Guerras

Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst


Nenhuma pessoa sensível desejaria menosprezar a ameaça criada pela guerra moderna. A guerra aumentou em poder destrutivo durante os últimos quinhentos anos como consequência de uma série de avanços técnicos, que podem ser divididos em três fases:

1) A introdução da pólvora no campo de batalha no século catorze levou à substituição de arcos e bestas por armas de fogo no século quinze.

2) A próxima fase chegou no século dezoito com a Revolução Industrial. Com ela veio a invenção de numerosas armas novas e mais letais durante o século dezanove, como revólveres, metralhadoras, granadas de mão, minas terrestres e minas submarinas ("torpedos"). Todos estes e muitos outros tipos de novos meios tecnológicos de aumentar o poder da guerra foram usados, por exemplo, na Guerra Civil Americana (1861-1865). Este desenvolvimento continuou numa escala sempre crescente no nosso próprio século. As novidades em armamento mais importantes antes da II Guerra Mundial relacionavam-se com tanques, submarinos, e aviões, todos usados até certo grau na I Guerra Mundial, embora nesse tempo ainda estivessem em fase experimental.

3) O terceiro e mais dramático passo no desenvolvimento teve lugar em 1945, quando a primeira bomba atómica foi lançada sobre Hiroshima, e a humanidade entrou subitamente na Era Nuclear. Com este passo a raça humana pela primeira vez na história viu-se confrontada com o espectro da auto-destruição global.

Contudo, será que esta situação tem por consequência, como alguns pretendem, que o nosso século vinte é o período mais afectado por guerras na história humana? Permite identificar claramente o nosso tempo como sendo o "tempo do fim" mencionado na profecia bíblica?

Em The Late Great Planet Earth (O Falecido Grande Planeta Terra), o autor cita o moderno estado da guerra como evidência de que as palavras de Jesus em Mateus capítulo vinte e quatro têm cumprimento no nosso tempo. "A guerra aumentou grandemente em frequência e intensidade neste século," declara ele e refere-se às "lutas constantes no nosso globo" desde a II Guerra Mundial.1

O escritor Adventista Robert Pierson, acentuando que "tem havido guerras durante os últimos sessenta e cinco anos numa escala que este mundo nunca antes presenciou," vê estas como sinais do fim, com a profecia sendo cumprida de um modo único no nosso tempo.2

O Dr. Billy Graham, embora não se fixando em datas específicas, expressa de forma similar a crença de que a expressão de Jesus sobre guerras refere-se a alguma intensificação e escalada única da guerra. Falando dos 'sinais que parecem actualmente passar a estar em foco,' ele diz:

... um dos sinais mais importantes que Ele indicou foi o aumento da guerra.

A humanidade sempre teve guerras, mas nunca na escala que Jesus predisse em Mateus 24 e Revelação 6.3

As afirmações mais específicas, detalhadas e notáveis, contudo, são aquelas feitas pela Watch Tower Society (Sociedade Torre de Vigia), com uma importância tremenda atribuída à guerra que deflagrou na Europa em 1914. Eles apresentam isto como forte evidência de que Cristo voltou e "a terminação do sistema de coisas" começou naquele ano. Afirmam que Jesus, em Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 7, predisse a primeira guerra mundial como o acontecimento inicial do sinal de uma "presença invisível" desde 1914. Foi realmente 1914 o grande "ponto de viragem" na história como a Watch Tower Society pretende?

Que dizer de outras alegações impressionantes nas publicações da Watch Tower sobre o conflito de 1914-1918? Foi essa de facto a primeira guerra mundial da história? Rebentou realmente de forma completamente inesperada, pondo fim subitamente a uma longa era de paz? É verdadeira a alegação de que esta mesma guerra foi "sete vezes maior que todas as 901 maiores guerras dos 2.400 anos anteriores"?4 Por outras palavras, será que as estatísticas da Watch Tower Society correspondem aos fatos, ou foram os números "retocados" num esforço para fazer sobressair 1914 como sendo um ano marcado?
Predisse Jesus a Primeira Guerra Mundial?

Quando Jesus, em Mateus capítulo vinte e quatro, versículos 6, 7, predisse que haveria guerras, referiu-se depois a guerras mundiais? Contêm as suas palavras alguma afirmação sobre guerras que nenhuma geração anterior a 1914 viu cumprida nas guerras do seu próprio tempo?

A idéia que Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 7, aponta para a Primeira Guerra Mundial e as guerras que se seguiram é baseada na expressão "nação levantar-se-á contra nação, e reino contra reino."5 Acham que a linguagem indica que Jesus tinha em mente uma grande guerra, uma guerra na qual muitas nações e reinos estariam envolvidos: A Primeira Guerra Mundial! Deve-se notar, contudo, que no texto grego original as palavras para "nação" (éthnos) e "reino" (basileia) estão no singular. Concordemente, a Anchor Bible (W. F. Albright e C. S. Mann, Matthew [Mateus], 1971) diz: "Porque um povo levantar-se-á contra outro, um reino contra outro." (Veja-se também a tradução de J. B. Phillips, a edição revista de 1972.) Isto leva-nos a pensar em guerras em geral, não particularmente em "guerras mundiais" nem sequer necessariamente grandes guerras.

Isto é também confirmado pelo facto de Jesus ter construído a sua afirmação com termos tomados de expressões similares encontrados nas Escrituras Hebraicas ou Velho Testamento, por exemplo em Isaías capítulo dezanove, versículo 2 e Segundo Crónicas capítulo quinze, versículo 6. Nenhum destes textos trata, claro, de guerras mundiais. O primeiro deles refere-se até a uma guerra apenas dentro de uma nação, uma guerra civil:

E eu vou incitar egípcios contra egípcios: e lutarão cada um contra o seu irmão, e cada um contra o seu vizinho; cidade contra cidade, e reino contra reino.6

Que Jesus não usou a expressão "nação contra nação e reino contra reino" especialmente para se referir a guerras mundiais é também evidente pelo facto de que a descrição dele incluía as guerras e revoltas dentro do Império Romano que precederam e culminaram na destruição de Jerusalém e do seu templo em 70 A.D.. Até a Watch Tower Society concorda com isto, mas sustenta que as guerras e outras dificuldades que conduziram à destruição de Jerusalém em 70 A.D. foram um modelo profético dos problemas na terra desde 1914.7 A Sociedade, por essa razão, tenta retratar o período antes de 70 A.D. como um período particularmente violento e atribulado, repleto de guerras, revoltas, fomes e terramotos.

Mas a verdade é simplesmente que este período não foi pior nestes aspectos do que muitos outros períodos da história. De facto, o primeiro século da nossa era foi comparativamente um dos períodos mais pacíficos e sem perturbações da história! Foi parte do longo e bem conhecido período de paz chamado Pax Romana, que se estende do ano 29 A.C. até cerca de 162 A.D.. "Esta, a era da Pax Romana, foi talvez o período mais desprovido de acontecimentos da história militar," segundo os dois historiadores militares R. Ernest Dupuy e Trevor N. Dupuy.8 A interrupção mais importante neste período de paz veio das acima mencionadas revoltas dentro do Império Romano, que na Judéia provocaram a destruição de Jerusalém e do seu templo em 70 A.D.9

Consequentemente, nem nas próprias palavras nem nos acontecimentos subsequentes existe nada indicando que a expressão de Jesus sobre guerras vindouras em Mateus capítulo vinte e quatro, versículos 6 e 7 se refere em particular às guerras mundiais e outras grandes guerras que ocorreram desde 1914. As palavras dele ajustam-se a qualquer dos tipos de guerras entre estados e guerras civis que foram travadas ao longo da história e aquelas palavras foram obviamente proferidas como um aviso, para instruir os seus discípulos a não encarar tais calamidades como um "sinal" da sua vinda e do fim dos tempos. Que dizer, então, das alegações impressionantes de uma suposta mudança única e momentosa em 1914 como aquelas feitas pela Watch Tower Society?
Marcou a Primeira Guerra Mundial o "ponto de viragem" da história?

Quando Jesus voltar, "com poder e grande glória," a sua intervenção na história humana significará o término da presente era. Ele vem para lhe por fim. Os seus discípulos sabiam isso, e foi por essa razão que perguntaram pelo sinal que indicaria tanto a sua vinda como o término da era.10 A intervenção de Jesus para terminar esta era não será um caso de prolongamento. Na posse de "toda a autoridade ..... no céu e na terra," ele fará desmoronar rapidamente todo este sistema de coisas, e por isso ele comparou a sua intervenção futura com a vinda do dilúvio nos dias de Noé que apanhou subitamente as pessoas desprevenidas daquele tempo e rapidamente trouxe um fim à era então existente. "Assim será a vinda [em grego, parousía] do Filho do homem." (Mateus 24:37-39) De forma análoga, Jesus comparou a sua vinda com a destruição súbita da cidade de Sodoma nos dias de Ló, e acrescentou: "Da mesma maneira sucederá no dia que o Filho do homem for revelado." (Lucas 17:28-30) O verbo "revelar" (apokalúpto) é aqui usado claramente como um equivalente à "vinda" (parousía) em Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 39. Ambas as palavras se referem ao mesmo acontecimento: a vinda de Cristo para trazer o fim da presente era.

A vinda de Cristo e a terminação da presente era será de facto um grande ponto de viragem na história da humanidade. Quando a Watch Tower Society data a vinda de Cristo e o início do "término da era" de 1914 em diante, não é só obrigada a estender este "término" ao longo de toda uma vida (de 1914 até ao Armagedom, que é suposto ocorrer em breve), tornando-o assim um acontecimento muito longo em contraste com as próprias declarações de Jesus. É também obrigada a fazer o ano 1914 o grande ponto de viragem na história. Como prova para isto, a Sociedade cita frequentemente o que alguns historiadores, editores de jornais, e políticos disseram acerca da I Guerra Mundial e 1914. "Muitos historiadores apontam correctamente para aquele ano como sendo o ano pivot para a humanidade," afirmou The Watchtower de 15 de Outubro de 1980, página 14. É isto verdade?

Não, não é. É uma deturpação grosseira do que estes historiadores de facto disseram. Nenhum deles afirmou que 1914 foi o ano pivot para a humanidade. Os historiadores citados pela Watch Tower Society dizem que 1914 foi "um dos" pontos de viragem na história, "o ponto de viragem no nosso tempo," e assim por diante. Nenhum deles afirmou que 1914 foi o ponto de viragem na história. Nas suas citações a Sociedade sistematicamente não inclui o facto de os historiadores apontarem para muitos pontos de viragem na história diferentes, dos quais 1914 é apenas um. Este método de citar só aquelas partes que parecem apoiar o argumento deles pode ser seriamente deturpador, conforme é mostrado pelos exemplos seguintes.

A publicação "Let Your Kingdom Come" ("Venha o Teu Reino"; 1981) cita, entre outros, a historiadora Barbara W. Tuchman como afirmando o seguinte no seu livro The Guns of August (As Armas de Agosto; 1962): "A Primeira Guerra Mundial foi uma das grandes convulsões da história."11 Examinando a afirmação de Tuchman, contudo, descobrimos que a Sociedade decidiu não incluir uma importante parte. A afirmação completa dela é que, "tal como a Revolução Francesa, a Primeira Guerra Mundial foi uma das grandes convulsões da história."12 Porque é que a Watch Tower Society não repara nas palavras, "tal como a Revolução Francesa"? Evidentemente porque as pretensões únicas para 1914 teriam sido enfraquecidas por uma citação que colocava a Revolução Francesa em igualdade de circunstâncias com o conflito de 1914-1918. Os historiadores, de facto, sustentam que a Revolução Francesa foi um ponto de viragem na história ainda maior do que a I Guerra Mundial!

Na mesma página de "Venha o Teu Reino" a Watch Tower Society também cita a revista The Economist (O Economista) de 4 de Agosto de 1979, na qual o editor diz que, "Em 1914 o mundo perdeu uma coerência que não conseguiu recuperar desde então......." Mas é escondido do leitor que o editor no mesmíssimo artigo compara o período depois de 1914 com o período de 1789 a 1848, que foi tão instável, cheio de guerras, desordem e violência, como o nosso próprio tempo, e sugere que a história segue um padrão rítmico -- "Duas gerações de convulsões e violência, seguidas por mais duas gerações de consolidação e calma, seguidas por mais duas gerações de convulsões, seguidas por ..... ?" (Página 10) Então o que é que o editor realmente disse acerca do período desde 1914? Apenas que parece seguir o padrão cíclico geral da história no passado!

Existiram de facto muitos "pontos de viragem" e convulsões na história, e seria fácil encher muitas páginas com citações de historiadores para prová-lo. Alguns exemplos devem ser suficientes.

Sobre o declínio de Império Romano no quinto século:

Este período presenciou um dos maiores pontos de viragem da história mundial.13

Sobre a Revolução Industrial que começou por volta de 1780:

Seja qual for a apreciação este foi provavelmente o acontecimento mais importante na história mundial, em qualquer escala, desde a invenção da agricultura e das cidades.14

Sobre a Revolução Francesa no período 1789-1799:

A Revolução Francesa é o acontecimento mais importante na vida da Europa moderna. Merece ser colocada lado a lado com a Reforma e a ascenção do cristianismo porque, tal como esses acontecimentos, destruiu as referências do mundo no qual gerações de homens tinham passado as suas vidas.15

Até hoje, a meio do século vinte, não obstante tudo o que tem acontecido contemporaneamente a homens que ainda não são velhos, e até aqui na América ou em qualquer outra parte de um mundo no qual os países da Europa já não gozam da sua anterior posição de liderança, ainda é possível dizer que a Revolução Francesa no fim do século dezoito foi o maior ponto de viragem da civilização moderna.16

Sobre a guerra Russo-Japonesa de 1904-1905:

Psicológica e politicamente, a vitória do Japão na guerra assinalou um ponto de viragem na história mundial.17

Sobre o lançamento da primeira bomba atómica em Hiroshima em 1945:

Uma nova era na guerra e uma nova era na história despontou nos dias finais deste período: a era nuclear, anunciada pelo lançamento da primeira bomba atómica, em Hiroshima, em 6 de Agosto de 1945.18

Que a guerra mundial de 1914-1918 assinalou um dos muitos pontos de viragem na história mundial ninguém tentaria negar. Mas a questão é: Foi o ponto de viragem supremo que a Watch Tower Society quer fazer dela? Foi um tal ponto de viragem que os discípulos tinham em mente quando perguntaram a Jesus pelo sinal da sua vinda e do fim dos tempos? Tal conclusão nem pode ser tirada da resposta que Jesus deu à pergunta dos seus discípulos, nem das afirmações dos historiadores.
Será que a guerra de 1914-1918 "tirou a paz da terra" repentinamente?

Paz e segurança foram repentina e inesperadamente tiradas da terra em 1914, defende a Watch Tower Society, citando Revelação capítulo seis, versículo 4 sobre o cavaleiro no cavalo cor de fogo a quem "foi dada permissão de tirar a paz da terra de modo que se matassem uns aos outros." (NW) Visto que a sociedade sustenta que este cavaleiro começou a sua cavalgada mortífera na terra em 1914, tenta mostrar que a paz prevalecia na terra antes daquele ano, uma paz que repentina e inesperadamente foi "tirada" através do rebentar da guerra.

Para provar isto a Sociedade cita, não historiadores, mas um par de estadistas idosos e -- duas Testemunhas de Jeová! Os dois estadistas, Konrad Adenauer e Harold Macmillan têm sido referidos com frequência nas publicações da Watch Tower, já que na sua velhice recordaram a sua juventude como um tempo de paz, segurança, e optimismo, algo que "repentinamente, inesperadamente" desapareceu em 1914.19 A revista Awake! (Despertai!) também cita Ewart Chitty, que tinha 16 anos quando a guerra rebentou, e George Hannan, que tinha 15 anos naquele tempo. O sr. Hannan declara que "Ninguém esperava a I Guerra Mundial. [...] As pessoas tinham estado a dizer que o mundo se tinha tornado demasiado civilizado para a guerra. Mas a guerra mundial veio do nada, como um raio vindo do azul."20

Será que esta imagem do período anterior à guerra corresponde à realidade histórica, ou reflete simplesmente o hábito de muitas pessoas idosas de idealizar os "bons velhos tempos"? De onde podemos conhecer com maior exactidão os verdadeiros fatos sobre a era anterior à guerra: das memórias de infância de pessoas idosas, ou de um historiador que tenha estudado exaustivamente a época? Chitty e Hannan são ambos Testemunhas de Jeová de longa data, algo que a Awake! não menciona. Que a imagem que eles apresentam do período antes de 1914 concorde com aquela da Watch Tower é, por isso, pouco relevante. A declaração de Hannan segundo a qual "Ninguém esperava a I Guerra Mundial" deve ser comparada com o que o primeiro presidente da Sociedade, C. T. Russell, disse sobre isto 22 anos antes de a guerra rebentar. Em 1892, referindo-se ao medo e desassossego então no mundo, Russell explicou:

... os jornais diários e os semanários e mensários, religiosos e seculares, discutem continuamente as perspectivas de guerra na Europa. Reparam nas afrontas e ambições das várias nações e predizem que a guerra é inevitável num dia não muito distante, que pode começar a qualquer momento entre algumas das grandes potências, e que as perspectivas são que envolva todas elas.21

A verdade é que a grande guerra de 1914 não veio de maneira nenhuma como uma surpresa. Era virtualmente esperada por todos! O mundo tinha-se estado a preparar para a guerra por décadas, e as nações estavam armadas até aos dentes. Todos esperavam pela "faísca detonadora." No seu livro A History of the Modern World Since 1815 (Uma História do Mundo Moderno Desde 1815), os historiadores R. R. Palmer e J. Colton dizem:

Nunca tinham os Estados Europeus mantido exércitos tão grandes em tempo de paz como no princípio do século vinte .... Poucos queriam a guerra; todos excepto uns poucos escritores sensacionalistas preferiam a paz na Europa, mas todos tinham por certo que a guerra viria algum dia. Nos últimos anos antes de 1914 a idéia de que a guerra estava destinada a rebentar mais cedo ou mais tarde provavelmente fez alguns estadistas, em alguns países, mais dispostos a iniciá-la.22

Durante alguns anos o Pastor Russell e os seus seguidores partilharam até certo ponto estas expectativas. Mas eles nunca esperavam que a guerra viesse tão tarde como 1914. Em 1887, por exemplo, Russell, comentando o medo generalizado e a corrida aos armamentos na Europa, escreveu no número de Fevereiro da Zion's Watch Tower (Torre de Vigia de Sião):

Tudo isto parece indicar que o próximo verão veria uma guerra em andamento que poderia envolver todas as nações na Europa. (Página 2)

Quando isto não aconteceu, Russell expressou-se mais cautelosamente acerca das perspectivas de guerra. "Nós não as partilhamos," escreveu ele em 1892, "Isto é, não pensamos que as perspectivas de uma guerra europeia geral sejam tão acentuadas como é em geral suposto." Uma tal guerra não se encaixava no plano profético do Pastor Russell, que em vez disso vislumbrava anarquia mundial como estando destinada a ocorrer. Se uma guerra Europeia geral rebentasse, teria de vir muito antes de 1914. Assim, Russell disse:

Mesmo que uma guerra ou revolução rebente na Europa antes de 1905, não a poderíamos considerar parte das severas dificuldades preditas. No máximo poderia ser um prenúncio, uma mera 'escaramuça' quando comparada com o que está para vir.23

Acreditando que a anarquia mundial e a destruição de todos os governos humanos estaria completa antes de 1914 -- altura em que o clímax do Armagedom teria chegado e o Reino de Deus seria estabelecido na terra -- o Pastor Russell e os seus associados sustentaram por isso que a guerra na Europa por todos esperada tinha de vir muito antes daquela data, provavelmente "por volta de 1905," disse Russell.24

Foi aquilo que é agora conhecido como I Guerra Mundial realmente precedido por uma longa era de paz e segurança? É certamente verdade que o período de 1848 a 1914 foi de algum modo mais calmo quando comparado com as convulsões que tanto precederamcomo sucederam este período, um período que é algumas vezes chamado uma belle epoque, a "bela época". Mas este nome é enganador. Barbara W. Tuchman, uma historiadora de fama internacional, fez um estudo especial das décadas que precederam a I Guerra Mundial. No prefácio do seu estudo, que cobre o período 1890-1914, ela diz:



[imagem]

Conforme mostrado pela World Magazine (Revista do Mundo) de Nova Iorque, de 30 de Agosto de 1914, o fundador da Watch Tower, C. T. Russell, esperava que o Reino de Cristo acabaria com todos os Reinos terrenos em 1914. A predição obviamente falhou. As nações não só sovreviveram, triplicaram de número desde então. Contudo, porque a World Magazine -- no início da guerra -- anunciou de forma inexacta que "O terrível deflagar da guerra na Europa cumpriu uma extraordinária profecia," as publicações da Watch Tower têm-se referido repetidamente ao artigo. Contudo, quando eles finalmente imprimiram uma imagem do artigo na Awake!, o embaraçoso título, "END OF ALL KINGDOOMS IN 1914" ("FIM DE TODOS OS REINOS EM 1914"), foi omitido. Não foi senão 11 anos depois que imagem completa, com o título recolocado no lugar, apareceu na The Watchtower de 1.º de Abril de 1984. A organização não tinha predito a vinda da I Guerra Mundial, e o que tinha predito, o fim de todo o governo humano em 1914, provou-se falso. Apesar disso, o artigo foi ainda apresentado como favorável às suas pretensões acerca de 1914, pretensões que hoje são quase totalmente diferentes do que eram antes de 1914.





Este não é o livro que eu pretendia escrever quando comecei. Ideias preconcebidas cairam uma a uma à medida que eu investigava. O período não foi uma Idade de Ouro ou Belle Epoque a não ser para um pequeno segmento da classe privilegiada.... Fomos induzidos em erro pelas próprias pessoas daquele tempo que, olhando [continua na página 135]

para trás através do abismo da Guerra, vêem aquela metade das suas vidas coberta de névoa por um pôr do sol adorável de paz e segurança. Não parecia tão dourada quando eles estavam no meio dela. As memórias e a nostalgia deles condicionaram a nossa visão da era que antecedeu a guerra mas eu posso oferecer ao leitor uma regra baseada em pesquisa adequada: todos os comentários feitos por pessoas contemporâneas foram feitos depois de 1914.25

É verdade que a Europa tinha experimentado um dos seus períodos de paz mais longos antes de 1914. A Watch Tower Society cita um historiador europeu cujo nome não menciona, como tendo dito acerca de Agosto de 1914: "Durante os primeiros dias deste mês fatídico, um dos períodos mais pacíficos que o nosso continente já experimentou chegou ao fim."26 Mas isto é verdade apenas no que diz respeito à Europa, e deve-se notar que o mesmo continente tem experimentado um período de paz de aproximadamente a mesma extensão desde 1945!

A verdade é que, para o resto do mundo, guerras frequentes assolaram praticamente todo o lado antes de 1914. Diz o perito austríaco Otto Koenig:

Se, contudo, alguém começasse a falar sobre os bons velhos tempos, sobre o longo período de paz de c. 1871 até 1914, ele devia simplesmente abrir as páginas fechadas do livro da história: a Guerra Boer na África do Sul, a Rebelião Boxer na China, a Guerra Russo-Japonesa, a Rebelião Illinder na Macedónia, as Guerras Balcânicas e a ocupação da Bósnia, a guerra entre a Itália e a Abissínia, a rebelião Mahdi, a rebelião Herero na África do Sudoeste Alemã, as guerras entre os Berberes e os Franceses na Algéria, guerras na Indochina, revoluções na América do Sul -- e isto é só uma selecção de entre as guerras durante este longo 'período de paz'.27

Milhões de pessoas foram mortas nestas guerras. Certamente não foi uma época pacífica. Mesmo a assim chamada "paz" na Europa era apenas uma paz entre grandes potências. Outras guerras estavam sendo travadas na Europa, por exemplo as duas Guerras Balcânicas em 1912 e 1913, envolvendo a Bulgária, Sérvia, Grécia, Montenegro, Turquia e Roménia. Além disso, a "paz Europeia" não era de maneira nenhuma uma paz com segurança. Pelo contrário, era uma paz no medo -- medo da guerra que todos sabiam que viria. Os historiadores chamam geralmente a este período de paz Europeu "a era da paz armada."28

A situação de pré-guerra, naquele tempo, foi muito semelhante à situação que tem prevalecido na terra desde 1945: Uma geração de paz relativa na Europa, com numerosas guerras limitadas em muitas outras partes do mundo. Portanto, a alegação de que a I Guerra Mundial pôs fim a uma longa era de paz e segurança mundiais é falsa. A era anterior a 1914 estava cheia de medo, insegurança, violência e guerras tal e qual a maioria das outras época na história.
I Guerra Mundial -- a primeira "guerra mundial"?

"Nenhuma geração anterior àquela de 1914 alguma vez experimentou uma guerra mundial, muito menos duas," afirmou a Watchtower de 15 de Julho de 1983 (página 7). "Os historiadores concordam amplamente que a I Guerra Mundial foi a primeira guerra à escala mundial," afirmou a revista Awake! de 8 de Maio de 1981 (página 8). É isto verdade?

Não, não é. Os historiadores não "concordam amplamente" com esta afirmação. Que a I Guerra Mundial seja agora assim designada não significa que tenha sido, de facto, a primeira guerra mundial na história. Embora muitos hoje não se apercebam disso, as pessoas que passaram pelo conflito de 1914-18 chamaram-no simplesmente "A Grande Guerra." Foi quando ainda outra guerra mundial rebentou em 1939 que os termos "primeira" e "segunda" vieram a ser usados para distinguir um conflito do outro. Mas outras guerras antes de 1914 também tinham sido "guerras mundiais" exactamente no mesmo sentido que a I Guerra Mundial!

A "era das guerras mundiais" começou de facto cedo no século 18.29 Num período de 80 anos, ocorreram três guerras mundiais, e antes do fim desse século a quarta tinha começado! Estes fatos são sublinhados por muitos historiadores. Considere:

1. A Guerra da Sucessão Espanhola (1702-1713) na qual a França, a Grã-Bertanha, a Holanda e a Áustria figuravam de forma proeminente, com o conflito estendendo-se para a América do Norte, foi, segundo os historiadores Palmer e Colton , "a primeira que pode ser chamada uma 'guerra mundial,' porque envolveu o mundo ultramarino juntamente com os poderes dominantes na Europa."30

2. A Guerra dos Sete Anos (1756-1763) foi a segunda guerra mundial do século dezoito: "A Guerra dos Sete Anos foi uma guerra mundial num grau maior do que a Guerra da Sucessão Austríaca [1740-1748]."31 A extensão global deste conflito é atestada por todos: "Veio a envolver todos os quatro continentes do mundo e todos os grandes oceanos."32 Prússia, Áustria, Grã-Bertanha, França, Rússia, Suécia, Espanha e a maioria dos Estados Germânicos do Sacro Império Romano envolveram-se no conflito. Combatia-se pelo controlo da América no Norte e da Índia. Foi esta guerra que elevou a Grã-Bertanha à sua posição de liderança como potência imperial do mundo, em boa medida graças ao seu estadista e líder famoso, William Pitt. Pitt, que ascendeu ao poder em 1756, o mesmo ano em que a guerra deflagrou, granhou através da sua estratégia brilhante uma série de vitórias por todo o mundo. Montgomery, por isso, chama-o "um estratega da guerra mundial."33 Alguns historiadores consideram-no ainda maior que Churchill neste aspecto.

3. A Guerra da Independência Americana (1775-1783) foi a terceira guerra no mesmo século que é classificada como uma "guerra mundial" pelos historiadores: "A Guerra Revolucionária foi várias guerras numa só. Foi entre outras coisas uma guerra por independência nacional, uma guerra civil e no fim uma guerra mundial."34 Foi a derrota britânica em Saratoga em 1778 que transformou a guerra numa guerra mundial. "A derrota em Saratoga ... assinalou o princípio de uma guerra geral travada mundialmente," diz o historiador Piers MacKesy.35 A segunda parte do seu trabalho sobre a guerra, concordemente, tem o subtítulo: The World War 1778 (A Guerra Mundial 1778).36 O Visconde Montgomery, também, enfatiza esta mudança em 1778: "A guerra era agora outra guerra mundial."37

Um biógrafo historiador descreve a guerra desta forma:

... o que tinha começado como uma revolução Americana contra a Inglaterra explodiu numa guerra mundial. Frotas francesas e espanholas lutaram contra as inglesas no Canal Inglês, nas Índias Ocidentais e em Gibraltar. Os espanhóis capturaram a Florida Ocidental. A Rússia, a Dinamarca, a Suécia e a Prússia juntaram-se para quebrar o bloqueio inglês sobre a França e a Espanha. Também a Holanda enviou abastecimentos à França por mar, e forneceu a América tão abundantemente a partir das Índias Ocidentais que a Inglaterra lhe declarou guerra. As armadas dos dois países lutaram até à imobilização no Mar do Norte. A linha inglesa de navios e homens era agora muito esticada para envolver o globo.38

4. As Guerras Napoleónicas (1792-1815), um conflito multinacional que se seguiu à Revolução Francesa, foi a quarta guerra mundial que começou no século dezoito. Os historiadores Palmer e Colton explicam:

Convém pensar na luta de 1792 a 1814 como uma 'guerra mundial,' como de facto foi, afectando não só toda a Europa, mas sítios tão remotos como a América Espanhola, onde as guerras da independência começaram, ou o interior da América do Norte, onde os Estados Unidos compraram a Louisiana em 1803 e tentaram uma conquista do Canadá em 1812.39

Outros historiadores concordam em descrever as Guerras Napoleónicas como uma guerra mundial. O conhecido historiador e estadista norueguês Halvdan Koht chama a este conflito "uma guerra mundial de mais de vinte anos de duranção, travada em todos os continentes."40 E Cyril Falls, um professor de história da guerra, menciona as guerras principais que se seguiram às Guerras napoleónicas e comenta:

Nenhuma destas, contudo, foi uma guerra mundial do tipo das dos primeiros quinze anos do século dezanove [as guerras Napoleónicas durante 1801-1815] que tinham envolvido não apenas toda a Europa mas em menor grau todos os continentes do globo.41

Consequentemente, a afirmação da Watch Tower Society de que a I Guerra Mundial foi "a primeira guerra à escala mundial" é demonstravelmente falsa, como o é também a afirmação de que "nenhuma geração anterior àquela de 1914 alguma vez experimentou uma guerra mundial, muito menos duas." Os historiadores não "concordam amplamente" com semelhantes afirmações erradas, já que normalmente estão melhor informados. Antes pelo contrário, eles sabem que a "era da guerra mundial" começou no século dezoito, que presenciou três grandes guerras mundiais num período de oitenta anos (numa "geração" segundo a definição da Sociedade), com a quarta guerra mundial rebentando antes do fim do mesmo século!

Mas talvez a I Guerra Mundial tenha sido mais ampla, mais "global," do que as guerras mundiais que a precederam? Isto é afirmado na Watchtower de 1.º de Maio de 1984:

A primeira guerra mundial foi de longe a mais ampla e o conflito humano mais destrutivo até àquele tempo. (Página 4)

Infelizmente, esta pretensão também não é verdadeira. Em contraste com alguns dos conflitos mundiais anteriores, a I Guerra Mundial foi em grande parte limitada à Europa. O General Montgomery, que combateu tanto na I Guerra Mundial como na II Guerra Mundial e desempenhou um importante papel em ambas, explica:

Contudo, ao todo, pode-se dizer que a guerra fora da Europa foi de importância estratégica menor. A guerra de 1914/18 foi essencialmente uma guerra Europeia. Veio a ser chamada mais tarde um 'guerra mundial' porque contingentes de muitas partes do império Britânico serviram na Europa, e porque os Estados Unidos se juntaram às Potências da Entente em 1917. Mas na realidade, visto que o papel do poder naval foi principalmente passivo, esta foi menos uma 'guerra mundial' do que alguns conflitos anteriores como a Guerra nos Sete Anos.42

Comparando a I Guerra Mundial com a II Guerra Mundial, Montgomery acrescenta:

Enquanto que a guerra de 1914/18 dificilmente poderia ser chamada um conflito mundial, não podem haver tais dúvidas acerca da guerra trazida por Hitler em 1939.43

Tais considerações equilibradas e perspicazes feitas por um experiente e bem informado historiador e general militar de reputação mundial deviam ser pesadas contra as pretensões enormes e únicas que a Watch Tower Society liga à guerra de 1914-1918.
A primeira "guerra total"?

Mas não é verdade que a I Guerra Mundial foi a primeira guerra total? Esta é outra afirmação muitas vezes apresentada nas publicações da Watch Tower. Assim, o livro da Sociedade Raciocínios à base das Escrituras (1985) diz na página 419 que "Pela primeira vez, todas as grandes potências estiveram em guerra." E a revista Awake! de 8 de Maio de 1981, até citou The World Book Encyclopedia (A Enciclopédia Mundial do Livro) como tendo dito:

Na I Guerra Mundial, pela primeira vez na história, a humanidade veio a conhecer a guerra total. (Página 6)

O que não é dado a conhecer aos leitores, contudo, é que a maior parte dos historiadores não concorda com esta afirmação.

O que é uma "guerra total"? Em geral uma "guerra total" é definida como uma guerra na qual não apenas os militares mas também a economia e a indústria de uma nação estão mobilizadas para a guerra.44

A guerra total assim definida não começou com a I Guerra Mundial. Os historiadores militares R. Ernest Dupuy e Trevor N. Dupuy afirmam que a Guerra Civil Americana (1861-1865) foi a primeira guerra total nesta acepção:

Com as economias nacionais de ambos os lados completamente integradas nos seus esforços de guerra respectivos, a Guerra Civil Americana foi verdadeiramente a primeira guerra moderna, e a primeira guerra 'total' no sentido moderno.45

Apesar disto, parece que os historiadores identificam normalmente as Guerras Napoleónicas anteriores como a primeira guerra total. Montgomery, que concorda que a Guerra Civil Americana foi de facto "um exemplo de guerra total, implacavelmente conduzida," diz que a guerra total foi primeiro introduzida em 1793, quando os franceses, através da sua Lei de 23 de Agosto de 1793, "anunciaram a era da guerra total."46 E E. J. Hobsbawm, ao descrever a crise que se seguiu à Revolução Francesa, explica:

No decurso das suas crises a jovem República Francesa descobriu ou inventou a guerra total; a mobilização total dos recursos de uma nação através do recrutamento, racionamento e uma economia de guerra rigidamente controlada, e virtual abolição, no país ou no estrangeiro, da distinção entre soldados e civis.47

Também o professor de história Cyril Falls coloca a origem da guerra total nas Guerras Napoleónicas. Em A Hundred Years of War (Cem Anos de Guerra), ao discutir a II Guerra Mundial ele diz:

No aspecto político a guerra testemunhou um avanço adicional em direcção à "totalização," um processo que se pode dizer que começou nas Guerras Napoleónicas.48

Portanto, o que é chamado Primeira Guerra Mundial não pode ser caracterizado como marcadamente diferente de uma série de conflitos mundiais anteriores. Foi precedida por várias outras guerras mundiais e guerras totais. Mas, insiste a Watch Tower Society, foi muito maior do que todas as guerras anteriores, até mesmo 'sete vezes maior do que todas as principais guerras durante os 2.400 anos precedentes combinadas.' É isto correcto?
Quão "grande" foi de facto "A Grande Guerra"?

A necessidade de enfatizar a data de 1914 tem induzido a Watch Tower Society a exagerar a I Guerra Mundial até proporções completamente absurdas na mente das Testemunhas de Jeová. Que dizer da alegação, por exemplo, de que esta guerra foi "sete vezes maior do que todas as 901 guerras principais dos 2.400 anos anteriores" juntas?

Não existe a mais pequena ponta de verdade nesta declaração, como em breve se tornará evidente.

Declarações sobre o tamanho da guerra, o número de pessoas envolvidas, o número de baixas, e assim sucessivamente, muitas vezes variam consideravelmente. Não é difícil selecionar os números mais impressionantes dados por certos escritores, colunistas e políticos em vários livros e jornais, e criar assim a imagem de uma guerra que tem apenas uma semelhança remota com a realidade. É exactamente isto que a Sociedade tem feito com a I Guerra Mundial.

Para obter uma perspectiva tão clara quanto possível sobre a I Guerra Mundial e outras guerras que a precederam, devemos recorrer a historiadores e outros peritos que fizeram um estudo genuinamente profundo e científico das guerras ao longo da história. Um tal estudo científico das guerras tem sido feito desde 1930, e os dois pioneiros desse estudo são Lewis Richardson e Quincy Wright. Em anos mais recentes, o trabalho deles foi continuado por outros, como J. David Singer, Melvin Small e Francis A. Beer. A informação que se segue é tirada principalmente dos trabalhos deles, com alguma de outras fontes históricas merecedoras de confinaça.

Quantas nações participaram no conflito de 1914-1918? A publicação da Watch Tower Hapiness How to Find It (Felicidade Como Encontrá-la; 1980) cita um colunista de jornal como tendo dito que os países envolvidos na I Guerra Mundial abrangiam "mais de 90 porcento da população do mundo." (Página 146) Não é explicado, contudo, quantos destes países estiveram, ou, mais importante, precisamente de que maneira estiveram "envolvidos" na guerra. De forma semelhante, a Watchtower de 15 de Outubro de 1980, na página 15, afirma que a I Guerra Mundial "afectou quase todos os países da terra" -- mas nenhuma explicação é dada sobre como estes países foram "afectados."

Conforme afirmou o General Montgomery, a I Guerra Mundial foi "essencialmente uma guerra Europeia" e por isso "menos uma 'guerra mundial' do que alguns conflitos anteriores." Embora seja verdade que o número total de nações directa ou indirectamente envolvidas nela em certo momento foram 33 -- cerca de metade das nações então existentes -- a verdade é que a maioria destas tiveram um papel insignificante na guerra.

Assim, verificamos que as Forças Aliadas consistiam em 10 nações, as Potências do Eixo 4, o que dá 14 nações ao todo.49 Francis Beer enumera apenas 12 partidos no conflito, explicando numa nota de rodapé que "Esta lista exclui beligerantes não Europeus como a China, o Japão, a Tailândia, os Países da América Latina e também certos beligerantes Europeus mais pequenos como a Grécia, o Luxemburgo e Portugal, que desempenharam todos um papel relativamente menor na guerra."50 Singer e Small, que fornecem dados particularmente exatos, mostram que o número de partes beligerantes independentes foram quinze.51

Na sua extensão, portanto, a primeira guerra mundial certamente não foi maior -- e seguramente não foi "sete vezes maior" -- do que todas as guerras principais anteriores juntas durante mais de dois mil anos. O seu alcance não foi sequer maior do que as quatro "guerras mundiais" do século dezoito descritas anteriormente. Aquelas guerras internacionais anteriores estenderam-se para além de um único continente, como a Europa, num sentido muito real.

O aspecto mais assustador da I Guerra Mundial foi o número de mortos. Se, como se afirma, foi pior que as guerras anteriores em todos os aspectos, pareceria que também o foi no número de mortos. Quão "grande" foi a I Guerra Mundial neste aspecto, quando comparada com algumas das maiores guerras do passado?
Mortes na I Guerra Mundial comparada com guerras anteriores a 1914

De longe o aspecto mais grave da guerra é, obviamente, a morte. "As baixas dão às guerras a sua importância. É este aspecto da guerra que a torna muito semelhante a uma doença."52

Quantos foram mortos na I Guerra Mundial? 37.508.686 pessoas, afirma a revista Awake! de 22 de Fevereiro de 1961, páginas 6 e 7. A revista refere o World Almanac (Almanaque Mundial) de 1946 como a fonte desta informação.

A revista Awake! devia ter mencionado, contudo, que este número não se refere a mortes directamente atribuíveis ao combate, mas inclui os muitos milhões de pessoas que morreram de outras causas que não a guerra, como fomes e a gripe Espanhola!

Tanto assim que a revista Awake! de 8 de Outubro de 1983, página 12, praticamente reduz para metade o número acima mencionado, para cerca de 21 milhões (9 milhões de soldados e 12 milhões de civis.) Mas também este número é muito elevado. Um número anterior da Awake! (8 de Outubro de 1971, página 16), deu 14 milhões como sendo o número de mortos (9 milhões de soldados e 5 milhões de civis). Mesmo este número é provavelmente enganador.

Os quadros mais exatos mostram que entre 8 e 8.5 milhões de soldados foram mortos na guerra.53 O número de civis mortos varia muito. Dupuy e Dupuy dão o número como sendo 6.642.633, mas eles declaram explicitamente que este número inclui mortes de doenças epidémicas e má nutrição, mortes não directamente atribuíveis à acção militar.54 A tabela de Francis A. Beer apresenta 1.374.000 mortes civis, embora ele sublinhe que faltam números para alguns países.55

O número total dos que foram mortos como consequência directa da guerra -- soldados e civis -- foi, portanto, segundo as estimativas mais fiáveis, 10-12 milhões, talvez um pouco mais. Milhões morreram de outras causas durante o período da guerra, tais como má nutrição e doenças epidémicas, especialmente a gripe espanhola em 1918.

Que dizer então das guerras que ocorreram antes de 1914? Como é que estas se comparam com a I Guerra Mundial quanto ao número de baixas? Se, como as publicações da Watch Tower afirmam, a I Guerra Mundial foi "sete vezes maior" do que todas as grandes guerras dos 2.400 anos anteriores juntas, então pareceria que é deste aspecto, as mortes, que a comparação, antes de mais nada, tem de ser feita. Isto significaria que todas as 901 guerras principais anteriores a 1914 vitimaram apenas um sétimo dos 10-12 milhões que foram mortos na I Guerra Mundial, ou cerca de 1.5 milhões de vítimas ao todo! Ou, se incluirmos outras causas relacionadas com a guerra como fome e doença e tomarmos o número muito maior do World Almanac (Almanaque Mundial) de 1946, 37.508.686 pessoas mortas na I Guerra Mundial, ainda assim o número total dos mortos nas 901 guerras principais estaria limitado a apenas cerca de 5 milhões. Será que a evidência disponível fornece algum fundamento para tal ponto de vista?

As mortes nas guerras do passado não são, por razões óbvias, fáceis de estimar. Gaston Bodart, que fez um estudo cuidadoso das baixas nas guerras travadas nos últimos trezentos anos, observou:

Registos conscienciosamente compilados das perdas de vidas reais nos exércitos só são encontrados nos arquivos da maioria das potências militares depois da Guerra da Sucessão Espanhola, i.e. depois de 1714. Mesmo depois dessa data, dados fiáveis estão limitados às maiores batalhas, aos combates e sítios mais importantes. As perdas totais para cada guerra não foram compiladas senão depois de 1848.56

No que diz respeito às mortes civis, a situação é ainda mais difícil:

Registos oficiais deste tipo só têm sido mantidos pelos diversos Governos em tempos mais recentes, nenhuns até à segunda metade do século dezanove, e mesmo nos registos posteriores a 1850 existem grandes lacunas. Relatórios ou tabelas estatísticas têm, portanto, de ser praticamente limitados às perdas dos exércitos.57

Não há razão para pensar, contudo, que a percentagem de mortes civis em proporção com as perdas totais foi menor em guerras anteriores do que na I Guerra Mundial. Pelo contrário, foi frequentemente muito maior, como por exemplo nas Guerras dos Huguenotes, nas Guerras dos Camponeses (1524-1525), e na Guerra dos Trinta Anos.58

É realmente possível que apenas 5 milhões de pessoas tenham sido mortas como resultado das 901 guerras principais durante os 2.400 anos que precederam 1914? Para mostrar como esta ideia é completamente absurda, alguns exemplos de guerras dos séculos que precederam imediatamente 1914 são dados abaixo, cada uma das quais ceifou mais de um milhão de vidas, e em alguns casos vários milhões.

1. A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), um conflito internacional com cerca de 10 nações envolvidas, estima-se que tenha morto 2-3 milhões de soldados. As mortes civis, contudo, foram muito mais assustadoras, principalmente por causa das fomes e doenças causadas pela guerra.59 Hoje a maioria dos especialistas acredita que 30-40 porcento da totalidade da população alemã, ou 7-8 milhões de civis, morreram devido à guerra!60 Este é um número espantoso, ultrapassando em muito a mortalidade civil da I Guerra Mundial para esse país. O historiador R. R. Palmer observa que "até mesmo a Segunda Guerra Mundial, em despovoamento completo, não foi tão devastadora para a Alemanha como a Guerra dos Trinta Anos. É muito possível seres humanos morrerem como moscas sem o benefício da destruição científica. Os horrores da guerra moderna não são de todo diferentes dos horrores que homens e mulheres experimentaram no passado".61

2. A Guerra Manchu-Chinesa. Em 1644 a China foi invadida pelos manchus (da Manchúria), que começaram a conquistar o país numa longa guerra que se estima tenha ceifado 25 milhões de vidas -- cerca de duas vezes tantos quantos foram militarmente mortos na I Guerra Mundial!62 Os manchus governaram depois a China até 1912.

3. A Guerra da Sucessão Espanhola (1701-1714), uma guerra envolvendo 10 nações europeias e ainda colónias europeias noutras partes do mundo, causou "mais de um milhão" de baixas (mortos e feridos) nos exércitos, "dos quais pelo menos 400.000 sacrificaram as suas vidas."63 Mas as perdas civis devem ter sido muito mais pesadas. "Em nenhuma outra guerra existiram tantos cercos como na Guerra da Sucessão Espanhola," diz Bodart. "As perdas em cercos foram muito mais pesadas em ambos os lados do que nas batalhas, .... As mortes entre os habitantes de cidades sitiadas, as causadas por doenças levadas por exércitos, as dos Camisards, e finalmente da fome que se seguiu a este duelo até à morte, devem ter atingido um número enorme. Estatísticas sobre estes pontos, contudo, infelizmente são totalmente deficientes."64 Mesmo uma estimativa conservadora colocaria o número total de mortos em mais de um milhão.

4. A Guerra dos Sete Anos (1756-1763), travada ao redor de todo o mundo, provavelmente custou um milhão de vidas só nos exércitos. A França perdeu cerca de 350.000 soldados e as baixas austríacas foram cerca de 400.000 (mortos e feridos). As perdas Prussianas foram "indubitavelmente mais pesadas."65 Centenas de milhares de outros morreram nos exércitos de outras nações e entre os civis.

5. As Guerras Napoleónicas (1792-1815) envolveram aproximadamente o mesmo número de nações que a I Guerra Mundial. Estima-se que a França perdeu cerca de 2 milhões de vidas nestas guerras, metade das quais foram perdidas no período do Primeiro Império, 1805-1815.66 Estima-se que durante estes últimos onze anos 2 milhões de soldados morreram no conflito.67 O número total de mortos nos 23 anos de 1792 até 1815 está fixado em 5 ou 6 milhões!68

6. A Rebelião de Taiping (1850-1864), "talvez a guerra mais destrutiva de todo o século dezanove."69 Esta foi uma guerra civil na China que geralmente se diz ter ceifado 20-30 milhões de vidas.70 Em relação com esta guerra a revista Awake! aparentemente não reparou na sua afirmação anterior de que a I Guerra Mundial excedeu todas as guerras anteriores em poder destrutivo. Um artigo no seu número de 22 de Março de 1982, tentando clarificar o envolvimento da religião na guerra, disse que o número de vítimas foi "possivelmente 40 milhões," isto é, aproximadamente quatro vezes tantos quantos foram mortos directamente pela I Guerra Mundial!71 Esta guerra por si só demonstra que a I Guerra Mundial não foi "a guerra mais sangrenta da história" até àquele tempo, como tem sido algumas vezes afirmado. A razão porque alguns historiadores fazem semelhante afirmação infundada é, como E. J. Hobsbawm explica, que a Rebelião de Taiping "tem sido ignorada por historiadores eurocêntricos."72

7. A Guerra de Lopez (1864-1870), na qual o Paraguai lutou contra a Argentina, o Uruguai, e o Brasil, custou mais de 2 milhões de vidas. A guerra "reduziu a população Paraguaia de aproximadamente 1.400.000 para 221.000," isto é, 84 porcento! Os outros três países "estima-se que tenham perdido 1 milhão de homens."73

Comparem-se as mortes de apenas estas sete guerras, conforme vistas neste quadro, com aquelas da I Guerra Mundial:



Conflito
Estimativa do Número de Mortos
A Guerra dos Trinta Anos
9-11 milhões
A Guerra Manchu-Chinesa
25 milhões
A Guerra da Sucessão Espanhola
c. 1 milhão
A Guerra dos Sete Anos
1-2 milhões
As Guerras Napoleónicas
5-6 milhões
A Rebelião de Taiping
20-40 milhões
A Guerra de Lopez
2 milhões
Estimativa do total de mortes
63-87 milhões
Estimativa do n.º de mortos na I Guerra Mundial
37,5 milhões


Pode-se ver que a mortalidade apenas nestas sete guerras é aproximadamente o dobro do número das 37.500.000 mortes relacionadas com a guerra citado antes. E ultrapassa muitas vezes o número de 10-12 milhões de mortes directamente causadas pela I Guerra Mundial. Deve-se notar que estas grandes guerras dos três séculos que precederam imediatamente 1914 são apenas alguns dos exemplos mais importantes; a lista de guerras anteriores que causaram um milhão ou mais de mortes poderia ser consideravelmente ampliada.74 Estes poucos exemplos, contudo, são suficientes para mostar quão ridícula é a ideia de que apenas 5 milhões (ou, pior, 1.5 milhões) de pessoas morreram nas principais guerras dos 2.400 anos anteriores a 1914. A verdade é simplesmente esta: centenas de milhões de pessoas morreram nas guerras durante esse período!

Resumindo, o conflito de 1914-1918 (I Guerra Mundial) foi principlamente uma guerra europeia, na qual cerca de quinze, ou cerca de um quarto das nações então existentes na terra, participaram activamente. Não foi mais extensa em alcance do que várias guerras anteriores e de facto foi até menor do que várias destas, como as Guerras Napoleónicas de 23 anos de duração, nas quais metade das nações então existentes na terra tiveram parte activa.

Cerca de 90 porcento dos 10-12 milhões de vítimas directas da guerra de 1914-1918 foram europeus. Outros conflitos anteriores, como a Guerra dos Trinta Anos, tiveram número de mortes comparável. A Guerra Manchu-Chinesa teve o dobro desse número de mortes e a Rebelião de Taiping cerca de três vezes esse número.

A guerra foi travada principalmente com armas convencionais. Tanques, submarinos, e aviões (aparentemente usados pela primeira vez na Primeira Guerra Balcânica, 1912-1913) ainda estavam em fase experimental e desempenharam um papel pouco importante na guerra. A metralhadora -- uma arma desenvolvida no século anterior e usada em várias guerras anteriores (por exemplo, na Guerra Civil Americana) -- foi responsável por 80-90 porcento das baixas. O transporte em terra ainda foi feito principalmente por cavalos, como em guerras anteriores.

O conflito de 1914-1918 não foi a primeira guerra total na história, nem foi a primeira guerra mundial. De facto, segundo o Marechal de Campo Montgomery, porque foi essencialmente uma guerra Europeia, é até questionável se merece ser classificada como um conflito mundial.

Seja qual for o modo, portanto, pelo qual a guerra de 1914-1918 é avaliada -- pelo seu alcance, duração, número de nações envolvidas, combatentes, ou baixas -- a afirmação de que foi sete vezes maior do que todas as guerras principais dos 2.400 anos anteriores juntas é obviamente pura ficção. Está tão longe da verdade que é inacreditável que alguém -- se fez um exame cuidadoso dos dados históricos -- possa ter seriamente ou honestamente feito semelhante afirmação.
É o nosso século o mais afectado por guerras na história?

A II Guerra Mundial foi, inquestionavelmente, muito maior que a I Guerra Mundial em todos os aspectos e acabou com o uso de armas nucleares. No entanto, tem sido seguida por um período de quarenta anos no qual não se repetiu o uso de tais armas. Outras guerras foram travadas mas não foram excepcionais quando comparadas com muitas das maiores guerras de gerações passadas.

É verdade que a ameaça de uma guerra que poderia exterminar a maior parte da humanidade existe obviamente hoje. Contudo, meramente a ameaça ou possibilidade de tal guerra não cumpre em si mesma nenhuma suposta profecia sobre guerras no nosso século vinte ou especificamente na geração de 1914. O que é que aconteceu realmente?

De 1816 a 1965 o número de nações independentes na terra quintuplicou, de 23 em 1816 para 124 em 1965.75 Este desenvolvimento multiplicou, é claro, as perspectivas de um aumento no número de guerras internacionais e civis, especialmente porque a população mundial quadruplicou durante o mesmo período. O que revelam os fatos? Temos visto um aumento notável no número de guerras neste século?

Aqueles que proclamam que um "sinal" marca claramente o nosso século vinte transmitem a ideia que o mundo de hoje é imensamente mais propenso a guerras do que no passado. The Late Great Planet Earth (O Falecido Grande Planeta Terra) afirma (página 147) que "A guerra tem aumentado grandemente em frequência e intensidade neste século." O autor cita o US News and World Report (Notícias dos Estados Unidos e Relatório Mundial) de 25 de Dezembro de 1967, como tendo dito:

Desde a II Guerra Mundial existiram 12 guerras limitadas no mundo, 39 assassinatos políticos, 48 revoltas pessoais, 74 rebeliões por independência, 162 revoluções sociais, quer políticas, económicas, raciais ou religiosas.

Tal como Hal Lindsey, a Watch Tower Society acha que tem havido um aumento tremendo na frequência das guerras no nosso século. A Watchtower de 1.º de Abril de 1983, página 3, cita o colunista de jornal James Reston como tendo dito que o nosso século viu 59 guerras entre Estados e 64 guerras civis, ou 123 guerras ao todo.

Mais adiante no mesmo número, contudo, é afirmado que "Mais de 130 guerras internacionais e civis têm sido travadas desde o fim da II Guerra Mundial." (Página 7).

Dois anos antes, na Awake! de 8 de Maio de 1981, foi afirmado que 150 guerras tinham sido travadas desde o fim da II Guerra Mundial. (Página 8)

Mas esse recorde foi quase duplicado pela publicação de 1985 Raciocínios à base das Escrituras que citou o Almirante retirado Gene La Roque declarando que 270 guerras têm sido travadas desde o fim da II Guerra Mundial! (Página 420)

Certamente que não é inapropriado perguntar: Qual é a verdade?

Para achar uma resposta para essa pergunta, é necessário primeiro responder a outra: O que é guerra? Será que qualquer conflito armado entre duas ou mais nações é uma guerra, não importando quão pequenas sejam as forças armadas, quão poucos sejam mortos? Será que qualquer tumulto armado dentro de um país é uma guerra civil? Obviamente, o número de guerras durante um certo período está dependente de como é definida guerra.

Para poderem fazer uma comparação que tenha sentido entre guerras hoje e no passado, os investigadores da guerra tiveram de dar algum tipo de definição de guerra. Quincy Wright definiu guerra como um conflito que tenha envolvido pelo menos 50.000 combatentes.76 Ele descobriu que pelo menos 284 guerras deste tipo ocorreram desde 1480 até 1964, ou cerca de 60 guerras por século em média.77 Curiosamente, contudo, apenas 30 guerras deste tipo foram travadas no século vinte até 1964. Segundo a definição citada, é claro que não existe um aumento no número de guerras no nosso século comparado com séculos anteriores; a indicação é para um decréscimo.78

Wright também sublinha que, apesar de as guerras se terem tornado cada vez mais destrutivas no nosso século, não só decresceram em número como também em duração.79

Outros investigadores da guerra confirmam esta tendencia. Singer e Small, que limitam a sua discussão a guerras internacionais (isto é, guerras entre nações, em contraste com guerras civis), define tal guerra como um conflito no qual pelo menos uma das nações participantes é uma nação independente e que cause pelo menos 1.000 mortes no campo de batalha.80 Durante os 150 anos de 1816 até 1965, Singer e Small contaram 93 dessas guerras internacionais. Destas, 35 ocorreram durante o primeiro período de 50 anos (1816-1864), 33 durante o segundo (1864-1913), e 25 durante o terceiro período de 50 anos (1914-1965). De novo, uma tendencia claramente decrescente!81 Esta tendencia decrescente na frequência da guerra é ainda discernível, mesmo se as principais guerras civis durante o período forem incluídas, como Beer observa.82

Esta tendencia decrescente na frequência da guerra tem sido particularmente manifesta na Europa, que tem tido nos séculos dezanove e vinte menos de metade do número de guerras que teve em séculos anteriores.83 Desde o fim da II Guerra Mundial a Europa tem tido toda uma geração de paz, que é um dos períodos de paz mais longos da sua história!
Desempenha hoje a guerra um papel maior e mais destrutivo na vida humana do que em gerações passadas?

Sem dúvida, a maioria das pessoas hoje responderia sem hesitar na afirmativa a essa pergunta. Mas os investigadores da guerra não têm assim tanta certeza. Alguns, como o analista da guerra Wright, declaram que "a guerra tem-se tornado cada vez mais destrutiva e dilacerante" no nosso século, e o colunista James Reston descreve o nosso século como "o século mais sangrento na história da raça humana," embora os números que ele apresenta não provem isso.84 Um facto que tem de ser tomado em consideração, contudo, é que declarações deste tipo têm sempre referências a baixas na guerra em números absolutos, não relativos. Isto é, eles não tomaram em consideração o facto de tanto o número de pessoas como o número de nações ter duplicado muitas vezes nos três séculos passados.

Em vista disto, a verdadeira questão é: Têm as guerras e as vítimas das guerras aumentado no nosso século em proporção ao número crescente de nações e pessoas na terra? Desempenha a guerra um maior papel na vida da humanidade em geral hoje? Tem o número de mortos aumentado como percentagem da população total?

O papel desempenhado pelas guerras na história passada da humanidade tem sido muito maior do que muitas pessoas imaginam. "Segundo calculado pela Academia Norueguesa de Ciências em 1969, o mundo conheceu apenas 292 anos de paz desde 3600 A.E.C., ao passo que foram travadas 14.531 guerras," declarou a The Watchtower de 1.º de Abril de 1983 (página 3). Por alguma razão, o número mais assutador do cálculo foi deixado de fora. Segundo este mesmíssimo relatório, mais de 3.6 biliões (3.640.000.000) de pessoas foram mortas nessas 14.531 guerras! Contudo, o cálculo referido não foi feito pela Academia Norueguesa de Ciências. Originou-se com Norman Cousins, presidente do conselho editorial da Saturday Review (Revista de Sábado), que o publicou no St. Louis Post-Dispatch (Expedição de Correio de St. Louis) de 13 de Dezembro de 1953. Embora ele tenha declarado explicitamente que o seu cálculo era especulativo, tem sido muitas vezes citado como um relatório científico.85 Mas esse relatório pode não estar longe da verdade.

Recentemente, Francis Beer tentou verificar os números de Cousin. No geral, o seu estudo confirma as estimativas de Cousin. Beer conclui que "existem mais de 14.000 guerras maiores e menores e 3.500 guerras maiores no mundo desde 3600 A.C." Quanto a baixas, ele diz: "A nossa evidência consequentemente sugere menos de 1 bilião de mortes directas nas maiores guerras mundiais desde 3600 A.C."86 A este número têm de ser adicionadas mortes civis, incluindo mortes indirectamente devidas a guerras, que provavelmente triplicam o número para cerca de 3 biliões.87

Isto atesta a verdade de que a história da raça humana na sua globalidade, em todas as épocas, é marcada quase constantemente por guerras numa área ou outra e por um fluxo contínuo de sangue humano derramado em tais conflitos.

Ainda assim, a The Watchtower de 1.º de Abril de 1983, página 7, alega que "os historiadores registaram anos de paz anteriores a 1914" mas "não tem havido nenhum depois disso." O objectivo da afirmação é, claro, "provar" que a paz foi tirada da terra em 1914, em cumprimento de Revelação capítulo seis, versículo 4.88

O problema é que esta afirmação não tem suporte da parte dos investigadores da guerra.

A pesquisa de Beer mostra que existiram apenas 52 anos de paz de 1480 até 1965, ou pouco mais de 9 por cada cem anos. Oito destes 52 anos de paz caem dentro do período de meio século depois de 1914. Como Beer sublinha, "A tendencia geral de difusão da paz e concentração da guerra implica mais paz e menos guerras hoje -- menos paz e mais guerras no passado."89

Num século que viu duas "guerras mundiais" destrutivas, que tem visto o desenvolvimento tecnológico explodir numa série de novas armas de extermínio, mais mortais, e num tempo que testemunha uma corrida aos armamentos assustadora, pode ser difícil acreditar que a guerra e o seu efeito real na raça humana permanece essencialmente o mesmo que em séculos passados. O número de mortos nas guerras no nosso século é admitidamente assutador.90 Mas esse também foi o caso no passado. A verdadeira questão é: Pode ser dito correctamente que uma maior percentagem da população tem morrido em guerras no nosso século do que em séculos anteriores?

Os investigadores da guerra reconhecem que é impossível provar que quer a guerra quer a mortalidade devida à guerra têm realmente aumentado no nosso século. Mesmo peritos que tendem a acreditar que assim é são forçados a admitir que uma tal conclusão é uma hipótese não provada. Francis Beer, que, não obstante as suas afirmações citadas anteriormente, acha que tem havido uma tendencia para aumento no nosso século, escreve:

Temos de ser cuidadosos e recordar que esta hipótese não foi realmente confirmada, e que pode realmente não haver nenhuma tendencia. Improvável como possa parecer, pode não ter havido nenhuma mudança significativa ao longo do tempo na incidência da paz, da guerra e das baixas provocadas pela violência. Paz e guerra podem ocorrer quse tão frequentemente e durar tanto como sempre duraram; as baixas também podem ser muito comparáveis ao que sempre têm sido.91

Provavelmente o exame mais preciso e minucioso desta questão é aquele publicado por Singer e Small. Eles resumem as suas conclusões da seguinte maneira:

Está a guerra a aumentar, como muitos peritos e leigos da nossa geração têm estado inclinados a pensar? A resposta parece ser uma negativa sem ambiguidade nenhuma. Quer olhemos para o número de guerras, a sua severidade ou magnitude, não existe nenhuma tendencia significativa para cima ou para baixo ao longo dos últimos 150 anos. Mesmo se examinarmos as suas intensidades, descobrimos que guerras posteriores não são muito diferentes daquelas de períodos anteriores.92

Sejam quais forem as afirmações ou contra-afirmações feitas, uma coisa devia certamente ser muito clara para nós: a declaração de Jesus sobre guerras tem visto cumprimento -- mas não só neste século vinte nem só desde 1914 ou desde 1948. Tem-se cumprido em todas as gerações desde os seus dias e até ao presente.

Ele nada disse sobre "intensidade," "escalada," ou sobre a "ameaça" de algum holocausto de proporções globais. A sua declaração simples foi que haveriam guerras e rumores de guerras, com nação levantando-se contra



O QUE OS HISTORIADORES DIZEM ACERCA DAS GUERRAS HOJE E NO PASSADO

"A Guerra Mundial, 1914-1918, é encarada por muitos como tendo atingido um novo máximo em trazer desastre e miséria às partes da Europa nas quais o combate foi mais violento. Mas as guerras deste período [aqui falando dos séculos dezasseis e dezassete] foram até mais devastadoras -- provavelmente nada tão terrível como a Guerra dos Trinta Anos na Alemanha (1618-1648) foi alguma vez experimentado." -- Leo Huberman, Man's Worldly Goods (Os Bens Seculares do Homem; Nova Iorque e Londres, 1968), p. 100.

"Até a Segunda Guerra Mundial, em despovoamento completo, não foi tão devastadora para a Alemanha como a Guerra dos Trinta Anos." -- Historiador R. R. Palmer, A History of the Modern World (Uma História do Mundo Moderno; Nova Iorque, 1952), p. 133.

"A guerra de 1914/18 foi essencialmente uma guerra europeia. Veio a ser chamada mais tarde uma 'guerra mundial' porque contigentes de muitas partes do império Britânico serviram na Europa, e porque os estados Unidos se juntaram às Potências da Entente em 1917. Mas na realidade, visto que o papel do poder naval foi principalmente passivo, esta foi menos uma 'guerra mundial' do que alguns conflitos anteriores como a Guerra dos Sete Anos." -- Marechal-de-Campo Visconde Montgomery de Alamein, A History of Warfare (Uma História da Guerra; Londres, 1968), p. 470.

Sobre Genghis Khan: "Quando ele marchava com a sua horda, era sobre graus de latitude e longitude em vez de milhas: cidades no seu caminho eram frequentemente obliteradas, e rios desviados do seu curso; desertos eram povoados com os fugitivos e os mortos, quando ele passava, lobos e abutres eram muitas vezes as únicas coisas vivas em terras antes populosas. Esta destruição da vida humana deixa perplexa a imaginação moderna -- embora enriquecida com os conceitos da última guerra europeia." -- Harold Lamb, Genghis Khan, the Emperor of All Men (Genghis Khan, O Imperador de Todos os Homens; Londres, 1929), pp. 11, 12.

"Improvável como possa parecer, pode não ter havido nenhuma mudança significativa ao longo do tempo na incidência da paz, da guerra e das baixas provocadas pela violência." -- Francis Beer, Peace Against War (Paz Contra Guerra; São Francisco, 1981), pp. 46, 47.

"Está a guerra a aumentar, como muitos peritos e leigos da nossa geração têm estado inclinados a pensar? A resposta parece ser uma negativa sem ambiguidade nenhuma. Quer olhemos para o número de guerras, a sua severidade ou magnitude, não existe nenhuma tendencia significativa para cima ou para baixo ao longo dos últimos 150 anos." -- J. David Singer e Melvin Small, The Wages of War 1816-1965. A Statistical Handbook (Os Custos da Guerra 1816-1965. Um Guia Estatístico; Nova Iorque, Londres, Sidnei, Toronto, 1972), p. 201.

"Até hoje, a meio do século vinte, não obstante tudo o que tem acontecido contemporanamente a homens que ainda não são velhos.... Ainda é possível dizer que a Revolução Francesa no fim do século dezoito foi o maior ponto de viagem da civilização moderna." -- Historiador R. R. Palmer no Prefácio de The Coming of the French Revolution (O Aparecimento da Revolução Francesa; Princeton, 1947), p. v. de George Lefebvre.





nação e reino contra reino. Isto tem acontecido repetidamente ao longo da história humana. Adicionar algum outro factor ou injectar algum significado diferente nas suas palavras nada mais é do que especulações ou invenções humanas.

Todas as tentativas para limitar as palavras de Jesus a respeito de guerras como aplicando-se apenas a este século vinte estão, portanto, condenadas ao fracasso, pois as alegações feitas são contrariadas pela evidência estabelecida e sobrepujante da história, do seu tempo até ao nosso.

Notas

1 Hal Lindsey, The Late Great Planet Earth (O Falecido Grande Planeta Terra), p. 147.

2 Robert H. Pierson, Good-bye, Planet Earth (Adeus, Planeta Terra), pp. 8, 11-15.

3 Billy Graham, Approaching Hoofbeats, The Four Horsemen of the Apocalypse (Passos que se Aproximam, Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse), pp.127, 128.

4 Esta afirmação, citada (evidentemente sem primeiro verificar a sua exactidão) de uma curta notícia da revista Collier's de 29 de Setembro de 1945, tem sido repetida com frequência nas publicações da Watch Tower. Veja-se por exemplo The Watchtower (A Sentinela) de 15 de Outubro de 1975, página 633, também 15 de Abril de 1982, página 8, e You Can Live Forever in Paradise on Earth (Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra; 1982), página 150.

5 Em tempos a Watch Tower Society sustentou que as "guerras e relatos de guerras" mencionados no versículo 6 referiam-se às guerras que ocorreram antes da I Guerra Mundial, enquanto que o versículo 7 descreve a I Guerra Mundial e outras grandes guerras desde 1914. (From Paradise Lost to Paradise Regained [ Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado] , 1958, pp. 178, 179.) Mas os dois versículos não podem ser separados um do outro desta maneira, já que a palavra "porque" (em grego gar) no versículo 7 mostra claramente que este versículo é simplesmente uma explicitação do versículo precedente! A ideia é: "Ouvireis falar de guerras e rumores de guerras, mas não fiqueis atemorizados acreditando que o fim está a chegar. Porque haverão muitas guerras e outras tribulações," etc. A Sociedade apercebeu-se depois que os dois versículos se referem ao mesmo tipo de guerras. Assim, The Watchtower de 15 de Janeiro de 1970 admite: "Ao acrescentar que nação levantar-se-ia contra nação e reino contra reino, Jesus está a explicar porque é que eles ouvirião falar de guerras e relatos de guerras." (Pp. 43 e 44) Este ponto de vista é ainda mantido na The Watchtower de 1.º de Abril de 1983, onde se afirma na página 4 que Jesus, no versículo 7, "passou a explicar" o que tinha acabado de dizer no versículo 6. Isto é de facto correcto -- mas a consequência para a Watch Tower Society é que é forçada a aplicar, de forma artificial, ambos os versículos às guerras desde 1914!

6 Isaías 19:2, ASV. A profecia de Isaías foi evidentemente cumprida nas últimas décadas do oitavo século e primeiras décadas do sétimo século A.C., quando o Egipto se dividiu em vários "reinos" ou províncias mais pequenos, governados por reis locais frequentemente em guerra uns com os outros, até que os reis etíopes da 25.ª Dinastia tomaram finalmente o controlo do país.

7 Veja-se o livro God's Kingdom of a Thousand Years Has Approached (Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos; 1973), capítulo 16. The Watchtower de 1.º de Maio de 1975, admite que "a expressão de Jesus 'nação contra nação e reino contra reino' também teve uma aplicação no primeiro século, portanto não se limita a guerras mundiais." (Página 274)

8 R. Ernest Dupuy e Trevor N. Dupuy, The Encyclopedia of Military History (A Enciclopédia de História Militar; Nova Iorque, 1970), página 122.

9 A revolta judaica contra Roma foi parte de uma rebelião mais geral que se espalhou por todo o Império Romano e que culminou no ano que se seguiu à morte de Nero, 68-69 D.C., "quando Servius Galba, cônsul pela segunda vez com Titus Vinius como seu parceiro, começou o ano que trouxe a morte a ambos e quase significou a queda de Roma." (Historae [ Sobre a História] de Tácito, I, 11)

10 Mateus 24:3. A expressão grega synteleía tou aionos neste versículo significa literalmente a "conclusão da era." Veja-se a The Kingdom Interlinear (A Interlinear do Reino) da Sociedade, página 141.

11 Let Your Kingdom Come, Watchtower Bible and Tract Society (Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados), 1981, p. 115.

12 Barbara W. Tuchman, The Guns of August-August 1914, Edição Four Square, 1964 & 1965. A citação é encontrada sob "Sources" ("Fontes") no fim do livro.

13 Dupuy & Dupuy (1970), p. 166.

14 E. J. Hobsbawm, The Age of Revolution (A Era da Revolução; Londres, 1962), p. 29.

15 Cambridge Modern History (História Moderna de Cambridge), Cambridge University Press, 1904, Vol. 8.

16 O conhecido historiador R. R. Palmer no prefácio de The Coming of the French Revolution (O Aparecimento da Revolução Francesa; Nova Iorque: Vintage, 1947), de George Lefebvre, p. v.

17 Dupuy & Dupuy, pp. 926, 1014.

18 Ibid.

19 The Watchtower, 1.º de Maio de 1982, p. 14.

20 Awake!, 8 de Maio de 1981, p. 6. Chitty e Hannan são ambos Testemunhas de Jeová de longa data. Veja-se The Watchtower, 15 de Fevereiro de 1963, pp. 118-120, e The Watchtower de 15 de Janeiro de 1970, pp. 56-61.

21 The Watch Tower, de 15 de Janeiro de 1892, pp. 19-21. Reimpressões, p. 1354.

22 R. R. Palmer e Joel Colton, A History of the Modern World Since 1815, quinta edição (Nova Iorque, 1978), pp.654, 655.

23 The Watch Tower, 15 de Janeiro de 1892, pp. 19-21. Reimpressões, p. 1354.

24 Alegando que as predições de Russell se realizaram, a Watch Tower Society tem citado muitas vezes a The World Magazine (A Revista do Mundo) de 30 de Agosto de 1914. (Citada por exemplo na The Watchtower de 1.º de Abril de 1984, pp. 5, 6.) Num artigo intitulado "Fim de todos os Reinos em 1914," afirmou-se naquela revista que "O terrível deflagrar da guerra na Europa cumpriu uma extraordinária profecia." A seguir as publicações do Pastor Russell são citadas copiosamente, e isto de uma maneira que dá ao leitor a impressão de que Russell tinha previsto a guerra. O conhecimento de perto das muitas publicações do Pastor Russell e a habilidade para seleccionar declarações convenientes delas indica, contudo, que o autor do artigo ou era um colaborador próximo de Russell ou obteve os elementos de um colaborador próximo de Russell. Na realidade, as predições de Russell citadas no artigo referiam-se à "grande tribulação," à "batalha do Armagedom," ao "fim de todos os reinos" e ao estabelecimento do Reino de Deus na terra. Nenhum destes acontecimentos, que Russell tinha predito para 1914, ocorreu naquele ano. Por outro lado, o que de facto ocorreu, a guerra mundial, não podia ser encontrado entre as profecias de Russell.

25 Barbara W. Tuchman, The Proud Tower. A Portrait of the World Before the War, 1890-1914 (A Torre Orgulhosa. Um Retrato do Mundo Antes da Guerra, 1890-1914; Nova Iorque, 1966 [ primeira impressão 1962] ), pp. xiii, xiv.

26 The Watchtower, 15 de Abril de 1984, p. 5.

27 Otto Koenig, Das Paradies vor unserer Tür (O Paraíso ; Viena, Munique, Zurique, 1971), p. 391. (Traduzido do Alemão.)

28 Marechal-de-Campo Visconde Montgomery of Alamein, em A History of Warfare (Uma História da Guerra), Collins (Londres 1968), página 443, declara: "Os anos entre 1870 e 1914 foram anos de paz armada na Europa e de guerras pequenas e frequentes ao redor do resto do mundo." O historiador sueco Anton Nyström diz que "um estado de semi-guerra" prevaleceu na Europa entre 1870 e 1914. (Före, under och efter 1914 [ , antes e depois de 1914] , Estocolmo, 1915, p. 141.)

29 Montgomery, p. 315.

30 R. R. Palmer & Joel Colton, A History of the Modern World to 1815 (Uma História do Mundo Moderno até 1815), quinta edição (Nova Iorque, 1978), p. 184. Ao discutir a Guerra da Sucessão Espanhola, The New Cambridge Modern History (A Nova História Moderna de Cambridge; Vol. VI, Cambridge, 1970) também menciona a Grande Guerra do Norte (1700-1721), travada ao mesmo tempo, e conclui: "Os dois grandes conflitos que anunciaram o século dezoito resultaram numa verdadeira guerra mundial." (Página 410) Veja-se também The Encyclopedia Americana (A Enciclopédia Americana), 1984, Vol. 23, p. 86.

31 O altamente considerado Världshistoria (História do Mundo) sueco, editado por Suen Tunberg e S. E. Bring, Norstedt & Söner, Vol. 10 (Estocolmo 1930), p. 182. Se, como este trabalho indica, a Guerra da Sucessão Austríaca (1740-1748), também deve ser classificada como "guerra mundial," a Guerra dos Sete Anos foi, de facto, a terceira guerra mundial! Outro historiador que classifica a Guerra da Sucessão Austríaca como uma "guerra mundial" é Eirik Hornborg, que sublinha que foi travada "na Europa, na América, na costa da África Ocidental e nos mares do mundo." (Världshistorien [ História do Mundo] , Estocolmo, 1962, p. 224)

32 Stid Boberg, 1700-talets historia (1700 anos de história; Copenhaga, Oslo, Estocolmo: Scandinavian University Books), p. 31. A revista Awake! de 8 de Dezembro de 1970, página 21, admite que a Guerra dos Sete Anos "envolveu quase todas as nações da Europa e foi travada mundialmente -- na Índia, América do Norte, Alemanha e nos mares."

33 Montgomery, pp. 317, 320.

34 The United States. A Companion to American Studies (Os Estados Unidos. Um Companheiro para Estudos Americanos); Editado por Dennis Welland (Londres, 1974), p. 158.

35 Piers Mackesy, The War for America 1775-1783 (A Guerra pela América 1775-1783; Londres, 1964), p. 147.

36 Mackesy, p. 121. Compare com a p. xvi.

37 Montgomery, p. 321.

38 Irving Stone, Those Who Love (Aqueles Que Amam; Nova Iorque: Doubleday & Company, 1965), pp. 311, 312.

39 Palmer & Colton, A History of the Modern World to 1815, quinta edição (Nova Iorque, 1978), pp. 382, 383. Winston Churchill, tendo classificado tanto a Guerra dos Sete Anos como a Guerra da Independência Americana como "guerras mundiais," chama às Guerras Napoleónicas "a mais longa das guerras mundiais." (A History of the English-speaking Peoples [ Uma História dos Povos de Língua Inglesa] , Vol. III, Londres, 1957, p. 312 [ cf. Vol. II, Londres, 1956, pp. 123,163]).

40 Halvdan Koht, Folkets Tidsälder, Estocolmo 1982, p. 7.

41 Cyril Falls, A Hundred Years of War (Cem Anos de Guerra; Londres, 1953), p. 161.

42 Montgomery, p. 470.

43 Ibid., p. 497.

44 Dupuy & Dupuy, pp.916, 1016. G. Graninger e S. Tägil sublinham que "Nenhuma guerra na história foi total no sentido de todas as principais nações, talvez todas as nações, estarem envolvidas no conflito." (Historia i centrum och periferi, Parte 3, Lund, 1973, p. 164)

45 Dupuy & Dupuy, p. 820.

46 Montgomery, pp. 332, 550.

47 E. J. Hobsbawm, The Age of Revolution. Europe 1789-1848 (A Era da Revolução. Europa 1789-1848; Londres, 1962), p. 67. Churchill concorda: "Pela primeira vez na história todo o potencial humano e recursos de um Estado estavam sendo dirigidos para a guerra total." (Churchill, Vol. III, p. 229)

48 Cyril Falls, p. 350.

49 Quincy Wright, A Study of War (Um Estudo da Guerra), edição resumida (Chicago, 1969), p. 58; Dupuy & Dupuy, p. 990.

50 Beer, p. 37.

51 J. David Singer e Melvin Small, The Wages of War 1816-1965. A Statistical Handbook (Os Custos da Guerra 1816-1965. Um Guia Estatístico; Nova Iorque, Londres, Sidnei, Toronto, 1972), pp. 116, 117.

52 Beer, p. 34.

53 Dupuy e Dupuy, p. 990.

54 Ibid.

55 Francis A. Beer, Peace Against War (Paz Contra Guerra; São Francisco, 1981), p. 37. Beer diz: "Mais de 8 milhões de soldados e 1 milhão de civis foram mortos na I Guerra Mundial." (P. 36) Isto totalizaria pouco mais de 9 milhões de soldados e civis, que é provavelmente uma estimativa por baixo.

56 Gaston Bodart, L.L.D., Losses of Life in Modern Wars (Perdas de Vidas nas Guerras Modernas; Londres, Nova Iorque, 1916), p. 12.

57 Ibid., p. 12.

58 The Watchtower de 1.º de Abril de 1983, cita o Professor Wright como tendo dito que as mortes de civis foram excepcionalmente altas na Segunda Guerra Mundial. (Página 6) O que eles não mencionam é que Wright acrescenta que, "até essa guerra [ a II Guerra Mundial], as baixas civis tinham vindo a diminuir desde o século dezassete." (Wright, p. 60) Esta diminuição incluía a I Guerra Mundial!

59 Foi certa vez estimado que 25 milhões ou três quartos da totalidade da população alemã morreram durante a Guerra dos Trinta Anos, mas este número foi revisto por historiadores modernos. Veja Awake!, 22 de Abril de 1972, página 13; compare com Beer, página 48.

60 O historiador sueco Göran Rystad em Dä arat ditt namn ... , Sveriges Radios förlag (Uddevalla, 1966), p. 63.

61 R. R. Palmer, A History of the Modern World (Uma História do Mundo Moderno; Nova Iorque, 1952), p. 133.

62 E. L. Jones, The European Miracle (O Milagre Europeu; Cambridge, Londres, Nova Iorque: Cambridge University Press, 1981), p. 36. As conquistas de Genghis Khan mais de quatrocentos anos antes provavelmente também superaram a I Guerra Mundial, medidas em número de mortes. O historiador Harold Lamb diz acerca dele que "quando passava, lobos e abutres eram muitas vezes as únicas coisas vivas em terras antes populosas. Esta destruição da vida humana deixa perplexa a imaginação moderna -- embora enriquecida com os conceitos da última guerra Europeia." (Harold Lamb, Genghis Khan -- The Emperor of All Men (Genghis Khan -- O Imperador de Todos os Homens; Londres, 1929), pp. 11, 12.) É dito que a conquista por Genghis Khan da China do Norte em 1211-1218, por exemplo, custou 18 milhões de vidas chinesas! (A enciclopédia Sueca Nordisk Familjebok [ ], Vol. 5, Malmö 1951, p.795.)

63 Bodart, pp. 30, 96.

64 Ibid., pp. 96, 97.

65 Ibid., pp. 36, 100.

66 Ibid., pp. 156.

67 Ibid., p. 133.

68 Ibid., pp. 181, 182.

69 Dupuy & Dupuy, página 864.

70 Palmer & Colton, A History of the Modern World Since 1815 (Uma História do Mundo Moderno Desde 1815; 1978), p. 632.

71 Awake!, 22 de Março de 1982, página 7. The New Encyclopedia Britannica (A Nova Enciclopédia Britânica) concorda com isto: "Uma estimativa contemporânea de 20.000.000 a 30.000.000 de vítimas é certamente muito inferior ao número real." (Macropaedia, Vol. 4, 15.ª edição 1980, p. 361) O historiador sueco Gunnar Hägglöf (que passou vários anos como embaixador na China) diz no seu livro China as I saw it (A China como eu a Vi; Kina som jag säg det, Estocolmo, 1978) que "a Rebelião de Taiping, que a meio do século dezanove abalou o Estado Chinês até aos seus alicerces, custou mais de 40 milhões de vidas e marcou de facto o princípio do fim do império Chinês." (Página 62)

72 E. J. Hobsbawm, The Age of Capital 1848-1875 (A Era do Capital 1848-1875; Londres, 1975), p.127.

73 Dupuy & Dupuy, p. 911.

74 Muitas outras guerras travadas durante os mesmos três séculos custaram centenas de milhares de vidas cada, por exemplo A Guerra Espanhola entre a França e a Espanha (1635-59), A Grande Guerra Turca (1683-99), A Guerra da Liga de Augsburg (1688-97), A Guerra da Sucessão Austríaca (1740-48), A Guerra Americana da Independência (1775-83), A Guerra da Criméia (1854-56), A Guerra Civil Americana (1861-65), A Guerra Franco-Prussiana (1870-71), A Guerra Russo-Turca (1877-78), e no princípio do nosso século, A Guerra Russo-Japonesa (1904-05), e As Guerras Balcânicas (1912-13). Apenas como dois exemplos de baixas, segundo Hobsbawm, cerca de 600.000 morreram na Guerra da Criméia e mais de 630.000 foram mortos na Guerra Civil Americana. (Hobsbawm, The Age of Capital 1848-1875 [ A Era do Capital 1848-1875], Londres, 1975, pp. 76,78)

75 Singer & Small, pp. 24-28.

76 Beer, p.22.

77 Quincy Wright, p. 11.

78 Wright, p. 11.

79 Ibid., 55, 89.

80 Singer & Small, pp. 30-37.

81 Ibid., p. 38.

82 Beer, pp. 42, 43. Singer & Small (página 201) inclinam-se a pensar que as guerras civis estão a aumentar. Mas se ambos os tipos de guerras -- civis e internacionais -- forem considerados juntos, como Beer faz, o número total de guerras está a diminuir.

83 Beer, p. 43. Segundo declara o historiador Michael Nordberg (Den dynamiska medeltiden [ A Dinamarca medieval], Estocolmo, 1984, p. 12), "existiram guerras quase constantes na Europa do século dezasseis até 1815, muitas delas tão devastadoras como a Guerra dos Cem Anos," 1337-1453.

84 The Watchtower, 1.º de Abril de 1983, página 3. Reston menciona 59 guerras entre nações com mais de 29 milhões de combatentes mortos, e 64 guerras civis com quase 6 milhões de baixas. Mas só a Rebelião de Taiping no século passado pode ter custado quase sete vezes tantas vidas como todas estas 64 guerras civis juntas!

85 Brownlee Haydon, The Great Statistics of Wars Hoax (A Grande Fraude das Estatísticas de Guerras; Santa Mónica, 1962). (Este é um documento de apenas 8 páginas.) Veja-se também Singer & Small, páginas 10, 11, e Beer, página 20.

86 Francis Beer, How Much War in History: Definitions, Estimates, Extrapolations and Trends (Quanta Guerra na História: Definições, Estimativas, Extrapolações e Tendencias; Beverly Hills, 1974), pp. 28, 30. Compare-se com Beer, Peace Against War (Paz Contra Guerra; São Francisco, 1981), pp. 37-40, 48, 49.

87 Na The Watchtower de 1.º de Abril de 1983, Quincy Wright é citado como tendo dito: "Pelo menos 10 porcento das mortes na civilização moderna podem ser atribuídas directa ou indirectamente à guerra." (Página 6) Mas não é dito ao leitor que Wright, na mesma passagem, diz que três quartos destas mortes podem ser atribuídas a causas indirectas, como fomes e doenças, e que é provável que "a proporção de tais baixas fora da Europa e na Europa em séculos anteriores tenha sido maior." (Wright, p. 61)

88 O livro Raciocínios à base das Escrituras (1985), por exemplo, diz: "Tal como predito em Revelação 6:4, 'a paz foi tirada da terra.' Portanto o mundo tem continuado num estado de convulsão desde 1914." (Página 419)

89 Beer, pp. 34, 48. Visto que Beer define "anos de paz" como anos "sem guerras maiores" -- que ele estima em 600 desde 3.600 A.C. -- o número real de anos de paz em épocas anteriores pode ter sido ainda menor, "talvez até um número próximo de zero."

90 O número de mortes na II Guerra Mundial é difícil de determinar. As melhores fontes mostram que cerca de 15 milhões de soldados foram mortos. Os números apresentados para as vítimas civis variam de 20 a 35 milhões. (Dupuy & Dupuy, p. 1198; Singer and Small, pp. 52, 48).

91 Beer, pp. 46, 47.

92 Singer & Small, p. 201.



The Sign of the Last Days -- When? (O Sinal dos Últimos Dias -- Quando?) (Atlanta: Commentary Press, 1987) de Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst, pp. 180-201.

Capítulo 7: O Mito do "Sinal Composto"

Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst


Até aqui considerámos numa base individual aqueles aspectos da vida e circunstâncias humanas que anunciadores do fim dos tempos enfatizam com regularidade: guerras, fomes, pestilências e terramotos. Tomados isoladamente, é óbvio que nenhum deles distingue genuinamente o nosso século de séculos passados, quer analisemos estes aspectos desde 1914, 1948 ou qualquer outra data neste século.

Os terramotos não são mais frequentes nem maiores em tamanho do que em séculos anteriores. Mesmo a guerra, não obstante o seu potêncial de destruição ter sido grandemente aumentado, evidentemente não afecta uma maior percentagem da população do que no passado. Apesar de todas as afirmações em contrário, o número de guerras -- guerras reais -- tem de facto diminuído no nosso século. E a fome e a pestilência não só têm diminuído mas têm diminuído nitidamente desde a segunda década deste século. A diminuição é ainda mais dramática quando são feitas comparações com séculos anteriores.

Não podemos deixar de notar que o meio legítimo para avaliar aumento -- particularmente nos três últimos aspectos -- é a percentagem da população afectada. Numa aldeia de 1.000 habitantes, se 600 deles estivessem a morrer à fome nós descreveríamos a aldeia como estando gravemente afectada pela fome. Isso quereria dizer que seis dentre cada dez pessoas estavam a morrer à fome. Mas numa cidade de 100.000 habitantes mesmo se 10.000 pessoas estivessem a morrer à fome, esse número, embora muito maior do que o 600 anteriormente mencionado, quereria dizer que apenas uma dentre cada dez pessoas estava a morrer à fome. A grande cidade teria, em média, uma incidência de fome muito menor do que a aldeia. Seria, desse ponto de vista, o melhor lugar para se viver.

É isto o que encontramos ao considerar a cena mundial. A população do mundo tem aumentado imensamente mesmo durante este século e, consequentemente, seja qual for a circunstância devastadora considerada, é muito razoável que um maior número de pessoas estejam envolvidas do que vários séculos, ou mesmo apenas um século, antes. Num tempo em que os voos de aviões comerciais eram raros, limitados a poucos por dia, cinco despenhamentos num ano poderiam indicar correctamente um baixo grau de segurança, poderiam justificar a conclusão de que voar é um meio razoavelmente perigoso para se viajar. Hoje, quando milhares de voos são realizados cada dia em apenas um único país, como nos E.U.A., mesmo o triplo daquele número de despenhamentos num ano não mudaria o facto de a viagem por avião se ter tornado num dos meios de transporte mais seguros nos nossos tempos modernos. O mesmo princípio aplica-se apropriadamente ao estimar o efeito mundial dos aspectos anteriormente mencionados referentes a guerra, fomes e pestilência, bem como ao número de pessoas afectadas por terramotos. Ignorar esse factor, deliberadamente ou apenas devido a pensamento superficial, é distorcer a realidade e deturpar a verdade.

Aqueles que nos querem fazer crer que temos diante de nós evidência visível identificando a nossa geração como sendo notavelmente marcada pela profecia -- por estar supostamente a ser afligida por tais calamidades em algum sentido especial -- talvez digam que a sua pretensão não é baseada nestes aspectos tomados isoladamente. Talvez digam que é baseada na combinação deles, todos ocorrendo simultaneamente durante um único período.

Assim, o autor de assuntos religiosos Hal Lindsey comparou estes aspectos calamitosos a várias peças de um puzzle complexo que estão agora, segundo se diz, a 'deslocarem-se rapidamente para os seus sítios' desde 1948. O evangelista Billy Graham ouve nos acontecimentos actuais o bater ominoso e combinado dos cascos dos cavalos dos quatro cavaleiros do Apocalipse. A Watch Tower Society apresenta estes aspectos como sendo os elementos individuais de um "sinal composto." O "sinal," dizem eles, não é nenhum dos aspectos por si só mas a combinação de todos eles ocorrendo mundialmente em uma geração, um sinal composto supostamente único na geração que viveu a partir de 1914.

Portanto, embora obrigados pelos factos a admitir que nenhum destes aspectos individualmente tem tido incidência sem precedentes neste século, talvez digam, "É verdade, talvez algum século no passado tenha visto mais fome do que o nosso, outro século pode ter visto mais terramotos, ou maiores, ainda outro século pestilências mais desastrosas, e ainda outro talvez tenha sido tanto ou mais atingido pela guerra do que o nosso. Mas não é nenhuma destas coisas individualmente, mas antes a soma total de todas, a ocorrerem simultaneamente neste século, o nosso século vinte, que distingue este tempo como sendo, para além de qualquer dúvida, os últimos dias antes de o julgamento do mundo ocorrer."

Tem este raciocínio alguma validade?
A síndrome das calamidades

Muitos anunciadores do fim dos tempos simplesmente deixam o registo do passado fora da sua discussão e é improvável que a maioria dos seus leitores saiba o que esse registo mostra para poderem fazer uma verdadeira comparação entre condições. A Watch Tower Society, contudo, por vezes procura contradizer a evidência do passado e negar o seu significado. Isto indica que reconhecem que há problemas com pelo menos alguns dos aspectos do seu "sinal composto," e que nenhuma das calamidades é nova para a humanidade. "Nenhuma destas coisas ocorreu só no nosso século," disse a Watchtower de 15 de Abril de 1984, página 5. Então como é que tais coisas podem ser usadas para identificar o tempo do fim como tendo começado em 1914? O mesmo número da Watchtower afirma que "elas teriam de ser diferentes, em algum aspecto, de condições semelhantes em épocas anteriores," explicando:

Primeiro, todos os aspectos do sinal teriam de ser observados por uma geração....

Segundo, os efeitos do sinal teriam de ser sentidos mundialmente....

Terceiro, as condições no seu conjunto ou sintomas teriam de piorar progressivamente durante este período....

Quarto, a ocorrência de todas estas coisas seria acompanhada por uma mudança nas atitudes e acções das pessoas. Jesus avisou: 'O amor da maioria arrefecerá.'1

Portanto eles impõem padrões para julgar o cumprimento das palavras de Jesus que são pelo menos em parte padrões da sua própria autoria. Mas mesmo assim esta tentativa em quatro frentes para salvar do colapso o "sinal composto" é de facto muito débil. Será que as fomes e as pestilências, por exemplo, têm 'piorado progressivamente' desde 1914? Estão mais espalhadas "mundialmente" hoje do que em qualquer período anteior? A verdade é que o alcance e a mortalidade destas duas calamidades têm sido progressivamente reduzidos no nosso século! Nem se têm os terramotos tornado 'progressivamente piores' desde 1914 nem se têm feito sentir mais "mundialmente" do que antes dessa data. Quanto a guerras, é verdade que têm aumentado progressivamente em potencial destrutivo no nosso século. No entanto o facto notável é que as guerras ceifaram mais vítimas durante as três primeiras décadas depois de 1914 do que durante as cinco décadas que passaram desde 1945! E apesar de ser algumas vezes dito que as guerras durante estas quatro décadas depois de 1945 ceifaram uns 30 milhões de vidas, isto é menos do que o número de mortos em guerras no perído correspondente do século passado (1845-1885).
Uma única geração?

Que dizer do argumento segundo o qual "todos os aspectos do sinal teriam de ser observados por uma geração"? Destaca isso a geração de 1914 -- ou qualquer outra geração deste século -- como sendo única a este respeito? De maneira nenhuma. Qualquer pessoa que faça uma investigação honesta e cuidadosa da matéria descobrirá prontamente que é praticamente impossível encontrar uma geração durante os últimos 2.000 anos que não tenha observado os vários aspectos combinados do suposto "sinal composto"! E realmente isto não nos devia surpreender, visto que a maior parte dos flagelos mencionados por Jesus estão interrelacionados e, por essa razão, normalmente ocorrem simultaneamente. Isto é especialmente verdade no que diz respeito a guerras, fomes e pestilências. Em Hunger and History (Fome e História), E. P. Prentice observa:

Fome, Guerra e Pestilência -- o mundo conhece-as bem, estas três, e sabe que elas não vêm sozinhas, uma por uma. Onde há Fome, a Pestilência instala-se e a Guerra não está muito longe.2

Enfatizando ainda mais esta ocorrência comum e simultânea Ralph A. Graves explica:

Uma pesquisa do passado mostra que guerra, pestilência, e fome sempre estiveram relacionadas, umas vezes sendo uma a causa, outras vezes sendo outra, e as restantes duas o efeito. Onde uma do trio ocorreu as outras duas seguiram-se, algumas vezes isoladamente, mas normalmente juntas.

Uma verdadeira trindade do mal, as três são como uma praga, iguais no seu poder devastador e na sua universalidade sinistra.3

Esta "trindade do mal" estava ainda mais fortemente associada no passado do que hoje, quando comunicações melhores e cuidados médicos têm reduzido grandemente o papel da fome e das epidemias em tempos de guerra.

Em períodos de guerra, fome e pestilência é também muito comum ver aumentar o crime e a violência. A história está cheia de exemplos do efeito desmoralizador destas pragas na mente e comportamento humanos. Na sua discussão acerca das fomes, o Professor Sergius Morgulis diz:

A Fome não é apenas destruidora da saúde e do físico, é num grau ainda maior um elemento dilacerador da moral e do carácter. Na luta desesperada para manter a vida todos os escrúpulos são ultrapassados, vizinho é contra vizinho, e os fortes não têm compaixão dos fracos.4

Portanto, a história das fomes é também uma história de desmoralização, violência, banditismo, assassinato e canibalismo, uma história de períodos em que a anarquia cresce e o amor arrefece. E exactamente o mesmo tipo de degeneração ocorre durante pestilências. "Épocas de peste são sempre aquelas em que o lado animal e diabólico da natureza humana toma o controlo," observou B. G. Niebuhr.5 Esta correlação entre períodos de guerras, fomes, pestes, ou outros desastres e um aumento do crime também tem sido confirmada por descobertas da criminologia moderna. O criminologista sueco Hanns von Hofer, por exemplo, no seu estudo aprofundado sobre o crime na Suécia de 1750 a 1982, observa que o desenvolvimento histórico da violência e roubos "É caracterizado por uma série de aumentos e decréscimos muito acentuados que coincidem com acontecimentos históricos particulares, como anos de fome, restrições ao consumo do alcoól, e guerras."6

O provérbio "uma desgraça nunca vem só" é claramente verdadeiro no que diz respeito a muitas das desgraças a que Jesus se referiu na sua profecia do rumo futuro da história do mundo. Guerras, fomes, pestes e crime estão todos correlacionados e normalmente aparecem juntos. A sua aparência "composta", portanto, é muito natural e compreensível e não é nada de novo no nosso século. Pelo contrário, esta síndrome das calamidades tem sido uma parte da história do homem ao longo de todos os séculos, e tem sido experimentada por todas as gerações desde o tempo de Cristo.
O século catorze -- um "espelho longínquo"

A história da humanidade é num grau notável uma história de crises e catástrofes. Embora a Watch Tower Society admita isto, ao contrário de outros anunciadores do fim dos tempos tenta minorar estas calamidades do passado, alegando que o nosso século tem-nas visto numa escala muito maior. Assim, na revista Watchtower de 15 de Julho de 1983 (página 7), aparece esta declaração:

Certamente é verdade que gerações anteriores experimentaram calamidades. O século 14 foi o tempo da Peste Negra quando as pessoas por toda a Europa viviam no terror da pestilência, fomes e guerras. Mas compare só a escala dos acontecimentos no nosso século.7

De acordo com isto, a Watch Tower Society defende que as crises do século catorze não podem de maneira nenhuma ser comparadas com aquelas do nosso próprio século.

Qual é a verdade? Está a sua vida ou a das pessoas em geral mais afectada pela peste do que no século catorze? Se nos fosse dada a oportunidade, escolheríamos as condições daquele tempo -- no que se refere a guerras, fomes, pestilências e terramotos -- como preferíveis às do nosso século? A historiadora Barbara Tuchman comparou o século catorze a um "espelho longínquo" do nosso próprio século. Um olhar mais atento para os diferentes aspectos daquele período revelará se existe alguma verdade na afirmação da Watch Tower Society.
Época de guerra

A história revela que o mundo medieval era um "mundo de guerra constante."8 Durante o século catorze uma série de guerras longas e sangrentas foram travadas em diferentes partes do mundo. Em 1337 a Europa Ocidental viu o início da guerra mais longa da história, a chamada Guerra dos Cem Anos entre a Inglaterra e a França, uma guerra que de facto se prolongou por 116 anos e que, segundo a historiadora Tuchman, destruíu a unidade medieval.9

Outras guerras e infindáveis conflitos civis assolavam a Europa, por exemplo as guerras entre os principados da Alemanha e as guerras entre da cidades comerciais e pricipados da Itália.

Não era apenas a Europa Ocidental que estava envolvida em guerra. A Europa de Leste e praticamente todo o continente Asiático estavam dominados pelos cruéis Mongóis, que tinham conquistado aquelas áreas durante o século anterior.10 Acerca do período desde 1200 até 1400 A.D., os historiadores R. Ernest Dupuy e Trevor N. Dupuy disseram:

Durante a maior parte destes dois séculos [o 13 e o 14] a história militar e política da humanidade foi dominada por uma potência. Os Mongóis -- ou os seus vassalos Tártaros -- conquistaram ou devastaram todas as regiões principais do mundo conhecido excepto a Europa Ocidental.11

Durante o século catorze este vasto império desmoronou-se gradualmente. Sangrentas guerras civis persistiram durante décadas tanto nas partes ocidentais como orientais do grande império Mongol. Na China os dominadores estrangeiros foram finalmente derrotados em 1360 depois de uma longa guerra civil que custou evidentemente milhões de vidas.12 No mesmo século o império Turco apareceu em cena, tendo conquistado primeiro a Ásia Menor e depois a maior parte da Península Balcânica.

Então, cerca de 1370, um dos mais desumanos conquistadores mundiais que a história conheceu, apareceu em cena. Era Tamerlão (ou, Timur Lenk), o terrível "Führer" do século catorze. Tendo feito Samarkand no Turquestão Ocidental o centro do seu império em 1370, ele partiu dali para conquistar o resto da Ásia. Os países Khwarazm, Afeganistão, Beluquistão, Mongolestão, Rússia, Sibéria Ocidental, Pérsia, Iraque, Índia, Síria e Anatólia foram todos conquistados durante as três décadas seguintes numa onda de triunfos inacreditavelmente cruéis e sangrentos que custaram milhões de vidas.

Tal como Genghis Khan no século anterior, Tamerlão assassinou sem misericórdia populações inteiras -- homens, mulheres e crianças -- em qualquer cidade ou área que lhe resistia. Todo o país do Khwarazm com a sua capital Urgentsj na Ásia Central foi assim completamente obliterada do mapa. Muitas cidades populosas, entre elas Tiflis, a capital da Georgia, Isfahan na Pérsia, Bagdad no Iraque, e Damasco na Síria, foram devastadas e saqueadas e as suas populações aniquiladas. Estima-se que durante as conquistas na Índia em 1398, um milhão de pessoas perderam as suas vidas no espaço de poucas semanas. Tamerlão finalmente morreu na sua campanha contra a China em 1405, tendo então conquistado quase toda a Ásia desde a Europa a oeste até à fronteira Chinesa a leste.13

O aspecto da guerra -- em todas as partes do mundo conhecido -- certamente não estava ausente no século catorze.

Época de fome

O século catorze começou com uma mudança no clima, provocando tempo frio durante alguns anos, com tempestades, chuvas, inundações, e depois secas -- e destruição das colheitas. O resultado foram várias fomes muito severas.
Aparentemente a pior destas foi a fome universal de 1315-1317 (em algumas áreas durou até 1319), uma fome "que atingiu todas as terras desde os Pirinéus até às planícies da Rússia e desde a Escócia até à Itália."14 As consequências foram muito severas. Os pobres comiam praticamente tudo, "cães, gatos, os excrementos das pombas, e até as suas próprias crianças."15 Relatos da Livónia e Estónia enfatizam que "mães famintas comeram os seus filhos," e que "homens famintos muitas vezes morriam nas sepulturas enquanto escavavam corpos para comer."16 Cronistas mostram que condições similares prevaleciam em outros países. Na Irlanda "a agonia arrastou-se até 1318 e provou ser especialmente severa, pois as pessoas desenterraram os corpos nos pátios das Igrejas e usaram-nos como alimento, e os pais até comeram os seus filhos."17 Nos países Eslavos, como a Polónia e a Silésia, a fome ainda era comum em 1319, e relatórios dizem que os pais "mataram os seus filhos e os filhos mataram os pais, e os corpos de criminosos executados eram avidamente arrebatados da forca."18 Junto com a fome veio a pestilência que eliminou um grande número de pessoas.19

Seguiram-se outras grandes fomes nas décadas de 1330 e 1340. A Peste Negra foi precedida por uma fome muito severa que se estima ter afetado um quinto da humanidade. Em Itália, por exemplo, ela "varreu pela fome absoluta um grande número dos habitantes."20 Por todo o resto do século fomes sucessivas afectaram os países da Europa e outras partes do mundo, e pelo meio, "carência universal" prevaleceu, conforme foi mostrado no capítulo dois. Existe toda a evidência de o século catorze ter sido muito mais afectado por fomes e má nutrição do que o nosso século vinte.
Época de pestilência

Não há necessidade de repetir a descrição da Peste Negra do século catorze. Vimos no capítulo quatro que esta praga ultrapassou em todos os sentidos a gripe Espanhola do nosso século. Além disso, ela visitou novamente a Europa -- e muitas outras partes do mundo -- várias vezes antes do fim do século. Outras pestilências que flagelaram a humanidade no mesmo período foram disenteria e antraz; várias grandes epidemias da doença conhecida como dança de St. Vitus espalharam-se perto do fim do século.21 (Embora não seja notavelmente contagiosa ou necessariamente mortal, a lepra alcançou as suas maiores proporções na Europa durante as décadas que antecederam a Peste Negra.)

As pragas do século catorze tiveram um impacto na raça humana muitas vezes mais desastroso do que as epidemias do nosso tempo, e muitos historiadores apontam para 1348, o ano inicial da Peste Negra, como um dos pontos de viragem mais importantes da história. A. L. Maycock até defende que "o ano 1348 assinala o ponto mais próximo de uma quebra definitiva na continuidade da história que jamais ocorreu."22

Época de terramotos

Em tempos antigos era comum acreditar que os terramotos, da mesma forma que fenómenos celestes como eclipses, meteoros, e especialmente cometas, eram presságios de grandes calamidades, especialmente de guerras, fomes e pestilências.23 Por isso, tais portentos sinistros, causavam normalmente grande medo. Esta é provavelmente a razão porque, ao discutir as coisas que poderiam induzir em erro os seus discípulos e levá-los a acreditar que o fim era iminente, Jesus acrescentou terramotos e, segundo Lucas capítulo vinte e um, versículo 11 (The Jerusalem Bible [A Bíblia de Jerusalém] ), "visões atemorizantes e grandes sinais do céu." Tucídides, Diodoro Sículo, Lívio e muitos outros escritores antigos afirmaram que os terramotos eram presságios de pestilência, e o filósofo romano Séneca, um contemporâneo dos apóstolos, afirmou explicitamente que "depois de grandes terramotos é normal ocorrer uma pestilência."24 Não admira, por isso, que os grandes terramotos que precederam e acompanharam a peste negra do século catorze tenham sido interpretados como presságios da praga por cronistas contemporâneos.

Na China os anos que antecederam o início da praga foram marcados por uma série de desastres imponentes: secas, inundações, enxames de gafanhotos, fomes e terramotos. Até mesmo antes do rebentar da praga em 1337 o número de mortos deve ter sido enorme:

Em 1334 houve uma seca em Houdouang e Honan seguida por enxames de gafanhotos, fome e pestilência. Um terramoto nas montanhas de Ki-Ming-Chan formou um lago com mais de cem léguas de circunferência. Em Tche acredita-se que os mortos ascenderam a mais de cinco milhões. Terramotos e cheias continuaram desde 1337 até 1345, os gafanhotos nunca tinham sido tão destrutivos, houve um 'trovão subterraneo' em Cantão.25

A Europa também parece ter sido atingida por uma série de clamidades pouco usual, incluindo terramotos destrutivos, nos anos antes e durante a praga, acompanhados por portentos assustadores no céu e na terra:

Ano após ano ocorreram sinais no céu, na terra, no ar, todos indicando, pensavam os homens, algum acontecimento terrível vindouro. Em 1337 um grande cometa apareceu nos céus, a sua longa cauda espalhando o medo nas mentes das massas ignorantes. [...] Em 1348 veio um terramoto de uma violência tão assutadora que muitos homens pensaram tratar-se de um presságio do fim do mundo. As suas devastações espalharam-se amplamente. Chipre, Grécia, e Itália foram terrivelmente atingidas e [o tremor sísmico] estendeu-se ao longo dos vales Alpinos.26

"A Europa foi sacudida desde o sul da Itália até à Bósnia e desde a Hungria até à Alsácia," declarou o geólogo Haroun Tazieff. Os terramotos destruíram muitas cidades e aldeias, incluindo a cidade de Villach em Carinthia na Áustria. Citando o autor do século dezoito Elie Bertrand, Tazieff diz que:

O terramoto fez desmoronar trinta e seis cidades ou castelos na Hungria, Styria, Carintia, Bavária e Suábia. O chão abriu-se em vários sítios. Pensava-se que as exalações de mau cheiro que este terramoto produziu fossem a causa daquela praga que se espalhou por todo o mundo, que durou três anos, e que segundo os cálculos, matou um terço da raça humana.27

Tazieff, declarando que "o século catorze foi particularmente atingido" por terramotos destrutivos, dá como outro exemplo o terramoto que devastou a cidade Suiça de Basiléia em 1356:

Em 18 de Outubro de 1356 às dez horas da noite a cidade de Basiléia e outras cidades e aldeias num raio de dezassete milhas foram destruidas por um terramoto terrível cujos abalos posteriores continuaram por mais de um ano. [...]

Oitenta castelos juntamente com cidades e aldeias que dependiam deles, ficaram arruinados.28

Como Tazieff observa, o século catorze parece ter sido atingido por um número anormalmente grande de terramotos destrutivos. O catálogo de Milne, embora muito incompleto para este período e "praticamente limitado a ocorrências no Sul da Europa, China e Japão," enumera 143 terramotos destrutivos para o século catorze.29 Claro que geralmente faltam informações sobre o número de mortos, mas não há razão para pensar que grandes terramotos eram menos comuns ou menos destrutivos para a vida humana no século catorze do que hoje. A evidência disponível aponta na direcção oposta.
Época de crime e época de medo

Conforme demonstrado antes, grandes calamidades como guerra, fome e pestilência normalmente causam um aumento considerável do crime e da imoralidade. Em The Black Death and Men of Learning (A Peste Negra e os Homens do Saber), A. M. Campbell observou que o crime violento foi "um aspecto importante na segunda metade do século catorze."30 A historiadora Tuchman no seu famoso estudo (A Distant Mirror [Um Espelho Longínquo], página 119) até afirma que o banditismo atingiu tais proporções que contribuíu para o declínio contínuo da população mundial no fim do século 14! O crime e o assassinato também se espalharam durante a grande fome de 1315-1317:

Por causa destas condições houve um grande aumento do crime. Pessoas que normalmente levavam uma vida decente e respeitável viram-se forçadas a cometer irregularidades de conduta que fizeram deles criminosos. Ladrões e vagabundos parecem ter infestado as regiões rurais da Inglaterra, e eram culpados de todos os tipos de violência. O crime tornou-se muito frequente na Irlanda. Roubo com tentativa de estupro era comum; de facto todo o tipo de artigos que podiam ser usados como alimentos foram roubados, [...] de facto todas as coisas de valor foram prontamente tomadas.31

A pirataria, ou assalto no alto mar, que infestou séculos anteriores e foi muitas vezes organizada e acompanhada por muito morticínio, também aumentou durante o século catorze.32 Claramente, aquele tempo teve a sua parte de crime crescente -- e o medo criado -- tal como outros períodos, incluindo o nosso próprio.

Materialismo, pessimismo, angústia e medo do fim do mundo caracterizaram o século catorze tanto como o nosso, se não mais. Os problemas de hoje são, a uma escala muito maior do que as pessoas geralmente pensam, essencialmente uma repetição do passado. Ziegler cita o historiador James Westfall Thompson, que comparou as consequências da Peste Negra e da I Guerra Mundial e descobriu que em ambos os casos as queixas dos contemporâneos foram as mesmas "caos económico, inquietação social, preços altos, obtenção de lucros ilícitos, depravação moral, falta de produção, indolência industrial, alegria frenética, consumo selvagem, luxúria, depravação, histeria social e religiosa, ganância, avareza, mau governo, degradação de maneiras."33

Pode ser dito que as calamidades experimentadas pelo homem moderno são piores do que aquelas experimentadas pelo homem medieval? Ziegler, comentando a comparação de Thompson, conclui:

As duas experiências podem ser comparadas mas a comparação só pode mostrar que a Peste Negra foi muito mais devastadora para as suas vítimas do que a Grande Guerra [de 1914-1918] para os seus descendentes.34

Barbara Tuchman, que também se refere à comparação de Thompson, concorda. Ela descreve o século catorze como uma "era violenta, atormentada, desorientada, sofredora e em vias de desintegração, uma época, como muitos pensam, de triunfo de Satanás," e acrescenta:

Se a nossa última ou duas últimas décadas de suposições de colapso tem sido um período de desconforto pouco usual, é reconfortante saber que a espécie humana já passou por pior antes.35

Consequentemente, qualquer afirmação de o nosso século ter visto as calamidades da guerra, fomes, pestilências, terramotos, e assim sucessivamente, numa escala muito maior do que o século catorze não tem suporte na evidência histórica. Esta mostra que é o contrário que é verdadeiro. Tomado como um todo, o suposto "sinal composto" foi certamente mais palpável no século catorze do que é hoje. Os passos dos cavaleiros do Apocalipse soaram tão alto como no nosso tempo.36
O testemunho da "explosão populacional"

Talvez nenhum outro factor isolado testemunhe tão eloquentemente a falsidade das alegações sobre calamidades no nosso século como o aumento da população mundial. Enquanto que os anunciadores do fim dos tempos o empregam frequentemente numa tentativa de fundamentar tais afirmações, esse aumento na verdade contradi-los de uma maneira notável.

Assim, não surpreende que as publicações da Watch Tower tenham sido relutantes em dizer toda a verdade sobre este factor.

A revista Awake! de 8 de Agosto de 1983, explicou o actual aumento da população da seguinte maneira:

A raiz do problema reside na maneira como a população se espande. Não aumenta por uma simples adição consecutiva (1, 2, 3, 4, 5, 6, etc.) mas por um crescimento exponencial ou multiplicação (1, 2, 4, 8, 16, 32, etc.). (Página 5)37

Será que esta regra explica o aumento populacional desde o passado distante até ao tempo presente? Será que explica porque é que levou milénios até que a humanidade atingisse um bilião por volta de 1850, depois duplicasse para dois biliões na década de 1930, e depois duplicasse outra vez para quatro biliões em 1975? Vejamos.

Presentemente a população duplica em 35 anos, o que corresponde a um aumento anual de 2 porcento.38 Se a população tivesse de facto crescido exponencialmente em intervalos constantes de duplicação de 35 anos, teria levado menos de 1.100 anos a aumentar de dois indivíduos para os actuais 4.8 biliões!39 Mesmo se considerássemos uma taxa de aumento anual de apenas 1 porcento, correspondendo a uma duplicação em 69.7 anos, um crescimento exponencial levaria a números astronómicos em apenas um par de milhares de anos. Como o Professor Alfred Sauvy, o grande demógrafo europeu, explica:

Se por exemplo a população da China, que se estima ter sido 70.000.000 no tempo de Cristo, tivesse aumentado desde então 1 porcento ao ano, teria alcançado hoje, não os recentemente estimados 680.000.000 [mais de um bilião em 1984], mas 21 milhões de biliões! Espalhada por todo o globo esta população daria cerca de 120 chineses por metro quadrado.40

Claramente, o crescimento exponencial não é a explicação correcta para o desenvolvimento da população na terra. Por alguma razão os intervalos de duplicação no passado eram muito maiores. Até que ponto eram maiores foi sublinhado na página 4 da Awake! de 8 de Setembro de 1967:

Demorou desde o primeiro século até ao século dezassete antes que a população do mundo duplicasse de 250 milhões para 500 milhões. Então, em pouco mais de dois séculos, no século dezanove, a população duplicou outra vez, alcançando cerca de mil milhões (1.000.000.000). Mas em apenas mais cem anos, no século vinte duplicou mais uma vez. E agora? À taxa de crescimento actual a população duplicaria em apenas trinta e cinco anos!

Este padrão de intervalos de duplicação que diminuem tremendamente, de 1.600 anos no passado para apenas 35 anos presentemente, mostra que deve ter havido qualquer coisa no passado que impediu um crescimento exponencial, alguma coisa que foi gradualmente removida durante os últimos duzentos anos. Como o economista Inglês Thomas Malthus, que se diz muitas vezes (embora erradamente) ter sido o criador da teoria do crescimento exponencial (ou geométrico), escreveu em 1798, "a população, se não for restringida, aumenta segundo uma razão geométrica."41

Então, poderiamos muito bem perguntar: Porque é que a população mundial não cresceu exponencialmente durante os séculos passados? Que factor, ou que factores, restringiramo aumento populacional no passado? A resposta é completamente devastadora para a teoria do "sinal composto" desde 1914 ou 1948 ou para quaisquer alegações de o nosso século ser 'o pior de todos' no que diz respeito a condições calamitosas.

A razão para o aumento populacional muito lento em tempos passados é precisamente porque a humanidade sofreu muito mais guerras, fomes e pestilências naquele tempo do que hoje. Todos os peritos em população (demógrafos) actuais concordam. Estes factores causaram uma mortalidade tão alta que o aumento populacional foi eficazmente restringido.

Frequentemente a alta mortalidade até resultou num decréscimo da população, por exemplo através da pestilência, como foi mostrado atrás. "Até aos tempos modernos epidemias e fomes reduziram regularmente qualquer aumento populacional," diz o historiador Fernand Braudel.42 O demógrafo Alfred Sauvy, falando do alto "factor de mortalidade" no passado, expõe as causas da seguinte forma:

Este factor de mortalidade estava activo no passado através de três irmãs estraordinária e mortalmente fatais: Fome, Doença e Guerra. Devido aos seus efeitos imediatos a Fome certamente ocupou o primeiro lugar nesta trindade aterrorizante, seguida de perto pelo seu parente próximo, a Doença.43

Este factor de mortalidade tem sido substancialmente reduzido em tempos recentes:

Das três irmãs demograficamente fatais apenas a guerra tem continuado a trabalhar imbativelmente. Referimo-nos aqui a guerra no sentido estrito da palavra, porque outras formas de violência que resultam dela têm sido consideravelmente reduzidas. [...] As doenças ainda existem, mas epidemias do tipo das que anteriormente dizimaram nações inteiras já não existem. A fome e a má nutrição ainda existem mas a morte pela fome foi eliminada principalmente devido a melhores meios de transporte.44

Estes são factos firmemente estabelecidos hoje, conhecidos não apenas entre os peritos mas encontrados até em livros escolares. Como um exemplo, a seguinte declaração conclui uma discussão sobre a explosão populacional num livro sobre educação cívica muito usado em liceus suecos:

Como conclusão pode dizer-se que atingimos um desenvolvimento que é único para a humanidade. Por milhares de anos fome, doença e guerra condenaram eficazmente todas as tendencias para um crescimento acelerado da população mas depois do desenvolvimento de técnicas e da medicina o equilíbrio anterior entre as forças construtivas e destrutivas da vida foi alterado, resultando na explosão populacional.45

Consequentemente as guerras, especialmente as fomes e pestilências devastadoras desempenharam um papel decisivo em restringir a população da terra no passado. Avanços médicos e técnicos combinaram-se para deter as devastações das pestilências, para aumentar os abastecimentos de comida e melhorar os meios de a transportar. O resultado tem sido um decréscimo acentuado da mortalidade, e isto é particularmente verdade no que diz respeito à mortalidade infantil. Esta é a verdadeira causa da explosão populacional.46



POPULAÇÃO MUNDIAL 3000 A.C.--1985 A.D.

[imagem] A curva da população usual



Olhemos mais de perto para a curva populacional, tal como é normalmente representada em várias publicações (veja a ilustração acima).

Tal como veremos, esta curva idealizada não representa todo o quadro. Para chegarmos a uma representação mais exacta, temos de primeiro levar em consideração as causas reais da explosão populacional no nosso século. A linha longa, quase horizontal, no gráfico testemunha o longo período em que fomes devastadoras, pestilências e guerras provocaram um aumento muito lento da população. A curva à direita, que sobe abruptamente, aponta para uma redução enorme do efeito das fomes e pestilências em tempos recentes.47 A curva no gráfico é simplesmente muito esquematizada e não transmite toda a verdade sobre este aumento fenomenal.

Como indica o Professor Erland Hofsten:

[...] a imagem usual do desenvolvimento populacional está errada. De acordo com ela a população da terra tem aumentado num ritmo regular, primeiro devagar e depois a uma taxa sempre crescente, até termos o que é agora popularmente chamado 'a explosão populacional.' Mas as coisas não aconteceram com essa simplicidade. Segundo todas as aparências houve muitos períodos em que a população esteve estacionária ou até em decréscimo, alternando com períodos de rápido aumento.48

Assim a população da China era praticamente a mesma em 1500 A.D. como no tempo de Cristo. A população da península Indiana decresceu de 46 milhões no tempo de Cristo para 40 milhões em 1000 A.D.. E a população do Sudoeste Asiático decresceu de 47 milhões no tempo de Cristo para 38 milhões em 1900 A.D.49

Segundo o demógrafo Francês Jean-Noel Biraben a população total da terra era aproximadamente a mesma em 1000 A.D. e no tempo de Cristo, tendo aumentado e diminuído durante aqueles séculos devido a fomes devastadoras, pestilências e guerras.50 Esta estagnação testemunha a morte de literalmente milhares de milhões de pessoas, incluindo crianças e bebés, nestas calamidades durante aqueles séculos. Do século quinze ao dezanove, fomes, guerras civis, epidemias e infanticídio mantiveram a população japonesa praticamente estacionária durante quatro séculos.51 Muitos outros exemplos poderiam ser dados. O demógrafo Britânico T. H. Hollingsworth afirma que "a população deve ter diminuído tão frequentemente (ou quase tão frequentemente), e tanto, como aumentou."52

Por essa razão, demógrafos modernos apresentam curvas da população que reflectem estas flutuações. O exemplo apresentado na ilustração é baseado numa curva desenhada por Biraben, e mostra as alterações na população mundial desde cerca de 400 A.C. até 1985.53 Esta mostra que a população foi a mesma em 1000 A.D. e no tempo de Cristo,bem como o impacto da Peste Negra sobre a população mundial desde 1348 A.D. até cerca de 1550.

Quando voltamos a nossa atenção para curvas desenhadas para cada um dos países, a impressão é ainda mais reveladora. A curva apresentada na próxima ilustração, por exemplo, refere-se ao Egipto, e é baseada nos números e na curva desenhada por Hollingsworth.54 As mudanças dramáticas entre aumentos e decréscimos não são de maneira nenhuma únicas. Curvas para muitos outros países apresentam oscilações similares. A curva do Egipto mostra decréscimos muito acentuados da população devidos a guerras e pestilências, mas deve-se notar que as guerras e pestilências eram normalmente acompanhadas por fomes severas que contribuíam grandemente para estes decréscimos.

Portanto a moderna "explosão populacional," revela por comparação uma terrível história sobre o passado do homem, uma história de fomes, pestes e outras calamidades numa escala que -- mesmo se encaradas como um todo -- não têm nada que lhe corresponda nos tempos modernos. O seu testemunho está ali para todos verem, e é impossível refutá-lo. E, muito significativamente, desfere um golpe de morte na ideia de nós termos visto um "sinal composto" que poderia servir como uma indicação infalível da parousia de Cristo desde 1914, ou o princípio de algum período especial de 40 anos desde 1948, ou outras alegações similares.



POPULAÇÃO NO EGIPTO, 664 A.C.-1985 A.D.

[imagem]

Curva da população para o Egipto, 664 A.C. até 1985 A.D. (Baseada na informação e na curva desenhada por T. H. Hollingsworth, em Historical Demography [Demografia Histórica], Londres e Southampton, 1969, página 331.)




Possibilidades versus realidades

Falta dizer que o cenário mundial está sempre sujeito a mudanças, algumas vezes mudanças muito súbitas. Pode-se desenhar facilmente um cenário imaginário do que poderia acontecer durante os anos que restam até ao fim deste século vinte. Não é difícil encontrar dados sobre os quais construir uma tal situação hipotética. A crescente população mundial poderia levar a fomes de tamanho e mortalidade sem precedentes. Visto que os sismólogos durante algum tempo predisseram que o Japão e a Califórnia são propensos à ocorrência de alguns grandes terramotos, poderíamos prever tais ocorrências e a morte de dezenas de milhares de pessoas, se áreas densamente povoadas como Tóquio, São Francisco e Los Angeles fossem atingidas. Em tempos de fome e outras grandes catástrofes, as epidemias podem espalhar-se mais rapidamente. Portanto poderíamos juntar isto em proporções incontroláveis à visão.55 E por último mas de maneira nenhuma menos importante, o espectro da guerra nuclear poderia ser acrescentado ao cenário, visto que, se ocorresse poderia inquestionavelmente provocar a morte de milhões, mesmo centenas de milhões de pessoas.

O problema em usar um tal cenário de desastres horríveis como base para afirmações sobre o nosso século e períodos específicos desde 1914 e 1948 é que estas coisas não passam de possibilidades. Não são realidades. Poderíam acontecer, mas não aconteceram. Por essa razão não podem servir como prova de coisa nenhuma com respeito a 1914 ou 1948 ou qualquer outro período igualmente distante no nosso século. Mesmo se um tal cenário imaginário se desenvolvesse realmente, suponhamos, na década de 1990, o que é que isso provaria acerca de 1914 ou 1948? A Watch Tower Society, por exemplo, ainda teria que explicar por que é que os primeiros setenta anos desde 1914 -- o período no qual o "sinal composto" supostamente apareceu como prova da "presença invisível" de Cristo -- não presenciaram nenhum aumento em qualquer dos aspectos do suposto "sinal." As predições de Hal Lindsey a respeito de um período de quarenta anos começando em 1948 com o estabelecimento do estado Judaico em Israel, seria ainda um puzzle complexo sem outras peças anteriores a esse possível, conjectural, desenvolvimento futuro. As declarações do Dr. Billy Graham sobre ouvir os passos dos quatro cavaleiros "aproximando-se, soando cada vez mais alto," teriam então de ser tomadas como evidência de audição profética, uma audição de sons ampliados ainda no futuro, uma vez que presentemente os factos mostram que nenhum dos simbólicos "quatro cavaleiros" está em maior evidência no nosso tempo do que esteve em séculos passados.

O mero facto de qualquer coisa poder acontecer não quer dizer necessariamente que acontecerá. Mesmo antes do desenvolvimento da bomba atómica, as nações tinham desenvolvido gases venenosos e armas bateriológicas com um potêncial assustador. Não obstante, embora o gás venenoso tenha sido usado com consequências horríveis na I Guerra Mundial, desde então, mesmo durante a feroz II Guerra Mundial, as nações refrearam-se de qualquer uso de gás venenoso e nunca recorreram ao emprego das suas armas temíveis da guerra bacteriológica. Também vale a pena lembrar que a última vez que uma arma atómica foi usada contra humanos foi em 1945, já há quatro décadas. Predições sobre o futuro baseadas em raciocínios e suposições humanas continuam a ser um jogo de adivinhas, desligado do cumprimento real da profecia divina.

Dito de forma simples, e deixando de lado conjecturas e circunstâncias imaginadas, a realidade é que a nossa geração não é mais atingida por fome, pestilência, terramotos, guerra, crime ou medo do que outras gerações no passado, e em alguns aspectos até o é menos.

Notas

1 O mesmo raciocínio é repetido no livro Life -- How Did It Get Here? (A Vida -- Qual a Sua Origem?) publicado pela Watch Tower Society em 1985, na página 226.

2 E. Parmalee Prentice, Hunger and History (Fome e História; Caldwell, Idaho, 1951), p.137.

3 Ralph A. Graves, "Fearful Famines of the Past" ("Fomes Atemorizantes do Passado"), The National Geographic Magazine (A Revista Geográfica Nacional), Julho 1917, p.69. Walford expressa-se em termos similares: "Portanto a espada, pestilência, e fome são agora, como têm sido em todos os tempos, os três inimigos mortais associados da raça humana." C. Walford, "The Famines of the World: Past and Present" ("As Fomes do Mundo: Passadas e Presentes"), Journal of the Statistical Society (Jornal da Sociedade de Estatística), Vol. XLII, (Londres, 1879) pp. 79, 80.

4 Citado por Prentice, p.139. Alguns exemplos horrendos são dados por Graves, pp. 75-79.

5 Citado por Philip Ziegler em The Black Death (A Peste Negra; Londres, 1969), p. 259. Veja também as páginas 83, 108, 108, 160, 192, 271, e 272 do mesmo trabalho.

6 Hanns von Hofer, Brott och straff i Sverrige. Historik Kriminalstatistik 1750-1982, Statistika centralbyrän (Estocolmo, 1984), p. 3:4 e Diagrama 1:3.

7 The Watchtower, 15 de Julho de 1983, p. 7. A The Watchtower de 1.º de Fevereiro de 1985, afirmava ainda mais enfaticamente: "É verdade, tem havido guerras, escassez de alimentos, terramotos e pestilências ao longo dos séculos da nossa Era Comum até 1914. (Lucas 21:11) Ainda assim, não houve nada que se compare com o que ocorreu desde que os tempos dos Gentios terminaram naquele ano momentoso." (P. 15)

8 Collier's Encyclopedia (Enciclopédia de Collier), Vol. 4, 1974, p. 234.

9 Veja o "Epílogo" de A Distant Mirror (Um Espelho Distante) de B. W. Tuchman.

10 Sobre as conquistas Mongóis sob Genghis Khan e seus seguidores, veja por exemplo E. D. Phillips, The Mongols (Os Mongóis; 1969), R. Grousset, Conqueror of the World(Conquistador do Mundo; 1967), e J. A. Boyle, The Mongol World Empire 1206-1370 (O Império Mundial Mongol 1206-1370; 1977). As guerras de Genghis Khan e seus seguidores custaram milhões de vidas, muitas mais do que as Guerras Napoleónicas e a Primeira Guerra Mundial, devido aos extensos massacres das populações civis das cidades e aldeias. Assim, conforme foi observado no capítulo cinco, nota de rodapé 62, estima-se que a conquista do Norte da China em 1211-1218 tenha custado 18 milhões de vidas chinesas. E durante a campanha no oeste, 1218-1224, muitas cidades na Pérsia foram completamente destruídas e muitas vezes a população foi completamente exterminada. Regiões inteiras foram devastadas e despovoadas. O Afeganistão, por exemplo, foi transformado num deserto.

11 R. Ernest Dupuy e Trevor N. Dupuy, The Encyclopedia of Military History (A Enciclopédia de História Militar; Nova Iorque e Evanston, 1970), p. 330.

12 Conforme sublinhado anteriormente, os historiadores atribuem geralmente o decréscimo da população chinesa de 123 milhões em cerca de 1200 A.D. para 65 milhões em 1393 às guerras com os Mongóis. Contudo, conforme sugerido por McNeill (Plagues and Peoples[Pestes e Povos], Nova Iorque, 1976, p. 163), a Peste Negra "desempenhou seguramente um papel importante no corte ao meio dos números chineses."

13 Um trabalho excelente sobre Tamerlão e as suas conquistas é Timur, Verhänghis eines Erdteils, por Herbert Melzig (Zurique & Nova Iorque, 1940). Com o objectivo de assustar as áreas conquistadas e submetê-las, Tamerlão constumava construir grandes pirâmides e minaretes -- usando cabeças das populações assassinadas como material de construção, juntamente com argamassa. Muitas de tais pirâmides e minaretes foram constuídos por toda a Ásia.

14 Henry S. Lucas, "The Great European Famine of 1315, 1316, and 1317" ("A Grande Fome Europeia de 1315, 1316, e 1317"), Speculum, Outubro 1930, p. 343. (Publicado pela Medieval Academy of America [Academia Medieval da América]).

15 Lucas, p. 355.

16 Ibid., p. 364.

17 Ibid., p. 376.

18 Ibid., p. 376.

19 Cronistas contemporâneos relatam frequentemente que em certas áreas um terço da população morreu. Mesmo estimativas conservadoras mostram que a fome custou um pesado tributo. Assim, o Dr. Henry Lucas estima que uma em cada dez pessoas na Europa a norte dos Alpes e dos Pirinéus morreu. (Lucas, pp. 369, 377)

20 Walford, p. 439. Compare com Ziegler, p. 44. O historiador Sueco Michael Nordberg, ao mencionar a grande fome de 1315-18 e outros anos de fome da década de 1320, diz que os "anos 1335-52 significaram um período quase contínuo de colheitas destruídas em praticamente toda a Europa devido à combinação fatal de verões secos com outonos muito chuvosos." (Den dynamiska meldeltien, Estocolmo, 1984, p. 35)

21 Janken Myrdal, Digerdöden (Estocolmo, 1975), pp. 19, 22. A dança de St. Vitus atacava o sistema nervoso, causando a morte ou incapacidade.

22 A. L. Maycock, "A Note on the Black Death" ("Um Apontamento acerca da Peste Negra"), no Nineteenth Century (Século Dezanove), Vol. XCVII, Londres, Janeiro-Junho 1925, pp. 456-464. (Citado por Campbell, p. 5)

23 Fritz Curschmann, Hungersnöte im Mittelalter (Leipziger Studien aus dem Gebiet der Geschichte) (Leipzig, 1900), pp. 12-17.

24 Raymond Crawford, Plague and Pestilence in Literature and Art (Peste e Pestilência na Literatura e na Arte; Oxford, 1914), p. 65.

25 Ziegler, p. 13. Graves (p. 89) acrescenta que "segundo registos chineses, 4.000.000 de pessoas pereceram pela fome só na vizinhança de Kiang," e o climatologista H. H. Lamb diz que a fome chinesa causada pelas chuvas e inundações de rios extraordinariamente grandes em 1332 custou "alegadamente 7 milhões de vidas." (Climate, Present, Past and Future [Clima, Presente, Passado e Futuro], Vol. 2, Londres e Nova Iorque, 1977, p. 456)

26 Charles Morris, Historical Tales: The Romance of Reality (Contos Históricos: O Romance da Realidade), Lippincott 1893, p. 162 f. O famoso escritor do século 14, Petrarca, residindo em Verona, Itália, na altura do abalo, escreveu sobre ele como se segue: "Os nossos Alpes, pouco habituados a movimentos, como Virgílio diz, começarama tremer na noite de 25 de Janeiro. Neste preciso momento uma grande parte da Itália e da Alemanha foi tão violentamente abalada que pessoas desprevenidas e para quem a coisa foi inteiramente nova e desconhecida pensavam que o fim do mundo tinha chegado." (Haroun Tazieff, When the Earth Trembles [Quando a Terra Treme], Londres, 1964, p. 155)

27 Tazieff, pp. 154, 155.

28 Ibid., pp. 155, 156.

29 Veja a informação apresentada no capítulo três deste trabalho.

30 A. M. Campbell, The Black Death and Men of Learning (A Peste Negra e os Homens do Saber; Nova Iorque, 1931), p. 129.

31 Lucas, pp. 359, 360.

32 O alcance que esta forma de crime teve no passado é pouco conhecido hoje, tendo praticamente desaparecido. Os piratas Sarracenos, por exemplo, durante longos períodos quase dominaram toda a área do Mediterrâneo, travaram uma guerra marítima que durou mais de mil anos (séculos 8 a 19), saquearam e devastaram não apenas as cidades costeiras mas assolaram cidades bem dentro da Europa Central. Incontáveis pessoas foram mortas durante estas expedições devastadoras. (Erik-Dahlberg, Sjörövare, Estocolmo 1980, pp. 49-63.)

33 Ziegler, p. 277.

34 Ziegler, p. 278.

35 Tuchman, página xiii.

36 Poderiam ser feitas comparações similares com outros períodos no passado, o sexto século, por exemplo, quando a "peste de Justiniano" assolou o mundo. Conforme indicado no capítulo quatro, os historiadores sustentam que as pestes do terceiro e sexto séculos contribuíram para o declínio do império Romano, tanto da parte ocidental como da oriental. A fome desempenhou um papel similar.

37 Crescimento exponencial, também descrito como crescimento geométrico, significa a duplicação do número a intervalos determinados. Mas é essencial que estes intervalos sejam constantes, de outro modo o crescimento não é exponencial. Veja a discussão pelo Professor Erland Hofsten em Demography and Development (Demografia e Desenvolvimento; Estocolmo, 1977), pp. 15-19.

38 Este é o aumento médio anual durante os últimos 35 anos. Mas a taxa de aumento está a diminuir. Em anos recentes tem sido 1.8 porcento, e segundo o último relatório desceu agora para 1.7 porcento. As Nações Unidas estimam que se esta tendencia continuar, a população estabilizará à volta dos 10 biliões no fim do próximo século. -- New Scientist (Novo Cientista), 9 de Agosto de 1984, p.12.

39 H. Hyrenius, Så mycket folk (Tanta gente; Estocolmo, 1970), pp. 9-11.

40 Jan Lenica e Alfred Sauvy, Population Explosion, Abundance of Famine (Explosão Populacional, Abundância de Fome; Nova Iorque, 1962). Citado da edição sueca, Befolkningsproblem (Estocolmo, 1965), p. 17.

41 Thomas Malthus, Essay on the Principle of Population (Ensaio sobre o Princípio da População), publicado pela primeira vez anonimamente em 1798. Citado por Hofsten (1977), p. 114.

42 Fernand Braudel, Civilization & Capitalism 15th-18th Century: The Structures of Everyday Life (Civilização & Capitalismo Séculos 15-18: As Estruturas da Vida Quotidiana; Londres, 1981), p. 35.

43 Lenica & Sauvy (1965), p. 12.

44 Lenica & Sauvy, pp. 20, 26.

45 Björkblom, Altersten, Hanselid & Liljequist, Världen, Sverige och vi (Uppsala, 1975), p. 31.

46 A Watch Tower Society não ignora completamente estes factos. A Awake! de 8 de Agosto de 1983, por exemplo, começou um artigo sobre o assunto declarando que a actual explosão populacional "é devida em parte a um decréscimo à escala mundial da taxa de mortalidade como consequência de cuidados médicos e condições económicas e sociais melhores," mas depois passou rapidamente para uma consideração de crescimento exponencial como sendo a causa. Um artigo mais antigo, publicado na Awake! de 8 de Setembro de 1967, foi mais direito ao assunto declarando que "avanços no controlo das doenças reduziram drasticamente a taxa de mortalidade na maioria dos países," e que "o controlo em massa de doenças infecciosas produziu uma redução espetacular na taxa de mortalidade entre os bebés e as crianças." (Páginas 4 e 5) As consequências desastrosas deste "controlo em massa das doenças infecciosas" para a ideia do "sinal composto" não foram, é claro, indicadas pela Watch Tower Society.

47 E. P. Prentice, concentrando-se no impacto da fome na raça humana, diz que "a curva horizontal representa o longo período de necessidade que o homem tem conhecido tão bem durante muitas épocas." Então, "por volta de 1850, veio a abundância, e é a abundância que faz a torre elevar-se tão abruptamente de um horizonte que até àquele tempo não tinha sugerido nenhuma possibilidade de uma tal mudança." Progress: An Episode in the History of Hunger? (Progresso: Um Episódio na História da Fome?; New York, 1950), pp. xx, xxi.

48 Erland Hofsten, Befolkningslära (Lund, 1982), p. 14.

49 Estes são números do demógrafo Francês Jean-Noel Biraben citado por Hofsten. (Befolkningslära, p. 17)

50 Hofsten, Befolkningslära, p. 15.

51 Josué de Castro, Geography of Hunger (Geografia da Fome; Londres, 1952), pp. 162, 163. O Infanticídio, "a destruição deliberada de bebés recém nascidos através da exposição ao frio, fome, estrangulamento, asfixia, envenenamento, ou através do uso de alguma arma letal," foi o principal meio de controle de nascimentos antes do uso de contraceptivos e abortos legais se ter tornado comum. Antes do século vinte o infanticídio era praticado numa larga escala, não só no Japão e na China, mas por todo o mundo, incluindo a Europa, provocando muitos milhões de mortes anualmente. Hoje o método foi substituído por abortos, que, embora sejam encarados por muitos como inaceitáveis, incluindo os autores, de um ponto de vista cristão, ainda assim representam um desenvolvimento numa direcção mais humana. Veja William L. Langer, "Infanticide: A Historical Survey," History of Childhood Quarterly ("Infanticídio: Uma Pesquisa Histórica," Publicação Trimestral de História da Infância), Inverno de 1974, Vol. 1, N.º 3, pp. 353-365; também Ping-ti Ho, Studies in the Population of China, 1368-1953 (Estudos sobre a População da China, 1368-1953; Cambridge, Massachusetts, 1959), pp. 58-61. (O infanticídio ainda ocorre em algumas áreas na África e na América do Sul. Veja Barbara Burke, "Infanticide" ["Infanticídio"] , revista Science [Ciência] , Maio de 1984, pp. 26-31.)

52 T. H. Hollingsworth, Historical Demography (Demografia histórica; Londres e Southampton, 1969), p. 331.

53 Hofsten, Befolkningslära, p. 15.

54 Hollingsworth, p. 311. A curva foi redesenhada e actualizada por um perito nosso amigo, Fred Sørensen, que também contribuíu muito para outras partes deste trabalho.

55 Numa tentativa de enfatizar a pestilência ou a doença como um aspecto notável hoje, a The Watchtower de 15 de Abril de 1984, citou o Dr. William Foege dos Atlanta Centers for Disease Control (Centros de Atlanta para o Controlo das Doenças) como tendo dito: "Eu antecipo que possivelmente no nosso tempo de vida veremos outra variante da gripe tão mortífera como a de 1918." (P. 6)




The Sign of the Last Days -- When? (O Sinal dos Últimos Dias -- Quando?) (Atlanta: Commentary Press, 1987) de Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst, pp. 237-248.

Apêndice A: Correspondência Com Sismólogos

Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst


Existe ao menos um sismólogo versado em história dos sismos que concorde com os actuais anunciadores do fim dos tempos, e nomeadamente com a Watch Tower Society, quando afirma que o nosso século tem presenciado um número anormalmente grande de terramotos destrutivos?

Os autores escreveram a vários reputados simólogos ao redor de todo o mundo para o descobrir. As respostas recebidas foram notavelmente unânimes. De facto, não encontrámos um único sismólogo que pense que os terramotos têm aumentado dramaticamente em número durante este século.

Mais de cem anos de pesquisa em sismicidade histórica parecem ter estabelecido um consenso geral entre as autoridades no assunto apontando para o facto de a sismicidade da terra não ser marcadamente diferente hoje do que tem sido sempre por milhares de anos.

Por considerações de espaço nós podemos apenas publicar uma selecção das cartas recebidas, mas aquelas não publicadas contêm a mesma mensagem. Em geral, nós explicámos a natureza da nossa investigação e colocámos algumas perguntas. As mais típicas foram as seguintes:

1. Sente que tem havido um aumento tremendo de grandes terramotos durante este século em comparação com séculos anteriores?

2. Sente que a actividade sísmica neste século é de alguma forma única?

3. Sabe de algum sismólogo que sustente que o nosso tempo tem visto um número invulgarmente grande de terramotos?

A primeira carta publicada, do Professor Båth, faz referência a um artigo de Howard D. Burbank intitulado "Haverá terramotos." Aquele artigo foi publicado no periódico Adventista Review de Dezembro de 1977. O artigo continha um gráfico elaborado para mostrar que o número de terramotos tem aumentado de forma explosiva, especialmente no nosso século vinte. Nós pedimos ao Professor Båth que comentasse as declarações de Burbank, o que ele faz na sua resposta:



SECÇÃO SISMOLÓGICA
BOX 12019
S-750 12 UPPSALA
SUÉCIA
Uppsala, 17 de Junho de 1983

Sr. Carl Olof Jonsson
Box 281
433 25 Partille

Muitos agradecimentos pela sua carta de 6 de Junho e pelo artigo anexo "Haverá terramotos" de Howard D. Burbank. -- É evidente que o senhor está completamente certo nas suas objecções a este artigo. O autor comete o erro catastrófico de contar apenas o número de tremores de terra. Em vez disso ele devia ter tentado ir pelas magnitudes de Richter e portanto pela energia libertada. O resultado teria sido então bastante diferente.

Como o senhor correctamente assinala, só em épocas recentes é que nós temos uma rede de estações sismológicas melhor e consequentemente uma melhor observação. De facto, dados instrumentais fiáveis remontam apenas a cerca de 1900. Mas podemos fazer um exame estatístico do período desde então.

Para isto junto um periódico -- Tectonophysics 54 (1979) T1-T8 -- em cuja Fig. 2 se mostra a libertação de energia e o número de terramotos com magnitudes de 7.0 ou mais. Os primeiros 20 anos (até cerca de 1920) tiveram cerca de duas vezes tanta energia libertada por ano como todo o período desde então. O número de tremores de terra com magnitudes de 7.0 ou mais também não mostra nenhum aumento assinalável em anos posteriores.

Para séculos anteriores não temos as mesmas estatísticas fiáveis, mas não há indicações nenhumas de qualquer aumento na actividade ao longo do tempo. -- Sem a menor hesitação o artigo (de Burbank) tem de ser rejeitado.

Com respeitosos comprimentos,

Markus Båth





A seguinte carta bastante detalhada foi recebida de Wilbur A. Rinehart do World Data Center A (Centro Mundial de Dados A) em Boulder, Colorado:

CENTRO MUNDIAL DE DADOS A
CENTROS BOULDER
Centro Nacional de Dados Geofísicos
Administração Nacional Oceânica e Atmosférica
325 Broadway
Boulder Colorado 80303 E.U.A.
TELEX: 45893 SOLTERWARN-BDR
8 de Agosto de 1985

Drs. Wolfgang Herbst & Carl O. Jonsson
Box 14037
S-14037
S-400 20 Goteborg, Suécia

Prezados Drs. Herbst e Jonsson:

O Dr. Ganse deixou o Data Center há cerca de três anos e pediram-me para responder às perguntas que os senhores colocaram na vossa carta de 7 de Julho de 1985.

A sismologia instrumental começou por volta do virar do século. Antes disso, o relato tanto dos grandes terramotos como dos pequenos recaía sobre a população em geral, uma pequena comunidade científica e os media. Grandes terramotos ocorrendo em áreas escassamente povoadas passaram despercebidos e raramente foram catalogados.

A localização sistemática de terramotos começou com a Pesquisa Sismológica Internacional em Inglaterra em 1913 por Herbert Hall Turner, seguindo a orientação estabelecida por John Milne que era encarado com o pai da sismologia Inglesa. O trabalho deles foi continuado por muitos outros, incluindo a Sr.ª Ethel Bellamy e Sir Harold Jefferys que continuaram a publicar relatórios anuais e quinquenais de terramotos localizados pela PSI desde 1918. Eles usaram dados instrumentais para determinar as localizações destes terramotos. Naquele tempo, existiam menos de duas centenas de observatórios sismológicos no mundo e os instrumentos eram todos de alcance reduzido, na ordem dos 100 a 200. Mesmo com esta grande contribuição para as observações sismológicas, os instrumentos eram demasiado insensíveis para determinar mesmo alguns grandes terramotos em áreas remotas do mundo.

A sismologia não recebeu realmente um grande alargamento instrumental até ao princípio da década de 1960 quando a pesquisa costeira e geodética dos Estados Unidos instalou uma rede de 111 conjuntos duplos de instrumentos exactos, por todo o mundo 'livre', principalmente com o objectivo de detectar a detonação de bombas nucleares subterrâneas. A resposta de todos estes instrumentos foi a mesma; a sua precisão variava dependendo do ruído do chão no local. Naquele tempo atingiu-se a possibilidade de detectar todos os terramotos grandes e significativos e provavelmente nenhum no mundo passou sem ser detectado.

O uso incorrecto das estatísticas que os senhores citam na vossa carta é comum da parte de muitos que desejam provar alguma coisa. É sabido que a ocorrência de terramotos não é uniforme no tempo, mas ninguém sabe com certeza qual é a distribuição temporal. O nosso período de tempo estatístico para grandes terramotos é simplesmente muito pequeno para permitir determinar taxas de repetição ou para sugerir que em qualquer período há mais abalos do que noutro período de tempo. Olhando para áreas específicas, parecem haver aglomerados de grandes terramotos no tempo e depois não aparecem nos registos mais nenhuns na área. Um exemplo perfeito disto é o grupo de terramotos com uma magnitude provável de 8+ em 1811-1812 na área de New Madrid nos Estados Unidos centrais. Mesmo a nossa famosa falha de Sto. André tem estado fechada desde 1916, e no entanto houve grandes choques em 1838, 1857 e 1866.

Em resposta às vossas perguntas, eu não concordaria com o uso dos números de terramotos tal como apresentados no 'Catálogo de Terramotos Significativos 2000 AC -- 1979' para provar qualquer taxa de ocorrência ou de repetição de terramotos. Os autores concordariam certamente que a completude do catálogo varia com o tempo, sendo mais pobre nos anos antes da sismologia instrumental. Não conheço nenhuns sismólogos ou estatísticos competentes que usassem os números citados da maneira que a Watchtower Society os usou. Eu certamente concordaria com os Professores Båth e Richter quando afirmam que não houve nenhum aumento significativo no número de terramotos durante este ou qualquer outro século. E eu terminaria com a famosa citação de Mark Twain

"Existem três tipos de mentiras -- mentiras, mentiras malditas, e estatísticas."

Sinceramente seu,

Wilbur A. Rinehart
Sismólogo




Uma vez que a Watch Tower Society na sua publicação The Watchtower de 15 de Maio de 1983, página 6, apelou expressamente para a opinião do Professor Keiiti Aki do Departamento de Ciências Geológicas da Universidade do Sul da Califórnia, a correspondência seguinte é duplamente significativa. Depois de receber uma carta do Professor Aki, nós enviámos uma carta respeitosa, datada de 22 de Setembro de 1985, para a Watch Tower Society, pedindo-lhes uma cópia da declaração completa de Aki para eles. Como era de esperar, eles não estavam dispostos a fornecer tal cópia. Nós somos portanto obrigados a concluir que eles não desejam que outros saibam o conteúdo exacto da declaração a que eles se referiram na sua revista.

Nós apresentamos aqui, apesar de tudo, uma cópia da carta do Professor Aki para a Watch Tower Society que nos foi amavelmente enviada pelo próprio Professor Aki, e isto é seguido por outra correspondência entre o Professor Aki e os autores do presente trabalho. (Para detalhes sobre a maneira como o ponto de vista do Professor Aki foi deturpado nas publicações da Watch Tower Society, veja o Capítulo 3, páginas 66, 67.)



30 de Setembro de 1982

Watchtower Society
25 Columbia Heights
Brooklyn, NY 11201

Prezado Senhor:

Esta é a resposta ao seu inquérito sobre terramotos [EC: ESH 24 de Setembro de 1982]. O aparente aumento em intensidade e frequência de terramotos maiores nos últimos cem anos é, com toda a probabilidade, devido ao melhor registo de terramotos e à vulnerabilidade crescente da sociedade humana aos estragos provocados por terramotos. A razão principal é a bem estabelecida placa tectónica que indica um movimento muito estável ao longo dos últimos milhões de anos.

Uma medida da força dos terramotos mais objectiva do que as baixas é a escala de Richter. É em geral difícil atribuir a terramotos que ocorreram à mais de cem anos magnitudes na escala de Richter. Uma tentativa, contudo, foi feita na China, onde registos históricos são mantidos em melhor forma do que em outras regiões. A figura anexa mostra a escala de Richter (M) dos terramotos na China durante o período de cerca de 2000 anos. Os últimos cem anos são certamente activos, mas houve períodos tão activos como este, por exemplo, de 1500 a 1700.

Sinceramente seu,

Keiiti Aki





O uso pela Watch Tower Society de uma parte seleccionada da carta acima na sua revista The Watchtower resultou numa troca de correspondência entre os autores do presente trabalho e o Professor Aki. Apresentamos aqui o resultado desta correspondência:



DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOLÓGICAS
TELEFONE: (213) 743-2717

5 de Setembro de 1985

Srs. W. Herbst & C. O. Jonsson
Box 14037
S-400 20 Goteborg
SUÉCIA

Prezados Srs. Herbst e Jonsson:

Obrigado pelas vossas perguntas referentes à minha declaração para as Testemunhas de Jeová. Eu penso firmemente que a sismicidade tem estado estacionária por milhares de anos. Eu estava a tentar convencer as Testemunhas de Jeová sobre a estacionaridade da sismicidade, usando os dados obtidos na China para o período de 1500 até 1700, mas eles só deram fraca ênfase à declaração publicada. Evidência geológica excelente para a estacionaridade foi obtida pelo Prof. Kerry Sieh do Caltech, para a falha de Sto. André.

Sinceramente seu,

Keiiti Aki






Wolfgang Herbst e
Carl Olof Jonsson
Box 14037
S-400 20 Göteborg
Suécia

Professor Keiiti Aki
Departamento de Ciências Geológicas
Universidade do Sul da Califória
Parque Universitário
LOS ANGELES
Califórnia 90089-0741
E.U.A.

19 de Abril de 1986

Prezado Senhor,

Muitos ageadecimentos pela sua valiosa carta de 5 de Setembro, em resposta ao nosso inquérito sobre a declaração acerca da frequência dos grandes terramotos tal como citada pela Watchtower Society.

Nós queríamos descobrir até que ponto a Watchtower Society tinha deturpado a sua opinião profissional, portanto eu, Wolfgang Herbst, escrevi à sede da Watchtower em Brookyn pedindo-lhes uma fotocópia da sua declaração completa para eles.

Estranhamente, em vez de nos mandarem a informação desejada eles mandaram-na para o escritório da filial deles na Suécia, que por sua vez o mandou para um ancião local das Testemunhas em Göteborg, chamado Börje Silfverberg. Este representante local escreveu-me e queria-se encontrar comigo num dos seus Salões do Reino, onde me mostrariam a informação que eu tinha pedido. Como isto não era possível no momento eu sugeri que ele simplesmente mandasse uma cópia da correspondência entre eles e o senhor, sublinhando que "quando eu escrevi ao Professor Aki ele não propôs uma reunião inconveniente" mas "prontamente mandou a informação que eu lhe tinha pedido."

Contudo, o Sr. Silfverberg, agindo de acordo com o escritório da Watchtower, mesmo assim não mandou a informação. Distorcendo as coisas, ele escreveu que uma vez que eu tinha a informação de si já não havia nenhuma necessidade "de mostrar a correspondência em questão" e que por conseguinte ele ia mandar a informação de volta para o escritório da filial.

Naturalmente nós tomámos este estranho modo de proceder da parte deles como indicando que se aperceberam que deturparam a sua declaração e que agora estão a tentar abafar todo o assunto. A Watchtower Society afirma, mesmo nas suas publicações mais recentes, que a frequência de grandes terramotos tem aumentado vinte vezes desde 1914!

Uma vez que nós tentamos apresentar os verdadeiros factos sobre a matéria no nosso próximo livro sobre calamidades na história humana, nós gostaríamos de saber se o senhor ainda possui cópias da correspondência que teve com a Watchtower Society e se seria possível para nós obter cópias Xerox de si? Como compreenderá a Watchtower Society não nos quer dar nenhuma ajuda. Entre outras coisas nós gostaríamos de determinar o que é que o senhor quer dizer quando lhes escreve sobre "a aparente vaga em intensidade e frequência dos maiores terramotos durante os últimos cem anos" -- se o senhor escreveu qualquer coisa parecido com aquilo de todo. Se o fez, usou a palavra "aparente" no sentido de "ilusório" (não real), ou no sentido de "evidente, palpável", como a Watchtower Society indica e ainda menos ambiguamente o traduz em outras línguas. A Watchtower sueca, por exemplo, usa uma palavra que significa "visível".

Nós já temos declarações dos seus colegas, doutores Båth, Ambraseys, Person, Kanamori e outros que concordam com o que o senhor já nos escreveu. Mas a deturpação pela Watchtower Society das suas declarações a eles torna a sua opinião significativa num sentido especial. Se o senhor nos poder ajudar uma vez mais nós ficaremos contentes por lhe enviar uma cópia do nosso livro quando for publicado em Atlanta, Georgia, mais tarde este ano,

Sinceramente seus,

Wolfgang Herbst
Carl Olof Jonsson




DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOLÓGICAS
TELEFONE: (213) 743-2717

16 de Junho de 1986

Wolfgang Herbst
Carl Olof Jonsson
Box 14037
S-40020 Goteborg
SUÉCIA

Prezados Senhores:

Encontrarão em anexo uma cópia da minha carta para a Watchtower Society. Apesar do primeiro parágrafo estar de alguma forma incompleto, (a principal razão por que eu penso que a actividade sísmica é constante é abreviada para "A principal razão"), é claro que eles citaram a parte que queriam, eliminando a minha mensagem principal.

Sinceramente seu,

Keiiti Aki




Visto que a área do Mediterrâneo é uma das maiores áreas de terramotos do mundo, a carta seguinte do professor N. N. Ambraseys, do Imperial College of Science and Technology (College Imperial de Ciência e Tecnologia) em Londres, Inglaterra, discutindo a sismicidade naquela área, é de particular interesse:

COLLEGE IMPERIAL DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

N. N. Ambraseys
DSc(Eng) FGS FRGS FICE
Professor de Engenharia Sismológica
Departamento de Engenharia Civil
Imperial College Road
London SW7 2BU
Telephone 01-589 5111 Ext.4718
Telex 261503

9 de Agosto de 1985

Prezados Srs. Herbst e Jonsson,

Obrigado pela vossa carta de 5 de Agosto. A minha resposta geral ao vosso inquérito é que muitas das respostas podem ser encontradas com algum detalhe no livro que escrevi com C. Melville, intitulado "A history of Persian earthquakes" ("Uma história dos terramotos Persas"), Cambridge University Press, 1982.

Com toda a certeza, não houve nenhum aumento na actividade sísmica do Mediterrâneo durante este século. Muito pelo contrário, no Mediterrâneo Oriental a actividade deste século foi anormalmente baixa quando comparada com a dos séculos 10-12 e 18. Eu não penso que tenhamos perdido algum acontecimento importante naquela região durante os últimos 24 séculos.

Anexo algumas publicações que poderão achar de alguma ajuda na preparação do vosso livro,

Sinceramente seu,

N. N. Ambraseys



No seu número de 8 de Junho de 1984, página 29, sob o cabeçalho "Significant" Earthquakes Up (Terramotos "Significativos" Até ao Presente), a revista Awake! da Watch Tower Society referiu-se ao geofísico Waverly Person da United States Geological Survey (Pesquisa Geológica dos Estados Unidos). Esta é a resposta dada ao nosso inquérito pelo Dr. Person, que é o coordenador do National Earthquake Information Service (Serviço Nacional de Informação Sísmica), no Colorado:



Departamento do Interior dos Estados Unidos
PESQUISA GEOLÓGICA
BOX 25046 M.S. 967
CENTRO FEDERAL DE DENVER
DENVER, COLORADO 80225
Escritório de Sismologia & Geomagnetismo Globais
Centro Nacional de Informação Sobre Terramotos
8 de Outubro de 1985

Dr. Carl Olof Jonsson
Box 14037
S-400 20
Goteborg, Suécia

Prezado Dr. Jonsson:

A sua carta para o Dr. Frank Press, acerca de um aumento significativo dos grandes terramotos durante este século foi-me submetida para uma resposta.

Eu não estou certo de qual é a sua qualificação de grandes terramotos, mas para nós grandes terramotos são aqueles que têm magnitudes de 8.0 ou superiores.

Os nossos registos não mostram nenhum aumento significativo nos grandes terramotos. Anexa está uma lista de todos os grandes terramotos de magnitude 8.0 ou maior que temos nos arquivos.

Se o podermos ajudar em mais alguma coisa, por favor volte a contactar-nos.

Sinceramente seu,

Waverly J. Person
Director, Serviço Nacional
de Informação Sobre Terramotos





Junto com esta carta, o Dr. Person enviou uma lista completa dos "grandes terramotos," quer dizer, "todos os terramotos com magnitude 8.0 ou superior," que tinham nos arquivos. Esta lista engloba todos os "grandes terramotos" de 1897 em diante, mais sete terramotos dispersos anteriores àquela data.1 De facto a lista mostra um número gradualmente decrescente de grandes terramotos durante este século, com o número proporcionalmente maior durante o período anterior a 1914. Isto está de acordo com as conclusões de outros sismólogos proeminentes, como é mostrado no nosso capítulo sobre terramotos.2

A lista fornecida pelo Dr. Person está resumida abaixo em intervalos de 17 anos:
Período de 17 anos
N.º de grandes terramotos
Média anual
1897-1913
1914-1930
1931-1947
1948-1964
1965-1981
49
28
28
14
10
2,9
1,6
1,6
0,8
0,6



De 1982 a 1985, inclusive, só ocorreu um "grande" terramoto, aquele no México em 19 de Setembro de 1985. Naturalmente, esta dimunuição grandual do número de grandes terramotos neste século, representa simplesmente uma variação normal quando vista numa perspectiva de longo prazo. A tendencia pode portanto mudar rapidamente para uma tendencia oposta a qualquer altura, de acordo com o ciclo natural dos tremores de terra.

Por ter a publicação da Worldwide Church of God (Igreja Mundial de Deus) The Good News of the World Tomorrow (As Boas Novas do Mundo de Amanhã) feito uma afirmação espantosa segundo a qual de 1901 a 1944 "apenas sete terramotos mediram magnitude 7 ou superior," foi escrita uma carta ao Dr. Seweryn J. Duda, Professor de Geofísica na Universidade de Hamburgo, pedindo os seus comentários. A resposta do Professor Duda é apresentada aqui:



UNIVERSIDADE DE HAMBURGO
INSTITUTO DE GEOFÍSICA

Sr. Wolfgang Herbst
Carl Olof Jonsson
Box 14037
S-400 20 Göteborg
Suécia

7 de Julho de 1986

Prezado Sr. Wolfgang Herbst,
prezado Sr. Carl Olof Jonsson,

Isto é com referência à carta do Sr. Wolfgang Herbst datada de 7 de Junho de 1986. As vossas perguntas podem ser respondidas como se segue:

ad 1) No período de 1901-1944 cerca de 1000 (mil) terramotos com magnitude 7 ou superior ocorreram por todo o mundo.

ad 2) Não é justificada a afirmação segundo a qual os grandes terramotos têm aumentado dramaticamente dos anos cinquenta até ao presente. Há indicações que apontam para um decréscimo constante da actividade sísmica ao redor do mundo -- se expressa em termos de terramotos com magnitude 7 ou superior -- no período que vai do princípio do século 20 até agora. Seria contudo especulativo extrapolar o padrão seja de que maneira for para o futuro.

ad 3) Não há indicações de que o século vinte seja radicalmente diferente de séculos anteriores, no que diz respeito à actividade sísmica global.

O que é diferente, porém, é a maior densidade populacional (em áreas propensas à ocorrência de terramotos, e consequentemente o maior potencial de perda de vidas humanas em caso de um terramoto, compensado contudo em geral por um melhor padrão de construção de casas.) Também, a melhor comunicação aumenta o conhecimento das calamidades envolvidas em caso de desastre natural.

Agradecendo-lhe por ter perguntado a minha opinião acerca do problema acima, sou

Sinceramente seu,

Seweryn J. Duda
Professor de Geofísica





Todas estas cartas escritas por reputadas autoridades em terramotos estão assim em forte contraste com as afirmações extremas, muitas vezes irresponsáveis, feitas por vários anunciadores do fim dos tempos nos nossos dias.

Notas

1 A escolha de 1897 como o ponto de partida não é acidental. Foi na década de 1890 que sismógrafos capazes de registar terramotos longínquos começaram a ser usados. Portanto um registo razoavelmente completo de grandes terramotos de todas as partes da terra só está disponível de 1897 em diante.

2 O sismólogo Seweryn J. Duda, no seu estudo aprofundado do período 1897-1964, conclui: "Portanto, a libertação anual de energia sísmica no mundo mostra uma clara tendencia de decréscimo no intervalo 1897-1964 .... A libertação anual de energia sísmica tem diminuído de forma significativa nos 68 anos desde 1897 tanto à volta do Pacífico como nas outras regiões." (Tectonophysics [Física Tectónica], Vol. 2, 1965, p. 424) Destes 68 anos, os de 1905-1907 tiveram o maior número de terramotos. O geólogo Haroun Tazieff explica: "O período 1905-1907 foi o mais conturbado nos tempos modernos, um período marcado por onze abalos de magnitude 8 ou mais; e só durante o ano 1906 o mundo suportou estes terramotos sucessivos: Honshu, Japão, magnitude 8 ...; fronteira da Colômbia com o Equador, magnitude 8.6; São Francisco, 8.2; Aleutians, 8; Valparaíso no Chile, 8.4; Nova Guiné, 8.1; Sinkiang, China, magnitude 8. Segundo Gutenberg e Richter a energia libertada por terramotos em 1906 foi cinco vezes maior do que a média do século vinte, baseada nos anos 1904-1952." (When the Earth Trembles [Quando a Terra Treme], Londres 1964, p. 134)


Índice


The Sign of the Last Days -- When? (O Sinal dos Últimos Dias -- Quando?) (Atlanta: Commentary Press, 1987) de Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst, pp. 249-265.
Apêndice B: "Vinda" ou "Presença" — O Que Revelam os Fatos?

Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst


Na pergunta feita a Jesus em Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 3, "Qual será o sinal da tua vinda," a palavra "vinda" traduz a palavra grega parousía. Parousía significa primariamente "presença," mas está hoje bem estabelecido que no tempo de Jesus também era usada num sentido diferente. Apesar disto, a Watch Tower Society insiste em "presença" como sendo o único significado bíblico correcto do termo. Nisto eles têm claramente "segundas intenções."

A alegação feita por eles segundo a qual a parousía de Cristo começou em 1914 e que desde aquele ano temos visto o sinal disto nos acontecimentos mundiais implica que os discípulos de Jesus perguntaram por um sinal indicando que Cristo tinha vindo e estava invisivelmente presente, não por um sinal que precederia a sua vinda e que indicasse a iminência desta. Consequentemente a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas, da Sociedade, traduz a pergunta em Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 3, assim:

Diz-nos, Quando sucederão estas coisas, e qual será o sinal da tua presença e da terminação do sistema de coisas?

A ideia por detrás desta tradução é que a segunda vinda de Cristo consiste em duas etapas, a primeira sendo uma presença invisível por um período até à segunda etapa, a da revelação final da sua presença ao mundo na batalha do Armagedom. Esta ideia não se originou com a Watch Tower Society. Remonta à década de 1820, quando foi primeiro sugerida pelo bem conhecido banqueiro e expositor bíblico londrino Henry Drummond, que se tornaria mais tarde um dos fundadores da Igreja Católica Apostólica, de Edward Irving. A teoria da "presença invisível" ou "vinda em duas etapas," hoje melhor conhecida como a teoria do "arrebatamento secreto," foi rapidamente aproveitada por outros expositores de profecias. Foi adoptada não apenas pelos Irvinguitas mas também pelos seguidores de John Nelson Darby, a Irmandade de Plymouth, através da qual se espalhou amplamente na Inglaterra, nos E.U.A. e noutros países. Tornou-se muito popular especialmente entre os milenaristas, cristãos que acreditavam num milénio literal, futuro, na terra.1

Para muitos dos defensores da ideia da "vinda em duas etapas" a palavra grega parousíatornou-se um ponto crucial na discussão. Era normalmente defendido que esta palavra se referia à primeira etapa da vinda de Cristo, a sua presença invisível "no ar." Era usual dizer que as palavras gregas ephiphánia, "aparecer," e apokálypsis, "revelação," por outro lado, aplicavam-se à segunda etapa da vinda, a intervenção de Cristo em acontecimentos mundiais na batalha do Armagedom. Modificar a tradução de parousía de "vinda" para "presença" altera radicalmente o sentido, não apenas da pergunta dos discípulos, mas também da resposta de Jesus. Isto é ilustrado pelos argumentos avançados em 1866 pelo Reverendo Robert Govett, o defensor inglês mais proeminente da ideia do arrebatamento secreto no último século:

Se nós dissermos, 'Qual é o sinal da Tua vinda?' (Mat, xxiv. 3) então, ... estamos a perguntar por um sinal do movimento futuro do Salvador desde os mais altos céus. Se dissermos, 'Qual é o sinal da tua presença' estamos a perguntar por uma prova da existência secreta de Jesus no ar, depois da sua acção para com a terra ter sido suspensa por algum tempo.

Os discípulos perguntam, 'Qual será o sinal da tua Presença?' (versículo 3). Portanto, isto assegura-nos que eles imaginavam que Jesus estaria secretamente presente. Não precisamos de um sinal para aquilo que é exibido abertamente.2

Estes argumentos apresentados em 1866 foram aproveitados por muitos outros expositores, entre eles Charles Taze Russell. Em 1876, sob a influência do Adeventista Nelson H. Barbour e seus associados, Russell tinha adoptado "presença" como o único significado aceitável de parousía para explicar como Cristo poderia ter vindo em 1874 (como tinha sido predito por Barbour) sem ter sido notado por ninguém. A adopção deste ponto de vista, portanto, ficou a dever-se a uma predição falhada e foi usada como um meio de explicar o seu falhanço de 1874. Esta explicação foi mantida pelos seguidores de Russell até ao princípio da década de 1930, quando foi subitamente "descoberto" que a "presença invisível" de Cristo tinha começado em 1914 em vez de 1874!

Contudo, tal ênfase em "presença" como sendo o único significado bíblico correcto de parousía parece ter muito pouco apoio entre tradutores da Bíblia. De facto, todos excepto um número muito pequeno de tradutores da Bíblia preferem as expressões "vinda," "advento," "chegada," ou termos similares, em vez de "presença." Um pesquisador e coleccionador de Bíblias, que é Testemunha, William J. Chamberlin, de Clawson, Michigan, E.U.A., verificou cuidadosamente como é que parousía é traduzido em Mateus capítulo vinte e quatro, versículos 3, 27, 37 e 39, em centenas de Bíblias diferentes desde o Novo Testamento de William Tyndale de 1534 até traduções publicadas tão recentemente como 1980, e ele preparou listas extensivas do modo como 137 traduções deste período apresentam aqueles versículos. Um exame destas listas forneceu alguns resultados muito interessantes.
"Parousía" nas traduções da Bíblia

Antes da segunda metade do século dezanove aparentemente poucos tradutores da Bíblia estavam inclinados a traduzir parousía por "presença." Dos tradutores ingleses do Novo Testamento desde Tyndale no século dezasseis até Robert Young em 1862, Chamberlin encontrou apenas um tradutor, Wakefield, que no seu Novo Testamento (1795) usou "presença" como uma tradução de parousía em Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 39. Mas mesmo Wakefield preferiu traduzi-la como "vinda" nos versículos 3, 27 e 37 no mesmo capítulo. Mais ainda, Daniel Scott na sua tradução de Mateus publicada em 1741 (New Version of St. Matthew's Gospel [Nova Versão do Evangelho de S. Mateus]) apresenta "presença" nas notas, enquanto retém "vinda" no texto principal.

O primeiro tradutor no século dezanove a traduzir parousía como "presença" em Mateus capítulo vinte e quatro foi provavelmente o Dr. Robert Young na sua Literal Translation of the Holy Bible (Tradução Literal da Bíblia Sagrada; 1862), sendo a razão, como o título indica, ter ele tentado apresentar os significados estritamente literais das palavras gregas em vez dos significados no idioma moderno. Dois anos depois, Benjamin Wilson, um dos primeiros líderes de um pequeno grupo religioso conhecido hoje como a Church of God General Conference (Conferência Geral da Igreja de Deus), publicou a sua The Emphatic Diaglott (A Diaglott Enfática; 1864), que também traduz parousía como "presença" em todas as 24 ocorrências no Novo Testamento.3

Então, em 1868-1872, Joseph B. Rotherham publicou o seu The Emphasized New Testament (O Novo Testamento Enfatizado). Mas não foi senão na terceira edição revista, publicada em 1897, que Rotherham mudou a sua tradução da parousía de "vinda" para "presença." Porquê? A razão que ele dá no Apêndice da terceira edição indica que ele, pelo menos em parte, tinha abraçado a ideia da "vinda em duas etapas". Ele explica que a parousía de Cristo pode ser não só um evento, mas também "um período -- mais ou menos extenso, durante o qual certas coisas devem acontecer." Indubitavelmente, Rotherham foi influenciado no seu modo de pensar sobre este assunto através da sua amizade próxima com alguns escritores da revista The Rainbow (O Arco-Íris), da qual o próprio Rotherham se tornou editor durante os últimos três anos da sua vida.4

Outros tradutores do século dezanove que usaram "presença" para parousía em Mateus capítulo vinte e quatro foram W. B. Crickmer (The Greek Testament Englished [O Novo Testamento em Inglês], 1881), J. W. Hanson (The New Covenant [O Novo Pacto] , 1884) e Ferrar Fenton, que começou a publicar as primeiras partes da sua tradução, The Bible in Modern English (A Bíblia em Inglês Moderno), em 1880.

No nosso século traduções que vertem parousía como "presença" em Mateus capítulo vinte e quatro são A Concordant Version (1926), de A. E. Knoch, Bible Numerics (2.ª ed., 1935), de Ivan Panin, a New World Translation of the Christian Greek Scriptures da Watch Tower Society (1950), New Testament de James L. Tomanek (1958), a Restoration of Original Holy Name Bible (1968), Today's English New Testament (1972), de Donald Klingensmith e o New Testament do Dr. Dymond (1972; apenas em forma manuscrita).5 Outras traduções apresentam às vezes "presença" como o significado literal de parousía em notas de rodapé, mas preferem "vinda," "chegada" (ou outras expressões do mesmo tipo) no texto principal.

Portanto, com estas comparativamente poucas excepções, tanto tradutores antigos como modernos preferiram traduzir parousía por "vinda," "advento," "chegada," ou algum termo similar em vez de "presença" em textos que tratam da segunda vinda de Cristo. Eles fazem isto apesar do facto de todos eles concordarem que "presença" é o significado primário da palavra. Porquê? Será lógico acreditar que tantos peritos na língua original do Novo Testamento de alguma forma não conseguiram encontrar o verdadeiro sentido do termo grego?

Que dizer das versões mais antigas do Novo Testamento, as versões Latina, Siría, Copta e Gótica, que foram feitas enquanto o grego koiné original do Novo Testamento ainda era uma língua viva? O que revelam estas sobre a maneira como aqueles tradutores antigos compreenderam a palavra parousía?
"Parousía" nas versões mais antigas do Novo Testamento

É bem conhecido que a versão Vulgata Latina foi feita pelo grande perito do quarto século Hieronymus, hoje mais conhecido como S. Jerónimo. Ele realizou o seu trabalho de tradução perto do fim do quarto século, começando com os evangelhos em 383 A.D.. Curiosamente, em 20 das 24 ocorrências de parousía no Novo Testamento, Jerónimo escolheu a palavra Latina para "vinda," adventus, da qual deriva a palavra inglesa "advent." As quatro excepções são 1 Coríntios 16:17; 2 Coríntios 10:10; Filipenses 2:12 e 2 Pedro 1:16. Nestas ocorrências a Vulgata usa a palavra Latina para "presença," praesentia. Vale a pena notar que apenas o último destes quatro textos se refere à parousía de Cristo. Em todas as outras dezasseis ocorrências onde parousía se refere à vinda de Cristo, Jerónimo preferiu a palavra Latina adventus. Porquê? Evidentemente ele sentiu que em textos que tratam da parousía de Jesus Cristo a palavra significa "vinda" em vez de "presença." Estava ele errado ao pensar assim?

Na verdade, a Vulgata Latina não foi a versão Latina mais antiga da Bíblia. Foi precedida por numerosas traduções Latinas, algumas das quais foram feitas no segundo século. A Vulgata de Jerónimo era, de facto, não uma tradução mas uma revisão destas versões Latinas anteriores (embora comparadas com os textos originais hebraicos, aramaicos e gregos), uma revisão feita para criar uma versão Latina com mais autoridade do que a diversidade de versões Latinas antigas. Estas versões mais antigas são designadas pelo nome comum de Old Latin Bible (Bíblia Latina Antiga) ou (em Latim) Vetus Latina. Tal como a Vulgata, estas versões também traduzem normalmente parousía por adventus. As cinco excepções (2 Coríntios 10:10; Filipenses 2:12; 2 Tessalonicenses 2:9; 2 Pedro 3:4, 12) incluem apenas duas passagem relativas à parousía de Cristo. Portanto, tal como a Vulgata, as versões Latinas Antigas preferem traduzir parousía pela palavra adventus, fazendo-o em 15 dos 17 textos respeitantes à parousía de Cristo.6 (Veja a tabela anexa na página 255.)

A palavra Latina adventus significa literalmente "uma vinda para," embora pudesse às vezes ser usada no sentido de "presença." No entanto, nas versões Latinas acima mencionadas adventus é claramente usada no sentido de "vinda," em contraste com praesentia, a palavra Latina para "presença."

A versão síria Peshitta foi feita no quinto século, mas tal como a Vulgata Latina foi precedida por versões mais antigas, conforme mostrado, por exemplo, pelos manuscritos siríos Curetonian e Sinaítico.7 Se, como é normalmente sustentado, a língua original de Jesus e dos seus apóstolos foi o aramaico, estas versões sirías podem de facto reflectir palavras usadas pelo próprio Jesus e pelos apóstolos, incluíndo a palavra siría para parousía em Mateus capítulo vinte e quatro, me' thithá!8 Tal como a palavra Latina adventus, me' thitá significa literalmente "vinda," derivando de um verbo que significa "vir."

A Versão Gótica foi produzida por Wulfila a meio do quarto século, sendo por isso ligeiramente anterior à tradução da Vulgata Latina. Esta versão traduz parousía pelo substantivo gótico cums, uma palavra parecida com o "come" inglês. Significa, muito naturalmente, "vinda."9

Portanto, a conclusão notável é que as versões mais antigas do Novo Testamento -- produzidas quando o grego koiné ainda era uma língua viva e por tradutores que, pelo menos alguns deles, conheciam aquela língua muito bem desde a sua infância -- preferiram traduzir o subtantivo grego parousía por palavras que significam "vinda" em vez de "presença" em passagens que se referem à segunda vinda de Cristo. Eles fizeram isto apesar do facto de parousía ter como significado primário "presença" e ser traduzida desta maneira em outros sítios. A questão é: Porque é que eles traduziram a palavra como "vinda" quando se referia à parousía de Jesus Cristo, mas como "presença" quando se referia à parousía, por exemplo, do apóstolo Paulo (2 Coríntios 10:10; Filipenses 2:12)? Durante séculos isto permaneceu uma espécie de mistério, até que -- no princípio do nosso século vinte -- novas descobertas possibilitaram que peritos modernos do Novo Testamento grego descobrissem a resposta a este enigma.

PAROUSIA NAS TRADUÇÕES LATINAS MAIS ANTIGAS DO NOVO TESTAMENTO
Textos que usam
parousia:
Vulgata
(4.º século)
Velha Latina
(2.º século)
Pais da Igreja (1.º ao 5.º século)
Adventus
Praesentia
Mateus 24:3
adventus
adventus
muitos
nenhum
24:27
adventus
adventus
muitos
nenhum
24:37
adventus
adventus
muitos
nenhum
24:39
adventus
adventus
muitos
Victorino, d. 303
1 Cor. 15:23
adventus
adventus
muitos
Agostinho, d. 430
16:17
praesentia
adventus
nenhum?
Ambrosiasto 5.º séc., et al.
2 Cor. 7:6
adventus
adventus
Ambrosiasto
nenhum
7:7
adventus
adventus
Ambrosiasto
nenhum
10:10
praesentia
praesentia
nenhum?
Ambrosiasto
Fil. 1:26
adventus
adventus
Ambrosiasto
nenhum
2:12
praesentia
praesentia
nenhum?
Ambrosiasto
1 Tess. 2:19
adventus
adventus
Tertuliano
d. 220 Ambrosiasto
nenhum
3:13
adventus
adventus
Tertuliano Ambrósio
d. 397 Ambrosiasto
nenhum
4:15
adventus
adventus
muitos
nenhum
5:23
adventus
adventus
Ireneu, d. 190 Tertuliano,
em muitos lugares, et al
Tertuliano, em um lugar
2 Tess. 2:1
adventus
adventus
Tertuliano
nenhum
2:8
adventus
adventus
Tertuliano Ambrosiasto et al
Ireneu Hilário, d. 367 et al
2:9
adventus
praesentia
muitos
Agostinho
Tiago 5:7
adventus
adventus
nenhum
nenhum
5:8
adventus
adventus
nenhum
nenhum
2 Pedro 1:16
praesentia
(falta)
nenhum
nenhum
3:4
adventus
praesentia
nenhum
nenhum
3:12
adventus
praesentia
(Pelágio)
(Auctor)
1 João 2:28
adventus
adventus
nenhum
nenhum

(As variantes dos pais da Igreja são tiradas das notas de rodapé de Sabatier.)

O uso técnico de parousía

Escavações durante o último século nos sítios das antigas colónias do mundo Greco-Romano touxeram à luz centenas de milhares de inscrições em pedra e metal e textos em papiro, pergaminho e fragmentos de loiça.

Estes novos achados revolucionaram o estudo da língua grega original do Novo Testamento. Foi descoberto que o grego do Novo Testamento nem era um "grego bíblico" especial como alguns acreditavam, nem o grego literário, arcaico, usado por autores contemporâneos, mas era em grande parte influenciado pelo grego vernáculo usado por pessoas normais em casa e em qualquer lado, a língua comum da vida diária, a forma falada do grego koiné.

As consequências desta descoberta para a compreensão da língua grega original da Bíblia foram primeiro exploradas em detalhe por Adolf Deissmann, mais tarde Professor na Universidade de Heidelberg (e ainda mais tarde na Universidade de Berlim), que começou a publicar as suas descobertas em 1895. Outros peritos, que se aperceberam da importância da descoberta, em breve começaram a analisar os textos recém descobertos. Foi lançada nova luz sobre a maneira como eram usadas e compreendidas muitas palavras gregas no tempo em que o Novo Testamento foi escrito.

Uma das palavras, cujo significado foi clarificado pelos novos textos, foi a palvra parousía. As novas descobertas foram resumidas pelo Professor Deissmann em 1908 no seu trabalho agora clássico Licht vom Osten (Luz do Oriente). A sua discussão da palavra parousía, que abrange várias páginas, começa com a seguinte explanação:

Ainda outra das ideias centrais da adoração Cristã mais antiga recebe luz dos novos textos, a saber, parousia [parousía], 'advento, vinda,' uma palavra que expressa as esperanças mais ardentes de um S. Paulo. Podemos agora dizer que a melhor interpretação da esperança cristã primitiva da Parousia é o antigo texto sobre o Advento, 'Eis, o teu Rei chegou.' [Mateus 21:5] Desde o período ptolomaico até ao 2.º séc. A. D. conseguimos traçar a palavra a leste como uma expressão técnica para a chegada ou a visita do rei ou do imperador.10

A seguir o Professor Deissmann dá muitos exemplos deste uso do termo. Por ocasião de uma visita oficial, real, deste tipo, como por exemplo quando o imperador romano fez uma parousía às províncias a Leste, "as estradas foram reparadas, multidões reuniram-se para prestar homenagem, houve procissões destes indivíduos vestidos de branco, toques de trombeta, aclamações, discursos, petições, ofertas e festividades."11 Com frequência era reconhecida uma nova era a partir da parousía do rei ou imperador, e eram cunhadas moedas para comemorá-la. Aquando da visita ou parousía do Imperador Nero, por exemplo, em cujo reinado Paulo escreveu as suas cartas para Corinto, as cidades de Corinto e Patras cunharam "moedas-advento." Estas moedas trazem a inscrição Adventus Aug(usti) Cor(inthi), demonstrando que o adventus Latino era usado como um equivalente do termo grego parousía naquelas ocasiões.12

Desde esse tempo, pesquisa adicional feita por numerosos peritos, como os Professores George Milligan, James Hope Moulton e outros, tem confirmado ainda mais as conclusões de Deissmann, que foi quem primeiro demonstrou este uso técnico de parousía.13 Este uso do termo explicou claramente por que razão as versões mais antigas do Novo Testamento o traduzem por palavras que significam "vinda" em textos que estão relacionados com a parousía de Jesus Cristo. Hoje todos os léxicos e dicionários de grego indicam este significado da palavra além do seu significado primário ("presença"), e existe um consenso geral entre os peritos modernos que parousía no Novo Testamento, quando usado para se referir à segunda vinda de Cristo, é usado no seu significado técnico de visita real.14

Será a sua vinda "uma visita de um rei"? Certamente que sim. A Bíblia apresenta repetidamente a parousía de Cristo como uma vinda "com poder e grande glória," quando ele se sentar "sobre o seu trono glorioso" e for acompanhado por "todos os seus anjos." (Mateus 24:30; 25:31) Uma poderosa "voz" de um arcanjo, "um grande som de trombeta," e outros sinais notáveis contribuem adicionalmente para a descrição da parousía de Cristo como uma visita oficial, real, notada por todos e fazendo com que "todas as tribos da terra batam em si mesmas em lamento" ao vê-lo. A sua vinda não é de maneira nenhuma apresentada como uma presença invisível, secreta, que passa despercebida à grande maioria da humanidade -- Mateus 24:27, 29-31; 1 Tessalonicenses 4:15, 16; Revelação 1:7.
Reivindicado o apoio de peritos

Em apoio da sua insistência em "presença" como o único significado aceitável de parousíana Bíblia a Watch Tower Society cita às vezes algumas traduções da Bíblia e ocasionalmente um perito em grego. Contudo, é significativo que a maioria destas referências sejam obsoletas, datando de uma época em que o uso técnico do termo ainda era desconhecido.

Assim, a discussão mais recente da palavra parousía, publicada na Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas com Referências, edição revista de 1984, páginas 1576 e 1577 (Apêndice 5b), começa por citar quatro traduções da Bíblia que apresentam parousía como "presença" em Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 3, três das quais (The Emphatic Diaglott, de Wilson, The Emphasized Bible, de Rotherham, e The Holy Bible in Modern English, de Fenton) foram produzidas antes da descoberta de Deissmann e dos seus colegas. A quarta é a própria Tradução do Novo Mundo das Escrituras Gregas Cristãs da Sociedade, de 1950! O artigo que se segue é completamente dominado por uma citação do trabalho The Parousia escrito pelo Dr. Israel P. Warren, que argumenta em defesa de "presença" como sendo o significado bíblico correcto de parousía. Infelizmente, o trabalho do Dr. Warren data de 1879!15

O artigo, contudo, também se refere a três léxicos de grego moderno. Indica-se que A Greek-English Lexicon de Liddell e Scott e TDNT (Theological Dictionary of the New Testament) de Kittel/Friedrich apresentam ambos "presença" como o significado de parousía. Mas porque é que não se diz aos leitores que estes mesmos dois léxicos explicam a seguir que parousía também era usada no sentido técnico de "a visita de um rei"? Porque é que não é dito aos leitores que estes mesmos léxicos enfatizam que esta é a maneira como a palavra é usada no Novo Testamento quando se refere à parousía de Jesus Cristo? O último destes dois léxicos, TDNT, de fato só gasta algumas frases sobre o significado primário, "presença". O resto do artigo, abrangendo 14 páginas ao todo, é uma discussão do uso técnico do termo, demonstrando que é assim que a palavra é usada nos textos do Novo Testamento que tratam da parousía de Jesus Cristo! O leitor da publicação da Torre de Vigia nunca saberia isto e é improvável que tivesse meios para o descobrir. Uma argumentação que precisa de empregar tal uso obviamente tendencioso da evidência pouco tem que a recomende.

Finalmente, o léxico de Bauer é citado como dizendo que parousía "tornou-se o termo oficial para uma visita de uma pessoa de elevada posição, esp(ecialmente) de reis e imperadores que visitam uma província." Curiosamente, esta declaração é citada como se desse apoio adicional à afirmação de que a Bíblia usa parousía apenas no sentido de "presença", apesar do facto de o léxico de Bauer dar aqui o uso técnico do termo, a visita oficial de um rei ou imperador (ou uma pessoa de elevada posição).

Existe um dicionário moderno de Grego-Inglês, contudo, que parece dar algum apoio ao entendimento da Watch Tower Society acerca da parousía de Cristo como um período de "presença invisível," seguido por uma "revelação" final da sua presença na batalha do Armagedom. É o Expository Dictionary of New Testament Words (Dicionário Expositivo de Palavras do Novo Testamento), de W. E. Vine, que define o termo parousía da seguinte maneira:

PAROUSIA ... denota tanto uma chegada como a subsequente presença com.... Quando usada para se referir ao retorno de Cristo, significa não meramente a sua vinda momentânea para os Seus santos, mas a Sua presença com eles desde esse momento até à Sua revelação e manifestação ao mundo.

Esta descrição da parousía soa muito parecida à da Watch Tower Society. Portanto, não é surpresa nenhuma descobrir que a definição que Vine apresenta da palavra é amplamente citada na página 1335 do dicionário bíblico da Sociedade Aid to Bible Understanding (Ajuda ao Entendimento da Bíblia). Pode ser uma surpresa para alguns, porém, saber que Vine foi um dos mais assíduos defensores da doutrina do "arrebatamento secrteto" no nosso século. Isto aparentemente fez com que ele definisse a palavra parousía de uma maneira que apoiasse os seus pontos de vista teológicos. Contudo, isto só serviu para o pôr em conflito com os resultados da moderna erudição.

Conforme observado anteriormente, a ideia do "arrebatamento secreto" teve os seus defensores mais zelosos entre os seguidores de John Nelson Darby, chamados a Irmandade. Em 1847 um desentendimento entre Darby e George Müller, o líder de um grupo da Irmandade em Bristol, Inglaterra, dividiu o movimento em dois: a Irmandade Exclusiva, liderada por Darby, e a Irmandade Aberta, que alinhou com Müller. Embora o próprio Müller rejeitasse o conceito do "arrebatamento secreto," o movimento da Irmandade Aberta aderiu à ideia e continuou a pregá-la. W. E. Vine, que nasceu em 1873, estava associado com a Irmandade Aberta e parece tê-lo estado desde a sua juventude. Ele foi um grande perito, e o seu Dicionário é inestimável como manual para o estudo do Novo Testamento. A sua definição da palavra parousía, contudo, foi claramente influenciada pela sua aderência à doutrina do "arrebatamento secreto," uma doutrina que lhe deve ter sido muito cara desde a sua juventude. Ele defendeu-a em vários livros escritos em colaboração com um condiscípulo, o Sr. C. F. Hogg, como por exemplo The Epistles of Paul and the Apostle to the Thessalonians (As Epístolas de Paulo e o Apóstolo aos Tessalonicenses; 1914), Touching the Coming of the Lord (Atingindo a Vinda do Senhor; 1919), e The Church and the Tribulation (A Igreja e a Tribulação; 1938). O último livro mencionado foi publicado como uma resposta ao ataque do Rev. Alexander Reese contra a ideia do "arrebatamento secreto," no livro The Approaching Advent of Christ (O Advento de Cristo que se Aproxima), publicado no ano anterior (1937). O bem conhecido exegeta e comentador bíblico, Professor F. F. Bruce, embora tendo os mesmos antecedentes religiosos do Dr. Vine, faz os seguintes comentários críticos a respeito do uso que Vine e Hogg fazem da palavra parousía no seu sistema escatológico:

Talvez o aspecto mais distintivo de Atingindo a Vinda tenha sido o tratamento dado à palavra parousía. Eles insistiram no sentido primário de 'presença' e interpretaram a palavra no seu uso escatológico como significando a presença de Cristo com a Sua Igreja glorificada no intervalo que precede a Sua manifestação em glória....

Pode ser posta em dúvida se esta interpretação de parousía faz justiça ao sentido que a palavra tem no grego helenístico. Os escritores apelaram, de facto, ao léxico de Cremer em apoio do seu ponto de vista; mas Cremer escreveu muito antes de o estudo de papiros vernaculares ter revolucionado o nosso conhecimento da linguagem helenística comum.16

Portanto, a referência da Watch Tower Society à definição de parousía do Dr. Vine não tem grande peso. Examinada mais de perto, mostra ser essencialmente tão obsoleta como as outras referências da Sociedade.
O que mostra o contexto bíblico?

Quando uma palavra tem mais do que um significado, o contexto deve ser sempre considerado ao determinar como deve ser compreendida. O contexto de Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 3, indica que Mateus usou parousía no seu sentido técnico ou no seu sentido primário? A Watch Tower Society afirma que este último sentido, "presença," é indicado pelo contexto. A The Watchtower de 1.º de Julho de 1949 disse, na página 197:

O facto de a chegada ou visita de um rei ou imperador ser um dos significados técnicos de parousía não nega nem refuta que nas Escrituras Sagradas tenha o significado presença a respeito de Jesus Cristo. Para mostrar o significado da palavra o contexto nas Escrituras é mais poderoso do que qualquer uso exterior da palavra em papiros num sentido técnico.

De acrodo, o contexto nas Escrituras é mais poderoso nessa circunstância. A questão é, Será que o contexto de Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 3, realmente mostra que os discípulos perguntaram por um sinal que indicaria que Cristo estava presente, e não por um sinal que indicaria que ele estava a chegar? Existe alguma razão para acreditar que eles na verdade pensavam na vinda de Cristo como uma "presença invisível" que só podia ser reconhecida através de um sinal visível?

Quando esta questão foi posta à Watch Tower Society, eles tiveram de admitir que os discípulos "não faziam ideia que ele [Cristo] reinaria como um espírito glorioso desde os céus e portanto não sabiam que a sua presença seria invisível."17

Se os discípulos não faziam ideia que Cristo no futuro viria para estar invisivelmente presente, como é que eles podiam ter perguntado por um sinal de uma tal presença invisível? Isto, por si só, mostra que Mateus não podia ter usado parousía no sentido de "presença." Evidentemente, eles pediram a Jesus que lhes desse um sinal que anunciaria que a prometida vinda ou chegada de Cristo estaria iminente. Eles queriam um sinal, não para tomarem conhecimento de algo, que já estaria a ocorrer, mas um sinal que desse aviso antecipado que o evento desejado estava prestes a ocorrer, estava de facto iminente. A sua linguagem, as palavras que usaram para expressar a sua pergunta, estariam em harmonia com esse desejo.

Que este é o entendimento correcto é claramente confirmado pela maneira como Marcos registou a pergunta deles. Na versão de Marcos, a pergunta por um "sinal" refere-se apenas à destruição do templo. Certamente é impossível pensar que eles precisavam de algum "sinal" para os convencer que o templo tinha sido destruído ou que a sua destruição estava a ocorrer. Eles queriam alguma indicação antecipada dessa ocorrência!18

A maneira como Jesus respondeu à pergunta deles confirma completamente isto. Depois de mencionar acontecimentos futuros que também incluíam a destruição de Jerusalém, Jesus, nos versículos 29 e 30, descreveu o sinal que acompanharia a sua futura vinda "nas nuvens" e acrescentou:

Aprendei, pois, da figueira o seguinte ponto, como ilustração: Assim que os seus ramos novos se tornam tenros e brotam folhas, sabeis que o verão está próximo. Do mesmo modo, também, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo às portas, -- Mateus 24:32, 33, NW.

Deve-se notar que Jesus não disse que quando eles vissem os ramos novos da figueira ficarem tenros e brotarem folhas, saberiam que "o verão está presente." Estes sinais precederiam o verão e provariam que ele está próximo. Similarmente, o sinal da vinda do Filho do homem provaria que "ele está próximo às portas", não invisivelmente presente. A comparação é entre o verão estar próximo, e Cristo estar próximo. Claramente, Jesus disse aos seus discípulos para estarem atentos a um sinal que iria preceder a sua chegada ou "visita real," e não um sinal que se seguiria à sua chegada e que mostrasse que ele estava invisivelmente presente. Portanto, a partir do contexto de Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 3, é muito claro que os discípulos perguntaram pelo sinal da vinda iminente de Cristo, não por um sinal da sua presença. O contexto, portanto, apoia fortemente a conclusão de que Mateus usou a palavra parousía no seu sentido técnico, para significar a chegada ou visita de um rei ou alto dignitário.19

Também é notável que dos quatro escritores dos evangelhos, Mateus é o único que usa a palavra parousía, e isto só no capítulo vinte e quatro. Os quatro versículos que contêm o termo (3, 27, 37 e 39) têm paralelos em Lucas, mas em vez de parousía Lucas normalmente usa "dia" ou "dias". Quando Jesus compara a sua vinda com o relâmpago, que ilumina repentinamente com um clarão todo o céu visível de este para oeste ele acrescenta, segundo Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 27, "Assim será a vinda (parousía) do Filho do homem," Lucas em vez disso, no capítulo dezassete, versículo 24, tem, "assim será o Filho do homem no seu dia." Assim, a parousía de Cristo e o dia (heméra) são usados de modo equivalente para se referir ao tempo do aparecimento ou revelação de Cristo. Isto é evidenciado ainda mais claramente na comparação que Cristo fez entre a sua vinda e a vinda do dilúvio nos dias e Noé, quando os homens "não fizeram caso, até que veio o dilúvio; assim será a vinda [parousía] do Filho do homem." (Mateus 24:37, 39) A versão de Lucas também acrescenta a destruição de Sodoma nos dias de Ló e diz: "do mesmo modo será naquele dia em que o Filho do homem há de ser revelado." -- Lucas 17:26-30.

É óbvio que Jesus não está aqui a comparar a parousía com os períodos que precederam o dilúvio e a destruição de Sodoma. É desta maneira que a Watch Tower Society o explica, referindo-se à expressão "os dias do Filho do homem" em Lucas capítulo desassete, versículo 26. Pelo contrário, Jesus compara claramente a sua futura vinda como a vinda inesperada do dilúvio, e com a destruição súbita de Sodoma. Tal como aqueles dois acontecimentos, a sua parousía será um acontecimento revolucionário, uma intervenção divina que mudará imediatamente a situação para toda a humanidade de uma maneira muito perceptível. A comparação entre Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 39, e Lucas capítulo dezassete, versículo 30, mostra que a parousía denota "o dia em que o Filho do homem será revelado." O facto de se associarem "os dias de Noé" com "os dias do Filho do homem" em Lucas capítulo dezassete, versículo 26, portanto, significa apenas que tal como os homens nos dias de Noé foram subitamente apanhados desprevenidos nas suas ocupações diárias, assim será também nos dias em que o Filho do homem for revelado. A sua intervenção repentina virá sem que nada tenha alertado as pessoas antecipadamente, pondo-as a par da verdadeira situação.

À primeira vista poderia parecer que a pergunta, "Qual será o sinal da tua vinda (parousía)," em Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 3, não tem um paralelo claro no evangelho de Lucas. A perguntaa dos discípulos, tal como é apresentada em Lucas capítulo vinte e um, versículo 7, parece estar relacionada apenas com a destruição do templo: "Qual será o sinal quando estas coisas [a destruição do templo, versículos 5 e 6] estão destinadas a ocorrer?" Contudo, um dos testemunhos manuscritos mais importantes do texto mais antigo dos evangelhos, o Codex D (Bezae Cantabrigensis), apresenta a pergunta de maneira diferente, tornando-a muito semelhante à de Mateus 24:3, com uma excepção importante:20

Mateus 24:3: "Qual será o sinal da tua vinda [parousía] ?"
Lucas 21:7: "Qual será o sinal da tua vinda [eleuseos] ?"

Como se pode ver, a única diferença é que segundo este manuscrito Lucas não usa parousía mas éleusis, a palavra grega comum para "vinda". O Dr. Schoonheim, depois de examinar cuidadosamente estas semelhanças, até conclui que, "Lucas 21:7, segundo D, apresenta uma tradição mais original," pois é uma tradução do sírio ou até do aramaico me' thitha' ("vinda").21

Portanto, o contexto bíblico não apoia a afirmação de que parousía tem de ser traduzida como "presença" em Mateus capítulo vinte e quatro. O facto de os discípulos não imaginarem a vinda de Cristo como uma "presença invisível," o modo como Jesus respondeu à pergunta deles, bem como os textos paralelos no evangelho de Lucas, todos mostram que essa tradução é insustentável. Em Lucas, fala-se da parousía de Cristo como o "dia" de Cristo, ou até como " o dia em que o Filho do homem há de ser revelado." E, como é mostrado pelo Codex D, a palavra parousía também pode ser trocada pelo nome grego comum para "vinda," éleusis. Paralelos similares podem ser encontrados em outros textos que tratam da parousía de Cristo, nos quais são usados termos relativos à manifestação ou revelação de Jesus. Assim, o apóstolo João, em 1 João 2:28, exorta os cristãos a "permanece[r] em união com ele, para que, quando ele for manifestado [em grego, phaneróo], tenhamos franqueza no falar, e não sejamos envergonhados para nos afastar dele na sua vinda [parousía]."Aqui João compara claramente a parousía de Cristo com o dia da sua aparição ou manifestação. Similarmente, o apótolo Paulo ora para que os cristãos em Tessalónica possam ter os seus corações estabelecidos "inculpáveis na santidade perante o nosso Deus e Pai, na vinda [parousía] de nosso Senhor Jesus com todos os seus santos sagrados." (1 Tessalonicenses 3:13) Esta vinda do Senhor com todos os seus santos sagrados ou anjos também é referida em Judas versículo 14 e em Mateus capítulo dezasseis, versículos 27 e 28, mas em vez de parousía tanto Judas como Mateus usam formas de érchomai, o verbo mais comum para "vinda", e relacionado com o nome éleusis. Os três textos referem-se todos à mesma ocasião, a vinda do Senhor com todos os seus santos para executar julgamento, e traduzir parousía por "presença" em 1 Tessalonicenses capítulo três, versículo 13, como faz a Watch Tower Society, é ignorar esta interrelação com outras passagens paralelas.

Naquelas parábolas em que Jesus enfatizou a necessidade de os seus servos se manterem alertas e vigilantes, observemos que ele apresenta o seu julgamento como aquele que se segue à chegada do amo a casa. É a vinda ou chegada do amo que ele descreve, e não uma "presença invisível." Não é como se o amo deslizasse para a área e começasse invisivelmente a julgar o que os seus servos estavam a fazer, e só mais tarde se revelasse a eles. Pelo contrário, o regresso do amo, embora talvez seja inesperado, torna-se rapidamente evidente para todos os seus servos, os fiéis e os infiéis, e manifesto desde o princípio, e o seu julgamento não é feito a partir de algum lugar invisível escondido, é antes feito de uma maneira muito aberta. -- Compare com Mateus 24:45-51; 25:14-30; Marcos 13:32-37; Lucas 12:35-48; 19:12-27.

Portanto, a evidência das traduções mais antigas, bem como das traduções modernas e dos léxicos da língua grega, e especialmente do contexto e de passagens relacionadas, atestam todos que o uso de parousía em Mateus capítulo vinte e quatro, versículo 3, não se pode referir a uma "presença invisível" de uma "vinda em duas etapas," mas refere-se à futura chegada e aparecimento de Cristo como Rei para Julgamento, "com poder e grande glória" e acompanhado pelos seus santos anjos.

Notas

1 Para uma investigação detalhada sobre a origem e desenvolvimento da ideia da "presença invisível" e como veio a ser adoptada por Russell e seus seguidores, veja C. O. Jonsson, "The Theory of Christ's Parousía As An 'Invisible Presence'" ("A Teoria da Parousía de Cristo Como Uma 'Presença Invisível'"), The Bible Examiner (O Investigador da Bíblia), Vol. 2, N.º 9, 1982, e Vol. 3, N.º 1, 1983, Box 81, Lethbridge, Alberta, Canada T1J -- 3Y3.

2 O Jornal milenarista Britânico The Rainbow (O Arco-Íris), Junho de 1866, p. 265 e Julho de 1866, p. 302. O The Rainbow, mais do que qualquer outro jornal milenarista na Inglaterra, cedeu espaço aos expositores da ideia do arrebatamento secreto, e Govett teve muitos artigos seus publicados nesse jornal. O principal trabalho de Govett sobre o assunto foi The Saint's Rapture to the Presence of the Lord Jesus (O Arrebatamento dos Santos para a Presença do Senhor Jesus), de 357 páginas, publicado em 1852. Toda a discussão ao longo do livro se baséia na mudança que Govett faz da palavra "vinda" para "presença"!

3 Veja o livro Historical Waymarks of the Church of God (Marcos Históricos da Igreja de Deus), publicado pela sede do movimento em Oregon, Illinois 61061, em 1976. O grupo defende pontos de vista similares aos dos Christadelphians (Cristadelfianos) e das Testemunhas de Jeová em doutrinas tais como a trindade, a alma e o inferno de fogo.

4 Veja a anterior nota de rodapé 2. Rotherham foi editor do The Rainbow (O Arco-Íris) de 1885 até 1887. Veja também Reminiscences (Reminiscências) de Rotherham compilado pelo seu filho J. George Rotherham (Londres, pouco depois de 1906), pp. 76-79.

5 Que pelo menos alguns destes tradutores foram influenciados pela sua aderência à doutrina da "presença invisível" é ilustrado pela tradução que Dymond faz de Mateus 24:3: "Mas entretanto diz-nos que outros acontecimentos indicarão que tu voltaste à terra para estar invisivelmente presente."

6 Veja D. Petri Sabatier, Bibliorum Sacrorum Latinae Versiones Antiquae (Antigas Versões Latinas dos Escritos Sagrados), originalmente publicado em 1743. O facsimile impresso em Munique em 1974 foi consultado para esta discussão.

7 Veja as extensas discussões por Bruce M. Metzger em The Early Versions of the New Testement (As Versões Antigas do Novo Testamento), Oxford 1977, pp. 3-82, e por Matthew Black em Die alten Übersetzungen des Neuen Testaments, K. Aland, editor, Berlim, Nova Iorque, 1972, pp. 120-159.

8 Pieter Leendert Schooheim, Een Semasiologisch onderzoek van Parousia met betrekking tot het gebruik in Mattheus 24 ("Uma pesquisa Semântica sobre a Parousia com especial referência ao seu uso em Mateus 24"), Aalten, Holanda, 1953, pp. 20-22, 259. Acredita-se geralmente que o manuscrito Curetoniano é uma revisão do anterior texto sírio Sinaítico, que por sua vez foi originalmente escrito em Antioquia no norte da Síria. Por esta razão, o sírio destes manuscritos, sendo um dialecto do aramaico, é provavelmente muito próximo do dialecto aramaico palestiniano usado por Jesus e pelos seus apóstolos.

9 As antigas versões Copta, Etíope e Arménia não foram investigadas.

10 Citado da tradução Inglesa por L. R. M. Strachan da 4.ª edição, Light from the Anciente East (Luz do Oriente Antigo), reimprimido por Baker Book House, Grand Rapids, Michigan, 1978, p. 368.

11 B. M. Nolan, "Some Observations on the parousía" ("Algumas Observações sobre a parousía"), The Irish Theological Quarterly (O Periódico Teológico Irlandês Trimestral), Vol. XXXVI, Maio 1969, p. 288.

12 Deissmann, p. 371. Significativamente, a palavra grega epipháneia, "aparecer," normalmente aplicada à segunda etapa da vinda de Cristo pelos adeptos da noção do arrebatamento secreto, foi também usada em tempos em "moedas-do-advento" gregas como um equivalente do Latim adventus! (Deissmann, p. 373.)

13 O estudo linguístico mais completo do termo parousía é aquele de Pieter Leendert Shoohein, Een semasiologisch onderzoek van Parousia (Uma pesquisa semântica sobre a Parousia), Aalten, Holanda, 1953. Este trabalho tem cerca de 300 páginas, incluíndo um resumo de 33 páginas em inglês.

14 Veja por exemplo Kittel/Friedrich, Theological Dictionary of the New Testament, Vol. V, pp. 858-871, e o longo artigo no Dictionnaire de la Bible, Supplément (Dicionário da Bíblia, Suplemento), Francês, ed. por L. Pirot, A. Robert e H. Cezalles, Paris-VI, 1960, pp. 1332-1420. Outro estudo interessante é aquele por J. T. Nélis em Bibel-Lexikon (Léxico Bíblico), Tubingen 1968, pp. 1304-1312.

15 Israel P. Warren, D. D., The Parousia (A Parousia), Portland, Maine, 1879, pp. 12-15.

16 F. F. Bruce citado no livro de Percy O. Ruoff, intitulado W. E. Vine, His Life and Ministry, Londres 1951, pp. 75, 76.

17 The Watchtower, 15 de Setembro de 1964, p. 576. A mesma conclusão é tirada na The Watchtower de 15 de Janeiro de 1974, na página 50: "Quando eles perguntaram a Jesus, 'Qual será o sinal da tua presença?' eles não sabiam que a sua presença futura seria invisível."

18 Isto refuta o argumento por vezes usado pela Watch Tower Society de que 'não haveria necessidade de um sinal se a parousia fosse visível e tangível.' Veja a Awake! de 8 de Dezembro de 1967, p. 27.

19 No livro God's Kingdom of a Thousand Years Has Approached (Aproximou-se o Reino de Deus de Mil Anos; 1973) a Watch Tower Society na página 169 faz uma tentativa de adaptar o uso técnico de parousía à sua doutrina da "presença invisível" ao dizer que, "Uma 'visita' inclui mais do que uma 'chegada'. Inclui também uma 'presença.'" Certamente que isto é verdade. Mas eles tentam obscurecer a diferença óbvia entre os dois usos de parousía. Numa visita real a chegada do rei ou imperador era a fase mais espectacular da visita, algo que chamara a atenção de todos. Se os discípulos, como mostra a evidência, perguntaram pelo sinal da visita oficial, real, visível de Cristo, eles deviam ter em mente algo que precederia tal visita. Não teria sentido nenhum perguntar por um sinal que mostraria que o rei já tinha chegado.

20 Embora o manuscrito seja apenas do 5.º ou 6.º século A.D., as suas variantes textuais têm muitas vezes apoio nos Pais da Igreja do segundo século e nas versões Velha Latina e Síria. Alguns peritos até a encaram como um representante mais fiel do texto original do que o [ manuscrito] Vaticano ou Sinaítico. Conforme demonstrado por A. J. Wensinck, está colorido por construções e idiomas aramaicos mais frequentemente do que o [ manuscrito] Vaticano ou Sinaítico e, segundo o Dr. Matthew Black, ele representa, por essa razão, "o fundo aramaico da tradição Sinóptica mais fielmente do que manuscritos não-Ocidentais." -- Matthew Black, An Aramaic Approach to the Gospels and Acts (Uma Aproximação Aramaica aos Evangelhos e aos Atos), 2.ª ed., 1954, pp. 26-34, 212, 213.

21 Schoonheim, pp. 16-28, 259, 260. isto refutaria a afirmação na Tradução do Novo Mundo -- Com Referências de 1986, revista, página 1517 de que "As palavras parousía e éleusis não são usadas intercambiavelmente."

The Sign of the Last Days -- When? (O Sinal dos Últimos Dias -- Quando?) (Atlanta: Commentary Press, 1987) de Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst, pp. 266-271.





Apêndice C: Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse

Carl Olof Jonsson e Wolfgang Herbst


Também encontramos guerra, fome e pestilência no livro de Revelação na forma de três cavaleiros sentados respectivamente num cavalo vermelho, preto e descorado (literalmente amarelo-esverdeado), precedidos por um quarto cavaleiro, um archeiro, sentado num cavalo branco. -- Revelação 6:1-8.

A questão principal aqui é saber se a visão envolvendo estes quatro cavaleiros representa uma descrição do tempo do fim aplicável a algum período imediatamente antes do dia do julgamento final e constituindo por esse motivo um sinal da proximidade daquele dia.

Uma leitura do próprio relato nada revela que atribua a cavalgada destes cavaleiros a um período específico. É verdade que a visão destes cavaleiros faz parte de uma série de "selos" que foram abertos, sete ao todo, e que depois da abertura do sexto selo, que trata de um grande terramoto, os homens tentaram esconder-se, reconhecendo que 'o grande dia da ira de Deus chegou.' (Revelação 6:12-17) Mas isto por si só não fornece base sólida para dizer que os "selos" anteriores se encaixam todos em algum período de tempo particular imediatamente antes daquele dia de julgamento. Nada é dito que indique que estes selos formam parte de um "sinal" destinado a alertar as pessoas para a proximidade do julgamento divino. Guerra, fome, pestilência têm sido, como já foi mostrado, uma constante na vida humana ao longo de todas as eras. Não o são mais no nosso tempo do que em gerações anteriores.

Num esforço para atribuir a cavalgada destes cavaleiros a um período específico, a Watch Tower Society foca a atenção no cavaleiro do cavalo branco. Afirma-se que ele representa Cristo Jesus e que o fato de se falar dele como tendo "recebido uma coroa" fixa o tempo da profecia no período desde e depois de 1914 quando, segundo a doutrina da Watch Tower, Cristo Jesus foi entronizado no céu e começou a exercer autoridade real sobre toda a terra. Que validade tem este ensino?
Quem é o cavaleiro no cavalo branco?

Claro que os cavaleiros não representam pessoas literais. Eles são símbolos, tal como os seus cavalos e as cores destes.1 Três deles são facilmente identificáveis. Existe um consenso geral entre os comentadores que o segundo cavaleiro, tendo uma grande espada, é um símbolo da guerra, mais freqüentemente guerra civil, apropriadamente ilustrada pela cor vermelha do seu cavalo, um reflexo do derramamento de sangue.2 O terceiro cavaleiro é um símbolo da fome e este flagelo também está bem representado pela cor do seu cavalo, sendo preto a cor das colheitas atingidas pela praga nos campos. O quarto cavaleiro simboliza morte por pestilência, e a cor pálida ou amarelo-esverdeada do seu cavalo denota a cor de uma pessoa doente, atingida pela praga. Todas estas identificações são também confirmadas pelas missões dadas a cada um deles. Mas quem é o archeiro montado no cavalo branco?

Aqui começam os problemas, e várias sugestões têm sido dadas por diferentes comentadores. Alguns acreditam que este cavaleiro é o símbolo do cristianismo, ou o progresso triunfante do evangelho cristão. Outros pensam que ele representa a conquista militar, em oposição ao segundo cavaleiro que, segundo esta interpretação, simboliza guerra civil ou de extermínio. O Dr. Graham apresenta a razão por que acredita que o cavaleiro simboliza o engano, tendo uma aparência superficial que é enganadora, e com tendência para a conquista voraz.3 Ainda outros, incluindo a Watch Tower Society, identificam-no com o próprio Jesus Cristo. Visto que a Watch Tower Society encara toda a visão como sendo um paralelo dos acontecimentos descritos por Jesus em Mateus capítulo vinte e quatro versículos 6-8, e como eles proclamam que esses versículos se aplicam de 1914 em diante, alegam que os quatro cavaleiros começaram a sua cavalgada devastadora na terra naquele ano. É dito que uma evidência particularmente forte disto pode ser encontrada na coroa dada ao primeiro cavaleiro:

O cavaleiro deste meio de transporte rápido significa um reino recém estabelecido, pois uma coroa real foi-lhe dada.... Então, necessariamente, o cavaleiro do cavalo branco que avança vitoriosamente tem de ser Jesus Cristo na sua coroação no céu no fim dos Tempos dos Gentios em 1914.4

Esta interpretação, contudo, não pode estar correta porque é fundada sobre um sério equívoco lingüístico. A língua grega tinha duas palavras diferentes para "coroa." Uma é stéphanos, a outra é diádema. É diádema que significa uma "coroa real." É usada, por exemplo, para se referir às muitas coroas usadas por Jesus em Revelação capítulo dezanove, versículo 12:

E os seus olhos são uma chama de fogo, e sobre a sua cabeça estão muitos diademas [diademata].

Estes muitos diademas simbolizam evidentemente a autoridade real de Cristo sobre todos os outros reinos, também enfatizada pelo nome escrito sobre a sua roupa e sobre a sua coxa, segundo o versículo 16, "REI DOS REIS, E SENHOR DOS SENHORES."

Este significado da palavra diádema é apresentado por todos os dicionários de grego. Assim, por exemplo, Vine's Expository Dictionary (Dicionário Expositivo de Vine) diz na página 260:

DIADEMA ... nunca é usada como stephanos: é sempre o símbolo da dignidade real ou imperial, e é traduzida como 'diadema' em vez de 'coroa' na R.V., a respeito das pretensões do Dragão, Rev. 12:3; 13:1; 19:12.

Mas a "coroa" dada ao cavaleiro do cavalo branco em Revelação capítulo seis, versículo 2, não foi um diádema. Foi uma stéphanos. O que significa, então, esta palavra uma vez que não foi usada da mesma maneira que diádema? Vine explica adicionalmente na mesma página:

STEPHANOS ... denota (a) a coroa do vencedor, o símbolo de triunfo nos jogos ou outras competições similares; portanto, por metonímia, uma recompensa ou prêmio; (b) um sinal de honra pública por serviços distintos, proezas militares, etc., ou alegria nupcial, ou contentamento festivo, especialmente na parousia de reis.

Uma stéphanos, portanto, denota normalmente a coroa da vitória, e isto é verdade no Novo Testamento, onde é usada em conexão com a ilustração das competições atléticas. (Compare com 1 Coríntios 9:25; 2 Timóteo 2:5.) É este tipo de coroa que os cristãos recebem como recompensa divina de Deus através do seu rei Cristo Jesus, tal como indivíduos eram honrados pela atribuição de uma stéphanos aquando de uma visita real ou parousía de um rei ou imperador. -- 2 Timóteo 4:8; Tiago 1:12.

Curiosamente, a stéphanos não era apenas dada como um prêmio depois de uma vitória. Tal como no caso do archeiro no cavalo branco, era também dada a guerreiros antes da batalha como uma promessa de vitória. Assim os Espartanos coroavam-se a si mesmos com uma stéphanos quando saíam para a batalha como um sinal de vitória prometida. Os generais romanos faziam o mesmo. Supunha-se que a coroa ou grinalda influenciava o desfecho da batalha. Tanto entre os gregos como entre os romanos a stéphanos era o símbolo da vitória, e Nike, a deusa da vitória, era representada vindo com uma coroa de vitória na sua mão.5

Portanto, quando é dada ao cavaleiro do cavalo branco uma stéphanos, não lhe é dada, como pretende a Watch Tower Society, uma "coroa real." A cena não descreve nenhuma cerimônia de coroação no céu, e certamente não há razão para ligar a atribuição da grinalda ao archeiro ao ano 1914. A visão retrata um guerreiro armado saindo para a batalha, e como promessa de vitória nesta batalha é-lhe dada uma coroa, não uma coroa real mas uma coroa de vencedor. As palavras que se seguem -- "e ele veio conquistando, e para conquistar" -- explicam prontamente o propósito da coroa que lhe é dada. Tal como ao segundo cavaleiro foi dada uma grande espada como um símbolo da sua missão -- tirar a paz da terra -- assim também a este primeiro cavaleiro foi dada uma coroa de vencedor como um símbolo da sua missão: conquistar. Por isso, o archeiro pode simbolizar ou representar conquista vitoriosa. E isto estaria em harmonia com a cor do seu cavalo. Como assim?

Certamente é verdade que a cor branca é muitas vezes usada como um símbolo de pureza e de justiça, como por exemplo em Revelação capítulo dezanove, versículo 8. Mas este não é automaticamente o caso. Em Zacarias capítulo seis, versículos 1-8, onde encontramos carros puxados por grupos de quatro cavalos, três deles tendo cores idênticas às dos que lhes correspondem em Revelação, não existe nenhuma qualidade particular atribuída ao carro puxado pelos cavalos brancos. Muito pelo contrário, é a respeito do carro puxado pelos cavalos pretos que se diz que estes "deram descanso ao meu Espírito na terra do norte." -- Zacarias 6:6, 8.

O branco era também um símbolo antigo de triunfo e vitória. "Quando um general Romano celebrava um triunfo," diz o comentador Bíblico William Barclay, "isto é, quando ele desfilava pelas ruas de Roma com os seus exércitos e os seus prisioneiros e os seus despojos depois de alguma grande vitória, o seu carro era puxado por cavalos brancos, pois eles eram os símbolos da vitória."6 Em Revelação capítulo seis, versículo 2, portanto, a cor branca do cavalo pode muito bem simbolizar vitória ou triunfo militares, de acordo com a missão dada ao seu cavaleiro.

Pode-se argumentar que, mesmo se o cavaleiro com o arco fosse um símbolo de conquista vitoriosa, ele ainda poderia ser um símbolo de Jesus Cristo, especialmente em vista do fato de Jesus também ser representado como montando um cavalo branco em Revelação capítulo dezanove, do versículo 11 em diante. Deve-se notar, contudo, que as duas visões são completamente diferentes, e os dois cavaleiros também são diferentes. No capítulo dezanove o cavaleiro segura uma espada em vez de um arco; ele usa muitos diademas ou coroas reais (diademata), não uma stéphanos ou coroa de vitória. Como tem sido algumas vezes sublinhado, "os dois cavaleiros não têm nada em comum além do cavalo branco."7

Ainda mais significativamente, os outros três cavaleiros em Revelação capítulo seis são todos símbolos de calamidades (guerra, fome, pestilência), não de indivíduos reais. Seria tanto lógico como consistente, portanto, interpretar o primeiro cavaleiro de maneira similar, tal como foi sugerido, possivelmente representando o conceito de conquista militar. Esta é, de fato, também a conclusão da maioria dos comentadores bem conhecidos. O Dr. Otto Michel, por exemplo, explica os dois primeiros cavaleiros da seguinte maneira:

O cavalo branco representa o conquistador que chega de fora com um exército estranho e oprime o reino. Ele é seguido pelo feroz cavalo vermelho que leva embora a paz e desencadeia a luta civil.8

O espaço não permite um exame mais detalhado desta visão. A informação apresentada acima, contudo, mostra claramente que a tentativa da Watch Tower Society ligar esta visão à sua data 1914 não tem apoio no próprio texto. Baseando a sua interpretação numa tradução errada da palavra stéphanos tenta transformar a atribuição da grinalda ao archeiro numa cerimônia de coroação, uma idéia que é completamente estranha ao contexto. Se aplicada a Jesus, seria mais razoável ele receber uma stéphanos ou coroa de vitória e conquista na altura da sua ressurreição, quando ele alcançou as suas grandes vitórias, tendo conquistado o mundo, o pecado, a morte e o Diabo pelo seu percurso fiel -- e não em algum período dezanove séculos depois. (Compare com João 16:33; Revelação 3:21; 5:5.) A linguagem simbólica da visão dos cavaleiros é tirada de vários textos do Velho Testamento, como Zacarias 6:1-8; Ezequiel 5:12-17; 14:21 e Jeremias 49:36, 37, textos que tratam de julgamentos divinos contra os inimigos de Israel em tempos antigos. Para o nosso presente objetivo não é necessário entrar numa explanação sobre quando e como os julgamentos descritos simbolicamente em Revelação capítulo seis viriam sobre as potências opressoras que aparecem nas visões de João. Basta-nos compreender que não é possível mostrar que os quatro cavaleiros têm mais a ver com 1914, ou com este século vinte, do que com algum período de tempo anterior na história.

Notas

1 Como muitos comentadores observam, estes símbolos são semelhantes àqueles encontrados em Zacarias 6:1-8, embora alguns dos detalhes sejam diferentes. As cores têm evidentemente significados diferentes nas duas visões. Na visão de Zacarias os quatro grupos de cavalos coloridos de maneiras diferentes são interpretados pelo anjo como sendo "os quatro ventos do céu, que saem depois de terem estado diante do Senhor de toda a terra." (Versículo 5, ASV) Estes ventos por sua vez aparentemente representavam a ira de Deus dirigida contra os inimigos do povo de Deus nos dias de Zacarias. -- Compare com Isaías 66:15; Jeremias 4:13; 23:19; 30:23; 49:36.

2 Ao cavaleiro do cavalo vermelho "foi dado tirar paz [literalmente, "a paz"] da terra, e que eles se matassem uns aos outros." (ASV) Houve alguma vez paz universal na terra? Como se argumentou no capítulo cinco, dificilmente houve um ano de paz total na terra ao longo da história. No entanto, no tempo em que João escreveu as suas visões existia, de fato, uma espécie de "paz." Esta era a bem conhecida Pax Romana, a "Paz Romana," um período de paz e estabilidade dentro das fronteiras Romanas, que durou de 29 A.C. até cerca de 162 A.D.. É verdade que existiam guerras constantes nas fronteiras do vasto império, com os Teutões (Germânicos) a norte, e especialmente com os Partas a este, sendo o reino Parta a única grande potência além da própria Roma. Mas estas guerras nas fronteiras não eram vistas como uma ameaça à paz prevalecente dentro das fronteiras Romanas. Portanto, quando os destinatários de João leram que foi concedido ao cavaleiro no cavalo vermelho "tirar a paz da terra," poderiam naturalmente lembrar-se desta Pax Romana ou Paz Romana. Ainda mais, como é sublinhado pelo comentário de J. M. Ford sobre Revelação (The Anchor Bible [ A Bíblia Âncora] , Vol. 38, Nova Iorque 1975, p. 106), "A expressão allelous sphaxousin, 'mataram-se uns aos outros,' indica luta civil." Guerras civis dentro das fronteiras Romanas iriam, claro, "tirar a paz da terra", sendo a "terra" compreendida como uma referência ao Império Romano. Seja qual for a aplicação exata, está fora de dúvida que, no mundo como um todo, lutas civis e agitações, freqüentemente acompanhadas por derramamento de sangue, têm destruído a paz ao longo de todos os séculos da era cristã.

3 Approaching Hoofbeats (Passos que se Aproximam), pp. 78-81.

4 The Watchtower, 15 de Maio de 1983, pp. 18, 19.

5 Kittel/Friedrich, Theological Dictionary of the New Testement (Dicionário Teológico do Novo Testamento), Vol. VII, pp. 620, 621. É claro que a Watch Tower Society sabe que stéphanos significa uma coroa de vitória e, de fato, admite isto quando lida com outros textos diferentes de Revelação 6:2. Comentando Tiago 1:12, a Watchtower de 1.º de Julho de 1979, página 30, afirma que stéphanos "provém de uma raiz que significa 'contornar,' e portanto é usada para se referir a uma coroa, grinalda, prêmio ou recompensa que o vencedor numa corrida recebe."

6 William Barclay, The Revelation of John (A Revelação de João), Vol. 2, 2.ª ed., Filadélfia 1960, p. 4. Também H. B. Swete, no seu Commentary on Revelation (Comentário sobre Revelação; reimpressão de 1977 da 3.ª ed. de 1911, Grand Rapids, Michigan, p. 86) confirma que "branco era a cor da vitória," dando vários exemplos disto provenientes de antigas fontes Romanas.

7 Swete, p. 86.

8 Otto Michel em TDNT [Theological Dictionary of the New Testement (Dicionário Teológico do Novo Testamento)] , Vol. III, p. 338. Numa nota de rodapé ele diz ainda: "Nós não compreendemos a atividade destrutiva dos cavaleiros se identificamos o primeiro com o Messias vingador ou guerreiro de 19:11-16, ou com o Evangelho na sua incursão pelo mundo (Mr. 13:10)."


Para dados atuais veja:   http://averacidadedafecrista.blogspot.com/2015/07/terremotos-fomes-e-guerras-sao-sinais.html




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